sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Teatro Thalia, Viagem ao Invisível

(Completar, neste blogue, com a mensagem anterior, Viagem ao Invisível - Exposição no Teatro THALIA,
e no blogue Estaleiro: Teatro Thalia, wikipédia; Duarte Ivo Cruz
A Quinta das Laranjeiras, Gabriel Pereira

2.ª-feira, 28 de Agosto de 2017
O destino era o Largo da Luz. A partir de Sete Rios, caminhei pela Estrada das Laranjeiras, ao lado do Jardim Zoológico. Umas casas à esquerda, depois, o Colégio Príncipe Carlos e Princesa Ana… Mais umas dezenas de metros e vejo um edifício com esfinges, colunas, frontão triangular, ao jeito da antiguidade clássica. Separado da rua por um gradeamento, num pátio, olhando de frente para o edifício ocupado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior.
Entrei. Um funcionário novo na portaria do ministério mostra algum zelo pela privacidade do local... Do lado oposto, tudo fechado. O que logo chamou a atenção,

HIC MORES HOMINUM CASTIGANTUR

a frase que se lê sobre as colunas: Aqui se castigam os costumes dos homens. Estado, igreja ou maçonaria foram as ideias que me surgiram, mediante o carácter didáctico, crítico, mordaz, de preocupações educativas e cívicas. Venho a saber que o construtor desta obra foi o conde do Farrobo e digo para mim: «É um maçon 

Terá sido? Descubro que estamos perante um teatro, o que recorda a frase de Jean de Santeul, em Recueil d'odes sacrées, «Ridendo, castigat mores», mais tarde mandada pintar pelo arlequim Dominico no pano de boca do seu teatro, tornada divisa da comédia.
Imputava esta frase, vagamente, a Horácio, mas o mais próximo que dela se encontra neste autor são as palavras «ridentem dicere verum», de Sátiras, I, 1, num contexto relativamente «doce»: «[...]: quamquam ridentem dicere verum quid vetat? ut pueris olim dant crustula blandi doctores, elementa velint ut discere prima [...]» «[...]: Todavia, que impede dizer-se a verdade rindo? Como os mestres meigos costumam dar bolos às crianças, para que queiram aprender as primeiras letras [...]») Horácio começou a falar em tom sério e a ele volta logo a seguir a este passo.
Normalmente, a entrada está encerrada, só abrindo as portas para actividades várias, concertos… O espectáculo inaugural coube à O. M. L. (Orquestra Metropolitana de Lisboa). O interior está vazio na ausência de utilização, nestes casos. Para a exposição entra-se pela parte posterior. A leitura do THALIA faz-se pelo lado do pátio partilhado com os serviços do ministério da tutela: peristilo, foyer, plateia e palco.
Refiro especialmente a Visita Guiada, de Paula Moura Pinheiro, RTP 2015, e Farrobodó, Uma Biografia do Conde do Farrobo (a propósito das pinturas do Palácio Quintela da Rua do Alecrim, em Lisboa, pela luz que podem lançar sobre o conde do Farrobo, ver o ANEXO no final desta mensagem). Muito importante, para perceber o trabalho de requalificação e a utilização a dar ao teatro Thalia, dois pequenos filmes, um da Goto Films, com intervenções de Gonçalo Byrne, Patrícia Barbas e Diogo Lopes, e outro, feito por ocasião  do Mies van der Rohe Award.
Quando foi posto o nome THALIA
A mais antiga referência a este teatro como “Thalia” parece ter sido feita por Pinto de Carvalho, tardiamente, já em 1898[i]. Mas outras fontes da mesma época, como Fonseca Benevides[ii], ou Sousa Bastos[iii], usam o nome original: Teatro das Laranjeiras. É possível que a designação “Thalia” tenha resultado de uma qualquer efabulação no fim do século XIX, para acrescentar pitoresco. E que depois, no mesmo espírito, se terá ido replicando. A recente remodelação desta construção como espaço de eventos, oficializando o nome Thalia, também veio reforçar e expandir aquela designação. [wikipédia]

