quinta-feira, 17 de agosto de 2017

«Reinauguração» da igreja de S. Pedro

18:53
14 de Agosto de 2017, 19 horas
Dia grande para Torres Vedras. Hora bonita para quem a viveu. «Uma grande hora», como diz mais do que uma vez Fernão Mendes Pinto na Peregrinação, mas referindo-se a situações vividas de grande perigo. Aqui, hoje, houve «uma grande hora» comunitária, na qualidade das explicações de D. Manuel Clemente, que em retrospectiva enumerou e resumiu todas as leituras do dia, percorrendo mil anos de história bíblica, do rei David a Moisés, Cristo e S. Paulo.
Não falei de Maria; foi também referida – e teve mesmo papel central na celebração, como arca da aliança* (mãe de Cristo), mãe do céu – e a maneira como é vivida a relação e inspiração nela, no dia-a-dia de hoje. Além da Visitação de Maria a Isabel, lembro só um tema que me tocou como parte da comunidade; creio evidente o gosto de todos os que estávamos ali, irmanados na casa tanto tempo fechada. O tema é a união das pessoas no espírito, a força da fé. O nosso bispo Manuel contou o episódio evangélico de Cristo a caminhar sobre as águas, parecendo querer ensinar aos discípulos o seu futuro sem a presença física do Mestre.
Assim, entendi: Cristo e Pedro sobre as ondas do mar da Galileia. Cristo ficou na margem e mandou-os embarcar para a outra banda. «De madrugada foi ter com eles, caminhando sobre o mar.» Assustaram-se os discípulos, ao vê-lo caminhar sobre as águas. «Se és tu, Senhor, manda-me ir ter contigo sobre as águas.» «Vem.» Pedro teve medo e começou a ir ao fundo. Sobre o mar, com Cristo à vista, o medo de Pedro foi mais forte que a fé. Pedro e os companheiros na barca são a Igreja no mundo, no meio do vento. Afinal, todos os fiéis são o corpo de Cristo, são a Igreja**. A situação de todos e cada um de nós no mundo continua a ser a de Pedro e companheiros na barca.
 (Com o correr dos dias andamos tão distraídos!... Olho para a grande sala e vejo um palácio... Sempre lá esteve, mas só agora se me revela.)
«Reinauguração», disse o Sr. Patriarca, para dar sinal da emoção de, ao fim de mais de dois anos – foram ditos os dias –, se poder, enfim, entrar na igreja de S. Pedro. Houve solenidade festiva, na organização rigorosa, música de órgão, tanger do sino, coro dirigido pelo Professor Daniel Oliveira, número de sacerdotes, leituras do dia, participação nos cantos e responsórios, pessoas no coro alto, criança que se ouvia às vezes, sem se importar que o Sr. Cardeal falasse, solenidade na atenção que a assistência prestava à cerimónia religiosa e às palavras que lhe eram dirigidas.
Na «reinauguração», reabertura da igreja de S. Pedro, vem-me à mente a ideia do regresso de dois filhos pródigos. O primeiro somos todos nós que estranhámos o encerramento da igreja, por tanto tempo, e voltámos a entrar na casa do pai. O segundo, num dia especial, o de um filho da terra à casa que tão bem conheceu, desde os tempos da catequese, iniciada aos seis anos, era pároco o Padre Joaquim Maria de Sousa. «Eu quero ser como o Padre Joaquim!...» ***
“Teria sete ou oito anos e recordo-me, numa vez em que fui ajudar à missa, de ter chegado à sacristia e pensar: ‘Quero ser como o padre Joaquim’”, confidenciou, em 2007, ao PÚBLICO [Público, 26-05-2013, p. 8 a 10] Isto disse, hoje, antes da missa em privado ao cónego Daniel Henriques, que o contou a todos, receando estar a ser inconfidente.
Participaram na celebração o pároco, Cónego Daniel Henriques, o Padre José Manuel da Silva****, Padre Paulo Antunes e Padre José Miguel Ramos.
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Na última parte desta assembleia, coube a vez ao pároco de falar sobre as obras, a sua complexidade, o trabalho desenvolvido (muito da sua iniciativa e empenho...). O tecto da nave central: todas as tábuas dos trinta e cinco caixotões foram desmontadas, identificadas, limpas e fixadas as cores e remontadas. É novo todo o soalho das naves central e laterais, a partir da primeira linha de bancos, depois do chão de pedra. Nos agradecimentos, destacou a colaboração e financiamento da Câmara Municipal, sendo embora de esperar que fosse a direcção-geral competente dos Edifícios e Monumentos Nacionais a incumbir-se de tal responsabilidade... Todavia, ainda há muito a fazer; nos telhados das naves laterais, sacristia, capelas, soalho novo no coro alto, restauro do órgão..., mas trabalhos que se podem fazer sem encerrar a igreja.
