quinta-feira, 26 de setembro de 2013

CARPE DIEM

     Carpe diem é uma expressão que nos vem de Horácio, século I a. C., contemporâneo de Augusto.
     Às vezes, convém ir mais além e refrescar ou, quase sempre, ver mesmo pela primeira vez o texto todo onde jaz a expressão. Ao ler, aprendemos, e as páginas, os versos ficam vivos outra vez. Cada leitura é como o beijo da bela no monstro.  E o autor fica também entre nós.


I  11

Tu ne quaesieris, scire nefas, quem mihi, quem tibi
finem di dederint, Leuconoe, nec Babylonios
temptaris numeros. ut melius, quidquid erit, pati!
seu pluris hiemes seu tribuit Iuppiter ultimam,
quae nunc oppositis debilitat pumicibus mare
Tyrrhenum, sapias, vina liques, et spatio brevi
spem longam reseces. dum loquimur, fugerit invida
          aetas: carpe diem, quam minimum credula postero.



     Não procures, não é lícito, saber que fim os deuses deram, a mim ou a ti, Leuconoe, nem te deixes tentar pelos cálculos babilónios, que o melhor é sofrer, venha o que vier. Quer Júpiter tenha destinado vários invernos ou o último que agora quebra, nas rochas, as ondas do mar Tirreno, sê prudente, filtra o vinho, e confina a longa esperança a um espaço curto. Enquanto falamos, terá fugido o tempo invejoso: aproveita o dia, fia-te o menos possível no amanhã.


(Para a tradução, apoiei-me numa edição escolar de 1942, em prosa, sem indicação de autor, Cruz  & C.ª Limitada, Braga; e em HORACIO, Odas y Epodos, Edición bilingüe de Manuel Fernández y Vicente Cristóbal, Ediciones Cátedra, Madrid. 1990.)
Uma tradução, colhida na internet, pode ler-se aqui (Livro I, 11).

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A ode é dirigida a uma Leuconoe. Vicente Cristóbal, na anotação a I 11, refere Epicuro a propósito da ciência astrológica dos babilónios e para a expressão carpe diem encontra equivalente numa passagem da Carta a Meneceu, do mesmo Epicuro. O pensamento aqui expresso por Horácio «corresponde sobretudo a um princípio do saber vulgar sem fronteiras de tempo nem de lugar [...] Antes e depois de Horácio, a literatura, e especialmente a poesia, faz-se eco desta postura vital». (Odas e Epodos, págs. 112-113.)

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As referências de Vicente Cristóbal a Epicuro encontram-se, abaixo, documentadas. Sobre a adivinhação, os testemunhos recolhidos de Usener 395 (H. USENER. Epicurea. Leipzig, 1887); e a parte de frase da Carta a Meneceu, sobre viver com qualidade o dia, o momento.

A -- A adivinhação

On Divination
U395
Diogenes Laertius, Lives of Philosophers, X.135: Elsewhere he rejects divination entirely, such as in the Small Summary.
Aetius (Plutarch), Doxography, V.1.2 [p. 415 Diels]: Xenophanes and Epicurus dismissed the art of divination.
Cicero, On the Nature of the Gods, II.65.162: Prediction of future events is a favorite target for the wit of Epicurus.
Cicero, On Divination, I.3.5: All the rest, except for Epicurus, who spoke nonsense about the nature of the gods, endorsed divination.
Ibid., II.17.40: Hence, while [Epicurus] takes a roundabout way to destroy the gods, he does not hesitate to take a short road to destroy divination.  [cf. Ibid., I.39.87; 49.109; II.17.39; 23.51]
Scholion on Aeschylus, Prometheus, 624: Epicureanism is the doctrine that abolishes divination; indeed, they say “Given that destiny rules all, you <predicting a disgrace> have procured pain ahead of time; predicting instead something positive, you have wiped out the pleasure of its realization.  On the other hand, they also say “That which must happen, will still happen.”
Origen, Against Celsus, VII.3, [p. 343 Hoesch.]: In regard to the oracles here enumerated, we reply that it would be possible for us to gather from the writings of Aristotle and the Peripatetic school not a few things to overthrow the authority of the Pythian and the other oracles.  From Epicurus also, and his followers, we could quote passages to show that even among the Greeks themselves there were some who utterly discredited the oracles which were recognized and admired throughout the whole of Greece.
Cf. Lucian, Alexander the Oracle Monger, 17: It was an occasion for a Democritus, nay, for an Epicurus or a Metrodorus, perhaps, a man whose intelligence was steeled against such assaults by skepticism and insight, one who, if he could not detect the precise imposture, would at any rate have been perfectly certain that, though this escaped him, the whole thing was a lie and an impossibility.
Ibid., 25: Well, it was war to the knife between [Alexander] and Epicurus, and no wonder. What fitter enemy for a charlatan who patronized miracles and hated truth, than the thinker who had grasped the nature of things and was in solitary possession of that truth? ... The unmitigated Epicurus, as he used to call him, could not but be hateful to him, treating all such pretensions as absurd and puerile.
Ibid., 61: My object, dear [Celsus], ... has been ... to strike a blow for Epicurus, that great man whose holiness and divinity of nature were not shams, who alone had and imparted true insight into the good, and who brought deliverance to all that consorted with him.

     B -- A vida mais feliz


     Epicuro, da Carta a Meneceu, 126:
χρόνον οὐ τὸν μήκιστον ἀλλὰ τὸν ἥδιστον καρπίζεται. [krónon ou tón mékiston allá tóv hédiston karpizetai.] não procura a satisfação da vida mais longa mas sim a da mais feliz. (Tradução de Desidério Murcho.)
     
      http://www.epicurus.info/etexts/epicurea.html
      Ver, aqui, a Carta a Meneceu.

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