(Completar,
neste blogue, com a mensagem anterior, Viagem ao Invisível - Exposição no
Teatro THALIA,
2.ª-feira, 28 de Agosto de 2017
O destino era o Largo da Luz. A partir de Sete Rios, caminhei pela
Estrada das Laranjeiras, ao lado do Jardim Zoológico. Umas casas à esquerda,
depois, o Colégio Príncipe Carlos e Princesa Ana… Mais umas dezenas de metros e
vejo um edifício com esfinges, colunas, frontão triangular, ao jeito da antiguidade
clássica. Separado da rua por um gradeamento, num pátio, olhando de frente para
o edifício ocupado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior.
Entrei. Um funcionário novo na portaria do ministério mostra algum zelo pela privacidade do local... Do lado oposto, tudo fechado. O que logo chamou a atenção,
HIC MORES HOMINUM CASTIGANTUR
a frase que se lê sobre as colunas: Aqui se castigam os costumes dos homens. Estado, igreja ou maçonaria foram as ideias que me surgiram, mediante o carácter didáctico, crítico, mordaz, de preocupações educativas e cívicas. Venho a saber que o construtor desta obra foi o conde do Farrobo e digo para mim: «É um maçon!»
Terá sido? Descubro que estamos
perante um teatro, o que recorda a frase de Jean de Santeul, em Recueil
d'odes sacrées, «Ridendo, castigat mores», mais tarde mandada pintar pelo
arlequim Dominico no pano de boca do seu teatro, tornada divisa da comédia.
Imputava esta frase, vagamente,
a Horácio, mas o mais próximo que dela se encontra neste autor são as palavras
«ridentem dicere verum», de Sátiras, I, 1, num contexto
relativamente «doce»: «[...]: quamquam ridentem dicere verum quid
vetat? ut pueris olim dant crustula blandi doctores, elementa velint ut discere
prima [...]» «[...]: Todavia, que impede dizer-se a verdade rindo?
Como os mestres meigos costumam dar bolos às crianças, para que queiram
aprender as primeiras letras [...]») Horácio começou a falar em tom sério e a
ele volta logo a seguir a este passo.
Normalmente, a entrada está encerrada, só abrindo as portas para
actividades várias, concertos… O espectáculo inaugural coube à O. M. L. (Orquestra
Metropolitana de Lisboa). O interior está vazio na ausência de utilização,
nestes casos. Para a exposição entra-se pela parte posterior. A leitura do THALIA
faz-se pelo lado do pátio partilhado com os serviços do ministério da tutela: peristilo, foyer, plateia e palco.
Refiro especialmente a Visita Guiada, de Paula Moura Pinheiro, RTP 2015, e Farrobodó, Uma Biografia do Conde do Farrobo (a propósito das
pinturas do Palácio Quintela da Rua do Alecrim, em Lisboa, pela luz que podem lançar sobre o conde do Farrobo, ver o ANEXO no final desta mensagem). Muito importante, para perceber o trabalho de requalificação e a utilização a dar ao teatro Thalia, dois pequenos filmes, um da Goto Films, com intervenções de Gonçalo Byrne, Patrícia Barbas e Diogo Lopes, e outro, feito por ocasião do Mies van der Rohe Award.
Quando
foi posto o nome THALIA
A mais antiga referência a este teatro como “Thalia” parece
ter sido feita por Pinto de Carvalho, tardiamente, já em 1898[i]. Mas outras fontes da mesma época, como Fonseca Benevides[ii], ou Sousa Bastos[iii], usam o nome original: Teatro das Laranjeiras. É possível que a
designação “Thalia” tenha resultado de uma qualquer efabulação no fim do século
XIX, para acrescentar pitoresco. E que depois, no mesmo espírito, se terá ido
replicando. A recente remodelação desta construção como espaço de eventos,
oficializando o nome Thalia, também veio reforçar e expandir aquela designação.
