Domingo, 20 de Janeiro
De passagem pela Ponte de Santa Justa,
freguesia do Couço
Passei muita vez pela antiga, algo
periclitante, que só permitia a passagem de viaturas num sentido, à vez. Sem
muro ou parapeito de protecção, uns cabos simples serviam de defesa e aviso.
Está bonita... Pouco depois da
confluência do Sor e do Raia.
À
saída da ponte, cruzo-me a pé com um homem que ia a caminho de Santa Justa, os
seus quarenta, cinquenta anos, saúdo com o braço esquerdo erguido e vou dizendo,
e ele respondendo:
—
Finalmente, temos uma ponte à maneira!
— Custou, mas foi!...
Ainda na margem de Santa Justa
À direita
Na direcção de Coruche
Do lado de Montargil, à
esquerda, e de Mora, à direita, gritam um para o outro os rios, primeiro o de
Montargil e logo o outro, em modo de apresentação: SOR! RAIA! Vão juntos, de
tal maneira unidos que são um só, os nomes mesmo se juntam, querem dizê-lo e
sai-lhes outro enquanto fluem, que é a sua maneira deles, de andar e correr.
Num quase esquecimento do que foram sendo e ainda admirados do que estão a ser, ainda tentam dizer na mesma ordem, o de Montargil e o de Mora, SOR-RAIA,
SOR-RAIA, mas sai-lhes diferente o som. São um e o nome, de alguém que os ouviu
e foi passando a outros, é agora SORRAIA.
Do lado do Couço
Depois de atravessar a ponte, fiquei de
tal modo contente com a as obras de arte que a identificam, lhe dão o nome, que
voltei a percorrer a ponte, até Santa Justa, como se fosse a primeira vez.
Quem foi Joaquim Casanova do Bêco? Um homem do povo, que fazia a travessia do rio, levando pessoas e pertences duma margem à outra, fincando no leito do rio a vara comprida, como a lança do Quixote? É o que ele nos lembra, aqui, na sua vida de aventura..., quando o rio não se podia passar a vau...
Cá está o cartaz de metal, a obra de arte, a ponte a anunciar-se a quem vem do lado de lá, como uma figura de convite.
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