sábado, 13 de maio de 2017

Georges Moustaki

Moustaki na Grand Gala du Disque Populaire, 1974
(wikipedia)

Há alguns dias na fita de marcadores quase esquecidos ao alto do monitor clico em A NOSSA RÁDIO..., onde jaz sempre «Aquilino Ribeiro: no centenário da sua morte», mensagem publicada no dia aniversário de 27 de Maio de 2013. Eis senão quando na barra lateral, no mesmo mês, depois desta, a 31, encontro Em memória de Georges Moustaki (1934-2013), falecido a 23 de Maio. Aqui, achei «pano para mangas».
Recordo...
Ouvi Georges Moustaki no Teatro Gil Vicente, em Coimbra, quando veio a Portugal, em '74. Encantou. Guardo na memória a canção «avril au Portugal», com este ou outro nome, incluindo, em português as palavras
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal
Li o que escreveu João Gobern e o que se segue, da pena de Álvaro José Ferreira. E ouvi Le Méthèque, O Estrangeiro, na versão portuguesa da letra. Preferiria O Meteco, mas compreendo a opção pelo grande público, desconhecedor da história grega e da conotação pejorativa de métèque no francês contemporâneo. Senti que é sempre o mesmo prazer ouvir Georges Moustaki, o que quer que ele cante; delicadeza, intimismo. O homem, a guitarra, a voz, a elegância, a mensagem, em que, sem se perceber no geral a letra, se fixa duas ou três palavras do refrão que calam fundo. Cantava em francês, e a certa altura:
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal,
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal.
No refrão, contraponto ao fluir suave e confidente, um erguer, arrebatar de ânimo na voz, postura e olhos do cantor (adivinha-se), com Moustaki e toda a gente na sala como um corpo só: em relação às outras estrofes, a diferença é mínima mas sentida.
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal,
 Ainda vai tornar-se um imenso Portugal*.
Este, o resultado final. E o público percebeu, foi percebendo a generosidade, a comunhão, irmandade entre os homens, os povos, ser livre…
* Na versão de A NOSSA RÁDIO... não figuram estes versos, a que poderíamos acrescentar os postos na boca de Maurício de Nassau:
Porque esta terra ainda vai cumprir seu ideal,

Ainda vai tornar-se um imenso canavial.
[O nome da canção]
Todavia, a canção tem subsolo…, é melhor conhecê-lo…, saber de como se chegou em ’74 à elaboração de «Portugal (fado tropical»), versão de Fado Tropical, de 1973, no Brasil da ditadura militar, adaptada ao 25 de Abril português. O ideal de liberdade, fraternidade, igualdade é o mesmo. Chico Buarque adere com entusiasmo às duas versões. Revê-se de alma e coração na révolution des œillets, na letra francesa de Moustaki (revolução dos cravos), como se revê na crítica irónica, forte na Ode aos Ratos, também integrante da peça Calabar, o elogio da traição. Mas, nós, portugueses, no geral, ignorávamos piamente que no Brasil os versos
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal,
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal.
têm um significado diferente.
Chico parece gritar um ataque também a Portugal nesse ano de 1973, governava Marcelo Caetano. Parece haver um fado comum. O final de Fado Tropical (a situação portuguesa nos trópicos) é
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal,
Ainda vai tornar-se um Império Colonial.
Como Portugal…
*
 Versão do tema "Fado Tropical", no filme "Fados", de Carlos Saura
canta: Chico Buarque
declama: Carlos do Carmo (
Ver, aqui)


(...)
(00:42)
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal,
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal.
( p. 11-12, de Calabar...)

(...)
(02:07)
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um Império Colonial.
(p.  12, de Calabar...)

(...)
E o rio Amazonas
Que corre trás-os-montes
E, numa pororoca,
Deságua no Tejo. 

(03:30) (Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal,
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal.
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal,
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal.)
 Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal,
  Ainda vai tornar-se um Império Colonial.
(p. 13 de Calabar...)

[Estes seis versos canta-os Chico Buarque no  filme Fados, de Carlos Saura. A parte a verde não se encontra em Calabar, a seguir à quadra anterior. No disco CHICOCANTA repete-se uma vez «Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal, / Ainda vai tornar-se um Império Colonial» e ouve-se em diminuendo «Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal / Ainda vai tornar-se um imenso Portugal».]
A forma como Chico Buarque viveu a situação portuguesa em '74 e a evolução da mesma pode ver-se nas duas versões de Tanto Mar, em que se dirige ao amigo e confidente José Nuno Martins. Ver nas hiperligações, abaixo; e ainda, aqui, lado a lado, as letras de Fado Tropical e da versão de Georges Moustaki, bem como das duas versões de Tanto Mar.

