domingo, 31 de dezembro de 2017

José Luís Peixoto em Coimbra




José Luís Peixoto é um autor que admiro desde Nenhum Olhar (bastaria este livro para ser um grande escritor), seguido de Morreste-me, pouco mais, e alguns artigos. É natural de Galveias e partilhamos o mesmo concelho. De Montargil vejo Galveias desde sempre e quando veio a luz eléctrica, também de noite, antes ainda de Montargil a ter, trazida pela barragem, inaugurada em 1958. Fica do lado montante da ribeira, como dizíamos dantes, na outra margem.
Tenho dele já bastantes livros «por abrir». Também é poeta. Outro livro que me deliciou, me entrou em fibras íntimas, gerando um movimento especial, co-movendo, foi A Criança em Ruínas. O poema sem título que se impôs entre todos é este, que peço a licença de transcrever:

na hora de pôr a mesa, éramos cinco:
o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs
e eu. depois, a minha irmã mais velha
casou-se. depois, a minha irmã mais nova
casou-se. depois, o meu pai morreu. hoje,
na hora de pôr a mesa, somos cinco,
menos a minha irmã mais velha que está
na casa dela, menos a minha irmã mais
nova que está na casa dela, menos o meu
pai, menos a minha mãe viúva. cada um
deles é um lugar vazio nesta mesa onde
como sozinho. mas irão estar sempre aqui.
na hora de pôr a mesa, seremos sempre cinco.
enquanto um de nós estiver vivo, seremos
sempre cinco.


Vem tudo isto para justificar o interesse com que fui lendo a evocação de Coimbra, passado, futuro antevisto, presente, futuro que não podemos saber. Há planos de tempo como no cinema.
«Nas costas, sinto os passos do meu pai, aproxima-se, avança sobre a terra. Agora, num instante que não fui capaz de prever com exactidão, pousa-me a mão sobre o ombro, o peso da mão.»
A minha irmã conta que há letreiros nos cafés a proibirem o estudo, entusiasma-se com essa ideia. — Assim começa «As certezas do Mondego» na revista da TAP UP Magazine. Percorremos Coimbra, presente e passado presente.
Convido a ler:
                                            As certezas do Mondego

A minha irmã conta que há letreiros nos cafés a proibirem o estudo, entusiasma-se com essa ideia. Adora a extravagância de uma cidade cheia de estudantes e, também, encanta-se a imaginar esses estudantes de mesas de café, a sua perigosa vida académica, estudiosos e rebeldes.
Subimos as escadas monumentais a pé. Lá no alto, demoramos um par de minutos a recuperar o fôlego. As faculdades têm as especialidades escritas nas fachadas com letras de metal. A minha irmã dá-nos essa informação, como se não soubéssemos ler. Ao passar por estudantes de traje, capa negra debaixo de um sol seco, todo-poderoso, calor como lixa, a minha irmã cala-se de repente e disfarça o fascínio. Se algum de nós comenta alguma coisa, demora a responder, não nos conhece.

terça-feira, 12 de dezembro de 2017

CASA HIPÓLITO, por Joaquim Moedas Duarte


Este livro não é uma pedra sobre o assunto. Ele mesmo é uma pedra do edifício que ao longo dos tempos vai desenhando o rosto de Torres Vedras.
Tenho falado com pessoas que trabalharam na Casa Hipólito, algumas delas a viver no Sarge. Lembro só o Sr. Valentim Varela e o Sr. José Lino. E o Sr. João Areias, com livro por publicar, em que a vida na fábrica está bem presente, ao lado de outras vivências, em véu ficcional.
A capa está feliz, com o logótipo da empresa, explorando o nome do fundador. Os raios podem significar o mundo onde chegaram os artefactos da Casa, iluminando, aquecendo... E estarão, também, pelas aldeias e lugares do concelho donde vinham centenas de trabalhadores.
Aproveitando o nome de origem grega, Hipólito, formado pelos constituintes «hipos» (cavalo) e «litos» (pedra), o artista incluiu no meio da composição um cavalo marinho.
Sol, vida, criação de riqueza.
http://patrimoniodetorresvedras.blogspot.pt/2017/12/casa-hipolito-convite.html

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Frederico Lourenço e «A Estranha Ordem das Coisas», de Manuel Damásio