[wikipédia]
«[...] D. Maria Kruz, actriz primorosa que na Fille de
l'Avocat, representada no Thalia, foi admirável de chiste, de fina penetração» (p. 99)
«Na noite de 23 de abril de 1848 subiu á scena no theatro Thalia o drama em 5 actos
Marie Jeanne, de Dennery e Mallian, desempenhando o papel de Jeanne
a D. Emilia Kruz, o de Remy o sr. Guerreiro, e o de Bertrand o
sr. Francisco de Sá.» (p. 107).
«três récitas nas Laranjeiras», (p.
99); «Soirée Filarmónica nas
Laranjeiras» (p. 101), «nas Laranjeiras», «representações das Laranjeiras» (p. 102); «reuniões das Laranjeiras», «festas
apreciáveis, nas
Laranjeiras» , «Nunca se fallava das Laranjeiras sem se fallar logo de Duarte de
Sá.» (p. 107); «as
Laranjeiras»; «Soirée dramática nas Laranjeiras» (p. 109). Há outras referências,
com o mesmo sentido. [Extractos do livro de Pinto de Carvalho
(Tinop)] LISBOA D'OUTROS TEMPOS I Figuras e ScenasAntigas, Lisboa, 1898]
***
As
obras começaram no final de 2009. O espaço fica intencionalmente vazio e como tal pode ser
visitado, quando não houver eventos do ministério, conferências, concertos ou exposições. Foi inaugurado com um concerto pela Orquestra Metropolitana de
Lisboa, em 19 de Outubro de 2013. Desde então, a O. M. L. tem realizado, aqui, a sua temporada clássica, como em 2017, em que apenas os dois primeiros concertos tiveram lugar no salão nobre do Teatro de São Carlos.
Esta fachada não tinha as janelas cegas, como agora.
Veja as diferenças na estampa reproduzida, abaixo, do Universo Pittoresco, tomo 2, e na imagem da Ilustração, 1928, n.º 55, p. 25
A fachada principal do theatro das
Laranjeiras é ornada com um elegante portico, a que fazem corôa tres estatuas
de pedra, e é sustentado por quatro columnas de ordem dorica, junto às bazes
das quaes se avançam quatro sphinges, colocadas em seus pedestaes, tudo de boa
pedra. No tympano avulta o escudo d’armas do Sr. conde do Farrobo, em relevo, e
cercado de emblemas theatraes. No friso lê-se esta inscripção: Hic mores hominum castigantur; e por
baixo pendem, entre as quatro columnas, três candieiros de iluminação a gaz. De
um e outro lado do pórtico é coroada a fachada com oito estatuas, e decorada
com pilastras dóricas, entre as quaes se vêem os bustos do nosso compatriota. M. A. Portugal, de Alfieri, Shakespeare,
Sapho, Rossini, Sophocle etc., em relevo.
(Do Universo Pittoresco, Jornal de
Instrucção e Recreio, 1841-1842, Lisboa, tomo 2.º, p, 305, transcrição tal qual. Ver, abaixo, reprodução da página)
***
À entrada, deparamos com um índice dos lugares a visitar na exposição e um belo texto de Spela Hudnik. Ver mais na mensagem anterior
«Folheto» informativo do Teatro Thalia, de que se reproduz o texto processado em computador e as referências
TEATRO THALIA
Lisboa, 2012, Arqs.
Gonçalo Byrne e Barbas Lopes
Construído
inicialmente em 1825, é Fortunato Lodi, arquitecto do Teatro D. Maria, que em
1842 desenha a fachada que hoje conhecemos e faz frente ao edificado do Palácio
das Laranjeiras, formando entre ambos um pátio de entrada com vedação para a
rua pública. É esta a invisibilidade maior do Teatro Thalia, um certo paradoxo
de um edifício público ter iniciativa e propriedade privada. O chamado à época
Teatro das Laranjeiras, apesar da sua pequena dimensão, foi considerado um dos
principais teatros em Lisboa do século XIX. Joaquim Pedro Quintela, Conde de
Farrobo, era amante das artes e também de festas, e manda construir o Teatro
para onde convida inúmeros artistas de teatro e os principais cantores de ópera
europeus da época. Os seus eventos eram faustosos e amplamente comentados o seu
Teatro era o grande palco. Deste ambiente surge a expressão «farrobodó»,
herança que chega aos nossos dias.
