segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Celeste Rodrigues

Há tempo, dois, três meses, vi um documentário na televisão sobre Celeste Rodrigues, de que muito gostei. Vejo, agora, que deve ter sido Fado Celeste, documentário sobre a vida e a obra de Celeste Rodrigues, realizado pelo seu neto, Diogo Varela Silva, cuja última emissão passou na RTP 2, a 02 JUL 2014. Apesar do juízo valorativo que fiz, só de uma coisa me lembro, por envolver o meu avô paterno: a canção Olha a mala. O meu avô cantava-a, gostava destas coisas.

Olha a mala, olha a mala
Olha a malinha de mão.
Não é tua, não é minha,
É do nosso hidrovião.

E continuava...

A escrita correcta é «hidroavião», melhor ainda, dizem os entendidos, «hidravião». O que ouvia distintamente era «hidrovião» e aceite-se como forma popular.

Celeste Rodrigues falou de dificuldades na publicação da letra, da canção, fiquei a pensar em problemas políticos, à volta da mala, caída do hidrovião. O que se terá passado? O meu avô teria tido algum vislumbre, sabido alguma peripécia? Talvez não. A canção acabou a passar na rádio. Era daquelas que se fixam na memória de quem as ouviu e viveu. Fez parte da vida das pessoas, fez parte da vida do povo. A primeira quadra:

Caiu um hidroavião
Eu não sei de onde é que ele é
Não trazia ninguém dentro
Foi parar à Nazaré.

Não fazia a mais pequena ideia de quem era a canção, quem a cantava... Fiquei gratificado por poder conhecer um pouco melhor o mundo dos meus pais. Celeste Rodrigues teria 29 anos. «[...]praia de outono, noite de inverno, serão outros temas que interpretará, tal como olha a mala. uma canção de Manuel Casimiro, que «caiu no goto e no gosto popular, fez mais de 12 anos de sucesso, e ainda hoje é recordada». (Notícia tirada, daqui.) Em 1952, data da publicação de Olha a Mala, tinha eu 6 anos. Olha a mala, afinal, estava a acontecer.

O Público, Revista 2, de 7 de Set 2014, trouxe uma grande entrevista a Celeste Rodrigues,

CELESTE RODRIGUES: o fado de um azul celestial

(texto de Anabela Mota Ribeiro, fotografia de Enric Vives-Rubio), que li com prazer. Registei o nome das canções de sua criação de que Celeste gostava — Lenda das Algas, Saudade, vai-te embora*Gaivota Perdida.
O tipo de «fado que mais diz quem é» é o fado menor. Podemos ouvi-la cantar, neste género, Os meus olhos, aquiaqui e aqui. E nestoutro lugar, é o quarto vídeo.

Na manhã do dia em que foi entrevistada no Museu do Fado por Anabela Mota Ribeiro, cantava em casa o fado Andorinha, do repertório de sua irmã Amália (gravações em 1958, 1969 e 1976). Milho Grosso não fica esquecido. Era uma das canções da Beira que a mãe lhe ensinava, enquanto descascava ervilhas. A mãe, a quem chamavam o rouxinol da Beira, vemo-la e ouvimo-la a cantar Milho Grosso, já na velhice, com Amália. Uma preciosidade.

Nalguns dos fados, cantados mais recentemente, a voz de Celeste ressente-se muito. Quando era mais nova tinha uma grande frescura. 
* Na internet, encontra-se facilmente interpretações desta canção, por outros (as) intérpretes, mas não é fácil encontrar uma de confiança, de Celeste.

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http://arquivo.hardmusica.pt/noticia_detalhe.php?cd_noticia=5502 (notícia sobre Fado Celeste no S. Jorge)
http://www.rtp.pt/programa/tv/p26325 Fado Celeste (informação sobre documentário de Diogo Varela Silva, passado na RTP 2, última emissão a 02 de Julho de 2014)
https://www.youtube.com/watch?v=lAUtt8yHdWY (pequeno vt de documentário de Diogo Varela Silva)

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