domingo, 13 de janeiro de 2019

Páginas Esquecidas, de Agostinho da Silva

Tenho gosto em partilhar uma notícia, o lançamento em Fevereiro de Páginas Esquecidas — inéditos e textos esquecidos de Agostinho da Silva — organização de Helena Briosa e Mota.
 Não resisto a transcrever de mensagem dirigida a alguns amigos, pela organizadora da edição:
«(...) sei que comigo se alegrarão:
Em Dia de Reis, o bolo vem com o desejado presente: a coroa é um novo volume de Páginas Esquecidas de Agostinho da Silva, com uma selecção dos seus famosos «Cadernos de Divulgação Cultural», que tanto marcaram o Portugal da época e até agora se mantiveram esquecidos.
Para Fevereiro, em jeito de celebração do aniversário do Autor, a arca entreabre-se finalmente para deixar sair, do pó do esquecimento, a vibrante, sábia e envolvente palavra de Agostinho. E, da longínqua Bahia-de-Todos-os-Santos, evocaremos as palavras de seu filho Pedro Agostinho, que nunca deixou esquecer esta tão significativa parte da obra de seu pai: «Houve quem dissesse que no Portugal dos anos quarenta só três coisas, com a política como escopo, estavam firmemente enraizadas: a Ditadura, o Partido Comunista e os Cadernos de Agostinho da Silva.»
Que seja do interesse de todos nós o máximo de divulgação desta obra.
Conto convosco!»
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Agostinho da Silva é difícil e belo, alimento aliciante para o espírito. A dificuldade maior será a de seguir-lhe a vida de despojamento. Parece falar por paradoxos, mas quem quiser perceber, percebe e não sorri…
Tenho à minha frente um livrinho seu, edição de autor, 1944. Trinta e um assuntos, trinta e um títulos em 104 páginas úteis, CONSIDERAÇÕES. Primeiro, VIRTUDE. «Não se pode pensar em virtude sem se pensar num estado e num impulso contrários aos de virtude.» (...) «Por isso não me prende o menino virtuoso; a bondade é só nele o estado natural; antes o quero bravio e combativo e com a sua ponta de maldade; assim me dá a certeza de que o terei mais tarde, quando a vontade se afirmar e a reflexão distinguir os caminhos, com material a destruir na luta heróica e a energia suficiente para nela se empenhar.» (...)
«Para o que é bom por ter nascido bom a única virtude consistiria em ser mau; aqui se mostrariam originalidade e coragem, mérito, portanto; porque ser mau por ter nascido mau só lhe deveria dar, como aos do lado contrário, o direito ao eterno silêncio. Por aqui se compreende que as vidas dos Sorel tenham sempre ressonância nas almas Stendhal; e também a sensibilidade, a delicadeza, todo o fundo de boas qualidades de certos grandes criminosos. Sei bem os perigos que tal doutrina pode ter transportada ao social e sei também a maneira de pôr de lado a objecção, alargando o conceito de virtude, dando-o como o desejo de superar e não como o desejo de combater; mas de propósito fiquei no que a virtude tem de luta entre a natureza e a vontade.»
Segundo, AMOR DO POVO. «Estes amam o povo, mas não desejariam, por interesse do próprio amor, que saísse do passo em que se encontra; (...)
«Há também os que adoram o povo e combatem por ele mas pouco mais o julgam do que um meio; a meta a atingir é o domínio do mesmo povo por que parecem sacrificar-se; (...)
«Interessa-nos o povo porque nele se apresenta um feixe de problemas que solicitam a inteligência e a vontade; (...) logo que eles se resolvam terminarão cálculos e interesses; como se apaga o cálculo que serviu para revelar um valor; temos por ideal construir e formar o reino do bem; se houve benefício para o povo, só veio por acréscimo; não é essa, de modo algum, a nossa última tenção.»

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