«Damásio e o erro de Sócrates»
Esquecendo, agora, a opção de Frederico Lourenço pelo AO90 (não é a minha), o facto é que gostei muito de ler o artigo, abaixo reproduzido, a propósito do último livro de Manuel Damásio, «A Estranha Ordem das Coisas».
O ponto de partida é «A vida dos sentimentos», texto de Clara Ferreira Alves (introdução e ligações a extensas respostas de Manuel Damásio), na E – Revista do Expresso, 28 de Outubro, p. p.
Frederico Lourenço disserta com visível gosto sobre o pré-socrático e médico Filolau. A alma e o corpo, seu sepulcro, pitagorismo. Sócrates, Platão, Fédon, Novo Testamento, cristianismo, prazer.
Espero que gostem.
A seguir, pode-se ler a peça «A vida dos sentimentos». É o que penso fazer.
*

quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Bonecos de Estremoz, Património Cultural Imaterial da Humanidade


Amor se fores à feira
Traz-me uma prenda galante
Não tragas nada de ourives
Um pucarinho é bastante

(Da secção «Citações e Referências», pág. 10, de BARROS DE ESTREMOZ, Limiar, Actividades Gráficas, Lda., 1990, por Joaquim Vermelho, direcção gráfica de Armando Alves)

         Consultei o jornal referido na mensagem de Hernâni Matos, julgando lá encontrar um texto sobre a candidatura dos Bonecos de Estremoz a Património Cultural Imaterial da Humanidade. Tal não acontece.
A página pouco mais é que um índice do jornal, a sair nas bancas, «amanhã», 30-11-2017 (facebook do E).
Fica aqui o parabém pela aprovação da candidatura dos Bonecos de Estremoz a património Imaterial da Humanidade. É dirigido a quantos prepararam institucionalmente a candidatura, a Hernâni Matos, grande divulgador do «figurado de barro de Estremoz», a Joaquim Vermelho, a todos os barristas e gente que compra as peças, cântaros, púcaros, bilhas cravejadas de pedrinhas, ocarinas, figuras e grupos religiosos, procissões, bandas de música... E à gente que se deliciava a passar no Rossio Marquês de Pombal no famoso mercado semanal ao sábado, junto dos stands de olaria. Só para olhar... 
Agora, resta conseguir manter o carácter dos bonecos de Estremoz, no meio de algumas alterações que o galardão da UNESCO venha trazer. A qualidade é bem-vinda...
«Que o poder do comprador não abafe os grandes valores das nossas artes. Que se olhe para este mercadejar não apenas em termos de divisas que é urgente amontoar a todo o custo sem olhar a meios, a ponto de se produzirem objectos que não têm nada a ver com o nosso entendimento, desde a matéria-prima à formação, à decoração, consistindo apenas num grave caminho de subversão cultural.»
(Último parágrafo do livro de Joaquim Vermelho, acima referido. Joaquim Vermelho, já falecido, foi director do Museu Municipal de Estremoz, que em 2003 passou a designar-se Museu Municipal Prof. Joaquim Vermelho)
***
https://dotempodaoutrasenhora.blogspot.pt/2017/11/bonecos-de-estremoz-patrimonio-cultural.html (blogue de Hernâni Matos. Procure nas etiquetas, numerosas referências aos Barros de Estremoz)

domingo, 3 de dezembro de 2017

Barragens e furos ilegais. O gravíssimo problema da água em Portugal

Transcrevo o linque duma mensagem de http://www.otrosmundos.cc/.
Por concordar com o conteúdo, partilho. Carlos Cupeto é uma figura conhecida e respeitada no campo da hidrogeologia. Como é possível a paralisia prática das nossas autoridades?
Ver, aqui, as palavras (poucas) de Carlos Cupeto e a hiperligação para a reportagem da passada sexta-feira na RTP – Programa «Sexta às 9».

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

A brincar ou a sério

A partilha da semana (Galopim de Carvalho na «sopa de pedra» de 15 de Novembro, p. p.)
 A propósito do Dia Mundial da Filosofia, para pensarmos. São ideias, situações com que nos temos confrontado... Não esquecer a parte final, dada a importância da educação para cada si mesmo e na relação com as outras pessoas.
Ser mais.
Em 2002 a UNESCO instituiu o Dia Mundial da Filosofia, no propósito de promover a reflexão sobre os acontecimentos actuais, fomentar o pensamento crítico, criativo e independente, contribuindo assim para a promoção da tolerância e da paz. Desde então este dia é celebrado em todo o mundo na terceira quinta-feira do mês de Novembro, que este ano terá lugar amanhã, dia 16.
Tudo o que aqui se pretende promover está contemplado no teórico e ilusório propósito oficial da nossa escolaridade obrigatória, agora de 12 anos. Basta ler os textos de alguns dos responsáveis pelo nosso ensino para verificar que assim é. Mas a verdade é que

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Beethoven e Brahms no TEATRO THALIA

