SERENDIPIDADE
Serendip é nome antigo de Ceilão (Sri Lanka actual). Logo aqui há uma inspiração orientalizante, quem sabe!? Os Três Príncipes de Serendip [i] vão viajar e descobrem coisas importantes, como por acaso… Aparentemente desprevenidos, com interesse, inteligência, olhos e restantes sentidos disponíveis para a aventura de viver. E de repente, faz-se luz. Uma evidência, uma verdade aparece, sem mais…
Mas, estas coisas não aparecem por acaso…
Pouco mais lembrava que a palavra «Serendipidade», ouvida há anos num programa televisivo com Nuno Crato e outros. Só vem registada no Dicionário de Houaiss. Esta breve recordação associada ao título, constituiu uma surpresa agradável e predispôs-me com leveza alegre a entrar na galeria…
*
Transposta a entrada no edifício, logo na parede da esquerda, como figura de convite, tutelar, a pintura Terra Mãe é a guia espiritual do que vamos ver, um retrato da autora, no seu cuidado, preocupação, força criadora e sentido de fraternidade entre todos os viventes.
Serendipidade é um modo de ser (e de estar). A qualidade impõe-se, acreditamos. Alguma tensão íntima nas obras expostas coexiste com alegria e vitalidade. Tensão dinâmica…, não exclusiva de negrumes, talvez maus, ou berços de luz.
O que vamos vendo oferece várias leituras. A primeira, modo paisagem, é a do encontro. Aí, melhor se percebe o conjunto, as linhas, volumes, manchas coloridas, composição, o estudo prévio… Aproximamo-nos, analisamos, descobrimos outras figuras, sobreposições, vários viventes desdobrando-se. Há parecenças de seres humanos, animais, rostos indiferenciados. A mesma quase indiferenciação entre os mundos animal/humano, vegetal... A grande cidade parece floresta; ou estende-se misteriosa à beira-rio, velada pela sugestão de ponte ou ilha navegante entre o azul do céu e do mar. No segundo plano de observação há esfumados a ter em conta, povoados de esboços de seres, discretos, esvaídos, subtis fantasmas ou fantasias. Esboços haverá não intencionais, mas estão presentes como desenhos feitos pelas nuvens.
Tudo é bonito. Até a assinatura de Edite Melo, o nome e a esfera. Às vezes não há nome, de cor diferente, conforme o fundo. Só a esfera, a bola-mundo.
Alguma vez, nem nome nem esfera.
Obs.: A exposição, na Paços - Galeria Municipal de Torres Vedras, está patente ao público até ao dia 13 de Agosto, de segunda a sábado, das 9 às 19 horas.
[i] Pode ver-se, no final, o linque para um artigo de Nuno Crato.
Sem comentários:
Enviar um comentário