sábado, 21 de abril de 2018

Alexandre Herculano recebe-nos em sua casa

            6.ª-feira, 20-04-2018
Ia a dizer palácio, residência, solar, mas abstive-me de titular assim… A palavra «casa», na nossa língua, é a que tem mais alma. É corpo, porque nos alberga inteiros, nele somos e moramos. Alma nossa, também, derramada em tudo: no ar, móveis, recordações…; quase toda, pois há coisas que «nem às paredes confesso». Talvez adivinhem…
Herculano recebeu-nos em casa, acompanhou-nos ao pátio interior e ao largo defronte, onde, junto à árvore-monumento, lembrou
O LAVRADOR SILENCIOSO,
SUMIDO NUM DOS VALES SERTANEJOS
DA ALTA ESTREMADURA
Tivemos mais sorte, os seniores da AUTITV – Universidade Sénior de Torres Vedras que se deslocaram a Santarém, liderados pelo Professor M. Novais Granada, tivemos mais sorte que o imperador do Brasil, que não logrou ir a casa de Alexandre Herculano, o grande historiador, tendo-o visitado apenas na sua mansão, retiro, tugúrio, tebaida, aprisco, abrigo, albergue, solidão, exílio. Conclui Eça de Queirós, no texto abaixo reproduzido:
«Ora, no meio disto, uma coisa terrível se nos afigura: é que Sua Majestade se esqueceu de ir simplesmente a casa do Sr. Alexandre Herculano.»
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Da Quinta de Vale de Lobos saímos para Santarém, onde vários monumentos e pontos de interesse nos aguardaram. Disso não é lugar, aqui. Chegámos a Torres, pelas 19 horas.
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Fevereiro 1872.
Sua Majestade Imperial visitou o Sr. Alexandre Herculano. O facto em si é inteiramente incontestável. Todos sobre ele estão acordes, e a História tranquila.
No que, porém, as opiniões radicalmente divergem – é acerca do lugar em que se realizou a visita do Imperador brasileiro ao historiador português.
O Diário de Notícias diz que o Imperador foi à mansão do Sr. Herculano.
O Diário Popular, ao contrário, afirma que o Imperador foi ao retiro do homem eminente que...
O Sr. Silva Túlio, porém, declara que o Imperador foi ao Tugúrio de Herculano; (ainda que linhas depois se contradiz, confessando que o Imperador esteve realmente na Tebaida do ilustre historiador que...)
Uma correspondência para um jornal do Porto afiança que o Imperador foi ao aprisco do grande, etc.
Outra vem todavia que sustenta que o Imperador foi ao abrigo desse que...
Alguns jornais de Lisboa, por seu turno, ensinam que Sua Majestade foi ao albergue daquele que...
Outros, contudo, sustentam que Sua Majestade foi à solidão do eminente vulto que...
E um último mantém que o imperante foi ao exílio do venerando cidadão que...
Ora, no meio disto, uma coisa terrível se nos afigura: é que Sua Majestade se esqueceu de ir simplesmente a casa do Sr. Alexandre Herculano!
                   (Eça de Queiroz, Uma Campanha Alegre, vol. II, XIX)

 Casa onde viveu a parte final da sua vida Alexandre Herculano, como a deixou...

 A árvore-monumento, com a placa onde estão inscritas palavras de Alexandre Herculano sobre o lavrador de um qualquer vale da alta Estremadura, aplicáveis a lavradores de outros pontos do país, e penso que ao próprio Herculano na parte final da sua vida. //  As palavras de Herculano, de cerca de 1874. Havia de morrer três anos depois em 1877.

 A cama onde Herculano veio a falecer...

 Outro aspecto do mesmo quarto. //  Sala , com saída para o pátio.

A mesma sala...
(Publicado, também, no facebook)

quarta-feira, 11 de abril de 2018

PÓ DOS LIVROS - Fechou mais uma livraria

Quis encomendar Os Irmãos Inimigos, de Nikos Kazantzaki, cuja leitura recente me deu grande prazer. E me devolveu a velocidade de ler do tempo em que li Eça, com encanto. Os irmãos inimigos são os Gregos, boinas vermelhas e boinas negras; na capa, de cabeças voltadas em direcção oposta, exactamente iguais. Só a boina os distingue.
Já não adquiri a obra que destinava como oferta a um/uma familiar. Venho a saber, no texto do blogue assinado pelo livreiro, Jaime Bulhosa, com data de 27 de Fevereiro, que a Pó dos Livros encerrou as portas em 31 de Março. Mais um que se vê forçado a fechar...
*
Ver, também, no suplemento Ípsilon do Público:
Livraria Pó dos Livros fecha portas no final de Março

domingo, 8 de abril de 2018

Aldeia Típica de José Franco


Aldeia típica de José Franco -- Sobreiro
07-04-2018
Hoje, revisita a José Franco, presente no espaço em espírito, que não já em pessoa no compartimento em que modelava as figuras de barro. Oferece-me outra vez um pequeno copo de barro com vinho. Na divisão ao lado, onde agora estou, sinto-o a abrir o postigo e estabelecer contacto visual. Não é controle ou desconfiança, apenas uma saudação de silêncio, um conforto ao visitante.
Deixo só imagens do pátio da aldeia, perto da assinatura de José Silos Franco, assinalando por certo mais uma parte da obra concluída. Imagens também de uma fonte abençoada por Santo António com a Bíblia e o Menino, a convidar-nos a entrar, a beber da água da arte que envolve toda a aldeia. A água da vida...
(Publicado há momentos na minha página do facebook)
  A assinatura de José Franco está no patamar da escada, ao fundo, à direita.