«[...] D. Maria Kruz, actriz primorosa que na Fille de l'Avocat, representada no Thalia, foi admirável de chiste, de fina penetração» (p. 99)
«Na noite de 23 de abril de 1848 subiu á scena no theatro Thalia o drama em 5 actos Marie Jeanne, de Dennery e Mallian, desempenhando o papel de Jeanne a D. Emilia Kruz, o de Remy o sr. Guerreiro, e o de Bertrand o sr. Francisco de Sá.» (p. 107).
«três récitas nas Laranjeiras», (p. 99); «Soirée Filarmónica nas Laranjeiras» (p. 101), «nas Laranjeiras», «representações das Laranjeiras» (p. 102); «reuniões das Laranjeiras», «festas apreciáveis, nas Laranjeiras» , «Nunca se fallava das Laranjeiras sem se fallar logo de Duarte de Sá.» (p. 107); «as Laranjeiras»; «Soirée dramática nas Laranjeiras» (p. 109). Há outras referências, com o mesmo sentido. [Extractos do livro de Pinto de Carvalho (Tinop)] LISBOA D'OUTROS TEMPOS I Figuras e ScenasAntigasLisboa, 1898]

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As obras começaram no final de 2009. O espaço fica intencionalmente vazio e como tal pode ser visitado, quando não houver eventos do ministério, conferências, concertos ou exposições. Foi inaugurado com um concerto pela Orquestra Metropolitana de Lisboa, em 19 de Outubro de 2013. Desde então, a O. M. L. tem realizado, aqui, a sua temporada clássica, como em 2017, em que apenas os dois primeiros concertos tiveram lugar no salão nobre do Teatro de São Carlos.

Esta fachada  não tinha as janelas cegas, como agora. 
Veja as diferenças na estampa reproduzida, abaixo, do Universo Pittoresco, tomo 2, e na imagem da Ilustração, 1928, n.º 55, p. 25

A fachada principal do theatro das Laranjeiras é ornada com um elegante portico, a que fazem corôa tres estatuas de pedra, e é sustentado por quatro columnas de ordem dorica, junto às bazes das quaes se avançam quatro sphinges, colocadas em seus pedestaes, tudo de boa pedra. No tympano avulta o escudo d’armas do Sr. conde do Farrobo, em relevo, e cercado de emblemas theatraes. No friso lê-se esta inscripção: Hic mores hominum castigantur; e por baixo pendem, entre as quatro columnas, três candieiros de iluminação a gaz. De um e outro lado do pórtico é coroada a fachada com oito estatuas, e decorada com pilastras dóricas, entre as quaes se vêem os bustos do nosso compatriota. M. A. Portugal, de Alfieri, Shakespeare, Sapho, Rossini, Sophocle etc., em relevo.
(Do Universo Pittoresco, Jornal de Instrucção e Recreio, 1841-1842, Lisboa, tomo 2.º, p, 305, transcrição tal qual. Ver, abaixo, reprodução da página)
                                                                
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À entrada, deparamos com um índice dos lugares a visitar na exposição e um belo texto de Spela Hudnik. Ver mais na mensagem anterior

«Folheto» informativo do Teatro Thalia, de que se reproduz o texto processado em computador e as referências

TEATRO THALIA
Lisboa, 2012, Arqs. Gonçalo Byrne e Barbas Lopes

Construído inicialmente em 1825, é Fortunato Lodi, arquitecto do Teatro D. Maria, que em 1842 desenha a fachada que hoje conhecemos e faz frente ao edificado do Palácio das Laranjeiras, formando entre ambos um pátio de entrada com vedação para a rua pública. É esta a invisibilidade maior do Teatro Thalia, um certo paradoxo de um edifício público ter iniciativa e propriedade privada. O chamado à época Teatro das Laranjeiras, apesar da sua pequena dimensão, foi considerado um dos principais teatros em Lisboa do século XIX. Joaquim Pedro Quintela, Conde de Farrobo, era amante das artes e também de festas, e manda construir o Teatro para onde convida inúmeros artistas de teatro e os principais cantores de ópera europeus da época. Os seus eventos eram faustosos e amplamente comentados o seu Teatro era o grande palco. Deste ambiente surge a expressão «farrobodó», herança que chega aos nossos dias.
Actualmente, o Teatro Thalia apresenta-se como o resultado da evolução de um edifício pelas várias assunções que teve, desde a sua origem como teatro; passando pela ruína, estado prolongado do edifício, que se deve ao forte edifício que o destruiu quase por completo; e da sua renovação recente através nova função de espaço cultural, que lhe foi atribuída e a aproxima da sua génese cultural inicial. O projecto, ele próprio apresenta essas camadas, através de um desenho minucioso, que destaca cada uma das formas que o tempo deixou. A proposta de Gonçalo Byrne e Barbas Lopes é um exemplo de sucesso no sentido de tornar visível, a invisibilidade do seu destino anterior ou de devolver vida e significado à decadência que um edifício esquecido pode adquirir. O edifício apresenta essencialmente três fases distinguidas pela forma, materialidade e pela função: o primeiro teatro, na sua forma original entre o palco e a plateia num volume alto e seco revestido por fora em betão ocre e deixando pelo interior a pedra original que a ruína revelou; o antigo átrio de Lodi na sua forma e pedra delicadamente trabalhada; e o novo volume em matéria tecnológica e forma mais flexível que agarra uma nova entrada de forma a permitir a sua nova utilização. Os três tempos, as três matérias e os três volumes reconhecem a nova visibilidade do novo Thalia.
Sendo o Teatro Thalia, o edifício quer recebe a exposição, propõe-se que este seja um dos casos de estudo que o projecto Viagem ao Invisível, uma oportunidade a quem vem, de poder participar um pouco da viagem como experiência e representação de espaço.

