terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

De vez em quando...

     De vez em quando..., copiar as palavras de outros que nos parecem verdadeiras, sem enleios, sábias. São de SILVA LOPES, nas Jornadas Parlamentares do PS, aqui. No caminho para a independência, não deve haver ilusões, no país de todos.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

O TREVO 2

     O trevo amarelo

Ver artigo «Reprodução do trevo amarelo pode influenciar culturas agrícolas» (Cristina Pinto (Assessoria de Imprensa - Universidade de Coimbra), aqui.
     A Praga Má
     O meu amigo Vítor Saramuga conhece o trevo amarelo pelo nome de «praga má». Tem de a eliminar do logradouro de que cuida, junto a casa de habitação. Destrói os relvados -- diz ele. Não nutre pelo trevo, pela praga má, o mesmo afecto que eu.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

RÓMULO DE CARVALHO / ANTÓNIO GEDEÃO


     Rómulo de Carvalho

     Nasceu em 24 de Novembro de 1906 e faleceu em 19 de Fevereiro de 1997, passando hoje mais um aniversário sobre a sua morte.

     Ainda em Lisboa, nos anos 67 e 68, mais propriamente em 67, fui colega de um jovem que recordo como moreno, de porte atlético e sereno, bem disposto e conversador, só lembro o nome Sequeira; chamou-me a atenção para a poesia de António Gedeão e disse-me de cor, todo ou em parte o poema «Calçada de Carriche», «serviu-se dela, não deu por nada»... O José António (quase ia jurar que o nome é este), aluno de Filosofia, foi no ano seguinte para a Sorbonne e na Avenida de Roma contava coisas de lá e do Maio de 68, com um entusiasmo sadio e alegre. Disse-me que escrevia doze páginas por dia.

     Em Estremoz, no Rossio do Marquês de Pombal, conversei, às vezes, de literatura com o Raul Cóias e numa delas recita-me «Lágrimas de Preta», que eu já devia conhecer. Raul Cóias, veio  a confirmar estes seus interesses, actuando como divulgador e promotor cultural em Ponte de Sor, interessando-se muito e dando a conhecer, por exemplo, Garibaldino de Andrade, entretanto, também escritor da minha afeição. O Raul considerava O Homem e o Sardão o  seu melhor livro.

     No meu primeiro ano de Estremoz, realizou-se uma visita de estudo a Lisboa, indo no autocarro, como professores, que me lembre, eu e a professora efectiva de inglês, Nazaré Trindade. A certa altura, com Lisboa à vista, já a entrar nela, pela Avenida Gago Coutinho?, alguém lê ou declama uma coisa que caiu tão bem aos meus ouvidos!...

«Esta é a cidade e é bela...»,

de António Gedeão. Foi muito bom. Foi boníssimo.

     No ano seguinte, em Coimbra, onde regressei como estudante, após a interrupção de um ano em Estremoz, o Coro Misto da Universidade de Coimbra ensaiava e actuava. Havia no Coro Misto um dizedor de versos excepcional, que vi actuar uma vez no Teatro de Gil Vicente. Pela sua vibração, alma que pôs no que dizia, gestos das mãos, o olhar largo, abrangendo a assistência e o céu, o tecto da grande sala desaparecia, fez-me compreender melhor o que tinha lido um tanto passivamente:

truca, truca, truca, truca,
sob a abóbada romântica,
.........................................
Fixando a pedra, mirando-a,
quanto mais o olhar se educa,
mais se estende o truca…truca…
que enche a nave, transbordando-a,
……………………………….


     Talvez fosse antes a «Pedra Filosofal». Fez-me ver mais que na minha leitura íntima.

     Tive a sorte de visionar Rómulo de Carvalho e o seu amigo António Gedeão, por Diana Andringa, que a RTP  apresentou em 1996. Emitido, hoje, pelas 21:30 no canal MEMÓRIA e com próxima emissão no próximo dia 21 Fev., às 00.06.
   
