02-07-2015
A
estátua aí está. Esteve coberta uns dias e fiquei na expectativa. Será que vai
estar à altura de Pedro? O processo construtivo do autor, já conhecido dos
torrienses pelo seu grupo escultórico «Eu sei tudo», à vista de quem cruza o
espaço multisserviços da Câmara Municipal, deixou-me pensativo, ao vê-lo
aplicado a uma obra desta natureza.
João
Castro Silva, ao escolher esta maneira de esculpir, fabricar, modelar, já nos
dá o seu envolvimento, a maneira de sentir e pensar, escolher. Há, logo à
partida, combate e crítica, uma certa tensão de dentro da fragilidade de tudo.
Fortaleza no interior da fraqueza.
Deu-nos
um Pedro forte e decidido, contra ventos e marés, curvado para melhor sustentar
a adversidade. De frente, e isto é mérito do estatuário, esta postura objectiva
desaparece como por encanto e surge-nos um varão cheio de verticalidade e
inteireza. Lembro o processo da trama nas fotografias reproduzidas nos jornais
mais antigos, com a distribuição dos pontinhos (a trama) ou o caso das centenas
de linhas verticais no televisor que nos criam a ilusão óptica da continuidade
das manchas de cor. Ou, ainda, a sucessão rápida dos fotogramas no cinema. Não
os podendo discernir um a um, pois a nossa vista só consegue reagir à
velocidade de um décimo de segundo e antes disso já está impressionada com o
fotograma seguinte, o que vemos ou julgamos ver é o movimento sem quebra. O
mesmo se passa com as tiras ou pequenas réguas aplicadas por João Castro e
Silva.
Da
estátua de ao pé de S. Pedro, olhando para quem vem entrando na cidade do lado do
Choupal e da Rua Miguel Bombarda, como antigamente S. Gonçalo sentado à beira
do seu convento falava com quem passava ao fim do dia, depois do trabalho, da
estátua e da sua integração no local falou muito bem o seu criador:
“a composição da figura de São Pedro centra-se na
ideia de uma estrutura que resiste às forças adversas da natureza, quase que como
uma figura de proa de um barco. Inclinada, em atitude de força contra o vento e
preparada para afrontar as intempéries.
Com os pés bem assentes na terra, este São Pedro
baseia a sua forma na pirâmide, símbolo da síntese, da ideia e da dimensão
espiritual. Em que a base é a multiplicidade, a dispersão e o caos, e o topo o
mundo dos princípios e da unidade.
Ao nível da integração no espaço de implantação
colocou-se a figura em posição frontal à zona de ventos dominantes da praça,
contextualizando forma e conceito. Numa relação próxima com a população optámos
por não colocar o santo numa base ou pedestal — utilizamos para esse efeito o plano
sobrelevado do jardim de oliveiras do lado direito da igreja — é uma visão mais
humanística de um santo que é Pedro, uma pessoa que se vê glorificada pelos
atos que realiza enquanto homem”.
(Palavras do autor da estátua, transcritas da edição n.º 3104, 3 de Julho de 2015, do Badaladas, incluídas em texto de Ana Alcântara, com a devida vénia)
Sobre
«Eu sei tudo», pode ler-se o que escrevi em Junho de 2013, aqui.
Entretanto,
voltámos a ter um placa toponímica no Largo de S. Pedro, como toda a gente
dizia. É que a Rua 9 de Abril ia, até há dias, sem interrupção, do «Largo da Havaneza» ao entroncamento
em que se junta com a Mousinho de Albuquerque, a Cândido dos Reis e a Dias
Neiva. Os números de polícia tinham, naturalmente, sequência.
Para saber mais, consultar o jornal Badaladas, na edição referida,
onde se informa do preço dos trabalhos de criação do modelo e de fundição e se
registam palavras do presidente da câmara de Torres Vedras, Dr. Carlos Miguel,
e de Dom Manuel Clemente, cardeal patriarca de Lisboa. A estátua teve a bênção
do prelado, que recebeu das mãos do presidente da edilidade uma réplica em
tamanho reduzido.
A cerimónia ocorreu em 29 de Junho, dia de S.
Pedro.
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