Referências


1. Pinto de Carvalho, Lisboa d’Outros Tempos. Lisboa: Livraria de António Maria Pina, 1898, arquivo: Gabinete de Estudos Olissiponenses
2. Eduardo de Noronha, Milionário Artista. Lisboa: João Romano Torres & C.ª, Anos 1920, arquivo: Gabinete de Estudos Olissiponenses
3. João Pinto de Carvalho, Lisboa de Outrora. Lisboa: Grupo «Amigos de Lisboa», 1939, arquivo: Gabinete de Estudos Olissiponenses
4. Manuel Luís da Costa, Universo Pittorescco: Jornal de Instrução e Recreio. 1844, arquivo: Gabinete de Estudos Olissiponenses
5. João de Sousa Fonseca (dir.), Ilustração, n.º 55, Aillaud, 1928, arquivo: Gabinete de Estudos Olissiponenses
6. Postais do Theatro das Laranjeiras, s. d., arquivo: Gabinete de Estudos Olissiponenses
7. Fotografia do Teatro Thalia, s. d., arquivo: Gabinete de Estudos Olissiponenses
8. Gonçalo Byrne e Barbas Lopes, Planta Piso 0, Demolições, 2009 (reprodução), arquivo: Arquivo Municipal de Lisboa
9. Gonçalo Byrne e Barbas Lopes, Alçados Nascente e Poente, Demolições, 2009 (reprodução), arquivo: Arquivo Municipal de Lisboa
10. Gonçalo Byrne e Barbas Lopes, Alçados Norte e Sul, Demolições, 2009 (reprodução), arquivo: Arquivo Municipal de Lisboa
11. Gonçalo Byrne e Barbas Lopes, Cortes C1 e C2, demolições, 23009 (reprodução), arquivo: Arquivo Municipal de Lisboa
12. Daniel Malhão, Fotografias da construção, arquivo: Barbas Lopes
13. Daniel Malhão, Fotografias do edifício, arquivo: Barbas Lopes
14. Daniel Malhão, Fotografias do concerto, arquivo: Barbas Lopes
15. Daniel Malhão, Teatro Thalia, arquivo: Daniel Malhão
16. Daniel Malhão, Esfinges, 2010, arquivo: Daniel Malhão (na zona de entrada)

A mesa do Teatro Thalia é a primeira à nossa frente, disposta transversalmente
Em cada extremidade, uma vitrina com revistas e livros. Os documentos expostos estão numerados em separado ou agregadamente, de 1 a 16. Ver supra, em Referências




Contiguo á sala do expectaculo ficam as salas para os bailes, e os camarins, cujas janellas guarnecem a fachada lateral do edificio, que deita para a estrada das Larangeiras. Todas estas salas e camarins fôram há anno e meio decoradas com uma pompa e grandeza verdadeiramente reaes, por occasião do baile dado a Suas Magestades; baile, que por sua muita magnificencia, fez o assombro de nacionais e estrangeiros, e foi o assumpto das conversações de toda Lisboa durante muitos dias.
A sala propriamente do baile, é de forma oval, mui espaçosa e elevada. Cobrem-lhe as paredes riquissimos espelhos, mil ornatos doirados, e formosas pinturas. Duas tribunas, abertas no grosso das paredes, que formam o comprimento da sala, em justa correspondencia uma da outra, e ambas próximas do tecto, sam destinadas para a orchestra. As decorações destas tribunas condizem com a sumptuosidade da sala.
(Universo Pittoresco: Jornal de Instrucção e Recreio, tomo 2.º, 1841-1842, Lisboa, pp. 305-306, «O teatro das Larangeiras». Ver, abaixo, reprodução das páginas)
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A mesa do Thalia



A mesa do THALIA é a segunda, a partir do primeiro plano. Atrás se publicou uma fotografia semelhante, disposta longitudinalmente



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O Teatro das Laranjeiras           

Universo Pittoresco, tomo 2.º, p, 305; Universo Pittoresco, tomo 2.º, p. 306

Universo Pittoresco, tomo 2.º

Palácio das Laranjeiras

  Ilustração, 1928, n.º 52, p. 25; Ilustração, 1928, n.º 55, p. 25

 Ilustração, 1928, n.º 56, p. 25;  Ilustração, 1928, n.º 57, p. 25

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https://www.youtube.com/watch?v=u583dlsu3aU&t=1310s (Farrobodó, Uma Biografia do Conde do Farrobo, Happygenio, Produção de Filmes Unipessoal, Lda – para a RTP 2, 2010, 49:52)
https://www.rtp.pt/play/p2002/e208915/visita-guiada (VISITA GUIADA (V) Teatro Thalia, Palácio das Laranjeiras / 05 Out 2015 / Episódio 2, 31:25)
https://www.youtube.com/watch?v=nO3eHjC4Neg (Espaços&Casas, n.º 202, Teatro Thalia, por gotofilms, 18Fev2013. Intervenções de Gonçalo Byrne, Patrícia Barbas e Diogo Lopes, 9:46)
http://barbaslopes.com/np4/141.html (THALIA FILM; filme de cinco minutos, feito por ocasião do Mies van der Rohe Award. Veja o filme, ouça Deolinda, divirta-se: «Se é para acontecer, pois que seja, agora!»; clique em 1, para ler a descrição. Ao alto, em STUDIO, CONSTRUCTION, DESIGN, RSEARCH, surgem índices, a explorar. Vá clicando.)
http://www.cm-lisboa.pt/pt/equipamentos/equipamento/info/teatro-thalia///a-z//1520 (A quinta; o teatro)
http://www.sec-geral.mec.pt/pagina/teatro-thalia (Regulamento de cedência do Espaço  Teatro Thalia; Despacho que fixa os valores para a cedência e utilização do Teatro Thalia)
https://www.facebook.com/pages/Teatro-Thalia/116341041826715 (Facebook do Thalia)
https://www.hardmusica.pt/lazer/concertos/19326-orquestra-metropolitana-inaugura-o-renovado-teatro-thalia.html (A O. M. L. inaugura o recém-recuperado teatro Thalia, em 19 de Outubro de 2013)
http://www.arqnet.pt/dicionario/farrobo1c.html (Biografia pormenorizada sobre o conde do Farrobo)
https://www.academia.edu/25785497/Roteiro_de_Fontes_para_o_Estudo_do_Conde_do_Farrobo (1. Arquivos; 2. Bibliotecas: Biblioteca Nacional de Portugal – Fundo Geral, Jornais, Música, Reservados; Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais; Biblioteca e Arquivo do Teatro de S. Carlos (incorporados na Biblioteca Nacional de Portugal); 3. Obras Gerais; 4. Literatura do Século XIX; 5. Memórias e Biografias; 6. Monografias e estudos; 7. Teses de Mestrado e de Doutoramento).
Mais textos de Idalina Nunes (Clique em «Idalina Nunes», junto à foto): O espólio musical do Conde do Farrobo (Arte Musical, n.º 2, IV série, vol. I, Janeiro de 1996, pp. 76-90); Três Saraus na Quinta do Farrobo (Arte Musical, n.º 4, IV série, vol. I, Janeiro de 1996, pp. 169-184); O Mecenato Musical do Conde do Farrobo («Comunicação preparada para as Jornadas de Música Lusófona ocorridas nos dias 30 e 31 de Maio de 2008, no Instituto Piaget em Almada. Posteriormente a comunicação foi adaptada para ser apresentada nas Tardes do Thália no dia 23 de Maio de 2013», 7 págs.).
https://www.facebook.com/Conde-de-Farrobo-175152102548644/ (De I. N., pelo que se percebe.) Interessante e com referências ao THALIA.
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Palácio do Farrobo / Vila Franca de Xira
http://ruinarte.blogspot.pt/2013/07/palacio-farrobo-vila-franca-de-xira.html (Palácio do Farrobo; do blogue RUIN'ARTE)
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Palácio Quintela/Chiado
Há informação sobre o Palácio Quintela/Chiado nas referências atrás indicadas. Como curiosidade, veja-se Farrobodó, novo restaurante no Palácio Quintela. Quem queira, pode visitá-lo, pois está aberto ao público, e com um bocadinho de imaginação, pode ver o conde do Farrobo entre os presentes. Se não, vá a uma das janelas da Rua do Alecrim e talvez venham do rio sinais de bandeiras a dar instruções a alguém da casa. É da parte do conde, refugiado num navio inglês, sem que a polícia de D. Miguel saiba. Se vir bem, o próprio palácio tem bandeira inglesa.
