sábado, 23 de janeiro de 2021

Câmara de Lobos

Sábado, 25 de Julho                                                                                       3 de 19

Tarde

Vamos a caminho do Cabo Girão, passando primeiro por Câmara de Lobos. É preciso subir em estrada de montanha e talvez, também, perguntar a alguém o caminho certo, nalguma encruzilhada.

Já descemos. As primeiras imagens da pequena baía, a aproximação, os edifícios em volta, ficaram na retina, vivamente... e agora, como toldadas por brisa marítima da manhã.

Junto ao hotel Pestana Churchill Bay, admiramos a baía em frente e o oceano azul. Vamo-nos aproximando do paredão e poucos metros adiante, um homem ainda novo, seco de carnes tostadas pelo sol, barba um pouco grisalha no queixo, boné na cabeça, calção branco até aos joelhos, xanatas pretas com o peito do pé coberto e atacadores brancos, pede qualquer coisa enquanto me dirijo ao longo do cais... 

Continuo..., deixo-o para trás.  O paredão, agora, inflecte à direita, mais umas dezenas de metros e é o ponto onde rapazes e raparigas se lançam de mergulho para a água, pouco funda para os meus medos. De cima do muro de resguardo do «paredão» mergulha um rapaz de dez, doze anos, moreno, meão ou pequeno para a idade. Ao mesmo tempo na água, outro se aproxima da trajectória vertical do companheiro... Quase chocaram.

 Tchaap!  O rapaz emerge, diz ao outro,

 És tonto!?

e vai (vão) nadando calmamente, como se o meio aquático fosse o dele, dia e noite, em direcção ao cais adiante uma cinquentena de metros.

Volto e onde o caminho alarga o homem volta a aproximar-se, sentando-se no cadeirão de verga ao lado de Churchill, dá-se à fotografia. Desta vez é bem sucedido; atribuí à fotografia o valor simbólico de um euro e foi cada um à sua vida.

Churchill visitou Câmara de Lobos no dia  8 de Janeiro de 1950 e pintou a baía.

[O caminho do paredão é partilhado pela Rua de Nossa Senhora da Conceição, até à confluência com a Rua Nova da Praia, e a Rua de Serpa Pinto até ao cais, findo o qual continua pelo mar dentro o espigão de rocha negra]

PESTANA
CHURCHIL BAY
POUSADA  & HISTORIC HOTEL
MADEIRA PORTUGAL,
lê-se na placa, atrás de Churchill
POUSADA
Que pintaria aqui Churchill?
O mar desta enseada sugeria nas raízes da consciência o pequeno lago dos peixinhos dourados em Chartwell, propriedade comprada um ano após a morte de Marigold?
... de maravilhosos caracóis dourados... (1)



Ao fundo, a Baía de Câmara de Lobos, vista do cabo Girão

O mesmo


*
            (1)

Churchill e as pinturas com o pequeno lago (Netflix, The Crown, temporada 1, episódio 9). 

Que densidade humana na representação de Churchill e Sutherland, irmanados na perda de uma filha, de um filho!...

(31’43’’): 

«Mas, reconforta-me que o seu trabalho seja tão honesto» (Sutherland)

«Estava a pensar no lago dos peixinhos dourados em Chartwell» (S.)

«Why the pond?, is just a pond» (O lago? Porquê o lago?, é só um lago» (C.) 

(Sutherland pinta...    ...    ...)

— É muito mais do que isso… Tanto que voltou a ele repetidamente. Mais de vinte vezes. (S)

 

[Imagem do livro]

The right Honourable

WINSTON CHURCHILL

O. M., C. H., M. P.

— Sim, por ser um desafio técnico. Ultrapassa-me.

— Talvez o Sr. se ultrapassasse a si. E por isso que é mais revelador do que um autorretrato.

— Que parvoíce. É a água, as luzes. A manhã Os peixes no interior da água.

— O nosso trabalho é revelador e eu vi isso no seu lago. Sob a tranquilidade, a elegância e a luz a incidir na tranquilidade da água, vi honestidade e dor, uma dor. Até a moldura me disse que queria que as pessoas vissem algo sob as cores esbatidas, no fundo do lago. Um desespero horrível, escondido como um monstro marinho.

— Viu isso tudo?

— Sim.

— Talvez isso diga mais sobre si do que sobre mim.

— Talvez

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(33’24’’) — Posso perguntar-lhe uma coisa, Sr. Sutherland?

— Humm…

— É sobre um dos seus quadros, aquele a que deu o título Pastoral, com aquela madeira toda rugosa e torcida, aquelas belas manchas pretas disformes Achei-o praticamente malévolo! A que se deveu?

— Que perspicaz. Foram tempos muito negros. O meu filho John, faleceu com dois meses.

— Sinto muito.

— Obrigado.

— Tem cinco filhos, não é?

— Quatro. Marigold era a quinta. Deixou-nos com 2 anos e 9 meses. Septicémia.

— Sinto muito, não fazia ideia.

— Chamámos-lhe Marigold pelos seus maravilhosos caracóis dourados. Eram de uma cor extraordinária. Para meu tormento, ou talvez, por misericórdia de Deus, não estava presente quando morreu.

Quando cheguei a casa, a Clemmie…    … berrava como um animal ferido.

Comprámos Chartwell um ano após a morte de Marigold .

Foi quando mandei fazer…    … o lago.

[Sutherland pinta]

— Olhe para mim. (C)

...    ...

— Obrigado. (C)

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Graham Sutherland’s portrait of

Winston Churchill is widely considered

to be a a lost masterpiece.

 

IN RETIREMENT, CHURCHILL FREQUENTLY ESCAPED ENGLAND FOR THE TRANQUILITY OF THE

FRENCH RIVIERA.

HE NEVER STOPPED PAINTING THE POND

**

(Churchill queimou a pintura feita por Sutherland, por não gostar de se ver representado como homem de oitenta anos, sem as pompas de estadista. Foi uma pena!)

***

https://www.thefamouspeople.com/profiles/marigold-churchill-43730.php

http://www.visitmadeira.pt/pt-pt/a-madeira/sabia-que%E2%80%A6/churchill-na-madeira

https://sicnoticias.pt/pais/2015-01-22-Ferias-de-Winston-Churchill-na-Madeira-deixaram-marca-no-turismo-da-regiao