Sábado, 11 de Novembro, 21 h
Depois de termos descoberto o caminho para o teatro THALIA, tivemos o prazer de o demandar em dia de concerto da Orquestra Metropolitana de Lisboa, que regularmente o usa para as suas temporadas clássicas.
A INTEGRAL DAS SINFONIAS DE Brahms II deixou-nos ouvir, hoje, de Beethoven, a Abertura Coriolano, Opus 62 (1807), e o Concerto para Piano N.º 3, Opus 37 (1800). Depois do intervalo, a Sinfonia N.º 2 em Ré Maior, Opus 73 (1877), de Brahms.
No Programa do espectáculo, são analisadas as obras interpretadas do ponto de vista técnico musical  e na relação com a luta pela expressão artística, tanto da parte de Beethoven, como de Brahms. Tal como mostra uma aproximação de Beethoven ao predecessor Mozart, o mesmo fez Rui Campos Leitão para o par Beethoven / Brahms: «O arrebatamento épico e o enfrentamento do legado de Beethoven, enquanto processo catártico, terão aberto caminho ao sublime histórico brahmsiano na sua dimensão sinfónica.»
Duas páginas são consagradas à biografia artística do pianista Filipe Pinto-Ribeiro e do maestro, Pedro Neves, sendo indicados os nomes de todos os músicos dos respectivos naipes. Na contracapa, mais informes sobre a Metropolitana e informação sobre os próximos concertos. O caderno-programa  constitui um interessante objecto, com algumas ilustrações – fotografia, pinturas, capa de partitura, retratos. A guardar.
Quanto ao THALIA, esperamos, ainda, poder vê-lo vazio, disponível no intervalo de todas as ocupações.
(Mais, em Teatro Thalia, Viagem ao Invisível e a mensagem que segue esta.)
A entrada nobre, aberta em dia de concerto

Aguardamos os músicos e o maestro

A Orquestra Metropolitana de Lisboa, com o maestro Pedro Neves

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Largo do Divino Espírito Santo

07-11-2017, tarde
Um pequeno passeio leva-nos a Vila Facaia, lugar da freguesia do Ramalhal.
…Ermegeira, Abrunheira, passagem estreita debaixo da linha do caminho-de-ferro – convém apitar –, mais adiante, o Ramalhal. Como um caçador atrás da caça que quase não há, por onde seguir? Aqui chegámos…, o Largo (muito belo) à esquerda, um gesto de cumprimento a uma «voz do Ramalhal»* cá fora, junto ao café… e sigo, já decidido. É Vila Facaia, onde nunca pus o pé… «Agora já pôs!» – vai dizer daqui a pouco um jovem quando lá chegar. No momento em que falei já era mentira o que disse.
A zona é de várzea desde o Maxial, guardada por montes. Um campo de jogos (Polidesportivo de Vila Facaia), a associação de caçadores, estamos a chegar. Como num palanque ou primeira fila junto ao palco, o café está defronte, quase a fazer barragem, a esplanada a terminar na «muralha». Os passantes, somos o palco deles, eles, o nosso.
O café tem a parte da entrada, com balcão, e espaço aberto para a sala de jogos, bilhar e matraquilhos. No topo, à direita de quem entra, há uma tira com mesas e cadeiras, a que se acede por quatro ou cinco degraus, um metro acima do restante pavimento. Chamemos-lhe galeria de teatro. Os dois espaços é como se fossem um… A decoração tem interesse do ponto de vista artístico, por exemplo, várias esculturas negras de factura africana em baixo-relevo.

Entretanto, tinha-me apercebido do carácter do conjunto formado pelo coreto, pequenino jardim, capela do Divino Espírito Santo, minimercado…, o Largo… Saio para tirar fotografias… Aqui ficam.
* Alusão ao grupo coral Vozes do Ramalhal

Em frente, o café Minarelli, troco as voltas das letras e chamo-lhe Miranelli


O minimercado e a capela no Largo do Divino Espírito Santo

Cruzeiro de 1937
Reconstrução no cinquentenário, 1987






Regresso pela mesma estrada

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Um pequeno e acolhedor espaço. Natureza e memória



 Quem aborde a povoação, vindo do Ramalhal, vê primeiro a homenagem aos combatentes da Grande Guerra. À direita, na parede, a placa rende homenagem aos combatentes do Ultramar, na pessoa de Dinis Bento Guerra, falecido em Moçambique