     Quem quiser, pode ainda ler o  artigo escrito, em página do Instituto Camões, por Fernando Reis,sobre a vida e a obra de Rómulo de Carvalho.
*

     Seguem as poesias de António Gedeão referidas no texto.


Calçada de Carriche

Luísa sobe,
sobe a calçada,
sobe e não pode
que vai cansada.
Sobe, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe
sobe a calçada.

Saiu de casa
de madrugada;
regressa a casa
é já noite fechada.
Na mão grosseira,
de pele queimada,
leva a lancheira
desengonçada.
Anda, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.

Luísa é nova,
desenxovalhada,
tem perna gorda,
bem torneada.
Ferve-lhe o sangue
de afogueada;
saltam-lhe os peitos
na caminhada.
Anda, Luísa.
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.

Passam magalas,
rapaziada,
palpam-lhe as coxas
não dá por nada.
Anda, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.

Chegou a casa
não disse nada.
Pegou na filha,
deu-lhe a mamada;
bebeu a sopa
numa golada;
lavou a loiça,
varreu a escada;
deu jeito à casa
desarranjada;
coseu a roupa
já remendada;
despiu-se à pressa,
desinteressada;
caiu na cama
de uma assentada;
chegou o homem,
viu-a deitada;
serviu-se dela,
não deu por nada.
Anda, Luísa.
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.

Na manhã débil,
sem alvorada,
salta da cama,
desembestada;
puxa da filha,
dá-lhe a mamada;
veste-se à pressa,
desengonçada;
anda, ciranda,
desaustinada;
range o soalho
a cada passada,
salta para a rua,
corre açodada,
galga o passeio,
desce o passeio,
desce a calçada,
chega à oficina
à hora marcada,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga;
toca a sineta
na hora aprazada,
corre à cantina,
volta à toada,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga.
Regressa a casa
é já noite fechada.
Luísa arqueja
pela calçada.
Anda, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada,
sobe que sobe,
sobe a calçada,
sobe que sobe,
sobe a calçada.
Anda, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.


Lágrima de preta

Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.

Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.

Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.

Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.

Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:

Nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.


Esta é a Cidade

Esta é a Cidade, e é bela.
Pela ocular da janela
foco o sémen da rua.
Um formigueiro se agita,
se esgueira, freme, crepita,
ziguezagueia e flutua.

Freme como a sede bebe
numa avidez de garganta,
como um cavalo se espanta
ou como um ventre concebe.

Treme e freme, freme e treme,
friorento voo de libélula
sobre o charco imundo e estreme.
Barco de incógnito leme
cada homem, cada célula.
É como um tecido orgânico
que não seca nem coagula,
que a si mesmo se estimula
e vai, num medido pânico.

Aperfeiçoo a focagem.
Olho imagem por imagem
numa comoção crescente.
Enchem-se-me os olhos de água.
Tanto sonho! Tanta mágoa!
Tanta coisa! Tanta gente!
São automóveis, lambretas,
motos, vespas, bicicletas,
carros, carrinhos, carretas,
e gente, sempre mais gente,
gente, gente, gente, gente,
num tumulto permanente
que não cansa nem descansa,
um rio que no mar se lança
em caudalosa corrente.

Tanto sonho! Tanta esperança!
Tanta mágoa! Tanta gente!

Uma circe peregrina,
pedúnculo de vorticela,
perpassa sob a janela,
incandesce-me a retina.
Anda como sobre escolhos,
irradiando fragrância.
Envolvo-a toda nos olhos;
possuo-a mesmo a distância.

A multidão chama por mim.
Chama e reclama
Que eu nela sou princípio e fim.

Lá vou, lá vou.
Galgo os lanços da escada de roldão
e fluo, coloidalmente disperso,
corpúsculo e onda, sem anverso nem reverso,

fagocitado pela multidão.
(Esta parte a cinzento foi acrescentada em 20-12-2014 e não foi dita na visita de estudo, em 1973.)

