sábado, 24 de dezembro de 2016

SARGE, PAMPILHOS E CACTOS

24 de Dezembro de 2016
De manhã, já não muito cedo, voltei ao forte da Ordasqueira. Nós não inventamos a luz. A luz é-nos dada e há que aproveitar a melhor e a melhor tinha sido nas melhores horas da manhã, as primeiras.
Há anos, visitei pela primeira vez o moinho do Sarge (da velha Luzia) e, subindo ao longo do muro branco da Quinta do Sossego, junto à estrada militar, outro. E continuando umas centenas de metros para os lados da Ordasqueira, novo moinho, este ainda em bom estado e com casa anexa.
No passado dia 19, fui em demanda do forte e encontro-o no lugar do «outro», devidamente assinalado com a placa indicativa habitual, designadora deste tipo de legado histórico. Olhando bem, nota-se um ligeiro levantamento do terreno em que assenta o moinho e olhos já experimentados em visitar variados fortes e redutos ficam convencidos. Afinal, já conhecia o forte da Ordasqueira, sem o saber. Hoje, voltei e avancei até à rede que nos separa da auto-estrada, como se a A 8 não existisse e se pudesse ir em frente a Torres, passando pelo Bairro Arenes, como há duzentos anos. Tomei então o caminho da esquerda, transitável por tractores, descendo na direcção dos Cucos. Uma casa de apoio à faina agrícola chama a atenção e foi ponto de paragem. Está uma ruína, mas mesmo assim conserva a dignidade de quem serviu e é sentinela de tempo ainda não distante em que os campos estavam povoados.
Há hoje um Portugal cinzento que teima em manter-se de pé. Penso também em muros, nas casinhas de abrigo ou guarda de alfaias, aqui e ali, a lembrar o país de Liliput, e em edifícios das aldeias, de diversas dimensões. Em breve deixarão de nos poder alimentar o espírito com a memória viva do que fomos sendo. Penso, por exemplo, no edifício do Casal Cochim, perto de Pero Negro, que nas invasões francesas serviu de quartel-general a Beresford. Pude vê-lo haverá seis meses...
No regresso, escolhi um caminho pela esquerda, a meia encosta, mais abrigado, aproveitando a curva de nível. Alcançado o último trecho bordejando a Quinta do Sossego, um pouco adiante e os nossos passos já pisam o Sarge Velho. Aqui começa a Rua da Escola e lemos o n.º 2 na primeira casa da direita.
Resta fazer especial menção ao trabalho de protecção da auto-estrada, com rede, pedras e pisos largos de cimento com vala para escorrência das águas. E a beleza da paisagem: a eleição hoje vai para os mantos de flores amarelas — pampilhos —, que atapetam o espaço entre as fileiras das vinhas, e os cactos de flores em cachos vermelhos.
Feriu-me a atenção o nome da firma construtora do veículo de lavrar a terra, abandonado junto ao moinho, por parecer um automóvel antigo, neste caso, um automóvel de lavrar. Traz estampado o nome da firma construtora/vendedora

CASA
VON HAFE
PORTO

Procurei descobrir algo e o pequeno resultado obtido pode ver-se no final desta mensagem, depois das fotografias.
Voltaremos.



19-12-2016












Pampilho













Cactos


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A casa von Hafe
Jacob Eduard von Hafe; fundador da casa von Hafe. Descendência no Porto e região do Douro.
Jacob Eduard von Hafe - Hamburgo. Nienstaedt, 19-05-1829 † Porto, 26.07.1908
João Henrique Adolfo von Hafe; filho de Jacob Eduard von Hafe - Porto, 30-05-1855 † Porto, 06-06-1930
Jacob Eduard von Hafe foi continuador do antigo Colégio Alemão na Rua da Torrinha e fundador da Casa von Hafe, que teve as instalações na Rua 31 de Janeiro ou de Santo António. (Daqui, texto colocado a seguir às imagens do monumento ao Infante D. Henrique)

2 comentários:

  1. Os detalhes deste passeio à descoberta da história encantaram-me...
    As fotos ilustram bem tudo o que nos conta...!!!
    Gostei do pormenor do "tractor" abanonado...
    Continuação de festas Felizes...
    AG

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    1. A ideia de sobre este pequeno passeio - serve de caminhada de que tanto precisamos - fazer logo um texto foi ir acumulando coisas para um retrato da aldeia em que vivo. Afinal, mesmo pequena, muito há por conhecer. O retrato, se vier a haver, será incompleto...
      Continuação de Festas Felizes e que o Novo Ano seja propício para a Albertina e família...
      JL

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