Actualmente, o
Teatro Thalia apresenta-se como o resultado da evolução de um edifício pelas
várias assunções que teve, desde a sua origem como teatro; passando pela ruína,
estado prolongado do edifício, que se deve ao forte edifício que o destruiu
quase por completo; e da sua renovação recente através nova função de espaço
cultural, que lhe foi atribuída e a aproxima da sua génese cultural inicial. O
projecto, ele próprio apresenta essas camadas, através de um desenho minucioso,
que destaca cada uma das formas que o tempo deixou. A proposta de Gonçalo Byrne
e Barbas Lopes é um exemplo de sucesso no sentido de tornar visível, a
invisibilidade do seu destino anterior ou de devolver vida e significado à
decadência que um edifício esquecido pode adquirir. O edifício apresenta
essencialmente três fases distinguidas pela forma, materialidade e pela função:
o primeiro teatro, na sua forma original entre o palco e a plateia num volume
alto e seco revestido por fora em betão ocre e deixando pelo interior a pedra
original que a ruína revelou; o antigo átrio de Lodi na sua forma e pedra
delicadamente trabalhada; e o novo volume em matéria tecnológica e forma mais
flexível que agarra uma nova entrada de forma a permitir a sua nova utilização.
Os três tempos, as três matérias e os três volumes reconhecem a nova
visibilidade do novo Thalia.
Sendo o Teatro Thalia, o edifício quer
recebe a exposição, propõe-se que este seja um dos casos de estudo que o
projecto Viagem ao Invisível, uma oportunidade a quem vem, de poder participar
um pouco da viagem como experiência e representação de espaço.
Referências
1.
Pinto de Carvalho, Lisboa d’Outros Tempos.
Lisboa: Livraria de António Maria Pina, 1898, arquivo: Gabinete de Estudos
Olissiponenses
2.
Eduardo de Noronha, Milionário Artista.
Lisboa: João Romano Torres & C.ª, Anos 1920, arquivo: Gabinete de Estudos
Olissiponenses
3.
João Pinto de Carvalho, Lisboa de Outrora.
Lisboa: Grupo «Amigos de Lisboa», 1939, arquivo: Gabinete de Estudos
Olissiponenses
4.
Manuel Luís da Costa, Universo
Pittorescco: Jornal de Instrução e Recreio. 1844, arquivo: Gabinete de
Estudos Olissiponenses
5.
João de Sousa Fonseca (dir.), Ilustração,
n.º 55, Aillaud, 1928, arquivo: Gabinete de Estudos Olissiponenses
6.
Postais do Theatro das Laranjeiras, s. d., arquivo: Gabinete de Estudos
Olissiponenses
7.
Fotografia do Teatro Thalia, s. d., arquivo: Gabinete de Estudos Olissiponenses
8.
Gonçalo Byrne e Barbas Lopes, Planta Piso 0, Demolições, 2009 (reprodução),
arquivo: Arquivo Municipal de Lisboa
9. Gonçalo
Byrne e Barbas Lopes, Alçados Nascente e Poente, Demolições, 2009 (reprodução),
arquivo: Arquivo Municipal de Lisboa
10. Gonçalo
Byrne e Barbas Lopes, Alçados Norte e Sul, Demolições, 2009 (reprodução),
arquivo: Arquivo Municipal de Lisboa
11. Gonçalo
Byrne e Barbas Lopes, Cortes C1 e C2, demolições, 23009 (reprodução), arquivo:
Arquivo Municipal de Lisboa
12.
Daniel Malhão, Fotografias da construção, arquivo: Barbas Lopes
13.
Daniel Malhão, Fotografias do edifício, arquivo: Barbas Lopes
14.
Daniel Malhão, Fotografias do concerto, arquivo: Barbas Lopes
15.
Daniel Malhão, Teatro Thalia, arquivo: Daniel Malhão
16.
Daniel Malhão, Esfinges, 2010, arquivo: Daniel Malhão (na zona de entrada)
A mesa do Teatro Thalia é a primeira à nossa frente, disposta transversalmente
Contiguo á sala do expectaculo ficam as
salas para os bailes, e os camarins, cujas janellas guarnecem a fachada lateral
do edificio, que deita para a estrada das Larangeiras. Todas estas salas e
camarins fôram há anno e meio decoradas com uma pompa e grandeza
verdadeiramente reaes, por occasião do baile dado a Suas Magestades; baile, que
por sua muita magnificencia, fez o assombro de nacionais e estrangeiros, e foi
o assumpto das conversações de toda Lisboa durante muitos dias.
A sala propriamente do baile, é de forma
oval, mui espaçosa e elevada. Cobrem-lhe as paredes riquissimos espelhos, mil
ornatos doirados, e formosas pinturas. Duas tribunas, abertas no grosso das
paredes, que formam o comprimento da sala, em justa correspondencia uma da
outra, e ambas próximas do tecto, sam destinadas para a orchestra. As
decorações destas tribunas condizem com a sumptuosidade da sala.
(Universo Pittoresco: Jornal de
Instrucção e Recreio, tomo 2.º, 1841-1842, Lisboa, pp. 305-306,
«O teatro das Larangeiras». Ver, abaixo, reprodução das páginas)
***
A mesa do Thalia
A mesa do Thalia
A mesa do THALIA é a segunda, a partir do primeiro plano. Atrás se publicou uma fotografia semelhante, disposta longitudinalmente
***
***
O Teatro das Laranjeiras
O Teatro das Laranjeiras
Universo Pittoresco, tomo 2.º, p, 305; Universo Pittoresco, tomo 2.º, p. 306
Universo Pittoresco, tomo 2.º
Palácio das Laranjeiras
Ilustração, 1928, n.º 52, p. 25; Ilustração, 1928, n.º 55, p. 25
Ilustração, 1928, n.º 56, p. 25; Ilustração, 1928, n.º 57, p. 25
***
https://www.youtube.com/watch?v=u583dlsu3aU&t=1310s
(Farrobodó, Uma Biografia do Conde do
Farrobo, Happygenio, Produção de
Filmes Unipessoal, Lda – para a RTP 2, 2010, 49:52)
https://www.rtp.pt/play/p2002/e208915/visita-guiada
(VISITA GUIADA (V) Teatro Thalia, Palácio das Laranjeiras / 05 Out 2015
/ Episódio 2, 31:25)
https://www.youtube.com/watch?v=nO3eHjC4Neg (Espaços&Casas, n.º 202, Teatro Thalia, por gotofilms,
18Fev2013. Intervenções de Gonçalo Byrne, Patrícia Barbas e Diogo Lopes, 9:46)
http://barbaslopes.com/np4/141.html
(THALIA FILM; filme de cinco minutos, feito por ocasião do Mies van der Rohe Award. Veja o filme, ouça Deolinda,
divirta-se: «Se é para acontecer, pois que seja, agora!»; clique em 1,
para ler a descrição. Ao alto, em STUDIO, CONSTRUCTION, DESIGN,
RSEARCH, surgem índices, a explorar. Vá
clicando.)