Poema de pedra lioz 

Álvaro Góis,
Rui Mamede,
filhos de António Brandão,
naturais de Catanhede,
pedreiros de profissão,
de sombrias cataduras
como bisontes lendários,
modelam ternas figuras
na lentidão dos calcários.

Ali, no esconso recanto,
só o túmulo, e mais nada,
suspenso no roxo pranto
de uma fresta geminada.
Mas no silêncio da nave,
como um cinzel que batuca,
soa sempre um truca…truca…
lento, pausado, suave,
truca, truca, truca, truca,
sob a abóbada romântica,
como um cinzel que batuca
numa insistência satânica:
truca, truca, truca, truca,
truca, truca, truca, truca.

Álvaro Gois,
Rui Mamede,
filhos de António Brandão,
naturais de Cantanhede,
ambos vivos ali estão,
truca, truca, truca, truca,
vestidos de surrobeco
e acocorados no chão,
truca, truca, truca, truca.

No friso, largo de um palmo,
que dá volta a toda a arca,
um Cristo, de gesto calmo,
assiste ao chegar da barca.
Homens de vária feição,
barrigudos e contentes,
mostram, no riso dos dentes
o gozo da salvação.
Anjinhos de longas vestes,
e cabelo aos caracóis,
tocam pífaros celestes,
entre cometas e sóis.
Mulheres e homens, sem paz,
esgazeados de remorsos,
desistem de fazer esforços,
entregam-se a Satanás.

Fixando a pedra, mirando-a,
quanto mais o olhar se educa,
mais se estende o truca…truca…
que enche a nave, transbordando-a,
truca, truca, truca, truca
truca, truca, truca, truca.

No desmedido caixão,
grande senhor ali jaz.
Pupilo de Satanás?
Alma pura, de eleição?
Dom Afonso ou Dom João?
Para o caso tanto faz.


Pedra filosofal

Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.

eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.

Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.

Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida,
que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.

Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida,
que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.


O TREVO

Foto tirada em 18-2-2014
 Foto tirada em 18-2-2014

 Foto tirada em 18-2-2014

Foto tirada em 18-2-2014

 Foto tirada em 18-2-2014

Foto tirada em 16-2-2014

No final da haste, três cabecinhas onde como se cola cada uma das folhas do trevo
Foto tirada em 18-2-2014


     Muito popular é o trevo. O trevo tem três folhas no final de cada haste, onde apontam três cabecinhas, a cada uma como se colando a sua folha, em forma de coração. Não há espaço para planarem, recebendo os raios solares na perpendicular do meio-dia. O trevo de quatro folhas é a excepção e, por ser raro, é festejado por quem o colhe. Eu, se fosse trevo, gostava de ser trevo de três folhas. O três deve ser mais perfeito que o quatro. A este parece não faltar nada, na sua simetria. O três, na sua aparente imperfeição, tem de buscar algo, é dinâmico. Mas, não digo que se estiver perante um de quatro folhas não dê a nota máxima também a este.

     As pétalas da flor do trevo são cinco. Foi o que pudemos ver. A regra é: trevo de três folhas e flores de cinco pétalas; os números três e cinco, matematicamente ou quase.





 [Extractos da Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, págs. 745 (col. 2), 746 (cols. 1 e 2) e 747 (col. 1)].
     
          Penso que quando se fala no trevo de quatro folhas, sinal de sorte, se quer significar o trevo da espécie designada acima trevo amarelo. No mesmo artigo da GEPB, são referidas mais dezasseis espécies de trevo. Quem se quiser aventurar na linguagem técnica da botânica, encontrará uma dificuldade e especialização igual ou maior que a que nos é oferecida pelas histórias da arte. O trevo de quatro folhas aqui descrito há-de ser uma realidade diferente da do trevo amarelo, sendo as folhas sempre em número de quatro, julgo eu. Tem interesse o artigo e o vídeo de Eduardo Dias, da Universidade dos Açores.
     (N. B. --É compensador clicar nas imagens e voltar a ver tudo como um álbum, em ecrã inteiro.)

