Conheci a história, limitada ao facto:
«alguém fez isto». Achei inacreditável. Venho a encontrá-la, agora, contada por
uma pessoa da época, de quando aconteceu. O autor escreve em 1948.
Évora,
12 de Dezembro
Roubaram a Biblioteca Nacional. Um
empregado superior capou-lhe, à sorrelfa, dezenas de incunábulos, manuscritos,
obras raras. Como estamos em tempo de primado do espírito // e como os defensores
públicos da coisa espiritual são, no geral, tipos de massa, as obras
venderam-se apesar do preço, que sendo baixo para o valor das mesmas, era alto
para a proclamada pobreza nacional. Um desses furiosos do espírito, desejoso de
confrontar-se no seu gabinete com uma iluminação espiritual, recortou as
iluminuras de uma obra e colou-as no quebra-luz.
Pergunto-me que ironia da Natureza
consentiu que sujeitos destes trouxessem as da frente no ar.
(VERGÍLIO FERREIRA, Diário Inédito, Bertrand Editora, páginas 130-131.)
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