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Dias 15, 16 e 17 de Junho, sexta, sábado e domingo
17 de Junho
Da Estação de São Bento à Ribeira,
passando pela Sé e panoramas dali desfrutados. Regresso, apreciando o grande
painel de Júlio Resende, Ribeira Negra, à entrada do túnel que nos deixa
na Rua do Infante D. Henrique. Daí até à Estação de S. Bento, para apanhar a
ligação a Campanhã e entrar no comboio que nos levará a Lisboa, deixando o
Porto para trás e levando-o dentro de nós...
Tudo isto à luz do dia, na companhia mais ou menos anónima, colorida, de quem como nós peregrina pela Estação de S. Bento, a sé quase só vislumbrada, as ruas, a pastelaria ou o restaurante, a força sólida do granito que nos alegra..., a absorver, a ser Porto...
Manhã
O vestíbulo em que vamos entrar está
forrado de azulejos em todas as paredes disponíveis, de alto a baixo. Magnífica obra de Jorge Colaço. O friso
superior nos topos sul e norte e dos alçados nascente e poente versa momentos
da história dos transportes, culminando na chegada do primeiro comboio ao Minho, em 1875. O restante espaço é ocupado
por episódios da história portuguesa, quadros da vida e costumes populares e,
ainda, motivos decorativos associados ao mundo ferroviário.
10:58
Nas paredes, por
baixo dos frisos, cenas históricas.
Entrada de D. João I no Porto
(Topo norte, no painel de azulejos superior)
Conquista de Ceuta
(No painel inferior)
A chegada do primeiro comboio ao Minho - Braga, em 1875
«O friso superior historiado, é
policromado e representa uma cronologia de alguns meios de transporte
utilizados pelo homem. O emolduramento inferior e superior deste friso, é
constituído por uma barra azul, castanho e amarelo segundo uma organização
geométrica estilizada, com círculos quadripartidos em cruz.» (http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_pagesUser/SIPA.aspx?id=5559)
Entrada de D. João I no Porto
D. João I e D. Filipa de Lencastre, a par, cada um em seu cavalo branco
O rei e D. Filipa de Lencastre, ainda noiva, entram solenemente na cidade, a par, cada um em seu cavalo branco; o arcebispo de Braga leva o da rainha pela rédea, como demonstração da alta dignidade do momento. A «entrada» foi o cortejo num pequeno percurso, do paço do bispo à sé, feito certamente bem devagar . «A gente era tanta que se não podia reger nem ordenar, por o espaço que era pequeno dos paços à igreja.»
E a quynta feira forom as genmtes da çidade jumtas em desuairados bamdos de jogos e damças per todallas praças, com muytos trebelhos e prazeres que faziam. As primçipaaes ruas per hu esta festa auya de seer todas eram semeadas de desuairadas verduras e cheiros. El-Rey sayo daqueles paaços emçima dhuum cauallo bramco, em panos douro / realmente vestido; e a Raynha em outro tal muy nobremente guarnida. Leuauam nas cabeças coroas douro ricamente obradas de pedras e aljôfar de gramde preço, nom himdo aredados huum do outro, mas ambos jguall. Os moços dos cauallos leuauom as mais honradas pessoas que hij eram, e todos a pee muy bem coregidos. E o arcebispo leuaua a Rainha de rédea. Deamte hiam pipas e trombetas e doutros estormentos tanto que se nom podiam ouuir. Donas filhas dalgo e jsso mesmo da çidade cantauom himdo detrás, como he costume de uodas. A gemte era tamta que se nom podia reger nem hordenar, por o espaço que era pequeno dos paaços a egreja. E assy chegarom aa porta da Ssee, que era dally muyto preto, homde dom Rodrigo, bispo da çidade, já estaua festiualmente em pomtificall revestido, esperando com a clerezia; o qual os tomou pelas mãos, e demoueo a dizer aquellas pallauras que a Santa Egreja manda que se digam em tal sacramento. Emtom disse mjssa e pregação; e acabado seu officio, tornarom el-Rey e a Rainha aos paaços, domde partirom, com semelhante festa, hu auiam de comer. As mesas estauom já muyto guarnidas de todo o que lhe compria, nom somente homde os noiuos auyam destar, mas aquellas hu era hordenado de comerem bispos e outras homradas pessoas de fidalgos e burgeses do logar e donas e domzellas do paaço e da çidade. (Crónica del Rei dom João I da boa memória, por Fernão Lopes, PARTE SEGUNDA, IMPRENSA NACIONAL-CASA DA MOEDA, Lisboa, 1977, p. 208-209)
Conquista de Ceuta
(HombreDHojalata, na Wikimedia Commons)
O Infante D. Henrique é a figura principal perante mouros vencidos
É recordada a Conquista de Ceuta em 1415, onde participaram e foram armados cavaleiros os filhos mais velhos de D. João I, D. Duarte, D. Pedro e D. Henrique. O Infante D. Henrique tem um lugar de destaque na memória da cidade, onde nasceu e foi baptizado. Dirigiu os trabalhos de preparação da expedição a Ceuta no Porto.
