No limite,
num dia mais ou menos longínquo, em nenhum dos territórios que se desmembraram
politicamente de Portugal se falará português. No limite, num dia mais ou menos
longínquo, em Portugal não se falará português. De cada uma dessas presumíveis
futuras línguas poderá vir dizer algum homem de letras que «com pouca corrupção
é a portuguesa», seguindo palavras de Camões, que no concílio dos deuses põe
Vénus a defender a gente Lusitana contra Baco,
Por quantas qualidades nela via
Da antiga tão amada sua Romana:
Nos fortes corações, na grande
estrela
Que mostraram na terra Tingitana,
E na língua, na qual quando imagina,
(Os Lusíadas, I, 33.)
Tratar-se a
língua como uma mercadoria é um grande equívoco. A ideia de acordo surge ligada
à ideia do milhão, dos milhões. A ideia de acordo está errada na raiz. Não é
preciso acordo nenhum. Estamos metidos numa grande trapalhada, para não dizer
de maneira menos polida, e o senhor presidente da Academia das Ciências vem dar
uma boa ajuda para se sair da dificuldade. Fala em despiorizar o acordo e tece
considerações, que espero levem pela sua valia — revejo-me nelas — a,
entretanto, repor a vigência do acordo de 45, por não estarem preenchidos os
trâmites de tratados que ainda não há (ver o que diz Carlos Fernandes, na
segunda hiperligação, abaixo), ou simplesmente, porque sim.
Arranje-se
maneira de nos livrarmos deste pesadelo e devolver o assunto ao esquecimento.
Tratemo-lo,
com elegância e diplomacia, mas como se fosse um rato. Façamos uma
despiorização.
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