*

No Teatro Gil Vicente em Coimbra, pertença da Universidade, fazendo corpo com as instalações da Associação Académica e da cantina, perto das escadas monumentais, da praça dos cafés, em frente ao Pigalle, no outro lado da Avenida Sá da Bandeira; este edifício feito de raiz, respira, destila novidade, frescura e leveza. Acede-se por uma plataforma sobre passeio que corre ao lado, debaixo de pala nascida da parede em pequeno ângulo, ascendente.
Caixa como adossada na frente, café do teatro (e cinema), todo de vidro, oferecido à rua e a recebê-la. A pala já acolhe e protege. Sobe-se por seis degraus ao patamar de entrada, larga «parede» de vidro transparente. Por aqui se entra. Aqui estão as pessoas, o apelo, e entra-se. Estávamos fora e era já como se estivéssemos lá dentro, pelo olhar.
[O Teixeira]
Convívio com Georges Moustaki, despesas, na rubrica «Diversos», 1 673$60 (mil, seiscentos e setenta e três escudos e sessenta centavos). Que será a «Casa do Teixeira»? Teria a renda anual paga pelos estudantes? Ficaria contente se assim pudesse ter sido, como um ícone da universidade, que ele era, afinal. O Teixeira era da família, vendia jornais, andava na Praça da República, cafés, pedia um cigarrito, penso que não usava senhoria. «Dás-me um cigarro?», os olhos congestionados, andava um pouco dobrado sobre si, voz doentiamente rouca, coleccionava postais ilustrados das terras portuguesas, pedia se tinha algum... Teria 50 anos cansados!?

Não fica mal, associado a Moustaki numa folha de papel. De quantas pessoas que me foram próximas lembro o nome passados tantos anos? Fica bem, associado a Moustaki na vida real que nos é dado viver, pela humanidade que tinha na singeleza, escassez e autenticidade dos seus dias. O Teixeira era autêntico, assegura-mo o tempo que passou.
*
Calabar... é cru. É duro. Tem valor literário. Apenas alguns exemplos, na intercalação de falas que soa como eco-escárnio de Anna de Amsterdam ao que vai dizendo Mathias (p. 23-24), no sim, «diz que sim», «diz que sim», «Vence na vida quem diz sim» (Anna e o coro, p. 40-41), mesmo onde o ar que se respira é violento, como na Ode aos Ratos.
Quem foi Calabar? O assunto não parece estar acabado e talvez nunca venha a estar. Talvez haja mais do que um Calabar, conforme os olhos de quem o estude. Entretanto, esse trabalho, se vier a ser superado o melhor que foi feito até aqui, deve ser sereno e racional, mesmo onde entram as razões do coração. Dentro desta linha, apreciei o que li de Frans Leonard Schalkwijk, aqui.

*
Algumas transcrições de Calabar...
[PRIMEIRO ACTO]
A bandeira rubro-verde servindo-lhe de babador  (p. 3)   Rubro-verde em 1635?, no ano da Graça de…

Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal, (p. 11)  [O Brasil]

Ainda vai tornar-se um Império Colonial. (p. 13) [a terra onde está, que pisa, o Brasil]

DIAS: Viva Portugal!
FREI: Que Deus o tenha. (p. 21)

SOUTO: Governador, talvez não seja o momento, mas fui eu que…
MATHIAS: Já sei, você é o traidor. Parabéns, está nomeado alferes.
FREI: Não, quem trai a Holanda não trai o papa. Traidor é quem trai Castela.
MATHIAS: Traidor é quem trai Portugal.
FREI: Sutilezas histórias, Excelência.
CAMARÃO: Traidor é quem trai Jesus Cristo.
DIAS: Traidor é quem trai a pátria.
SOUTO: Traidor é Calabar. (p.22)

Canção de Anna (p. 24)

Calabar - na presença de Frei e do escrivão – perguntado pelo ouvidor «se sabia que alguns portugueses haviam sido traidores, e tratavam com o inimigo secretamente, levando-lhe ou mandando-lhe avisos do que entre nós se fazia. Ao que ele respondeu que muito sabia e tinha visto nesta matéria.» (p. 25) Calabar não dá os nomes.

FREI: Excelência, cuidado. Segundo o que me disse Calabar, os grandes culpados não estão na arraia-miúda. O que ele me pediu licença que lhe contasse são coisas pesadas, que eu gostaria de tratar consigo em particular.