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Saber mais: Rota do Morango

domingo, 5 de novembro de 2017

As mulheres na Bíblia

Hoje acontece mais uma partilha. Quando calha, mas não ao calha...
É um texto saído no Público, da pena de Frei Bento Domingues... Procurei e acrescento dois textos por ele referidos, acolhidos nas páginas dos Cadernos ISTA.
Quem quiser, pode consultar...
OPINIÃO
A ignorância não é um dever
Não foi a Bíblia que deu origem à subordinação das mulheres na civilização ocidental.
1. Lutero não passou por Portugal. Na revista Brotéria, de Outubro, tentei explicar porque lhe negaram o passaporte. Apesar disso, de vez em quando, surgem acontecimentos que levam os meios de comunicação a lembrar que existe uma coisa muito antiga chamada Bíblia, que ele próprio traduziu para alemão. Agora parece que foi invocada, juntamente com o código penal de 1886, pelos juízes Neto Moura e Maria Luísa Arantes, para atenuar um crime horroroso contra uma mulher adúltera.

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

ÓBIDOS FESTIVAL FOLIO 2017


Queria partilhar um passeio de sábado passado a Óbidos. Desta vez, foi só andar por ali, calmamente, gozando a companhia... Foi bom. Óbidos é sempre bela. Tem encanto.
Deixem-se encantar. O FOLIO é só até ao dia 29 de Outubro, domingo próximo.

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Teatro Thalia, Viagem ao Invisível

(Completar, neste blogue, com a mensagem anterior, Viagem ao Invisível - Exposição no Teatro THALIA,
e no blogue Estaleiro: Teatro Thalia, wikipédia; Duarte Ivo Cruz
A Quinta das Laranjeiras, Gabriel Pereira

2.ª-feira, 28 de Agosto de 2017
O destino era o Largo da Luz. A partir de Sete Rios, caminhei pela Estrada das Laranjeiras, ao lado do Jardim Zoológico. Umas casas à esquerda, depois, o Colégio Príncipe Carlos e Princesa Ana… Mais umas dezenas de metros e vejo um edifício com esfinges, colunas, frontão triangular, ao jeito da antiguidade clássica. Separado da rua por um gradeamento, num pátio, olhando de frente para o edifício ocupado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior.
Entrei. Um funcionário novo na portaria do ministério mostra algum zelo pela privacidade do local... Do lado oposto, tudo fechado. O que logo chamou a atenção,

HIC MORES HOMINUM CASTIGANTUR

a frase que se lê sobre as colunas: Aqui se castigam os costumes dos homens. Estado, igreja ou maçonaria foram as ideias que me surgiram, mediante o carácter didáctico, crítico, mordaz, de preocupações educativas e cívicas. Venho a saber que o construtor desta obra foi o conde do Farrobo e digo para mim: «É um maçon 

Terá sido? Descubro que estamos perante um teatro, o que recorda a frase de Jean de Santeul, em Recueil d'odes sacrées, «Ridendo, castigat mores», mais tarde mandada pintar pelo arlequim Dominico no pano de boca do seu teatro, tornada divisa da comédia.
Imputava esta frase, vagamente, a Horácio, mas o mais próximo que dela se encontra neste autor são as palavras «ridentem dicere verum», de Sátiras, I, 1, num contexto relativamente «doce»: «[...]: quamquam ridentem dicere verum quid vetat? ut pueris olim dant crustula blandi doctores, elementa velint ut discere prima [...]» «[...]: Todavia, que impede dizer-se a verdade rindo? Como os mestres meigos costumam dar bolos às crianças, para que queiram aprender as primeiras letras [...]») Horácio começou a falar em tom sério e a ele volta logo a seguir a este passo.
Normalmente, a entrada está encerrada, só abrindo as portas para actividades várias, concertos… O espectáculo inaugural coube à O. M. L. (Orquestra Metropolitana de Lisboa). O interior está vazio na ausência de utilização, nestes casos. Para a exposição entra-se pela parte posterior. A leitura do THALIA faz-se pelo lado do pátio partilhado com os serviços do ministério da tutela: peristilo, foyer, plateia e palco.
Refiro especialmente a Visita Guiada, de Paula Moura Pinheiro, RTP 2015, e Farrobodó, Uma Biografia do Conde do Farrobo (a propósito das pinturas do Palácio Quintela da Rua do Alecrim, em Lisboa, pela luz que podem lançar sobre o conde do Farrobo, ver o ANEXO no final desta mensagem). Muito importante, para perceber o trabalho de requalificação e a utilização a dar ao teatro Thalia, dois pequenos filmes, um da Goto Films, com intervenções de Gonçalo Byrne, Patrícia Barbas e Diogo Lopes, e outro, feito por ocasião  do Mies van der Rohe Award.
Quando foi posto o nome THALIA
A mais antiga referência a este teatro como “Thalia” parece ter sido feita por Pinto de Carvalho, tardiamente, já em 1898[i]. Mas outras fontes da mesma época, como Fonseca Benevides[ii], ou Sousa Bastos[iii], usam o nome original: Teatro das Laranjeiras. É possível que a designação “Thalia” tenha resultado de uma qualquer efabulação no fim do século XIX, para acrescentar pitoresco. E que depois, no mesmo espírito, se terá ido replicando. A recente remodelação desta construção como espaço de eventos, oficializando o nome Thalia, também veio reforçar e expandir aquela designação. [wikipédia]

