quinta-feira, 13 de abril de 2017

Visita a Cheleiros



Fotos de 20-02-2017, da esquerda para a direita e de cima para baixo: 
As duas pontes vistas do lado montante do rio Lisandro; a ponte romana, vista do lado da povoação; idem.

Fotos de 12-04-2017: A ponte moderna, ao fundo,  vendo-se à esquerda, em parte, o Café da Manhã. As outras duas fotografias são vistas de Cheleiros, a partir de Rebanque  (pequena aldeia da freguesia de Montelavar - Sintra)

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12-04-2017
Visita a Cheleiros
Primeiro estive em Mafra, na Biblioteca Municipal, depois do almoço.
Em Cheleiros. Estive algum tempo no Café da Manhã, Café da Rampa, para um senhor (pastor) com quem falei um pouco vinha ele de apascentar duas ovelhas, uma grande e outra pequena (a filha?). E um carneiro grande. Todos castanhos-escuro. A ovelha chama-se Nini. O carneiro não tem nome, «é para matar». Já levou com uma cajadada (talvez cajado reforçado na ponta) na cabeça por ter dado uma marrada no dono. Quando o sr. se afastou, ralhou com ele, ameaçando-o com uma paulada na cabeça. Pastor e gado que se entendam.
Este encontro deu-se no alto da encosta que fica na margem esquerda do Lisandro, com o cemitério de Cheleiros a meia encosta. À parte que escolhi para tirar fotos panorâmicas acede-se a partir de Rebanque, de que é uma das extremidades.
No Café da Manhã troquei impressões com um senhor que me disse da coluna que era para vir para o convento de Mafra, mas não foi aproveitada. Esteve muitos anos, mais de duzentos, deitada no chão em Venda do Pinheiro. Está agora erecta. O pastor também me falou nela, dizendo que foi rejeitada por ter menos de vinte centímetros do que deveria ter. Sempre pensei que a coluna tinha ali sido deixada, por ter caído do carro de bois em que era transportada.
O café onde estive, da vez que me desloquei a Cheleiros há coisa de um mês, chama-se Cristo e fica um pouco mais abaixo e mais perto da ponte por onde passa a estrada. O pastor chama-lhe Café da Ponte.
Para este senhor, o convento de Mafra é anterior à ponte romana de Cheleiros, que lhe digo poder ter 2000 anos. Concordámos em que o convento irá fazer 300 anos em 2038*, conferindo com a data da inauguração que tenho na mente. Certamente, conhece algo da existência dos romanos, pelo menos, através da história sagrada ensinada nas missas e por ocasião da Páscoa, nas cerimónias da Semana Santa.
Foi no alto dos panoramas da beira da encosta, junto a Rebanque, que, ao manifestar a minha surpresa-espanto de ver a ponte romana tão pequenina, ao lado, perto da ponte-estrada, em baixo, sobre o Lisandro…, me disse que por ela foram transportadas as colunas para o convento de Mafra. Muita competência era preciso ter no acondicionamento e transporte para não haver acidente e estragos em monumento tão precioso. Acontece que quem passou por ela a pé sabe que a ideia de pequenez se desvanece. Pequena é, mas agiganta-se em solidez e nobreza. A dificuldade que imaginei haveria na passagem da pesada carga de grossas e compridas colunas tem a ver com a conformação em arco, com acentuada subida e descida. Arco que faz lembrar as ogivas das igrejas, segredo da sustentação destas pontes pelos séculos fora…, penso eu.
Mais coisas me contou o senhor no café, a propósito de uma fotografia antiga de Cheleiros exposta na parede — anos vinte? —, sobre o adro da igreja, o cemitério...;  actualmente, muito alargado, um, deslocado para a meia encosta, o outro…
Café da Manhã, Café da Rampa, na rampa do café da manhã, na rampa da manhã do café, na rampa na tarde do café da manhã…, no café, de tarde…
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Voltei para Torres, pelas sete da tarde, uma tarde que começou num como fumo ténue para os lados do poente, tarde de muito sol. A certa altura, em pouco tempo, quase sem se dar por isso, a neblina vinda ao que parecia do mar transformou-se em cobertura cinzenta-clara que preencheu todo o céu. O sol ainda se mostrou uns momentos, num forte e sitiado fulgor de luz, como uma hóstia. Foi sol de pouca dura, como costuma dizer-se, com outros sentidos. 
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* A idade do convento de Mafra – A primeira pedra foi lançada em 1717; a sagração da basílica, em 22 de Outubro de 1730, dia do aniversário do rei, faltando ainda o zimbório. As obras no palácio só terminaram em 1737. Estão a decorrer as Comemorações dos 300 Anos do Palácio de Mafra, iniciadas em 17 de Novembro de 2016 e terminando em 17 de Novembro de 2017, dia aniversário do lançamento da primeira pedra. Vale a pena visitar Mafra no âmbito destas celebrações, já no dia 14 de Abril.  O dia de encerramento incluirá, a partir das 14 horas, conferência, inauguração de exposição, grande concerto comemorativo e espectáculo evocativo do lançamento da 1.ª pedra da Basílica de Mafra: Música e fogo de artifício. Veja, aqui, o Programa das Comemorações.
                          Acrescentado em 17-04-2017: na tarde de 14, voltei a Rebanque com a I. e, mais cedo que dois dias antes, já o mesmo senhor vinha subindo, no final do giro quotidiano. Do que fica acima, do que conversámos, nada mudo e passa a registo de ficção. Ao dizer-lhe que não tínhamos dado conta da contradição (como podia ser o convento mais antigo que a ponte romana, se por ela passaram as colunas para a sua construção?), negou. A ponte – disse  foi feita para a passagem das colunas, por isso, é anterior. E mais, mas aqui o erro é meu. A ovelha, mãe, chama-se Nina, o que pode ser apenas substantivo comum, de (me)nina, e a filha também é chamada Nina. A cor do carneiro é o branco-creme de ovelha e não preto. 