BÁRBARA: […] Certo, certo, certo, A culpa de tudo é de Calabar. A culpa de todos é de Calabar. (p. 26).

MATHIAS: […] (Ajoelha-se) Eu, Mathias, de sangue e de nome português, mas brasileiro por nascimento e afeição, às vezes tenho pensado neste meu país…

[SEGUNDO ACTO
[…]
NASSAU: […] Mas orgulhoso, indiferente e cético, mesmo assim eu sei do meu fracasso. E o mais engraçado, o que me faz rir a bandeiras despregadas, é que não me importo…  (mas serio do que nunca, põe-se a cantar.)
Porque esta terra ainda vai cumprir seu ideal,

Ainda vai tornar-se um imenso canavial...

BÁRBARA: Um dia este país há de ser independente. […]


*

O Fado Tropical

11

[...]
(Luz isola Mathias, que começa a cantar “ Fado Tropical ” .) 

Ó musa do meu fado,
Ó minha mãe gentil.
Te deixo, consternado,
No primeiro abril.
Mas não sê tão ingrata,
Não esquece quem te amou.
E em tua densa mata
Se perdeu e se encontrou.

Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal,


12 


Ainda vai tornar-se um imenso Portugal.

(Falando com emoção, permanecendo o fundo musical de
melosas guitarras) 
Sabe, no fundo eu sou um sentimental. Todos nós herdamos
no sangue lusitano uma boa dosagem de lirismo. Além da
sífilis, é claro. Mesmo quando as minhas mãos estão ocupadas
em torturar, esganar, trucidar, meu coração fecha os olhos e,
sinceramente, chora.

(Cantando)
Com avencas na caatinga,
Alecrins no canavial,
Licores na moringa,
Um vinho tropical.
E a linda mulata,
Com rendas do Alentejo,
De quem, numa bravata,
Arrebata um beijo.

Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal,
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal.

(Declamando, sempre acompanhado de guitarras)
Meu coração tem um sereno jeito
E as minhas mãos o golpe duro e presto.
De tal maneira que, depois de feito,
Desencontrado eu mesmo me contesto.

Se trago as mãos distantes do meu peito,
É que há distância entre intenção e gesto.
E se meu coração nas mãos estreito,
Me assombra a súbita impressão do incesto.

Quando me encontro no calor da luta
Ostento a aguda empunhadura à proa,
Mas meu peito se desabotoa.

E se a sentença se anuncia bruta,
Mais que depressa a mão cega executa
Pois que senão o coração perdoa.

(No decorrer do soneto, Mathias foi desabotoando as calças e
abrindo-as. Agora, para a última parte do fado,
ele vai-se sentando na latrina ao lado do Holandês, que permanece na
penumbra.) 

(Cantando)
Guitarras e sanfonas,

13 


Jasmim, coqueiros, fontes,
Sardinhas, mandioca,
Num suave azulejo.
O rio Amazonas
Que corre trás-os-montes
E, numa pororoca,
Deságua no Tejo.

Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal,
Ainda vai tornar-se um Império Colonial.

(Luz sobre os dois. Mathias usa uma ceroula vermelha com faixa verde; o Holandês empunha uma bandeira branca espetada num bambu; suas ceroulas são azuis, listradas de vermelho.)


*

https://etudesromanes.revues.org/1348?lang=en (Fado Tropical de Chico Buarque e Portugal de Georges Moustaki)
http://books.openedition.org/pulm/958 (adaptação de canções brasileiras por Georges Moustaki, por Manuel Ramos; ver, também, no final, a Troisième chanson, cotejo lado a lado de Fado Tropical e Portugal)
http://www.longoalcance.com.br/brecife/calabar/index.html (Índice; explorar todos os temas, clicando em: Contexto, História, Motivos, Conclusão, Bibliografia. Para a história de Recife antigo, clique em «Voltar».

**

http://nossaradio.blogspot.pt/2013/05/em-memoria-de-georges-moustaki-1934-2013.html (palavras de João Gobern, seguidas pelo texto de  Álvaro José Ferreira, que publica a mensagem, que inclui reproduções de Le Métèque / O Estrangeiro, Natalia, Ma Solitude, Lettre à Marianne, Il Est Trop Tard, Rue des Fosses Saint-Jacques, Ma Liberté, Margot, Marche de Sacco et Vanzetti, Kim, Portugal)

http://bairrodovinil.blogspot.pt/2010/02/portugal-fado-tropical.html (Portugal - Fado Tropical)
https://www.youtube.com/watch?v=HiN5AqGaSM8 (versão do tema «Fado Tropical», no filme Fados, de Carlos Saura. Canta Chico Buarque, declama Carlos do Carmo.)
https://www.youtube.com/watch?v=LImcXq3zMH0 (Sei que estás em festa, pá... - Versão original de Tanto Mar. Clique em «show more», para ver a letra.)
https://www.youtube.com/watch?v=ST30-i7cZJk (Foi bonita a festa, pá... - 2.ª versão de Tanto Mar, no álbum «Chico Buarque, editado em 1978. Clique em «show more».)
http://www.chicobuarque.com.br/letras/tantomar_75.htm (letra das duas versões de Tanto Mar. Clique no ícone, páginas, canto superior direito, para ler a nota sobre Tanto Mar.)