«[...] D. Maria Kruz, actriz primorosa que na Fille de l'Avocat, representada no Thalia, foi admirável de chiste, de fina penetração» (p. 99)
«Na noite de 23 de abril de 1848 subiu á scena no theatro Thalia o drama em 5 actos Marie Jeanne, de Dennery e Mallian, desempenhando o papel de Jeanne a D. Emilia Kruz, o de Remy o sr. Guerreiro, e o de Bertrand o sr. Francisco de Sá.» (p. 107).
«três récitas nas Laranjeiras», (p. 99); «Soirée Filarmónica nas Laranjeiras» (p. 101), «nas Laranjeiras», «representações das Laranjeiras» (p. 102); «reuniões das Laranjeiras», «festas apreciáveis, nas Laranjeiras» , «Nunca se fallava das Laranjeiras sem se fallar logo de Duarte de Sá.» (p. 107); «as Laranjeiras»; «Soirée dramática nas Laranjeiras» (p. 109). Há outras referências, com o mesmo sentido. [Extractos do livro de Pinto de Carvalho (Tinop)] LISBOA D'OUTROS TEMPOS I Figuras e ScenasAntigasLisboa, 1898]

***
As obras começaram no final de 2009. O espaço fica intencionalmente vazio e como tal pode ser visitado, quando não houver eventos do ministério, conferências, concertos ou exposições. Foi inaugurado com um concerto pela Orquestra Metropolitana de Lisboa, em 19 de Outubro de 2013. Desde então, a O. M. L. tem realizado, aqui, a sua temporada clássica, como em 2017, em que apenas os dois primeiros concertos tiveram lugar no salão nobre do Teatro de São Carlos.

Esta fachada  não tinha as janelas cegas, como agora. 
Veja as diferenças na estampa reproduzida, abaixo, do Universo Pittoresco, tomo 2, e na imagem da Ilustração, 1928, n.º 55, p. 25

A fachada principal do theatro das Laranjeiras é ornada com um elegante portico, a que fazem corôa tres estatuas de pedra, e é sustentado por quatro columnas de ordem dorica, junto às bazes das quaes se avançam quatro sphinges, colocadas em seus pedestaes, tudo de boa pedra. No tympano avulta o escudo d’armas do Sr. conde do Farrobo, em relevo, e cercado de emblemas theatraes. No friso lê-se esta inscripção: Hic mores hominum castigantur; e por baixo pendem, entre as quatro columnas, três candieiros de iluminação a gaz. De um e outro lado do pórtico é coroada a fachada com oito estatuas, e decorada com pilastras dóricas, entre as quaes se vêem os bustos do nosso compatriota. M. A. Portugal, de Alfieri, Shakespeare, Sapho, Rossini, Sophocle etc., em relevo.
(Do Universo Pittoresco, Jornal de Instrucção e Recreio, 1841-1842, Lisboa, tomo 2.º, p, 305, transcrição tal qual. Ver, abaixo, reprodução da página)
                                                                
***


À entrada, deparamos com um índice dos lugares a visitar na exposição e um belo texto de Spela Hudnik. Ver mais na mensagem anterior

«Folheto» informativo do Teatro Thalia, de que se reproduz o texto processado em computador e as referências

