Tenho gosto em partilhar uma notícia, o lançamento em
Fevereiro de Páginas Esquecidas — inéditos e textos esquecidos de Agostinho da
Silva — organização de Helena Briosa e Mota.
Não resisto a
transcrever de mensagem dirigida a alguns amigos, pela organizadora da edição:
«(...) sei que comigo se alegrarão:
Em Dia de Reis, o bolo vem com o desejado
presente: a coroa é um novo volume de Páginas Esquecidas de Agostinho da Silva,
com uma selecção dos seus famosos «Cadernos de Divulgação Cultural», que tanto
marcaram o Portugal da época e até agora se mantiveram esquecidos.
Para
Fevereiro, em jeito de celebração do aniversário do Autor, a arca entreabre-se
finalmente para deixar sair, do pó do esquecimento, a vibrante, sábia e
envolvente palavra de Agostinho. E, da longínqua Bahia-de-Todos-os-Santos,
evocaremos as palavras de seu filho Pedro Agostinho, que nunca deixou esquecer
esta tão significativa parte da obra de seu pai: «Houve quem dissesse que no
Portugal dos anos quarenta só três coisas, com a política como escopo, estavam
firmemente enraizadas: a Ditadura, o Partido Comunista e os Cadernos de
Agostinho da Silva.»
Que seja
do interesse de todos nós o máximo de divulgação desta obra.
Conto
convosco!»
+++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++
Agostinho da Silva é difícil e belo, alimento aliciante
para o espírito. A dificuldade maior será a de seguir-lhe a vida de
despojamento. Parece falar por paradoxos, mas quem quiser perceber, percebe e
não sorri…
Tenho à minha frente um livrinho seu, edição de autor,
1944. Trinta e um assuntos, trinta e um títulos em 104 páginas úteis,
CONSIDERAÇÕES. Primeiro, VIRTUDE. «Não se pode pensar em virtude sem se pensar
num estado e num impulso contrários aos de virtude.» (...) «Por isso não me
prende o menino virtuoso; a bondade é só nele o estado natural; antes o quero
bravio e combativo e com a sua ponta de maldade; assim me dá a certeza de que o
terei mais tarde, quando a vontade se afirmar e a reflexão distinguir os
caminhos, com material a destruir na luta heróica e a energia suficiente para
nela se empenhar.» (...)
«Para o que é bom por ter nascido bom a única virtude
consistiria em ser mau; aqui se mostrariam originalidade e coragem, mérito,
portanto; porque ser mau por ter nascido mau só lhe deveria dar, como aos do
lado contrário, o direito ao eterno silêncio. Por aqui se compreende que as
vidas dos Sorel tenham sempre ressonância nas almas Stendhal; e também a
sensibilidade, a delicadeza, todo o fundo de boas qualidades de certos grandes
criminosos. Sei bem os perigos que tal doutrina pode ter transportada ao social
e sei também a maneira de pôr de lado a objecção, alargando o conceito de
virtude, dando-o como o desejo de superar e não como o desejo de combater; mas
de propósito fiquei no que a virtude tem de luta entre a natureza e a vontade.»
Segundo, AMOR DO POVO. «Estes amam o povo, mas não
desejariam, por interesse do próprio amor, que saísse do passo em que se
encontra; (...)
«Há também os que adoram o povo e combatem por ele mas
pouco mais o julgam do que um meio; a meta a atingir é o domínio do mesmo povo
por que parecem sacrificar-se; (...)
«Interessa-nos o povo porque nele se apresenta um feixe
de problemas que solicitam a inteligência e a vontade; (...) logo que eles se
resolvam terminarão cálculos e interesses; como se apaga o cálculo que serviu
para revelar um valor; temos por ideal construir e formar o reino do bem; se
houve benefício para o povo, só veio por acréscimo; não é essa, de modo algum,
a nossa última tenção.»
Agostinho da Silva...
ResponderEliminarUm sábio...
AG