O presidente da Câmara tomou a seguir a palavra, dirigindo-se a D. Manuel Clemente, e de pé no lugar da primeira fila em que estava, voltando-se também para o povo, referiu o apoio dado pela autarquia, envolvendo variados serviços e diligências. Disse estar consignada uma verba para atribuir às paróquias de Torres, sendo uma parte dela destinada para ajuda ao que falta recuperar e restaurar na igreja de S. Pedro.
Foi portador de ofertas, que entregou ao patriarca: dois livros de fotografias de Eduardo Gageiro sobre Torres Vedras, Viagem no Centro Histórico e Viagem no Alfazema e Choupal***** e uma reprodução emoldurada, de grandes dimensões, levantada alto pelo agraciado, com ambas as mãos, para apreciação dos presentes. É o seu assento de baptismo, que teve lugar há sessenta e nove anos, a completar amanhã, no baptistério desta igreja de S. Pedro.
Houve intimidade, estar em família, e houve catequese.
A saída de Clemente foi a confirmação do que se tem dito atrás. O patriarca, que entrou na igreja, à cabeça do cortejo, com o devido cerimonial, devendo fazer a saída, também, à frente, deixou-se ficar para trás, logo na primeira fila, e foi, praticamente um a um, uma a uma, dum lado e do outro, cumprimentando e trocando palavras amistosas de conhecido ou amigo de toda a gente. O cortejo seguiu o seu caminho.
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* Arca Espécie de caixa onde se guardavam as tábuas da Lei e que representava a presença de Deus. Ver Maria e Deus dos Exércitos. [Do  ÍNDICE BÍBLICO-PASTORAL, Nova Bíblia dos Capuchinhos, 1998]
Maria [...] → Arca da Aliança: Lc 1,28.31.35; Deus está com Maria – fórmula da Aliança – como esteve com Abraão, Isaac, Jacob, Moisés: Gn 26,3.24; 31,3; Ex 3,12; Dt 20,1-4; 2 Sm 7,9; Is 7,14n; 41,8-14; 43,1-5; Jr 1,6-8; Lc 1,42. [Do  ÍNDICE BÍBLICO-PASTORAL...]
*** Foi sobretudo por causa dele que quis ser padre?
Eu tinha na família a memória e a fotografia de um tio do meu pai que era um padre franciscano. Tinha os livros dele em casa. Era um tal Frei José da Assunção Rolim. Foi um pregador em várias partes do mundo. Mas a minha ligação maior era ao padre da freguesia. Recordo que era muito novinho, sete, oito, nove anos. Estava a ajudar à missa. Viemos para a sacristia. Até me lembro do sítio. “Eu quero ser como o padre Joaquim.” Engraçada,esta identificação. [Da entrevista publicada na Revista 2 do Público, foto na capa e título: D. MANUEL | O ATADOR DE PONTAS; pp. 14 a 17, Anabela Mota Ribeiro (texto) e Nuno Ferreira Santos (fotografia).]
**** O Padre José Manuel foi companheiro e amigo de D. Manuel Clemente. A vida juntou-os em várias ocasiões.
O padre José Manuel Silva, «da mesma criação» de Dom Manuel e com apenas um ano de diferença, confirma. «Era um padre [Joaquim Maria de Sousa] que criava um imenso espaço de reflexão e eram imperdíveis as tardes de domingo em que nos levava para o campo e passava slides. » Foi o mesmo pároco que convidou os então dois rapazes (na altura, com 14, 15 anos), para colaborarem com o jornal religioso ‘Badaladas’.
«Eu escrevia mais reportagens e o Manuel fazia textos mais sérios», conta José Manuel.
[Infância e juventude do novo patriarca, Correio da Manhã, on-line, 26-05-2013]
***** Torres Vedras por Eduardo Gageiro | Viagem no Centro Histórico e Torres Vedras por Eduardo Gageiro | Viagem no Alfazema e Choupal, edição da Câmara Municipal de Torres Vedras, ambos de Junho, 2017. Viagem no Centro Histótico teve a primeira edição em Novembro de 2003.
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À esquerda, o pároco, cónego Daniel Henriques; à direita, o padre José Manuel da Silva. Ao fundo, um pouco encoberto, o cardeal-patriarca demora-se com amigos ou conhecidos
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1 comentário:

  1. Ficou muito bonita a Igreja de S. Pedro...!!!
    Diria mesmo, ainda mais bonita...
    AG

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