TEATRO THALIA
Lisboa, 2012, Arqs. Gonçalo Byrne e Barbas Lopes

Construído inicialmente em 1825, é Fortunato Lodi, arquitecto do Teatro D. Maria, que em 1842 desenha a fachada que hoje conhecemos e faz frente ao edificado do Palácio das Laranjeiras, formando entre ambos um pátio de entrada com vedação para a rua pública. É esta a invisibilidade maior do Teatro Thalia, um certo paradoxo de um edifício público ter iniciativa e propriedade privada. O chamado à época Teatro das Laranjeiras, apesar da sua pequena dimensão, foi considerado um dos principais teatros em Lisboa do século XIX. Joaquim Pedro Quintela, Conde de Farrobo, era amante das artes e também de festas, e manda construir o Teatro para onde convida inúmeros artistas de teatro e os principais cantores de ópera europeus da época. Os seus eventos eram faustosos e amplamente comentados o seu Teatro era o grande palco. Deste ambiente surge a expressão «farrobodó», herança que chega aos nossos dias.
Actualmente, o Teatro Thalia apresenta-se como o resultado da evolução de um edifício pelas várias assunções que teve, desde a sua origem como teatro; passando pela ruína, estado prolongado do edifício, que se deve ao forte edifício que o destruiu quase por completo; e da sua renovação recente através nova função de espaço cultural, que lhe foi atribuída e a aproxima da sua génese cultural inicial. O projecto, ele próprio apresenta essas camadas, através de um desenho minucioso, que destaca cada uma das formas que o tempo deixou. A proposta de Gonçalo Byrne e Barbas Lopes é um exemplo de sucesso no sentido de tornar visível, a invisibilidade do seu destino anterior ou de devolver vida e significado à decadência que um edifício esquecido pode adquirir. O edifício apresenta essencialmente três fases distinguidas pela forma, materialidade e pela função: o primeiro teatro, na sua forma original entre o palco e a plateia num volume alto e seco revestido por fora em betão ocre e deixando pelo interior a pedra original que a ruína revelou; o antigo átrio de Lodi na sua forma e pedra delicadamente trabalhada; e o novo volume em matéria tecnológica e forma mais flexível que agarra uma nova entrada de forma a permitir a sua nova utilização. Os três tempos, as três matérias e os três volumes reconhecem a nova visibilidade do novo Thalia.
Sendo o Teatro Thalia, o edifício quer recebe a exposição, propõe-se que este seja um dos casos de estudo que o projecto Viagem ao Invisível, uma oportunidade a quem vem, de poder participar um pouco da viagem como experiência e representação de espaço.

Referências


1. Pinto de Carvalho, Lisboa d’Outros Tempos. Lisboa: Livraria de António Maria Pina, 1898, arquivo: Gabinete de Estudos Olissiponenses
2. Eduardo de Noronha, Milionário Artista. Lisboa: João Romano Torres & C.ª, Anos 1920, arquivo: Gabinete de Estudos Olissiponenses
3. João Pinto de Carvalho, Lisboa de Outrora. Lisboa: Grupo «Amigos de Lisboa», 1939, arquivo: Gabinete de Estudos Olissiponenses
4. Manuel Luís da Costa, Universo Pittorescco: Jornal de Instrução e Recreio. 1844, arquivo: Gabinete de Estudos Olissiponenses
5. João de Sousa Fonseca (dir.), Ilustração, n.º 55, Aillaud, 1928, arquivo: Gabinete de Estudos Olissiponenses
6. Postais do Theatro das Laranjeiras, s. d., arquivo: Gabinete de Estudos Olissiponenses
7. Fotografia do Teatro Thalia, s. d., arquivo: Gabinete de Estudos Olissiponenses
8. Gonçalo Byrne e Barbas Lopes, Planta Piso 0, Demolições, 2009 (reprodução), arquivo: Arquivo Municipal de Lisboa
9. Gonçalo Byrne e Barbas Lopes, Alçados Nascente e Poente, Demolições, 2009 (reprodução), arquivo: Arquivo Municipal de Lisboa
10. Gonçalo Byrne e Barbas Lopes, Alçados Norte e Sul, Demolições, 2009 (reprodução), arquivo: Arquivo Municipal de Lisboa
11. Gonçalo Byrne e Barbas Lopes, Cortes C1 e C2, demolições, 23009 (reprodução), arquivo: Arquivo Municipal de Lisboa
12. Daniel Malhão, Fotografias da construção, arquivo: Barbas Lopes
13. Daniel Malhão, Fotografias do edifício, arquivo: Barbas Lopes
14. Daniel Malhão, Fotografias do concerto, arquivo: Barbas Lopes
15. Daniel Malhão, Teatro Thalia, arquivo: Daniel Malhão
16. Daniel Malhão, Esfinges, 2010, arquivo: Daniel Malhão (na zona de entrada)

A mesa do Teatro Thalia é a primeira à nossa frente, disposta transversalmente
Em cada extremidade, uma vitrina com revistas e livros. Os documentos expostos estão numerados em separado ou agregadamente, de 1 a 16. Ver supra, em Referências




