Quinta-feira,
28 de Abril de 2016, 15 horas
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O
que me trouxe ali foi testemunhar uma cerimónia, importante na vida de alguém que
se consagrou ao estudo e à acção. Além do aspecto simbólico, releve-se o
contributo substantivo presente nas comunicações: a do elogio histórico a quem,
por razões de saúde, deixou de poder dar colaboração e presença assídua na
Academia e a da saudação feita ao académico que lhe sucederá na cadeira n.º 25,
da classe de Letras.
Tive
o privilégio de estar presente num dia importante para Manuel Ferreira
Patrício. Por sorte, pois tive muito gosto nisso, o homenageado foi Fernando
Castelo-Branco, meu professor de Psicologia na Escola do Magistério Primário de
Lisboa, quando fui aluno-mestre nos anos de 1963-1965. Uma vez nos disse o
director, na aula, que Fernando Castelo-Branco era o maior arqueólogo português
daquele tempo. Essa realidade, a compreensão exacta dela, escapava-nos quase
totalmente, empenhados e limitados que estávamos na vivência escolar, no nosso
pequeno mundo. Mas, registei a informação, assim, até hoje, sem embargo de
alguma traição da memória; se não era o maior, era um dos maiores e nisto já há
certeza.
Tenho
alguns livros de Fernando Castelo-Branco: Lisboa
Seiscentista, Breve História da Olisipografia, Aspectos e Canções da Apanha da Azeitona em Borba e Museus de Lisboa. Folheio o texto da comunicação
apresentada ao I Congresso de Etnografia e Folclore resultante da sua
permanência no mês de Dezembro de 1946 em Borba, publicado «apenas com ligeiras
alterações formais e alguns acréscimos que vão indicados entre [ ]». O interesse
vem de ter vivido alguns anos em Estremoz, bem perto de Borba, e ter gosto nas
recolhas de poesia popular. O cancioneiro em apêndice á comunicação foi
recolhido por Fernando Castelo-Branco e incorpora uma «valiosa colecção de
poesias» recolhidas pelo Padre João de Deus, que lhas ofereceu depois de
elaborado o estudo.
Fernando
Castelo Branco é um polígrafo, sendo numerosa e variada a sua bibliografia.
O seu
elogio foi feito por Manuel Lemos de Sousa, que começou por fazer o historial
da orgânica da Academia e da Classe de Ciências, desde a fundação. O número das
cadeiras dos académicos foi aumentando com o decorrer do tempo e também houve
rearrumação das formações. Assim, por exemplo, o Professor Joaquim de Carvalho,
catedrático de Filosofia da Universidade de Coimbra, sentou-se na mesma cadeira
que tem sido ocupada por Britaldo Rodrigues. O percurso de Britaldo Rodrigues
como professor, investigador e político é muito denso e tudo poderá ser
consultado, após a publicação do texto do elogio histórico em boletim da
Academia, ainda com mais pormenor do que o que foi possível dizer no
tempo concedido para a comunicação. Acompanhei a carreira de Britaldo Rodrigues
apenas nos finais dos anos oitenta, na sua passagem pela Comissão de Reforma do
Sistema Educativo, onde chegou a ocupar o lugar de presidente.
*
Disse, acima, que a importância da
cerimónia era não só simbólica, o que já é importante, mas substantiva,
enriquecedora. Aprendeu-se. Foi útil o encontro de todos quantos ali estivemos,
embora de maneiras diferentes. Foram úteis as vidas dos homenageados. Úteis,
por terem fundamento, as comunicações. Vão ainda ser úteis à Academia, e à
sociedade em geral, os que vão continuar a dar o seu contributo; vão continuar
a fazer. Caso contrário, seria vã a sua glória.
Nisi utile est quod facimus stulta est
gloria. É vã a glória se for inútil o que fizermos. (Do sítio na internet da Academia)
Na mesa: Manuel Lemos de Sousa, Carlos Salema (vice-presidente da Academia e presidente da Classe de Ciências), Artur Anselmo, (presidente da Academia e presidente da Classe de Letras), Maria Salomé Pais, (secretária-geral da academia), Soares Martínez, (decano da Classe de Letras)
Manuel Lemos de Sousa faz o elogio histórico de Britaldo Rodrigues; Miguel Telles Antunes saudou Manuel Lemos de Sousa
Manuel Ferreira Patrício faz o elogio histórico de Fernando Castelo-Branco; António Braz Teixeira saudou Manuel Ferreira Patrício
António Braz Teixeira saúda Manuel Ferreira Patrício
Salão Nobre
Escola Secundária de Passos Manuel, visto de uma janela do Salão Nobre
A chaminé do jornal O SÈCULO, vista da mesma janela
*
Algumas quadras, escolhidas quase aleatoriamente do cancioneiro publicado em apêndice ao estudo de Fernando Castelo-Branco
O meu peito é uma morada,
vem p'ra ela, meu amor:
de renda não pagas nada,
ainda te fico em favor.
(Pág. 30)
Quem me dera ter a vida
Que a rosinha tem no campo:
Nem eu tinha tanta lida,
nem em ti pensava tanto.
(Pág. 38)
Queria-te escrever uma carta,
mas não tenho papel branco,
nem o tinteiro tem tinta,
nem o nosso amor é tanto.
(Pág. 19)
Minha mãe já me tem dito:
Filho, não sejas maroto,
Desvia-te das mulheres,
Como a camisa do corpo.
(P. 19)
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Da pena do pavão,
do sangue da cotovia,
foi escrever uma carta,
o meu amor de algum dia...
(Pág. 31)
Água de ladeira acima,
sem a levarem não vai.
Correr atrás de quem foge,
não vão filhas do meu pai.
(Pág. 20)
Senhora da Boa Nova,
tens a cruz numa ladeira,
a igreja numa cova,
lá mais abaixo a ribeira
(Pág. 48)
Subi ao céu por uma linha,
Desci por um fio lilás:
Eu já fui ao céu por ti,
Tu por mim não és capaz.
(P. 40)
|
*
Academia
das Ciências, na wikipédia, página visitada em 01-05-2016.
Academia
das Ciências, sócios efectivos da Classe de Letras, página visitada em
01-05-2016, actualizada, em relação à anterior.
Academia
das Ciências, sócios efectivos da Classe de Ciências, página visitada em 01-05-2016.
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