***

A peça Calabar... no YouTube, depoimentos, Fado Tropical, Ode aos Ratos 
https://www.youtube.com/watch?v=Ki5WDlppPiI [CHICOCANTA - CHICO BUARQUE. Calabar - O Elogio da Traição.  «Lançado em 1973 pela C.B.D. Phonogram, foi reeditado em 1977 pela Phonogram com a adição de uma foto.» 30:52. Fado Tropical, com as partes cantadas e ditas, do minuto 19:30 a 23:38.]
https://www.youtube.com/watch?v=c24TrYSIURA [Calabar, 1.ª parte. Leitura da peça, com todos os personagens, na sede da APROPUC, 4/6/2012. Nem sempre segue a ordem do texto; pequenas supressões, aligeirando a extensão da passagem de onde foram retiradas, 57:08.]
https://www.youtube.com/watch?v=RduOOWXt65E [Calabar, 2.ª parte, 59:30.]
https://www.youtube.com/watch?v=MfODFi4x0J4 [Calabar - O Elogio da Traição – peça representada por Stella Maris, 2.º C, Ensino Médio (É uma versão, com supressões), 38:25.]
https://www.youtube.com/watch?v=3Kzu86d1gO4 [Chico Buarque e MPB-4 - Pot-Pourri da peça Calabar - Bastidores + Depoimento. – A peça foi gravada ao vivo e houve que introduzir alterações («rasuras», aplausos falsos...), para o disco poder sair.]
https://www.youtube.com/watch?v=ycalDO53nzk [Ode aos Ratos, Chico Buarque & Edu Lobo – de Calabar.]
https://www.youtube.com/watch?v=1lI2X0RyNSg [Ode aos Ratos - Chico Buarque canta.]
https://www.youtube.com/watch?v=DeLn9-T7gAg [Ode aos Ratos – Chico Buarque - Desconstrução; «Bastidores da gravação do álbum Carioca».]
https://tuliovillaca.wordpress.com/2012/07/20/sobre-o-mal-estar-na-cancao/ [Sobre o mal-estar na canção, por Túlio Ceci Villaça (inclui dois vídeos, um deles, Ode aos Ratos, cantado por Chico Buarque).]
http://topicosparaumasemanautopica.blogspot.pt/2009/09/ode-aos-ratos-chico-buarque-x-bichos_9268.html [Ode aos Ratos (Chico Buarque) versus Bichos Escrotos (Titãs). O autor refere a Ode aos Ratos, em confronto ou à luz de Bichos Escrotos da banda Titãs, em que, mais, ainda mais, se revê ou inspira.]
http://www2.uol.com.br/neymatogrosso/imp_mai08_02.html [No álbum Inclassificáveis, de Ney Matogrosso, «Ode aos Ratos, canção social de Chico Buarque que descreve metaforicamente o caos urbano brasileiro, num primeiro momento parece destoar do resto do álbum».]

sexta-feira, 5 de maio de 2017

Um PÁTEO no Beco da Espinhosa

Évora, 2 de Maio, 3.ª-feira
Subindo a Rua da Selaria (actual 5 de Outubro), em demanda de livraria nova (para mim, que quase só tinha olhos para a Nazareth), ali desde Julho de 2013!..., o que me deve ter fascinado ainda mais – estou certo disso... – foi a descoberta de um beco que afinal não o é ou não o é bem. O fascínio da porta aberta para um mundo novo. As coisas pequenas também podem ser grandes. Neste caso, o pequeno pode ser pequeno, mas é um mundo novo que se abre. 
Este beco sempre teve a sugestão do mistério. Não deve ser verdade, não é verdade, mas sempre associei a Espinhosa a Espinosa, a mãe do filósofo nascido na Holanda, mas todo português por pai e mãe, Bento de Espinosa.
Em tempo, a passagem para o pátio (um terraço em nível superior) fazia-se por toda a largura do arco. Agora, por uma porta. Sempre a vi fechada. Nem lembro sequer porta nenhuma, embora sempre lá deva ter estado. O beco que tenho transportado comigo é um beco. Diz o responsável do restaurante  já lá iremos  – que no Verão (parece começar em Maio?!) tem estado aberta...
Avancemos até ao portal e apreciemos a decoração do tímpano. Bonito, acolhedor.