http://www.cm-lisboa.pt/pt/equipamentos/equipamento/info/teatro-thalia///a-z//1520 (A quinta; o teatro)
http://www.sec-geral.mec.pt/pagina/teatro-thalia (Regulamento de cedência do Espaço Teatro Thalia; Despacho que fixa os valores para a cedência e utilização do Teatro Thalia)
https://www.facebook.com/pages/Teatro-Thalia/116341041826715 (Facebook do Thalia)
http://www.sec-geral.mec.pt/pagina/teatro-thalia (Regulamento de cedência do Espaço Teatro Thalia; Despacho que fixa os valores para a cedência e utilização do Teatro Thalia)
https://www.facebook.com/pages/Teatro-Thalia/116341041826715 (Facebook do Thalia)
https://www.hardmusica.pt/lazer/concertos/19326-orquestra-metropolitana-inaugura-o-renovado-teatro-thalia.html (A O. M. L. inaugura o recém-recuperado teatro Thalia, em 19 de Outubro de 2013)
http://www.metropolitana.pt/Salas-de-Concerto-4563.aspx?itemId=Staff:128
(A O. M. L. no Thalia)
http://www.metropolitana.pt/Temporada-Cl%C3%A1ssica-4356.aspx (A O. M. L. no Thalia, Temporada Clássica - 2017)
http://restosdecoleccao.blogspot.pt/2011/05/palacio-das-laranjeiras.html (Palácio das Laranjeiras; do blogue Restos de Colecção)
(A O. M. L. no Thalia)
http://www.metropolitana.pt/Temporada-Cl%C3%A1ssica-4356.aspx (A O. M. L. no Thalia, Temporada Clássica - 2017)
http://restosdecoleccao.blogspot.pt/2011/05/palacio-das-laranjeiras.html (Palácio das Laranjeiras; do blogue Restos de Colecção)
http://www.cm-lisboa.pt/en/equipments/equipment/info/palacio-do-conde-de-farrobo///a-z//160
(Palácio das Laranjeiras)
http://www.arqnet.pt/dicionario/farrobo1c.html
(Biografia pormenorizada sobre o conde do Farrobo)
https://www.academia.edu/25785497/Roteiro_de_Fontes_para_o_Estudo_do_Conde_do_Farrobo
(1. Arquivos; 2. Bibliotecas: Biblioteca Nacional de Portugal – Fundo
Geral, Jornais, Música, Reservados; Direcção-Geral dos
Edifícios e Monumentos Nacionais; Biblioteca e Arquivo do Teatro de S. Carlos
(incorporados na Biblioteca Nacional de Portugal); 3.
Obras Gerais; 4. Literatura do Século XIX; 5. Memórias e Biografias; 6.
Monografias e estudos; 7. Teses de Mestrado e de Doutoramento).
Mais
textos de Idalina Nunes (Clique
em «Idalina Nunes», junto à foto): O espólio musical do Conde do Farrobo (Arte Musical, n.º 2, IV série, vol. I,
Janeiro de 1996, pp. 76-90); Três Saraus na Quinta do Farrobo (Arte Musical, n.º
4, IV série, vol. I, Janeiro de 1996, pp. 169-184); O Mecenato Musical do Conde do Farrobo
(«Comunicação preparada para as Jornadas de Música Lusófona ocorridas nos dias
30 e 31 de Maio de 2008, no Instituto Piaget em Almada. Posteriormente a comunicação
foi adaptada para ser apresentada nas Tardes do Thália no dia 23 de
Maio de 2013», 7 págs.).
https://www.facebook.com/Conde-de-Farrobo-175152102548644/ (De I. N., pelo que se percebe.)
Interessante e com referências ao THALIA.
***
Palácio do Farrobo / Vila Franca de Xira
https://www.publico.pt/local-lisboa/jornal/instituicao-procura-parceiros-para-recuperar-palacio-do-farrobo-199437 (Palácio do Farrobo, Jorge Talixa, no Público, 23-03-2003)
http://www.patrimoniocultural.gov.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/71503/ (Palácio do Farrobo, em Património Cultural, DGPC)
http://ruinarte.blogspot.pt/2013/07/palacio-farrobo-vila-franca-de-xira.html (Palácio do Farrobo; do blogue RUIN'ARTE)
***
Palácio Quintela/Chiado
Há informação sobre o Palácio Quintela/Chiado nas referências atrás indicadas. Como curiosidade, veja-se Farrobodó, novo restaurante no Palácio Quintela. Quem queira, pode visitá-lo, pois está aberto ao público, e com um bocadinho de imaginação, pode ver o conde do Farrobo entre os presentes. Se não, vá a uma das janelas da Rua do Alecrim e talvez venham do rio sinais de bandeiras a dar instruções a alguém da casa. É da parte do conde, refugiado num navio inglês, sem que a polícia de D. Miguel saiba. Se vir bem, o próprio palácio tem bandeira inglesa.