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Convento Velho de Penafirme

     Neste passeio de domingo, se for preciso um título e uma figura central, será Convento Velho de Penafirme ou Nas Ruínas do Convento Velho de Penafirme, mas tudo o resto conta e em qualquer coisa está o mundo todo. Como é graciosa a Fonte Grada, a sua igreja alvíssima, de barras azuis, com um rosto perfeitamente impoluto, apetece dizer imaculado. À beira, dois cafés, de boa apresentação exterior, um deles, de intervenção artística ligeira, leve, agradável -- e colorida, o azul, claro.  Como alentejano, sinto-me em casa.

     Dois registos de azulejos fotografei, dedicados a N.ª Senhora da Nazaré e a Santo António, que não é aqui reproduzido, mas se pode ver na casa amarela, da 2.ª imagem, à esquerda. Estes registos das nossas terras, de carácter sagrado ou profano, de iniciativa privada ou pública, são um contributo identitário forte, em que as pessoas, as comunidades locais e nacional se dão a conhecer. 

     Nas Palhagueiras, o monumento aos serradores, que, antes da electrificação das aldeias e vilas por esse Portugal fora, eram quem «desfazia» os pinhais, cortando a árvore na base, a machado, podando ramos e dividindo o tronco em toros, com um serrote puxado por dois homens, e depois, com o toro em cima da burra, faziam as diversas peças que iriam parar aos bancos dos carpinteiros e a madeiramentos de telhados: forro, solho, moldura, ripa, barrote, viga...

     Continuamos. Dois ou três moinhos, vinha, parcelas de terreno com flores amarelas, gerando espontaneamente um tapete na natureza. Quis parar, mas não me atrevi a incomodar a chefe de viatura.

     E eis-nos chegados às ruínas do convento. Ainda conservam vida, não a que já não têm, mas a que o conjunto subsistente nos faz chegar pelo que vemos e sonhamos, pela memória e a guarida oferecida a quem o visita. Neste dia estava habitado. E, andando eu a reconhecer as imediações, de que destaco uma grande exploração agrícola em estufa, da estrada para Porto Novo até à Póvoa (de Penafirme), dunas deliciosas para os rapazes das motas -- passaram lá alguns -- e a vegetação característica..., avanço em direcção ao monumento e preparo-me para tomar uma vista. Tive de fazer sinal com o braço e numa espécie de grito, pedi para se desviarem para poder fotografar. Havia dois habitadores!

     Há uma cerca de rede metálica, com entrada franca do lado da estrada, como pude descobrir. Os habitadores, quais guardião ou superior e a respectiva acompanhante, eram dois jovens, facilmente reconhecíveis como pessoas com interesses culturais e de agradável presença. Ela desenhava as «pedras», certamente um estudo, no seu caminho universitário; as «pedras que falam», furtando o título a um livro de Campos Júnior. Breves palavras trocámos, cordiais, e delas guardo saudade, saudade já destes amigos que não conhecerão estas linhas.

     Na Praia Azul. Possivelmente, a Praia Azul é a minha preferida. Nem perante mim o quero reconhecer, porque as outras também são muito boas; muitas pessoas as acharão melhores. Nesta praia, olhámos o mar. Estava enérgico, mas não estava mau. O mar é sempre um bálsamo.
     

 Fonte Grada


 Dom Fuas Roupinho e N.ª S.ª da Nazaré

 Rotunda das Palhagueiras. Os serradores

 A flor amarela (trevo)


 Ruínas do convento















.
A modesta cruz, aqui colocada por alguém com fé,
atesta que o convento conserva vida.



 Mar e  céu  na Praia Azul