O olhar volta-se para trás. É tudo lindo. 





Pátio (do latim pactus através do occitano pàtu) é uma zona aberta situada no interior de um edifício. Numa casa, o pátio pode ser utilizado como lugar de recreio, oferecendo segurança e conservando a intimidade.
Pode estar rodeado completamente por elementos edificados, ou ser murado e separado de pátios vizinhos ou da rua. De qualquer modo é sempre uma zona descoberta. (wikipédia)







Transposto o portal, podemos alcançar a esplanada, tomando a direita, subindo esta escada de pedra. 

Vamos subir pela calçada.
As refeições são tomadas no pátio, à sombra dos chapéus. Numa próxima visita, já convidei a família, vamos «habitar» o pátio. Devagar...


quinta-feira, 4 de maio de 2017

Fonte de Letras, em Évora


2 de Maio de 2017
Em Évora, uma Fonte de Letras, para matar a sede de ler.
Foi uma visita de ir e vir. De passagem pelo Nazareth, Nazareth & Filho do meu tempo de estudante, ainda com o velho Sr. Nazareth no final dos anos 50, ia a subir a escada para o andar de cima, sempre o andar nobre, direi mesmo o salão nobre da casa. Subíamos os degraus acompanhados por fotografias a preto e branco de escritores portugueses, ao alto e à esquerda. Oliveira Martins, Jaime Cortesão, outros grandes escritores... Fotografias de grande dignidade, não passavam de moda.
O balcão de atendimento era à esquerda, do lado da Praça do Geraldo, mas não ocupava todo esse lado. Os livros eram bem escolhidos e cobriam os vários campos da cultura. De romancistas, poetas portugueses viam-se os livros em prateleiras facilmente identificáveis. Torga, Régio, a história, a arte. Évora e o Alentejo estavam bem representados. Foi lá que comprei os três volumes de Estudos Eborenses, de Gabriel Pereira, edições Nazareth, era lá que estava a colecção dos cadernos de História e Arte Eborense. O boletim cultural A Cidade de Évora, publicado desde 1942 e dirigido durante muitos anos por Túlio Espanca. Do mesmo autor, os Cadernos de História e Arte Eborense: escreveu trinta e dois, desde 1944.
Pois, estando vedado o primeiro andar, visito a livraria, no espaço que continua o da entrada e já foi o seu nos anos 50. Em toda a loja nos seus dois espaços se é atendido por gente nova e dedicada, mas a diferença de qualidade impressiona quem conheceu o antes. O livro está ali como num centro comercial, com pouca espessura de tempo. Só há presente. Não há tempo, apetece dizer. Só a superfície dele...
Procurava uma obra com a Memória Descritiva do Assalto, Entrada e Saque da Cidade de Évora, que reproduz a NARRAÇÃO escrita pelo Arcebispo Cenáculo sobre os acontecimentos de 1808, as violências e humilhações de Loison e o seu próprio papel naquela dificílima situação. Refiro-me a um livro relativamente recente, em que a Memória é acompanhada por estudo de uma investigadora, cujo nome também não consigo recuperar. Não se encontra rasto da obra. A livraria está pobre de coisas do Alentejo. Onde está Celestino David, onde está Florbela, onde está algo mais, para quem queira aprofundar um pouco?!... 
Ficou lá, no entanto, um livro-álbum de fotografias sobre Évora, o Alentejo, belíssimo, com uma primeira parte a cores e outra a preto e branco. 15 €. Para quem gosta de fotografia, é quase desolador tanta qualidade, porque queremos seguir o exemplo... A adquirir em próxima visita.
A Nazareth terá perdido a primazia indiscutível no seu ramo, e senti uma certa decepção. Alguém me diz que há outra livraria na Rua 5 de Outubro. Vamos à antiga Rua da Selaria e no n.º 51 ao lado do restaurante PÁTEO no Beco da Espinhosa, a Fonte de Letras, com a sua «bandeira» a um canto da empena e um menu com gastronomia de inspiração literária. Entramos e encontramos resposta à nossa sede de qualidade. Faltará muita coisa, mas há consistência.


 










*
Sobre a Nazareth, a Fonte de Letras e Évora sob o jugo francês, em 1808: