«Tudo demuidado está»
A propósito de um verso de Jaime da Manta Branca, referido na mensagem «Viagem a Portalegre»
No ano lectivo de 1972/73, conheci o Sr. Zé Guilherme, quando me dediquei a pesquisar e recolher, e conviver com as pessoas que a faziam e diziam ou só diziam a feita por outros, a poesia popular alentejana, onde as décimas têm uma presença grande. Nessas andanças, a parte melhor foi feita na companhia do Francisco dos Santos Rodrigues, professor na Escola Preparatória de Estremoz, com idas praticamente semanais a Santa Vitória do Ameixial, a terra dele, sendo às vezes acompanhados pelo Dr. António Simões, o Dr. Simões, como lhe chamávamos. O papel do Chico foi fundamental. Conhecia toda a gente e é um deles, no carinho com que o tratam -- e respeito mútuo. Continuou a interessar-se por questões culturais, nomeadamente no âmbito etnográfico, com exposições documentando o modo de viver de tempos quase idos, trajes... Nisso, foi companheiro do Professor Joaquim Vermelho, cuja actividade está ao alcance de quem quiser pesquisar um pouco. Já rapaz dos seus dezoito anos, colaborava em pesquisas para o Dr. Marques Crespo e com poesias vertidas no livro deste, Estremoz e o Seu Termo Regional.
O Sr. Zé Guilherme era cauteleiro, não sabia escrever; recordo-o como um homem robusto, bem disposto, educado, na sua franqueza, e sentindo-se bem na presença do seu semelhante. Devia andar pelos sessenta anos. Lembro-o no espaço do passeio, à saída do café Alentejano, em Estremoz. Do que me disse (e para o gravador), em 3 de Agosto de 73, peripécias com o Jaime -- ti Jaime --, décimas e motes, fica aqui apenas o mote de uma décima de Jaime Velez, o Manta Branca.
Tudo demuidado está
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Que decreto sairá
P'ràs que arman'os maridos
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