4 comentários:

  1. Nunca estive em Cheleiros....!!!
    Mas agora fiquei curiosa..., especialmente pela ponte romana de que fala...
    Gosto de pontes romanas e já visitei muitas por todo o país; considero-as construções nobres..., verdadeiras obras de engenharia, para a época...
    No entanto, esta, aqui tão perto, nem sequer sabia da sua existência...!!!
    Vou voltar a ler o texto, com muita atenção, para melhor me situar e poder lá chegar sem dificuldade.
    Muito obrigada
    Páscoa feliz
    AG

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  2. Vai-se por Mafra, até à Carapinheira - um ou dois km. Vira-se à direita em direcção à Igreja Nova. Continua-se e desce-se para Cheleiros. Pode-se estacionar o carro ao pé da Junta de Freguesia (delegação) ou da igreja, escola primária...
    O cafezinho onde estive desta vez tem primeiro andar (o snack bar e sala de bilhar) e terraço. Tudo em pequeno, mas acolhedor.
    Há uma ponte de desenho igual a esta, mas em maior escala, em Cangas de Onis (Astúrias), ponte esta que já tive o prazer de pisar, no bom sentido, entenda-se.
    O interesse por Cheleiros vem sobretudo de um passeio com o grupo Tejo a pé, a partir de S. Julião, freguesia da Carvoeira. Passámos pela Senhora do Ó, junto ao Lisandro. Voltei lá e umas coisas foram levando às outras.
    Obrigado pela visita e
    Boa Páscoa
    JL

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  3. Passei hoje a cheleiros vi a Ponte Romana e fiquei curiosa fotografei e agora procurei a sua história

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  4. Obrigado pela visita. Aproveito para esclarecer um ponto que tardava em esclarecer, aqui. Já se vai vendo a designação de «Ponte Antiga», em vez de «Ponte Romana»; embora a origem possa ser romana, houve reconstruções posteriores. Veja o que se diz sobre a ponte de Cheleiros, a da Sr.ª do Ó (do Porto da Carvoeira) e a de Cangas de Onis:
    http://www.patrimoniocultural.gov.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/74470
    https://es.wikipedia.org/wiki/Puente_romano_de_Cangas_de_On%C3%ADs

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