«Todos os homens-bons da cidade que ali ficavam, se despediram naquele dia do Infante, oferecendo-lhe o seu serviço. Porque, além de nele haver uma graça singular para todos aqueles que com ele tratavam, porquanto era natural daquela cidade, tinha especial cuidado dos moradores dela para requerimento de seus feitos, razão pela qual era muito amado por eles todos e o tinham quase por seu cidadão.»
Todollos boõs homeẽs da çidade que alli
ficauam, se espediram em aquelle dia do Iffamte oftereçemdolhe seu seruiço. Porque aalem
de em elle auer huũa graça
simgullar pera todos aquelles que com elle trautauam, por quamto elle era naturall daquella çidade, tijnha espiçiall cuydado dos moradores della pera rrequirimento de seus feitos,
por cuja rrezam era muy amado delles todos, e o tijnham casi por seu çidadaão. (Zurara, Crónica da Tomada de Ceuta, publicada por ordem da Academia das Ciências de Lisboa, por Francisco Maria Esteves Pereira, Lx.ª, 1915, págs. 114-115)
Cortejo de carruagens
Torneio dos Arcos de Valdevez
Séc. XII
Topo sul. No torneio, contendem apenas uma escolha de homens, de cada lado. Os outros guerreiros assistem. Venceu o grupo português. O rio Vez ao centro.
Egas Moniz apresentando-se com a mulher e filhos ao rei de Leão
(Século XII)
O aio de D. Afonso Henriques apresenta-se a Afonso VII em Toledo com a mulher e filhos, por D. Afonso Henriques não ter querido prestar a menagem prometida por Egas Moniz, em seu nome. Com essa promessa, o rei de Leão tinha levantado o cerco a Guimarães, em 1127.
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Bronzes comemorativos
Na parede do relógio e painel de chegadas e partidas, lado direito
ARQUITECTO MARQUES DA SILVA ENGENHEIRO HIPPOLYTE DE BARRE PINTOR JORGE COLAÇO
AUTOR DO PROJECTO DO EDIFÍCIO PROJECTOU E CONSTRUIU O TÚNEL AUTOR DOS PAINÉIS DE AZULEJO
HOMENAGEM
AOS OBREIROS DA ESTAÇÃO DO PORTO
NO 75.º ANIVERSÁRIO DA CHEGADA DO 1.º COMBOIO
OS FERROVIÁRIOS AGRADECIDOS.
7 – NOV – 1971
Na parede do relógio e painel de chegadas e partidas, lado esquerdo
Amarante, Braga, Monção, Porto, Barca d’Alva,
Carviçais, Chaves
HOMENAGEM FERROVIÁRIOS MINHO E DOURO
NO
ANO DE 1922, OS ILUSTRES PORTUGUEZES,
GAGO COUTINHO E SACADURA CABRAL,
LEVANTARAM-SE
EM LISBÔA, NUM HIDRO-AVIÃO, EM DEMANDA
DAS PRAIAS DO BRASIL, AONDE CHEGARAM NO VÔO MAIS
SCIENTÍFICO E GLORIOSO
QUE
HONRA O GÉNERO HUMANO.
