sábado, 17 de dezembro de 2022

Monumento ao Cante Alentejano

 Odemira, 27 de Novembro de 2022

Cumprindo uma promessa feita a mim mesmo, nascida do desejo de ver no sítio a obra em construção, (era numa elevação, no campo), anos depois de ver o grupo escultórico em esferovite a ser afeiçoado pelo «bisturi» do artista escultor, que encontrei na vida em 1970-71, pusemo-nos a caminho, eu e a minha companheira de aventura. Eu, no lugar de chefe de viatura, claro, já que acabo de evocar anos de vida militar…

O caminho para Odemira foi longo, mais longo do que o imaginário que tinha… E a noite chegou. Houve dúvidas, placas com nomes ao longo da estrada. A certa altura parece que estamos no deserto. Noite e solidão… Cercal, serra… Haja Deus, como dizem ou diziam nas telenovelas brasileiras… Afinal, Odemira é fronteira com o Algarve. Chegámos, enfim…

O regresso foi mais agradável, simples, com paragem num restaurante em Formosa. A caminho de casa os ventos sopraram a favor. A brevidade sentida do tempo foi também psicológica, com o intervalo do almoço.

Dia 27

Início previsto para as 10:30

Fomo-nos aproximando do local da inauguração do monumento ao cante alentejano, no alto da Quinta da Estrela, sobranceiro à vila, perto dela… Já lá, vamos conversando com um senhor, bombeiro, que conheceu o até há pouco comandante dos bombeiros de Torres Vedras, Fernando Barão. Para o fim da conversa, um pouco à beira dos acontecimentos, começa a ouvir-se Olha a Laranja da China, canção a que me liga especial afeição, de quando a cantava no Grupo Coral Gaudeamus, de Torres Vedras. Depois da primeira estrofe, entrava-se propriamente na matéria, as duas estrofes que aparecem sempre, quando se canta a «Laranja da China». Essa entrada, a dois tenores, era «atacada» pelo Mário e por mim, que tinha sempre grande dificuldade de entrar no momento exacto. Só dizíamos, com decisão certeira, «Olh’à laranja da Chi-na», sendo logo seguidos pelo coro, «Criada no arvoredo»…

Por aqui me fico. Há mais informação na descrição dos vídeos, sobretudo o primeiro:

 «Chegámos à noitinha, no dia anterior à inauguração, cuja cerimónia teve início pelas 10:30 do passado domingo, 27. Esta imagem mostra o monumento e os circunstantes no alto junto a Odemira, pouco antes da presença formal das individualidades presentes e grupos corais convidados — de Odemira, São Luís, Vila Nova de Milfontes, Vozes Femininas de Amoreiras-Gare, Os Ganhões de Castro Verde, o Rancho de Cantadores de Aldeia Nova de São Bento e o Grupo Coral Infantil de Odemira Cá Se Canta. O dia escolhido comemora o oitavo aniversário da classificação do Cante Coral Alentejano como Património Cultural Imaterial da Humanidade.

O monumento é da autoria do escultor Fernando Fonseca e foi realizado na empresa Gate 7, de Torres Vedras. Usaram da palavra Fernando Fonseca, que nos contou o caminho andado para se chegar a este importante momento, com alteração do local inicialmente previsto (no alto de uma colina, no campo), dando pormenores sobre o seu trabalho, abandonando-se a utilização do pantógrafo inicialmente pensado, em favor de recursos digitais. Referiu, ainda, o significado da curvatura elipsóide que o grupo escultórico apresenta, bem como o piso de pedra em que assenta. O texto lido merece ser publicado.

Falou a seguir o Presidente da Câmara, Hélder Guerreiro, explicando aos presentes o significado deste dia de festa comemorativa e enaltecendo a escolha da localização do grupo escultórico. Por fim, o Ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, entre outras coisas, salientou, a concluir, a importância da preservação do Cante Alentejano na sua transmissão às novas gerações, acompanhada de natural renovação, sem perder os fortes traços comunitários.»

Os degraus a toda a volta formam uma elipse. Convite a sentar, estar, olhar...

4718, 26 Nov., 21:47:19
Palácio da Justiça

4744, 27 Nov., 10:17:18
Palácio da Justiça

4752, 10:10:49
DOMVS JUSTITIÆ (Palácio ou Casa da Justiça)

4747, 10:18:01

4753, 10:20:39


4758, 10:21:58

4759, 10:22.28 imagem de vídeo
 
MVI 4759, 10:22:28
            «Olha o drone...», diz uma voz de criança ou rapaz...

Cinco grupos são alinhados à frente do monumento. Ouve-se Olha a Laranja da China.

Olha a laranja da china 
(10:23)

Olha a laranja da China

Criada no alvoredo (1)

Não te ponhas à esquina

Que eu passo e não tenho medo

 

Que eu passo e não tenho medo

Eu passo e não faço mal

Olha a laranja da China

Criada no laranjal

 

 [Quatro versos só cantados por Vozes Femininas de Amoreiras-Gare, vozes suaves e nítidas, mas difíceis de decifrar com rigor, devido a alguma envolvência sonora.]


Olha a laranja da China

Criada no alvoredo

Não te ponhas à esquina

Que eu passo e não tenho medo

 

Que eu passo e não tenho medo

Eu passo e não faço mal

Olha a laranja da China

Criada no laranjal

Olha a laranja da China

Criada no laranjal

(1) Forma popular para «arvoredo». 

(...    ...    ...    ...    ...    ...    ...)


 
4764, 10:42:24, imagem de vídeo
De novo alinhados à frente do monumento, cantavam neste momento os grupos corais de Vila Nova de Milfontes; Vozes Femininas de Amoreiras-Gare; Odemira; S. Luís; Grupo Coral Infantil de Odemira Cá Se Canta, este à frente dos outros, em duas longas filas.
(Não aproveitei uma fotografia com o restante elenco de cantores, por precaução, mas tal pode ser suprido no vídeo publicado no YouTube pelo município de Odemira.)
 
[A ribeira, quando enche
Vai de pedrinha em pedr]inha; 
O homem que leva a barca
Leva o meu bem na barquinha.

Leva o meu bem na barquinha,
Tudo isso que pertence;
Vai de pedrinha em pedrinha
E o que virá quando enche.
 

 4765, 10:44, imagem do vídeo seguinte...

 
        Do alto do monte, contemplando o que se pode ver de Odemira, situada como em  cratera de vulcão, rodeada de cones vulcânicos, ouvimos cantar na colina ao fundo, em espaço ajardinado. 
É o Rancho de Cantadores da Aldeia Nova de S. Bento com o seu «fato domingueiro», preto, a elevar o cante à esfera do sagrado. São caminhantes que se aproximam e já à vista dos cantadores, todos de branco à sua frente, resolvem dialogar, em réplica a A Ribeira, quando enche, de momentos antes... É a saudação de irmãos, a prefigurar o encanto respeitoso de quem a partir de agora passar por Odemira e olhar para o alto da Quinta da Estrela.
Memória e continuidade.

Aqui deixamos a letra, como a ouvimos no alto do monte da Quinta da Estrela. Entre parênteses rectos, a parte que não registámos…  e está presente em reproduções credíveis no YouTube… A quadra iniciada por «Quando eu oiço bem cantar» é o remate dos versos. Continua o canto, repetindo as quadras 2, 3, 4 e 5, excluindo este fecho e a primeira quadra, que é o indicativo ou apresentação do rancho de cantadores da Aldeia Nova de S. Bento.

O indicativo da moda O Meu Chapéu e a quadra são de Pedro Miguel Mestre  e a moda é de João Monge (sigo informação no YouTube, 11 de Março de 2017, da actuação no CCB).



Podes pôr o meu chapéu

[Aldeia Nova de S. Bento

Plantada no meio do trigo

Teu cantar é um lamento

Gosto de cantar contigo

 

Se passares à minha aldeia

Não vás de cabeça ao léu

Quando o sol mais almareia]

Podes pôr o meu chapéu

 

Podes pôr o meu chapéu

A mais valiosa herança

Já foi de quem está no céu

E não me sai da lembrança

 

Quando nos faltar a voz

Há-de haver uma mão-cheia

A cantar por todos nós

Tenho cá na minha ideia

 

Tenho cá na minha ideia

Que o cante se ouve no céu

Se passares à minha aldeia

Não vás de cabeça ao léu

 

Quando eu oiço bem cantar

Páro e tiro o meu chapéu.

Não se me dava morrer,

Se houvesse cante no céu

 

Se passares à minha aldeia

Não vás de cabeça ao léu

Quando o sol mais almareia

Podes pôr o meu chapéu

 

Podes pôr o meu chapéu

A mais valiosa herança

Já foi de quem está no céu

E não me sai da lembrança

 

Quando nos faltar a voz

Há-de haver uma mão-cheia

A cantar por todos nós

Tenho cá na minha ideia

 

Tenho cá na minha ideia

Que o cante se ouve no céu

Se passares à minha aldeia 

Não vás de cabeça ao léu 

 

4766, 10:50
Os cantores infantis vão saindo

***
Discursos, descerramento do painel comemorativo, com cante

4769, 10:52
O escultor

4773, 10:52

«Observarmos a escultura, onde juntei altos e baixos, magros e barrigudos, chapéus à banda, puxados para a nuca ou a proteger os olhos do sol inclemente, daí resultam os degraus que servem, para quem, sentado, quiser usufruir do panorama que nos envolve dum modo especial, com a vila, o rio e as ladeiras da outra banda.» (Palavras de Fernando Fonseca, transcritas a partir do vídeo do município de Odemira, no YouYube.) 