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ANEXO
Manuel Gandra sobre as pinturas no tecto e parietais do Palácio Quintela
Manuel Gandra sobre as pinturas no tecto e parietais do Palácio Quintela
Estas
cenas da fundação de Roma têm um episódio marcante, que é o episódio da traição de
Tarpeia, e já aqui encontramos, também, mais um elemento que remete para a história da época. A traição, na época, já estava presente na história de Portugal e, sobretudo, a traição a partir do núcleo central do poder, a partir da corte. A traição de Carlota Joaquina e do seu filho, D. Miguel. Aliás, todos os aspectos relacionados com a traição de D. Miguel e da mãe,,,, mas sobretudo de D. Miguel, que é, digamos, é, digamos, o agente, é o protagonista da... desse processo estão aqui perfeitamente representados.
Eu poderei mesmo dizer que neste
palácio estão representados e estão prognosticados os eventos que iriam desembocar
na guerra civil, entre liberais e absolutistas. Há um tecto, o tecto chamava-se..., o tecto representa Minerva, que denota exactamente essa preocupação de tentar ensaiar, lograr uma pacificação entre os dois irmãos desavindos, já desavindos nesse período. Minerva segura duas coroas,
que costumam ser de louro, neste caso não são de louro, são de oliveira, que é o símbolo da paz por
excelência. E, evidente que estamos perante mais uma deixa para D. Miguel e D. Pedro, os irmãos desavindos que o dono da casa pretende coroar, não com a coroa de louros dos vencedores, porque não há vencedores, há apenas dois irmãos que pacificamente coexistem para bem da nação e, portanto, é esse o sentido que aquela pintura da terceira sala possui. [22:36 a 24:30]
Encontramo-nos numa escadaria nobre do Palácio Quintela, um espaço que a todos os títulos é notável pela sua, não só pela arquitectura, que evidentemente já foi mais imponente do que é hoje, mas sobretudo por causa da pintura, em virtude da pintura que existe nas paredes e na abóbada.Todas as pinturas nas paredes, todas as pinturas parietais giram em torno de um eixo central que é representado pela exaltação de Mercúrio, porventura poderá ser o próprio dono da casa que recebe os seus convivas, duma forma exaltante, visto que ele é o grande enviado dos deuses que, como enviado dos deuses, vem saudar os humanos e trazer-lhes consigo o
pomo dourado da abundância. Todas essas..., todo esse sentido exposto nessa pintura está complementado em quatro grandes
painéis representando três trabalhos de Hércules e um episódio do décimo
segundo trabalho de Hércules, que precede a morte do próprio herói. Para além disso, temos também presentes alguns planetas, os planetas, os deuses, digamos, os deuses que são transformados em planetas na
astrologia tradicional, e os Quatro Elementos. Portanto, neste espaço, conjugam-se... uma espécie
de ordem do mundo, que serve de introdução geral ao sentido mais universal —
diríamos — e até mais particular, particularmente nacional, do palácio…, que
nos será dado nas pinturas parietais do interior.
[No
interior] Em qualquer destas pinturas, há sempre um toque que nos remete para
as preocupações políticas, sociais ou ideológicas do dono da casa e isso é um
elemento fundamental para a leitura e para a interpretação, portanto, para
conseguirmos deslindar a semântica destas pinturas, que aparentemente são meras
pinturas mitológicas, sem qualquer outro sentido senão o de decorar a casa.
Na realidade, tudo, aqui, tudo o que vemos aqui nada tem de decorativo, no sentido, digamos, de tornar bonitinha a casa. Trata-se de tornar a casa falante, tornar a casa uma extensão do próprio dono
dela. [35:12 a 37:37] (De Farrobodó, Uma Biografia do Conde do Farrobo)
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