Ontem, sob o título
«António Telmo homenageado no IV aniversário da sua morte», publicou-se uma
mensagem, ilustrada com algumas fotografias da estátua e tanque do Gadanha, em
Estremoz. Pretexto, para hoje as inserir, aqui, de novo e lembrando Zeca do
Paço ou o Zé Capador de Estremoz, nomes por que era conhecido o Sr. José
João Nunes Martins (Castrador Diplomado pela Escola Superior de Medicina
Veterinária de Lisboa).
Há uma ligação grande entre o sítio onde está o Sátiro, no Rossio do
Marquês de Pombal, e o tanque do Gadanha. Em tempo antigo, um fio de água, um
regato, vindo de onde Nun'Ávares Pereira rezou, antes de se
dirigir para a batalha dos Atoleiros, junto a Fronteira, corria na diagonal até
mais ou menos onde é a Fonte das Bicas, na parede do tanque virada para o lado
do castelo e do Hotel Gadanha, defronte. O poeta imagina os dois seres
mitológicos, com óptima capacidade auditiva e visual, em diálogo bem humorado
da parte do Sátiro, como dele se espera... A resposta do Gadanha, mais
empenhado na tarefa de levar a gente, não a sabemos. Talvez seja mais ponderada
que a do parente.
(Da internet)
Esta espécie de concha é relativamente recente. Espero que não pegue a moda da cobiça do espaço vazio, para ir semeando objectos. Este espaço é só do Gadanha. Deve ser indisputado ao ceifeiro, que vê partir toda a gente e vai ficando. Só.
*
Zeca (Dito)
«Vou dizer uma obra da minha autoria, dedicada a duas estátuas, ou seja(m),
dois monumentos que tem Estremoz — o Sátiro a falar para o Gadanha.» Zeca dá
uma explicação breve1.
Diz [disse?] o Sátiro em
piadas:
«Gadanha, somos
parentes;
As nossas mães eram
fadas:
Duas mouras encantadas
Que vierom nas águas
correntes.
São as fontes, os
nascentes,
O nosso lar, o nosso
canto.
E por sermos
descendentes
De encantados das
enchentes
É a água nosso encanto.
Somos o riso dos outros
Tu, por teres umas
grandes barbas
De mim, riem-se os
garotos
Dizendo, feitos marotos:
“Olha o patas de cabra!”
Mas, os anos que passam
velozmente
E os que mangam vão
levando.
Dêx’òs lá mangar da
genti!
Lá vai mais um, ó
parenti
E nós cá vamos ficando.»
No fim, parece a voz do Zeca, dizendo:
«Isto…, é do Zeca! — Responde um: «Isto é do Zeca, isto é obra seleccionada.»
1 «Porque todos quantos morem nas proximidades de Estremoz, têm que
passar junto do Gadanha, mas (?) do Sátiro…» O «mas» deve ser com
pronúncia aberta, «más» ou «mais», aqui, com o significado de «e». Têm de
passar junto do Gadanha e do Sátiro.
*
Fados
e outras coisas do Zeca (C-1 – cassete
do sr. Madruga). Dito.
*
Os versos, acima, inserem-se numa recolha de poesia popular, maioritariamente, décimas, feita, sobretudo, em 1972/73, junto com Francisco dos Santos Rodrigues, e ainda à espera de umas boas horas e horas de trabalho, para ultimar uma possível e desejada publicação.
O convívio com o Sr. Zeca deu-se no café e restaurante do Sr. Ramalho, no Rossio, junto à Rua Victor Cordon.
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