terça-feira, 2 de setembro de 2014

Tarde de Folclore na Feira do Mato, Turcifal

31 de Agosto
Não exagero muito, se disser que estava roído de saudades do Turcifal. Aproveitei a viagem da carreira (Torres Vedras-Lisboa) e fui mirando tudo à volta, cavalos brancos à torreira na Quinta do Calvel, à esquerda. O Carvalhal... e os caminhos directos, a pé -- há dois --, para se ir em linha recta ao Turcifal, ladeando vinhas. Fui, algumas vezes, pelo que parte junto ao campo da bola.
Às 16 h. e 15 min., apeio-me e encho os olhos pela largueza de rua que a estrada faz, ali, com a igreja de Santa Maria Madalena e as tendas umas a seguir às outras, variadas, coloridas, uma festa. É a Feira do Mato. Em frente, o café Lampião. Outra fila de tendas, à esquerda, até ao largo da escola primária, da residência paroquial e algumas residências esplêndidas, entre elas a denominada O Deserto, que associo logo à cartuxa de Burgos, personagem, podemos dizer, do romance homónimo de Manuel Ribeiro, escritor muito reconhecido nos anos vinte do século passado e hoje quase esquecido.
Não tive a preocupação de tudo registar, queria também fruir. Isso talvez explique um certo desequilíbrio nos vídeos, que não dão o mesmo espaço aos três ranchos. Beneficiados ficaram não sei como os açorianos, talvez inconscientemente, por estarem lá tão longe no meio do mar. No meio do mar também estamos, os continentais, mas eles estão mais. Compensei este desequilíbrio, com o slideshow, na medida do possível, e acrescentando duas fotos, a iniciar, do grupo organizador e convidante: o Rancho Folclórico e Etnográfico Danças e Cantares da Mugideira.
No fim, deixa-se algumas palavras sobre cada um dos vídeos e letras ou o que conseguimos decifrar pela audição. Uma das canções encantou. A da chamarita. Por várias razões; até, pela própria palavra, levada, ela e a dança e música, a várias partes do mundo pelos emigrantes açorianos.
Actuou primeiro o rancho da Mugideira, seguido pelo da Ribeira de Fráguas (Albergaria-a-Velha) e o Grupo Folclórico Doce Esperança de Santa Cruz (Praia da Vitória, ilha Terceira, Açores).



Slideshow

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Os vídeos, de 1 a 9

1
Rancho da Mugideira
Quem anda no meio é uma linda flor/Agora, é que é certo arranjar seu amor/Já cá vai fechada no meu coração/O meu coração não é pedra dura/È como a laranja, quando está madura/Não é pedra dura, o meu coração./Ora, adeus, adeus, adeus, que me vou./Não chores, amor, que eu ainda aqui estou.

2
Rancho de Ribeira de Fráguas
Não se chega a cantar nada.
3
Rancho de Ribeira de Fráguas 
Ouçam bem a minha voz./O vira, que eu hoje canto, já o cantou meus avós./O vira, que eu hoje canto./Este vira valseado, já meu avô o dançava na eira da minha avó,/Quando havia desfolhada,/Na eira da minha avó.
Há repetição de versos e intermezzos de música.

4
Rancho de Ribeira de Fráguas
... o verde-gaio é verde./É verde, como o dinheiro./O verde-gaio é verde,/É verde, como o dinheiro./... ... .../Ó verde-gaio, toma lá, dá cá./Ó verde-gaio, toma lá, dá cá./... ... .../
5
Grupo Folclórico Doce Esperança, Santa Cruz, Santa Cruz, Praia da Vitória, ilha Terceira
O apresentador dá algumas informações, de carácter histórico.

6
O mesmo grupo
São prestadas mais informações sobre o mesmo grupo folclórico; actualmente, é «constituído por quarenta e quatro elementos, com idades compreendidas entre os quatro e os sessenta (setenta?) e três anos. Destes, vinte e oito elementos são dançarinos, oito são do instrumental e sete, nas vozes». Música regional terceirense, trajes de diversas épocas históricas da ilha Terceira, quase todos de fabrico artesanal; utensílios relativos à agro-pecuária, ao amanho artesanal da terra e ao ciclo da lã. Historial das actividades do rancho, até ao presente. Participa nas tradicionais festas do Espírito Santo, em Angra do Heroísmo, as Sanjoaninas, e nas diversas edições do Festival Internacional de Folclore da ilha Terceira, organizado pelo COFIT — Comité Organizador de Festivais Internacionais, bem como nas festas do concelho da Praia da Vitória, em desfiles etnográficos e demais manifestações de carácter cultural. Também participa no Dia da Comunidade ou Dia do Apreço, do Destacamento norte-americano da Base das Lajes. Em 2012, juntou-se à comunidade portuguesa dos estados Unidos da América, na Califórnia, para participar nas maiores festas religiosas de Nossa Senhora dos Milagres, na cidade de Gustine. Neste mesmo ano, fez a sua primeira gravação VHS.