A seguir, usaram da palavra os Senhores Presidente da Câmara Municipal de Odemira, Hélder Guerreiro, e o Ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva.


Painel comemorativo da inauguração do monumento ao cante alentejano

Descerramento pelas entidades oficiais e presença de Os Ganhões de Castro Verde


4774, 11:21:12

Porta-estandarte do Grupo Coral de Vila Nova de Milfontes


 
4777, 11:21:33

4779, 11:23:03
 
4780, 11:23:56 imagem de vídeo
 
:
MVI 4780, 11:23:56
Os Ganhões de Castro Verde

Ao lado da bandeira nacional, que cobria o painel comemorativo da inauguração do monumento, Os Ganhões de Castro Verde vão cantar No Alentejo Eu Trabalho... Momentos depois, a bandeira é retirada pelo Sr. Ministro da Cultura… Mais tarde, no desfile pela Estrada da Circunvalação, com destino ao Jardim Ribeirinho do Mira, em passo cadenciado, voltámos a ver este grupo coral interpretando «Em tempos que já lá vão, / Deixei a vida do campo, / Trabalho na construção ... ...».

            Aqui deixamos a letra, como a ouvimos no alto do monte da Quinta da Estrela. Entre parênteses rectos, a parte que não registámos...

[No Alentejo eu trabalho,
Cultivando a terra,]
Vou fumando o meu cigarro, 
Vou cumprindo o meu horário,
Lançando a semente à terra.
 
É tão grande o Alentejo,
Tanta terra abandonada,
A terra é que dá o pão.
Para bem desta nação, 
Devia ser cultivada.
Tens sido sempre esquecido,
À margem, ao sul do Tejo,
Há gente desempregada,
Tanta terra abandonada,
(E) é tão grande o Alentejo.
Trabalha, homem, trabalha,
Se queres ter algum valor.
Os calos são os anéis,
Os calos são os anéis
Do homem trabalhador.
É tão grande o Alentejo,
Tanta terra abandonada,
A terra é que dá o pão.
Para bem desta nação,
Devia ser cultivada.
Tens sido sempre esquecido,
À margem, ao sul do Tejo,
Há gente desempregada,
Tanta terra abandonada, 
(E) é tão grande o Alentejo.

 
 Nota: Há uma interpretação deste cante, transmitida pela RTP 1 em 1999, pel'Os Ganhões de Castro Verde, com duas variantes, que não são uma diferença, mas um matiz. Em 1999, cantaram «Tem sido sempre esquecido» e «Mostra bem o teu valor»; agora, «Tens sido sempre esquecido» e «Se queres ter algum valor». Em 1999, Dulce Pontes cantou com os homens, não retirando nada à força, à identidade do grupo, tradicionalmente masculino. Pelo contrário, deu-lhe um golpe de alma, com a sua voz linda...
 
4781, 11:28

4782, 11:28 
Da esquerda de quem vê, para a direita: Fernando Fonseca, o escultor, amigo, o Ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva e o Presidente da Câmara Municipal de Odemira, Hélder Guerreiro

4785, 11:30

Mais imagens...

[Imagem da R.,112411, 11:24:16]

4788, 11:33
Grupo de Cantadores de Aldeia Nova de S. Bento

***

A descida em direcção ao Jardim Ribeirinho do Mira

Fomos até ao Parque Ribeirinho e no regresso à Estrada da Circunvalação, assistimos à passagem dos grupos corais.

4789, 11:44

4791, 11:45
Pequeno cabeço talhado
Parece piçarra, mas não tão escura, como a que pode ver em Montargil quem, ido de Mora, se dirigir à vila, umas centenas de metros antes de entrar nela.

4795, 11:45
Painel no edifício do Palácio da Justiça

4796, 11:47
Painel no edifício do Palácio da Justiça

4798, 11:48

4800, 11:50
Estrada da Circunvalação

4802, 11:50:45

4807, 12:10

4809, 12:13

4810, 12:13

4811, 12:14:30

4812, 12:14:34

4813, 12:16:15

4821, 12:17:19

4826, 12:19

4827, 12:20

4833, 12:21:52
 
 MVI 4838, 12:23:26
Manhã de 27 de Novembro de 2022
Depois da inauguração do monumento, os grupos de cantadores demandaram o Jardim Ribeirinho do Mira para almoço de convívio. Neste pequeno vídeo, Os Ganhões de Castro Verde passam por nós e do que ouvimos damos a letra. Entre parênteses, verso não ouvido. (No final desta mensagem, ver a letra completa.)

