Sábado, 25 de Julho 3 de 19
Vamos a caminho do Cabo Girão,
passando primeiro por Câmara de Lobos. É preciso subir em estrada de montanha e
talvez, também, perguntar a alguém o caminho certo, nalguma encruzilhada.
Já descemos. As primeiras
imagens da pequena baía, a aproximação, os edifícios em volta, ficaram na
retina, vivamente... e agora, como toldadas por brisa marítima da manhã.
Junto ao hotel Pestana
Churchill Bay, admiramos a baía em frente e o oceano azul. Vamo-nos aproximando
do paredão e poucos metros adiante, um homem ainda novo, seco de
carnes tostadas pelo sol, barba um pouco grisalha no queixo, boné na cabeça,
calção branco até aos joelhos, xanatas pretas com o peito do pé coberto e
atacadores brancos, pede qualquer coisa enquanto me dirijo ao longo do cais...
Continuo..., deixo-o para trás. O paredão, agora, inflecte à direita, mais umas dezenas de metros e é o ponto onde rapazes e raparigas se lançam de mergulho para a água, pouco funda para os meus medos. De cima do muro de resguardo do «paredão» mergulha um rapaz de dez, doze anos, moreno, meão ou pequeno para a idade. Ao mesmo tempo na água, outro se aproxima da trajectória vertical do companheiro... Quase chocaram.
— Tchaap! — O rapaz emerge, diz ao outro,
— És tonto!?
e vai (vão) nadando calmamente, como se o meio aquático fosse o dele, dia e noite, em direcção ao cais adiante uma cinquentena de metros.
Volto e onde o caminho alarga o homem volta a aproximar-se, sentando-se no cadeirão de verga ao lado de Churchill, dá-se à fotografia. Desta vez é bem sucedido; atribuí à fotografia o valor simbólico de um euro e foi cada um à sua vida.
Churchill visitou Câmara de Lobos no dia 8 de Janeiro de 1950 e pintou a baía.
[O caminho do paredão é partilhado pela Rua de Nossa Senhora da Conceição, até à confluência com a Rua Nova da Praia, e a Rua de Serpa Pinto até ao cais, findo o qual continua pelo mar dentro o espigão de rocha negra]
Churchill e as pinturas com o pequeno lago (Netflix, The Crown, temporada 1, episódio 9).
Que densidade humana na representação de Churchill e Sutherland, irmanados na perda de uma filha, de um filho!...
(31’43’’):
«Mas, reconforta-me que o seu trabalho seja tão honesto» (Sutherland)
«Estava a pensar no lago dos peixinhos dourados em Chartwell» (S.)
«Why the pond?, is just a pond» (O lago? Porquê o lago?, é só um lago» (C.)
(Sutherland pinta... ... ...)
— É muito mais do que isso… Tanto que voltou a ele repetidamente. Mais de vinte vezes. (S)
[Imagem do livro]
The right Honourable
WINSTON CHURCHILL
O. M., C. H., M. P.
— Sim, por ser um desafio técnico. Ultrapassa-me.
— Talvez o Sr. se ultrapassasse a si. E por isso que é mais revelador do que um autorretrato.
— Que parvoíce. É a água, as luzes. A manhã Os peixes no interior da água.
— O nosso trabalho é revelador e eu vi isso no seu lago. Sob a tranquilidade, a elegância e a luz a incidir na tranquilidade da água, vi honestidade e dor, uma dor. Até a moldura me disse que queria que as pessoas vissem algo sob as cores esbatidas, no fundo do lago. Um desespero horrível, escondido como um monstro marinho.
— Viu isso tudo?
— Sim.
— Talvez isso diga mais sobre si do que sobre mim.
— Talvez
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(33’24’’) — Posso perguntar-lhe uma coisa, Sr. Sutherland?
— Humm…
— É sobre um dos seus quadros, aquele a que deu o título Pastoral, com aquela madeira toda rugosa e torcida, aquelas belas manchas pretas disformes Achei-o praticamente malévolo! A que se deveu?
— Que perspicaz. Foram tempos muito negros. O meu filho John, faleceu com dois meses.
— Sinto muito.
— Obrigado.
— Tem cinco filhos, não é?
— Quatro. Marigold era a quinta. Deixou-nos com 2 anos e 9 meses. Septicémia.
— Sinto muito, não fazia ideia.
— Chamámos-lhe Marigold pelos seus maravilhosos caracóis dourados. Eram de uma cor extraordinária. Para meu tormento, ou talvez, por misericórdia de Deus, não estava presente quando morreu.
Quando cheguei a casa, a Clemmie… … berrava como um animal ferido.
Comprámos Chartwell um ano após a morte de Marigold .
Foi quando mandei fazer… … o lago.
[Sutherland pinta]
— Olhe para mim. (C)
... ...
— Obrigado. (C)
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Graham Sutherland’s portrait of
Winston Churchill is widely considered
to be a a lost masterpiece.
IN RETIREMENT, CHURCHILL FREQUENTLY ESCAPED ENGLAND FOR THE TRANQUILITY OF THE
FRENCH RIVIERA.
HE NEVER STOPPED PAINTING THE POND
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(Churchill queimou a pintura feita por Sutherland, por não gostar de se ver representado como homem de oitenta anos, sem as pompas de estadista. Foi uma pena!)
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https://www.thefamouspeople.com/profiles/marigold-churchill-43730.php
http://www.visitmadeira.pt/pt-pt/a-madeira/sabia-que%E2%80%A6/churchill-na-madeira