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O mesmo grupo

O cravo e a rosa.
O cravo tem vinte folhas/O cravo tem vinte folhas/Ai, a rosa tem vinte e uma/Ai, a rosa tem vinte e uma/Anda o cravo à demanda/Anda o cravo à demanda/ /Ai, por a rosa ter mais uma/Ai, por a rosa ter mais uma/O cravo pediu à rosa/O cravo pediu à rosa/Ai, um beijo a toda a pressa/Ai, um beijo a toda a pressa/A rosa lhe respondeu/A rosa lhe respondeu/Ai, ó cravo, queres conversa/Ai, ó cravo, queres conversa/Rosa, que estás na roseira,/Rosa, que estás na roseira/Ai, deixa-te estar, que estás bem/Ai, deixa-te estar, que estás bem/Por cima, ninguém te chega/Por cima, ninguém te chega/Por baixo, não vai ninguém/Por baixo, não vai ninguém/O anel, que tu me deste/O anel, que tu me deste/Ai, era de vidro e quebrou-se/Ai, era de vidro e quebrou-se/O amor que tu me tinhas/O amor, que tu me tinhas/Ai, era pouco e acabou-se/Ai, era pouco e acabou-se.

O apresentador: «Vamos, seguidamente, cantar outra moda terceirense, que é a moda do samacaio.»
8
O mesmo grupo
Agradece ao público que os está a ver e ouvir, Quem sabe, um dia voltarão... Canta-se a Chamarita.
Chamarita, chamarita, chamarita da Terceira/Chamarita, chamarita, chamarita da Terceira/Nunca viram a chamarita, bailada desta maneira/Nunca viram a chamarita, bailada desta maneira/Muitas coisas são precisas, para se a chamarita bailar/Muitas coisas são precisas, para se a chamarita bailar/… … … … /… … … … /Chamarita, chamarita, chamarita bailadeira/Chamarita, chamarita, chamarita bailadeira/… … … … … /… … … … / Vamos bailá-la, com gosto, ó meninas da Terceira/Vamos bailá-la, com gosto, ó meninas da Terceira/A chamarita bailante… … … … … … /A chamarita bailante … … … … … … …. /… … … … .. … … … …/… … … … … … … …/
Linda a voz feminina, vibrante, cheia de alma.
«Muito obrigado, mais uma vez. Espero que um dia nos possamos ver, novamente. E vamos, então, sair, com outa moda da Chamarita, mas uma Chamarita velha. Nos Açores, existem várias modas da Chamarita; estas são típicas da Terceira. E vamos, então, seguir com a Chamarita velha. Muito obrigado. … Deus hajam.»

9
O mesmo grupo
Desfile de despedida.
 
                                                               *

Chama-rita s. f. Música popular nos Açores e no Rio Grande do Sul.
(É assim que a palavra vem no «Dicionário de Morais». Formada de chama+Rita).


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Informação sobre os vários grupos folclóricos

9 comentários:

  1. Bela e trabalhosa reportagem....
    Abraço

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    1. Foi trabalhoso, sim. Os vídeos, os diapositivos e as fotografias com boa resolução demoram muito tempo. Enfim, tudo.

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    2. Esqueci-me de mandar
      Um abraço
      JL

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  2. Gosto muito deste tipo de festas....!!!
    A ruralidade encanta-me... e isso não é por acaso....!!!
    Sou do campo, toda a minha infância foi inteiramente passada em ambiente campestre...., por isso aprecio tudo o que diz respeito à vida rural...
    Estas festas são realmente uma beleza....!!!
    Pelo colorido, pela alegria, por tantas e tantas recordações que nos tocam quando temos oportunidade de participar nestes ambientes....
    Nunca estive nesta festa do Mato do Turcifal, mas este texto e os belos vídeos aqui apresentados foram desde já um convite a "participar/visitar", no próximo ano....
    Parabéns...
    Está um belíssimo trabalho e deve ter dado uma trabalheira, daquelas....!!!
    Continuação de boas férias....
    Albertina Granja

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    1. Dou mais importância, agora, a estas danças e cantares. Gosto mesmo. Sinto o permanente, a identidade do nosso povo. Estes foram trajes de festa, as pessoas não andam assim no dia-a-dia. São trajes comemorativos. Há alegria.
      Algo do que senti e o respeito e amor por estas coisas e esta gente deve notar-se na própria mensagem, por isso dispenso-me de dizer mais. A alegria continuou durante o trabalho de organizar tudo, para publicação.
      Boas férias para a Albertina, também.

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  3. "Já fui à feira do Mato" - mas fui apenas pelo que li deste belo artigo do José Luis. A descrição é tão completa que me levou até lá.
    Um dia quem sabe talvez lá vá, mesmo.
    Parabens.
    Um abraço
    Leandro Guedes

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