quarta-feira, 25 de junho de 2014

Coisa - o espaço e a sua envolvência

Armazéns de Raul Alves e Caféeira de Torres
Conta o Sr. Ricardo Lopes, d'A Brasileira de Torres:
Era tudo o mesmo: o conjunto cinzento (Publicorte e Espaço Cultural Coisa) e o verde.
Víveres, adubos, cimentos...; tudo o que era relacionado com a agricultura. Publicorte, Coisa, a casa... a casa era a parte central. O prédio verde, de fachada preservada, tinha a habitação no 1.º andar; no rés-do-chão, estabelecimento com atendimento ao público. O outro prédio, cujos painéis -- verdadeiras secções de parede aparentemente amovíveis e corrediças -- formam uma espécie de linha avançada das vidraças, escondendo e mostrando a rua, ocupa o lugar da construção que dava entrada para um pátio onde se realizavam cargas e descargas. Entravam galeras e carroças e tinha cocheira. A garagem actual, junto à residencial S. Pedro era outro armazém de adubos, uma secção de víveres (o edifício já não é o mesmo).
Publicorte: neste espaço, havia torrefacção do café.
Coisa: este espaço de criação está onde era um armazém. 
José Afonso*, genro do Raul Alves.

Conta o Sr. Jorge Gomes, do café Arco-Íris, Sarge:
O Raul Alves fazia torrefacção de café? -- comecei assim a conversa. O que segue é essencialmente o que este simpático senhor (e amigo paciente) foi dizendo.
«Cafés Novo Dia, dá saúde e alegria» era uma frase publicitária dos Cafés Novo Dia, de Firmino Francisco Figueira**. A Caféeira de Torres: edifício rosa, do gaveto, entre a Travessa Madeira Torres e a Rua Dias Neiva. Torrava café, amendoim..., vendia bebidas espirituosas..., fornecedor de bebidas e... ginja, abafado, genebra, anises, uísques, brandies, aguardentes-velhas. Amendoins, pevides, açúcar; cafés de lote (de saco), com chicória, centeio, grão preto.
O Sr. Firmino, já velho, passou para a filha as instalações onde está agora a oficina-auto, no Sarge; eram dos cafés Novo Dia, a cargo do genro. Tudo veio a passar para o grupo Riberalves***. A Central Caféeira de Torres Vedras foi integrada nesta empresa em 1997, continuando a marca Novo Dia Cafés uma história iniciada em 1950. Nada resta da Novo Dia, no Sarge, estando actualmente sediada na zona industrial  do Paul - Torres Vedras.
A Novo Dia, de origem torriense,  domina largamente a distribuição de café em Torres Vedras, uns 80%. Mais? No Sarge, em cinco estabelecimentos com venda de bebidas ao público, três são fornecidos pela Novo Dia e dois pelos cafés Delta (marcas Camelo e Delta).
«... a Rua Dias Neiva, que liga o Largo dos Polomes ao Largo de São Pedro, era a rua mais movimentada da vila, pois nela existia a maior parte dos armazenistas, tais como o Raul Alves, o Fonseca & Lisboa, o Florêncio Augusto Chagas, a Central Cafeeira e ainda lojas diversas».
(Do artigo de Quim Gago, ver Badaladas on line, «Patrimónios: eu cresci no centro histórico (1.ª parte)», publicado em 19-07-2013.)
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* José Afonso Torres, durante muitos anos dono da ourivesaria Anselmo, na Rua Serpa Pinto.
* * Ainda da família de Jorge Gomes, do lado Figueira da mãe.
*** Embora a Novo Dia tenha utilizado as instalações do Sarge, elas pertencem de facto, ainda, à filha do Sr. Firmino, que as vai mantendo alugadas a sucessivos arrendatários.


Vista da Rua Dias Neiva, a partir do edifício da Residencial S. Pedro.

O conjunto «Raul Alves» vai destes edifícios verdes até aos dos n.os 13 e 15.


Atrás da fachada modificada, estão habitações.

Aqui, preservou-se a fachada. 


No n.º 13, o Espaço Cultural COISA.




Ao fundo, o Largo dos Polomes.

O edifício com o n.º 15 alberga a empresa PUBLICORTE.

Menina que estás à janela...







À esquerda, a Rua Dias Neiva; à direita, a Travessa Madeira Torres.

Travessa Madeira Torres, indo do Largo dos Polomes.
Traseiras do edifício n.º 13 da Rua Dias Neiva

Outra vista, com mais pormenor para as traseiras do pátio.

2 comentários:

  1. Que belas fotos que ilustram um texto bastante elucidativo sobre o passado e presente da cidade de Torres Vedras....
    Parabéns...

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    1. Obrigado. Há dias esqueci-me de lhe desejar boas férias, por não ter percebido bem o seu texto, pensando que era dirigido ao amigo e senhor António Luís e esposa. Quanto a estas coisas de Torres Vedras, acho que vou perder a vergonha de me interessar por elas.

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