sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Urbano Tavares Rodrigues










     Comecei a ouvir que Urbano Tavares Rodrigues tinha morrido, no rádio do carro; chegado a casa, continuei a ouvir  na Antena 2, programa «Baile de Máscaras», a entrevista dada a Luís Caetano, em 2012. Da parte que ouvi fica-se a saber os nomes dos jovens autores a quem Urbano reconhece grande qualidade, enunciados por esta ordem: José Luís Peixoto, Dulce Maria Cardoso e João Tordo. Aparece em cena, digamos assim, o irmão Jorge, de quem nunca tinha ouvido falar, a propósito do destino a dar às terras de que eram proprietários, sendo que este irmão não compartilhava das ideias de Urbano e Miguel. No filme «O Adeus à Brisa», emitido na RTP em 17 de Abril do corrente ano, este irmão Jorge não comparece, o que sinto ser um grande silêncio. São apresentadas fotografias e contam-se histórias, do pai e da mãe, a mãe, mais presente na vida deles na herdade, e a grande cumplicidade entre os manos Urbano e Miguel, crescendo juntos e quase sozinhos, ensinados em casa por uma senhora que lhes ministrou as primeiras letras.
*
[Segue um apontamento da entrevista de Urbano Tavares Rodrigues a Luís Caetano, a propósito do livro
Escutando o Rumor da Vida
seguido de
Solidões em Brasa
2012, dom Quixote.]




     Álvaro Cunhal, Mário Soares, Francisco José Viegas, Maria Eugénia Cunhal e Fernando Medina. Urbano Tavares Rodrigues soube desde cedo que o livro Cinco Dias, Cinco Noites era de Álvaro Cunhal, tendo acesso a ele, antes de ser publicado, através da irmã de Álvaro, Maria Eugénia, casada com o seu amigo Fernando Medina. Estou a dizer de cor, pelo que ouvi há horas. Urbano tinha, de resto, uma grande proximidade em relação a Álvaro Cunhal, que a certa altura lhe disse, num pequeno diferendo sobre determinado assunto, que o Urbano era comunista de coração, mas na cabeça tinha umas teias de aranha. Urbano falava-lhe também de que era preciso criticarem, porque assim o pensavam, coisas que iam mal na União Soviética..., senão, quando se viesse a saber, todos lhes cairiam em cima. Mário Soares também terá sido objecto de divergência de opiniões. Urbano Tavares Rodrigues sempre afirmou a grande amizade que nunca deixou de sentir por Mário Soares, que aliás o ajudou em momento difícil, oferecendo-lhe o acesso à docência no Colégio Moderno -- 6.º e 7.º anos do liceu.  À conversa chegou Francisco José Viegas, ao tempo da entrevista gravada, ainda membro do Governo, como secretário de estado da Cultura. Urbano reconhece-lhe grandes qualidades, na direcção da revista Ler e como autor de livros.
     Quando era novo, em Paris, conciliava -- fosse isso talvez contraditório -- existencialismo e marxismo (o coração e a cabeça estavam juntos). Conviveu, foi amigo de Albert Camus, e conheceu mais ou menos superficialmente Sartre, Simone de Beauvoir e André Malraux, o autor de A Condição Humana e A Esperança.
     *
     Havia lá em casa, aí pelos meus doze, treze anos, vários livros da colecção MOSAICO e entre eles Ávila de los Caballeros, cujo nome me fascinava. Foi o meu primeiro contacto com Urbano Tavares Rodrigues, continuado nos anos de Estremoz com dois ou três títulos e recentemente um pouco alargado. Ávila de los Caballeros inclui mais dois contos, além do que serve de título ao voluminho: «A Feira» e «Tornada da Primavera», todos do livro A Porta dos Limites, saído pela primeira vez em 1952. Esquecia-me de dizer: em 1969, no Verão, os aspirantes do R. I. 3 de Beja fomos ouvir a sessão de propaganda eleitoral, de que apenas recordo a intervenção de Urbano. Tinha 45 anos, era ainda novo e falava fluentemente. Empregou a palavra «possidente» ou «as classes possidentes». Havia grande frescura no seu dizer e na sua pessoa como um todo. Gostámos de o ouvir, no Cine-Teatro Pax Julia.

 * 
     Mais informação, a seguir, começando pela notícia em primeira mão da sua morte, pela filha Isabel Fraga, e terminando com um excerto disponibilizado no Público on line do filme O adeus à brisa, de Possidónio Cachapa, Filmes do Tejo II, 2008, que a RTP Premium emitiu no Canal 2, em 17 de Abril do corrente ano.
      http://expresso.sapo.pt/urbano-um-escritor-insubmisso=f825355
     http://www.youtube.com/watch?v=RVs8qjLcqoI&feature=share
      http://www.publico.pt/multimedia/video/o-adeus-a-brisa-documentario-de-possidonio-cachapa-sobre-urbano-tavares-rodrigues-20130809-123951


Sem comentários:

Enviar um comentário