Armazéns de Raul Alves e Caféeira de Torres
Conta o Sr. Ricardo Lopes, d'A Brasileira
de Torres:
Era tudo o mesmo: o conjunto cinzento
(Publicorte e Espaço Cultural Coisa) e o verde.
Víveres, adubos, cimentos...; tudo o que
era relacionado com a agricultura. Publicorte, Coisa, a casa... a casa era a
parte central. O prédio verde, de fachada preservada, tinha a habitação no 1.º
andar; no rés-do-chão, estabelecimento com atendimento ao público. O outro
prédio, cujos painéis -- verdadeiras secções de parede aparentemente amovíveis
e corrediças -- formam uma espécie de linha avançada das vidraças, escondendo e
mostrando a rua, ocupa o lugar da construção que dava entrada para um pátio onde
se realizavam cargas e descargas. Entravam galeras e carroças e tinha cocheira.
A garagem actual, junto à residencial S. Pedro era outro armazém de adubos, uma
secção de víveres (o edifício já não é o mesmo).
Publicorte: neste espaço, havia torrefacção
do café.
Coisa: este espaço de criação está onde
era um armazém.
José Afonso*, genro do Raul Alves.
Conta o Sr. Jorge Gomes, do café
Arco-Íris, Sarge:
O Raul Alves fazia torrefacção de café? --
comecei assim a conversa. O que segue é essencialmente o que este simpático
senhor (e amigo paciente) foi dizendo.
«Cafés Novo Dia, dá saúde e alegria» era
uma frase publicitária dos Cafés Novo Dia, de Firmino Francisco Figueira**. A
Caféeira de Torres: edifício rosa, do gaveto, entre a Travessa Madeira Torres e
a Rua Dias Neiva. Torrava café, amendoim..., vendia bebidas espirituosas...,
fornecedor de bebidas e... ginja, abafado, genebra, anises, uísques, brandies,
aguardentes-velhas. Amendoins, pevides, açúcar; cafés de lote (de saco), com
chicória, centeio, grão preto.
O Sr. Firmino, já velho, passou para a
filha as instalações onde está agora a oficina-auto, no Sarge; eram dos cafés
Novo Dia, a cargo do genro. Tudo veio a passar para o grupo Riberalves***. A
Central Caféeira de Torres Vedras foi integrada nesta empresa em 1997,
continuando a marca Novo Dia Cafés uma história iniciada em 1950. Nada resta da
Novo Dia, no Sarge, estando actualmente sediada na zona industrial do
Paul - Torres Vedras.
A Novo Dia, de origem torriense,
domina largamente a distribuição de café em Torres Vedras, uns 80%. Mais?
No Sarge, em cinco estabelecimentos com venda de bebidas ao público, três são
fornecidos pela Novo Dia e dois pelos cafés Delta (marcas Camelo e Delta).
«... a Rua Dias
Neiva, que liga o Largo dos Polomes ao Largo de São Pedro, era a rua mais
movimentada da vila, pois nela existia a maior parte dos armazenistas, tais
como o Raul Alves, o Fonseca & Lisboa, o Florêncio Augusto Chagas, a
Central Cafeeira e ainda lojas diversas».
(Do artigo de Quim Gago, ver Badaladas on line, «Patrimónios: eu cresci no
centro histórico (1.ª parte)», publicado em 19-07-2013.)
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* José Afonso Torres, durante muitos anos dono da ourivesaria
Anselmo, na Rua Serpa Pinto.
* * Ainda da
família de Jorge Gomes, do lado Figueira da mãe.
*** Embora a Novo Dia tenha utilizado as instalações do Sarge,
elas pertencem de facto, ainda, à filha do Sr. Firmino, que as vai mantendo
alugadas a sucessivos arrendatários.
Vista da Rua Dias Neiva, a partir do edifício da Residencial S. Pedro.
O
conjunto «Raul Alves» vai destes edifícios verdes até aos dos n.os
13 e 15.
Atrás da fachada modificada, estão habitações.
Aqui, preservou-se a fachada.
No n.º 13, o Espaço Cultural COISA.
Ao fundo, o Largo dos Polomes.
O edifício com o n.º 15 alberga a empresa PUBLICORTE.
Menina que estás à janela...
À esquerda, a Rua Dias Neiva; à direita, a Travessa Madeira Torres.
Travessa Madeira Torres, indo do Largo dos Polomes.
Traseiras do edifício n.º 13 da Rua Dias Neiva
Outra vista, com mais pormenor para as traseiras do pátio.
Que belas fotos que ilustram um texto bastante elucidativo sobre o passado e presente da cidade de Torres Vedras....
ResponderEliminarParabéns...
Obrigado. Há dias esqueci-me de lhe desejar boas férias, por não ter percebido bem o seu texto, pensando que era dirigido ao amigo e senhor António Luís e esposa. Quanto a estas coisas de Torres Vedras, acho que vou perder a vergonha de me interessar por elas.
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