Contiguo á sala do expectaculo ficam as salas para os bailes, e os camarins, cujas janellas guarnecem a fachada lateral do edificio, que deita para a estrada das Larangeiras. Todas estas salas e camarins fôram há anno e meio decoradas com uma pompa e grandeza verdadeiramente reaes, por occasião do baile dado a Suas Magestades; baile, que por sua muita magnificencia, fez o assombro de nacionais e estrangeiros, e foi o assumpto das conversações de toda Lisboa durante muitos dias.
A sala propriamente do baile, é de forma oval, mui espaçosa e elevada. Cobrem-lhe as paredes riquissimos espelhos, mil ornatos doirados, e formosas pinturas. Duas tribunas, abertas no grosso das paredes, que formam o comprimento da sala, em justa correspondencia uma da outra, e ambas próximas do tecto, sam destinadas para a orchestra. As decorações destas tribunas condizem com a sumptuosidade da sala.
(Universo Pittoresco: Jornal de Instrucção e Recreio, tomo 2.º, 1841-1842, Lisboa, pp. 305-306, «O teatro das Larangeiras». Ver, abaixo, reprodução das páginas)
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A mesa do Thalia



A mesa do THALIA é a segunda, a partir do primeiro plano. Atrás se publicou uma fotografia semelhante, disposta longitudinalmente



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               ***     
O Teatro das Laranjeiras           