OFICINAS
M. D.
[M. D. – Minho e Douro]
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Estes exemplares de arte pública fizeram parte de um conjunto de 19 peças, exposto no município belga de Blankenberge, na Quarta Trienal de Arte Contemporânea à Beira-mar, da autoria de Dalila Gonçalves. Representam ou inspiram-se em grandes calhaus ou pedregulhos trabalhados, arredondados por milhares ou milhões de anos, como podemos apreciar em algumas das nossas arribas (Praia Azul, Pai Mogo...). Os de língua inglesa chamam-lhes boulders. A artista modela as «pedras» de betão e adapta os azulejos às formas curvas.
(Ver, infra, em REFERÊNCIAS, no Mapa de Arte Pública, «Rota de Arte Contemporânea», a obra com o n.º 83)
By Palickap, from Wikimedia Commons
«Fachada
principal harmónica composta por corpo central com portal maneirista, rematado
por frontão e nicho barrocos, e por enorme rosácea.» (Do SIPA,
DGPC)
«Sobre o varandim, estrutura arquitetónica de planta côncava, com nicho central contendo a imagem de Nossa Senhora da Assunção, assente em base piramidal, enquadrado por quatro pilastras decoradas por folhagem e por duas colunas, rematada por cornija com urnas nos extremos.» (Idem)
«[...] rosácea radiante, com raios perlados, reunidos por arcos trilobados e com decoração fitomórfica.» (Idem)
12:36
«A encimar o portal, cartela recortada com inscrição.» (Idem)
PRÆSULIS HAUD DEXTRA, SED SEDE VACANTE REVIXI;
DEXTRA OPERI TANTO NUM FORET UNA SATIS?
ANNO 1722
Revivi, não com a mão do prelado, mas estando a sé vacante;
acaso seria bastante uma mão para tamanha obra?
Ano 1722
Tem havido em Portugal períodos de sede vacante, em que o bispo
não está a governar a diocese. Tal ocorreu, no Porto, por exemplo, de 1717 a
1741. Nesta cidade e falando só na sé, as obras decorrem entre 1717 e os finais
dos anos trinta, com incremento a partir de 1719-1720. (Ver em REFERÊNCIAS, que
sigo de perto.)
A sé, nave central e altar-mor
Baptismo de Cristo, baixo-relevo em bronze
Teixeira Lopes, pai (1837-1918)
(À direita) Baptistério, vendo-se a pia baptismal (século XVI)
Vistas do Terreiro da Sé
Convento dos Grilos
Ribeira Negra
Ribeira Negra é o enorme painel cerâmico, inaugurado em 21 de Junho de 1987, que exigiu a Júlio Resende vários ensaios prévios. Um deles (o segundo), composto por quarenta painéis pintados em quinze dias, está exposto no edifício ribeirinho da Alfândega. É uma homenagem à gente da Ribeira, mostrando aspectos do seu quotidiano; lazer, alegria e tons cinzentos de vida agreste. (Ver, infra, em REFERÊNCIAS, no Mapa de Arte Pública, «Rota de Arte Contemporânea», a obra com o n.º 92)
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«À CIDADE»
2015
No alto desta empena se encontra a obra de Fernando Lanhas (1923-2012), que pode apreciar
aqui. Projecto executado na Galeria Árvore em 2012, sob a supervisão do autor. O painel de azulejos foi doado postumamente à Câmara Municipal do Porto em 2014.
(Ver, infra, em REFERÊNCIAS, no Mapa de Arte Pública, «Rota de Arte Contemporânea», a obra com o n.º 93)
Túnel da Ribeira
Começa na Rua da Ribeira Negra e termina na Rua do Infante D. Henrique
Fonte na Rua de Mouzinho da Silveira
Desmontada em 1920, para instalar dois estabelecimentos comerciais, e reconstruída em 1966
Adeus à BRASILEIRA, lá ao fundo...
15:09
A Música (à esq.), A Agricultura (à dir.)
Adeus, S. Bento…
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REFERÊNCIAS
Luísa Arruda, na História da Arte Portuguesa, Vol.
III, Direcção de Paulo Pereira, Círculo de Leitores, «Decoração e desenho. Tradição e modernidade», páginas 407 a 437. (A parte sobre Jorge Colaço, págs.
416 a 419)