Ontem, domingo à
tarde, quis passar pelo convento do Varatojo. Subi pelo lado da EN n.º 9 e
deixei o carro por ali, no recinto de festas, encontro da comunidade,
acolhedor. Duas pessoas, um homem e uma mulher, com quem troquei algumas
palavras, não tiravam ao local o completo ensimesmamento; o largo junto ao
convento tem alma. Também ele, tal como eu, se sente e concentra, ouve, respira
o universo, a natureza toda.
Alguma coisa disto devia sentir Tales de
Mileto, o primeiro da lista dos filósofos pré-socráticos. Ficou-nos dele, entre
outras, esta frase: «Tudo está cheio de deuses.»
Desço os degraus de
acesso à igreja e aproximo-me do grande portão de gradeamento em ferro. Aí, o
assombro, o deslumbramento, «o nada que é tudo» acontece. Mais dentro de nós e
em comunhão com o todo não se pode estar e a praça que ficou um pouco acima é
ainda superada. Mais que nessa ágora, o silêncio total! É como o silêncio de
algumas igrejas, mas nunca o senti tanto. Digo para aquelas duas pessoas e
concordaram:
-- É impossível
descrever este silêncio! Não há palavras...