[Andei a guardar o gado]
Em tempos que já lá vão
Deixei a vida do campo
Trabalho na construção

Trabalho na construção
Já não me encosto ao cajado
Em tempos que já lá vão 
Andei a guardar o gado...

MVI 4839, 12:24:24
Grupo Coral Vozes Femininas de Amoreiras-Gare, criado em 1998. Terá o seu momento de actuação durante o almoço-convívio no Parque Ribeirinho do Mira. 
Já se ouve os cantadores que desfilam em último lugar.

MVI 4840, 12:24:32
Atrás de Vozes Femininas de Amoreiras-Gare, vemos o Grupo Coral de Odemira, depois, o de Vila Nova de Milfontes e o de S. Luís.
 
 MVI 4842, 12:25:06
Vemos em primeiro plano, o Grupo Coral de Vila Nova de Milfontes, seguido pelo de S. Luís, freguesia de Odemira. Ouve-se e vai-se vendo, bem mais atrás, o Rancho de Cantadores de Aldeia Nova de S. Bento. 

MVI 4843, 12:25:34
 Rancho de Cantadores de Aldeia Nova de São Bento
O Rancho de Cantadores de Aldeia Nova de S. Bento desfila na Estrada da Circunvalação, a caminho do Parque Ribeirinho do Mira, onde terá lugar o almoço-convívio onde os grupos corais convidados marcarão presença e terão o seu momento de canto. Agora, vamos ouvindo alguns versos da moda «Fui ao Jardim Passear». Segue a transcrição completa retirada do vídeo do concerto deste rancho em Washington no Millenium Stage, em 14 de Janeiro de 2019. O concerto pode visionar-se no YouTube.

Atrás de um sonho, outro sonho,

De tantos que a vida tem…

Atrás dum sonho, outro sonho,

De tantos que a vida tem.

 

Sem a tua companhia,

Não posso viver, meu bem

Sem a tua companhia,

Não posso viver, meu bem.

 

Fui ao jardim passear…

Trouxe um ramo de alecrim,

Para dar ao meu amor,

Que se não esqueça de mim.

 

Que se não esqueça de mim,

Para sempre se alembrar;

Trouxe um ramo de alecrim,

Fui ao jardim passear.

 

Das flores que há no campo,

Qual é a mais estimada?

Das flores que há no campo,

Qual é a mais estimada?

 

É(i) a flor do rosmaninho,

Que entra em casa sagrada;

É(i) a flor do rosmaninho ,

Que entra em casa sagrada.

 

Fui ao jardim passear…

Trouxe um ramo de alecrim,

Para dar ao meu amor,

Que se não esqueça de mim.

 

Que se não esqueça de mim,

Para sempre se alembrar,

Trouxe um ramo de alecrim,

Fui ao jardim passear.

Trouxe um ramo de alecrim,

Fui ao jardim passear.

 ***

Letra de Andei a guardar o gado, que faz parte do repertório de Os Ganhões de Castro Verde.

Andei a guardar o gado

Em tempos que já lá vão:

Deixei a vida do campo,

Trabalho na construção.

 

Trabalho na construção,

Já não me encosto ao cajado;

Em tempos que já lá vão

Andei a guardar o gado.

 

O Alentejo é que é

O celeiro da nação;

Nós somos alentejanos,

Somos da terra do pão.

 

Andei a guardar o gado

Em tempos que já lá vão:

Deixei a vida do campo,

Trabalho na construção.

 

Trabalho na construção,

Já não me encosto ao cajado;

Em tempos que já lá vão

Andei a guardar o gado.

 [Do livro, com dois CD, Terra: Antologia, 1972-2006. CD 2, Associação de Cante Alentejano «Os Ganhões», 2006.]

 Antes dos versos transcritos acima, tal como vem na página da Meloteca, vem um título e uma quadra a ser cantada, antes do conjunto propriamente de «Andei a guardar o gado» e fazendo corpo com ele:

É alegre e sonhadora

[Andei a guardar o gado]

É alegre e sonhadora

A canção alentejana:

Cantada ao romper da aurora

Nas margens do Guadiana.

***

https://www.youtube.com/watch?v=nQP6paBxAKQ (Vídeo do município de Odemira  sobre o dia da inauguração do monumento) 

https://radiocampanario.com/ultimas/regional/odemira-ministro-da-cultura-destaca-dimensao-intergeracional-do-cante-alentejano

https://www.facebook.com/profile.php?id=100034348312434&sk=about_details (artigo sobre o Rancho de Cantadores de Aldeia Nova de S. Bento, por David Manuel Gomes da Silva)

Monumento ao cante Alentejano em Odemira já foi inaugurado! - Rádio Campanário (radiocampanario.com)

https://www.meloteca.com/cancoes-do-baixo-alentejo/

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