terça-feira, 13 de agosto de 2013

Bonecos de Estremoz

     A Primavera, boneco-tipo de Estremoz. Disse, na mensagem do dia 2 deste mês, que voltaria a este assunto, dado o seu interesse. É para deixar outros falar, que bem têm falado e apresentam material para consulta.

      Na Memória sobre os barros de Estremoz, de que damos a capa, e um desenho (exemplo, entre outros dos que o livrinho oferece, em que vem fielmente reproduzido o espírito simples dos bonecos em barro, quase caricatura, mas que nos toca e nos diz vida, povo, gente do campo e não só), Azinhal Abelho tem um texto inicial tão belo sem pretensão, que custa não o transcrever todo aqui. E o resto continua com segura mão.
          Diz-nos do mármore e do barro : 

 «[...] ao chegar-se ao alto, todos se cativam de encantamento pelo cheiro da pedra lavada e a cor do barro que se reflecte nas gentes e nas coisas. Estremoz é um burgo antigo. Ninguém lhe sabe as origens. E as lendas e os mitos envolvem-se em nuvrina que os poetas populares transformam em décimas e rimances para os cegos cantarem acompanhando o trinar choroso das guitarras nos arraiais das feiras e mercados, entre almocreves e ganhões.
     Cheiro da pedra lavada e a cor do barro...
     Os portais, as varandas, arcos, poiais, nichos, cruzes, altares, soleiras e peanhas -- tudo em relevo esculpido e talhado a cinzel sobre o mármore transparente...
     Os telhados, os ladrilhos e os vasos, os cântaros, as barranholas, tigelas, bilhas, pratos e púcaros das cantareiras -- em barro tosco, vidrado, polido, brunido, e empedrado -- explicam a orgia desta cor barrenta que dir-se-ia sangue da própria terra em acção telúrica que se prolonga do reino mineral para o reino animal.
     [...] »
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     Registemos apenas estes nomes: 
     Caetano Augusto da Conceição -- o Alfacinha, por ser natural de Lisboa --, começando por ser marceneiro, passou à olaria, onde revelou grande fantasia e criou peças originais; concorreu às exposições de Lisboa de 1884 e 1888, ganhando prémios. Tem interesse o depoimento do seu neto, José Sena da Conceição, registando já a grande decadência da olaria familiar, transcrito em Estremoz e o Seu Termo Regional, de Marques Crespo, de 1950, págs. 154 e 155.
     Bonecreiras -- mulheres e raparigas que trabalhavam nas oficinas, manufacturando os bonecos de Estremoz. 
     Sr. José Sá Lemos -- director da Escola Industrial de António Augusto Gonçalves, fez ressurgir os bonecos de Estremoz, levando dois porfiados anos a conseguir convencer a Tia Ana das Peles a salvar a tradição. 
     Irmãos Ginja -- trabalharam na Olaria Regional e, depois, aprenderam com o Professor Joaquim Vermelho, director do Museu Municipal, a estudar e aperfeiçoar modelos e técnicas. Estão em actividade. 
        Irmãs Flores -- também se destacam na manufactura de bonecos de Estremoz.
     
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     Tipos de bonecos: o lanceiro, o sargento, a senhora, o peralta, as pretas, a primavera, a amazona, a mulher do café, a mulher dos enchidos, o pastor e o rebanho, o pastor merendando, o barbeiro, a mulher dos perus, o presépio.

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A Primavera
     A «Primavera», tanagra plebeia de mocidade, é sumamente típica com o arco de flores preso nos ombros, passando-lhe sobre a cabeça como auréola.

     Olhe-se a figura da «Primavera». É uma moura enfeitada com a saia de bailarina, chapéu com as pétalas de corola, um arco de flores nos braços -- mais não sendo do que «as maias do mês de Maio» cheias de capelas de flores na cabeça, no colo e na cintura. 
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     Estes dois últimos parágrafos são da Memória sobre os barros de Estremoz, de Azinhal Abelho. O segundo, que continua com outros exemplos, serve para comprovar a tese do autor: dos presépios eruditos de Machado de Castro e sua escola derivaram os da olaria popular de Estremoz. «Vindos da moda dos presépios de Machado de Castro, os bonecos de barro de Estremoz chegaram enriquecidos até nós.» (Az. Abelho.) 
     Cada «bonequeiro» ou «bonequeira» faz uma Primavera um pouco diferente, mantendo-se o essencial do modelo.





























Bonecos comprados por mim, em Estremoz, talvez nos anos 80, da Olaria Alfacinha.

 Gostava de ter o conjunto da banda, se ainda se fabricarem bandas. Não peço mais.
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      Livros:
     O do Dr. Marques Crespo merece consulta, das págs. 149 a 155. O de Azinhal Abelho é para ler de uma ponta à outra. Aliás, são apenas 17 páginas úteis em tipo grande, bom papel, fotografias, desenhos. As fotografias e os desenhos continuam nas secções de texto em francês e inglês. O livro ao todo tem 71 páginas. Ao livro de Joaquim Vermelho, Os Barros de Estremoz, não tive acesso. Deve ser óptimo.

     Blogues e sítios na internet: pode-se começar por clicar, aqui,  em Irmãs Flores e Irmãos Ginja. E, por último, encontrará farto manancial no blogue de Hernâni Matos http://dotempodaoutrasenhora.blogspot.pt/. Em «Temas dos posts deste blogue», clique em «Barrística de Estremoz». Podia ter começado por indicar este blogue e dispensava-me de ter escrito esta mensagem, mas é assim.

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