Universo Pittoresco, tomo 2.º, p, 305; Universo Pittoresco, tomo 2.º, p. 306

Universo Pittoresco, tomo 2.º

Palácio das Laranjeiras

  Ilustração, 1928, n.º 52, p. 25; Ilustração, 1928, n.º 55, p. 25

 Ilustração, 1928, n.º 56, p. 25;  Ilustração, 1928, n.º 57, p. 25

***
https://www.youtube.com/watch?v=u583dlsu3aU&t=1310s (Farrobodó, Uma Biografia do Conde do Farrobo, Happygenio, Produção de Filmes Unipessoal, Lda – para a RTP 2, 2010, 49:52)
https://www.rtp.pt/play/p2002/e208915/visita-guiada (VISITA GUIADA (V) Teatro Thalia, Palácio das Laranjeiras / 05 Out 2015 / Episódio 2, 31:25)
https://www.youtube.com/watch?v=nO3eHjC4Neg (Espaços&Casas, n.º 202, Teatro Thalia, por gotofilms, 18Fev2013. Intervenções de Gonçalo Byrne, Patrícia Barbas e Diogo Lopes, 9:46)
http://barbaslopes.com/np4/141.html (THALIA FILM; filme de cinco minutos, feito por ocasião do Mies van der Rohe Award. Veja o filme, ouça Deolinda, divirta-se: «Se é para acontecer, pois que seja, agora!»; clique em 1, para ler a descrição. Ao alto, em STUDIO, CONSTRUCTION, DESIGN, RSEARCH, surgem índices, a explorar. Vá clicando.)
http://www.cm-lisboa.pt/pt/equipamentos/equipamento/info/teatro-thalia///a-z//1520 (A quinta; o teatro)
http://www.sec-geral.mec.pt/pagina/teatro-thalia (Regulamento de cedência do Espaço  Teatro Thalia; Despacho que fixa os valores para a cedência e utilização do Teatro Thalia)
https://www.facebook.com/pages/Teatro-Thalia/116341041826715 (Facebook do Thalia)
https://www.hardmusica.pt/lazer/concertos/19326-orquestra-metropolitana-inaugura-o-renovado-teatro-thalia.html (A O. M. L. inaugura o recém-recuperado teatro Thalia, em 19 de Outubro de 2013)
http://www.arqnet.pt/dicionario/farrobo1c.html (Biografia pormenorizada sobre o conde do Farrobo)
https://www.academia.edu/25785497/Roteiro_de_Fontes_para_o_Estudo_do_Conde_do_Farrobo (1. Arquivos; 2. Bibliotecas: Biblioteca Nacional de Portugal – Fundo Geral, Jornais, Música, Reservados; Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais; Biblioteca e Arquivo do Teatro de S. Carlos (incorporados na Biblioteca Nacional de Portugal); 3. Obras Gerais; 4. Literatura do Século XIX; 5. Memórias e Biografias; 6. Monografias e estudos; 7. Teses de Mestrado e de Doutoramento).
Mais textos de Idalina Nunes (Clique em «Idalina Nunes», junto à foto): O espólio musical do Conde do Farrobo (Arte Musical, n.º 2, IV série, vol. I, Janeiro de 1996, pp. 76-90); Três Saraus na Quinta do Farrobo (Arte Musical, n.º 4, IV série, vol. I, Janeiro de 1996, pp. 169-184); O Mecenato Musical do Conde do Farrobo («Comunicação preparada para as Jornadas de Música Lusófona ocorridas nos dias 30 e 31 de Maio de 2008, no Instituto Piaget em Almada. Posteriormente a comunicação foi adaptada para ser apresentada nas Tardes do Thália no dia 23 de Maio de 2013», 7 págs.).
https://www.facebook.com/Conde-de-Farrobo-175152102548644/ (De I. N., pelo que se percebe.) Interessante e com referências ao THALIA.
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Palácio do Farrobo / Vila Franca de Xira
http://ruinarte.blogspot.pt/2013/07/palacio-farrobo-vila-franca-de-xira.html (Palácio do Farrobo; do blogue RUIN'ARTE)
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Palácio Quintela/Chiado
Há informação sobre o Palácio Quintela/Chiado nas referências atrás indicadas. Como curiosidade, veja-se Farrobodó, novo restaurante no Palácio Quintela. Quem queira, pode visitá-lo, pois está aberto ao público, e com um bocadinho de imaginação, pode ver o conde do Farrobo entre os presentes. Se não, vá a uma das janelas da Rua do Alecrim e talvez venham do rio sinais de bandeiras a dar instruções a alguém da casa. É da parte do conde, refugiado num navio inglês, sem que a polícia de D. Miguel saiba. Se vir bem, o próprio palácio tem bandeira inglesa.
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ANEXO
Manuel Gandra sobre as pinturas  no tecto e parietais do Palácio Quintela
Estas cenas da fundação de Roma têm um episódio marcante, que é o episódio da traição de Tarpeia, e já aqui encontramos, também, mais um elemento que remete para a história da época. A traição, na época, já estava presente na história de Portugal e, sobretudo, a traição a partir do núcleo central do poder, a partir da corte. A traição de Carlota Joaquina e do seu filho, D. Miguel. Aliás, todos os aspectos relacionados com a traição de D. Miguel e da mãe,,,, mas sobretudo de D. Miguel, que é, digamos, é, digamos,  o agente, é o protagonista da... desse processo estão aqui perfeitamente representados. Eu poderei mesmo dizer que neste palácio estão representados e estão prognosticados os eventos que iriam desembocar na guerra civil, entre liberais e absolutistas. Há um tecto, o tecto chamava-se..., o tecto representa Minerva, que denota exactamente essa preocupação de tentar ensaiar, lograr uma pacificação entre os dois irmãos desavindos, já desavindos nesse período. Minerva segura duas coroas, que costumam ser de louro, neste caso não são de louro,  são de oliveira, que é o símbolo da paz por excelência. E, evidente que estamos perante mais uma deixa para D. Miguel e D. Pedro, os irmãos desavindos que o dono da casa pretende coroar, não com a coroa de louros dos vencedores, porque não há vencedores, há apenas dois irmãos que pacificamente coexistem para bem da nação e, portanto, é esse o sentido que aquela pintura da terceira sala possui. [22:36 a 24:30]
Encontramo-nos numa escadaria nobre do Palácio Quintela, um espaço que a todos os títulos é notável pela sua, não só pela arquitectura, que evidentemente já foi mais imponente do que é hoje, mas sobretudo por causa da pintura, em virtude da pintura que existe nas paredes e na abóbada.Todas as pinturas nas paredes, todas as pinturas parietais giram em torno de um eixo central que é representado pela exaltação de Mercúrio, porventura poderá ser o próprio dono da casa que recebe os seus convivas, duma forma exaltante, visto que ele é o grande enviado dos deuses que, como enviado dos deuses, vem saudar os humanos e  trazer-lhes consigo o pomo dourado da abundância. Todas essas..., todo esse sentido exposto nessa pintura está complementado em quatro grandes painéis representando três trabalhos de Hércules e um episódio do décimo segundo trabalho de Hércules, que precede a morte do próprio herói. Para além disso, temos também presentes alguns planetas, os planetas, os deuses, digamos, os deuses que são transformados em planetas na astrologia tradicional, e os Quatro Elementos. Portanto, neste espaço, conjugam-se... uma espécie de ordem do mundo, que serve de introdução geral ao sentido mais universal — diríamos — e até mais particular, particularmente nacional, do palácio…, que nos será dado nas pinturas parietais do interior.
[No interior] Em qualquer destas pinturas, há sempre um toque que nos remete para as preocupações políticas, sociais ou ideológicas do dono da casa e isso é um elemento fundamental para a leitura e para a interpretação, portanto, para conseguirmos deslindar a semântica destas pinturas, que aparentemente são meras pinturas mitológicas, sem qualquer outro sentido senão o de decorar a casa. Na realidade, tudo, aqui, tudo o que vemos aqui nada tem de decorativo, no sentido, digamos, de tornar bonitinha a casa. Trata-se de tornar a casa falante, tornar a casa uma extensão do próprio dono dela. [35:12 a 37:37] (De FarrobodóUma Biografia do Conde do Farrobo)