quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Foi ourives dos 11 aos 15 anos

28 de Outubro, 6.ª-feira

Pela primeira vez entrei no edifício da que foi Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação, agora partilhado pela Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa e o Instituto de Educação da Universidade de Lisboa.
O que ali me levou foi o colóquio «Delfim Santos e a Educação», integrado nas Evocações do cinquentenário do falecimento (1966-2016). De Delfim Santos guardo uma memória fugaz em que a sua figura ficou delida. Entre 63 e 66, num concerto na Sé de Lisboa, me é dito: «Ali vem o Delfim Santos…» Sabia quem era; o catedrático do curso de Ciências Pedagógicas, na Faculdade de Letras, prestigiado pela sua inteligência e cultura.
No auditório II numa das últimas filas espero um pouco.
15:30.
A conferência de abertura esteve a cargo de António Nóvoa, com moderação de Filipe Delfim Santos. Isto impressionou-me: filho de Delfim Santos, sendo uma pessoa ainda relativamente jovem. Venho a saber que tinha três anos quando o pai faleceu, com 58 anos.
O facto de Delfim Santos ter sido aluno do ensino técnico e daí ter passado à Universidade sempre me tocou. Não era vulgar, com certeza. Ainda nos anos sessenta e setenta não o era. Filipe Delfim Santos falou de seus pais e avós; o que mais me marcou, a frase: «Foi ourives dos 11 aos 15 anos.» Uma encomenda trabalhada em ouro foi entregue após a morte do pai e diz-lhe o cliente, mais ou menos nestas palavras (cito de memória): «Ainda bem que esta obra foi acabada pelo seu pai; agora, não havia quem fosse capaz de a fazer.» Delfim nada disse. Tinha sido ele a executá-la.
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António Nóvoa, sucessor de Delfim Santos na cadeira de História da Educação, desenvolveu o tema «Delfim Santos e a Educação», explicitando as súmulas que iam sendo projectadas em ecrã, sob os títulos «Obra sobre Educação. Cátedra. | 1950 / Centro de Investigação Pedagógica | 1963; 1 – Universidade; 2 – Pedagogia; 3 – Formação de Professores; 4 – Ensino Profissional; 5 – Criança, Escola, Família.» Antecede estes quadros uma referência feita por Jacinto Prado Coelho ao facto de não lhe ter sido concedida a criação de licenciatura e doutoramento na sua área científica, bem como a orientação de seminário onde formasse discípulos no domínio da investigação. No último quadro, lê-se apenas: «Todos os homens têm igualmente a liberdade de serem desiguais» – ao lado da fotografia de Delfim Santos.
Não podendo continuar por motivo pessoal, fico com pena de não ter assistido à mesa-redonda moderada por Justino Magalhães e integrada por
Áurea Adão
Margarida Borges Ferreira
Joaquim Pintassilgo
[Ver programa na primeira hiperligação, abaixo]
Coube a Manuel Ferreira Patrício a conferência de encerramento, «Amplitude e alcance do conceito de “Formação Humana” no pensamento filosófico-pedagógico de Delfim Santos», com moderação de Luísa Ribeiro Ferreira. Não podendo estar presente, deixo, no entanto, duas imagens gentilmente cedidas pela amiga MM, colhidas no decorrer da sessão. Não posso deixar de sentir alguma identidade em Manuel Ferreira Patrício e Delfim Santos, na atitude de obreiros da construção do Homem, como vem sendo expressa há bastantes anos pelo orador de hoje no conceito de «Formação Humana».
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Da importância de Delfim Santos como professor, homem de cultura, cidadão, se pode fazer uma ideia, consultando as páginas para que remetem os endereços electrónicos, abaixo indicados. É muito rico o quadro evocativo, com exposições, encontros, colóquios…
Filipe Delfim Santos, Leonor Santos, Justino Magalhães
(Da esquerda para a direita de quem vê)









Luísa Ribeiro Ferreira  e Manuel Ferreira Patrício
(Fotografia oferecida pela amiga MM)

Manuel Ferreira Patrício na conferência de encerramento
(Fotografia oferecida pela amiga MM)
Como figura universitária primeira no espaço da Pedagogia, desejava o Professor Delfim Santos que fosse decidida a organização duma licenciatura e dum doutoramento nessa área científica, e a criação dum Instituto de Educação, integrado na Universidade . Nada disto — tão simples e tão óbvio —, conseguiu, como lamentavelmente sabemos. Nos «Traços Biográficos» que escreveu para a 1.ª edição das Obras Completas do filósofo e pedagogo lemos estas palavras doloridas e decerto indignadas de Jacinto do Prado Coelho: «Nem lhe foi dado dirigir, como qualquer dos seus colegas, um seminário onde formasse discípulos no domínio da investigação.» O que a Universidade não fez, fez — como na mesa-redonda se evidenciou —, com as limitações institucionais inevitáveis, a Fundação Calouste Gulbenkian, criando o seu Centro de Investigação Pedagógica, cuja direcção lhe entregou. Só em Maio de 1966, a escassos 4 meses da sua inesperada partida, nos apraz registar uma decisão de reconhecimento da sua dimensão e dignidade académica, com a sua nomeação para director do Instituto Pedagógico Adolfo Coelho, anexo à Faculdade de Letras de Lisboa. Idêntico acto de reconhecimento assumiu a Academia das Ciências de Lisboa, que o elegeu sócio correspondente em 1960 e sócio efectivo em 1963. [Manuel Ferreira Patrício na conferência de encerramento]
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http://www.ie.ulisboa.pt/portal/page?_pageid=406,1909972&_dad=portal&_schema=PORTAL (Colóquio «Delfim Santos e a Educação», integrado nas Evocações do Cinquentenário do Falecimento de Delfim Santos (1966-2016))
http://delfimsantos.org/VIDA.htm (Cronologia delfiniana)

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