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ANEXO
Manuel Gandra sobre as pinturas  no tecto e parietais do Palácio Quintela
Estas cenas da fundação de Roma têm um episódio marcante, que é o episódio da traição de Tarpeia, e já aqui encontramos, também, mais um elemento que remete para a história da época. A traição, na época, já estava presente na história de Portugal e, sobretudo, a traição a partir do núcleo central do poder, a partir da corte. A traição de Carlota Joaquina e do seu filho, D. Miguel. Aliás, todos os aspectos relacionados com a traição de D. Miguel e da mãe,,,, mas sobretudo de D. Miguel, que é, digamos, é, digamos,  o agente, é o protagonista da... desse processo estão aqui perfeitamente representados. Eu poderei mesmo dizer que neste palácio estão representados e estão prognosticados os eventos que iriam desembocar na guerra civil, entre liberais e absolutistas. Há um tecto, o tecto chamava-se..., o tecto representa Minerva, que denota exactamente essa preocupação de tentar ensaiar, lograr uma pacificação entre os dois irmãos desavindos, já desavindos nesse período. Minerva segura duas coroas, que costumam ser de louro, neste caso não são de louro,  são de oliveira, que é o símbolo da paz por excelência. E, evidente que estamos perante mais uma deixa para D. Miguel e D. Pedro, os irmãos desavindos que o dono da casa pretende coroar, não com a coroa de louros dos vencedores, porque não há vencedores, há apenas dois irmãos que pacificamente coexistem para bem da nação e, portanto, é esse o sentido que aquela pintura da terceira sala possui. [22:36 a 24:30]
Encontramo-nos numa escadaria nobre do Palácio Quintela, um espaço que a todos os títulos é notável pela sua, não só pela arquitectura, que evidentemente já foi mais imponente do que é hoje, mas sobretudo por causa da pintura, em virtude da pintura que existe nas paredes e na abóbada.Todas as pinturas nas paredes, todas as pinturas parietais giram em torno de um eixo central que é representado pela exaltação de Mercúrio, porventura poderá ser o próprio dono da casa que recebe os seus convivas, duma forma exaltante, visto que ele é o grande enviado dos deuses que, como enviado dos deuses, vem saudar os humanos e  trazer-lhes consigo o pomo dourado da abundância. Todas essas..., todo esse sentido exposto nessa pintura está complementado em quatro grandes painéis representando três trabalhos de Hércules e um episódio do décimo segundo trabalho de Hércules, que precede a morte do próprio herói. Para além disso, temos também presentes alguns planetas, os planetas, os deuses, digamos, os deuses que são transformados em planetas na astrologia tradicional, e os Quatro Elementos. Portanto, neste espaço, conjugam-se... uma espécie de ordem do mundo, que serve de introdução geral ao sentido mais universal — diríamos — e até mais particular, particularmente nacional, do palácio…, que nos será dado nas pinturas parietais do interior.
[No interior] Em qualquer destas pinturas, há sempre um toque que nos remete para as preocupações políticas, sociais ou ideológicas do dono da casa e isso é um elemento fundamental para a leitura e para a interpretação, portanto, para conseguirmos deslindar a semântica destas pinturas, que aparentemente são meras pinturas mitológicas, sem qualquer outro sentido senão o de decorar a casa. Na realidade, tudo, aqui, tudo o que vemos aqui nada tem de decorativo, no sentido, digamos, de tornar bonitinha a casa. Trata-se de tornar a casa falante, tornar a casa uma extensão do próprio dono dela. [35:12 a 37:37] (De FarrobodóUma Biografia do Conde do Farrobo)

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