Tenho lido alguns artigos de opinião de Raquel Henriques da Silva (o último, sobre o Museu dos Coches) e habituei-me à qualidade e conhecimento profundo dos assuntos que aborda. No texto do Público, sobre a anunciada demissão do director do CCB, fico convencido. Pela falta de competência, não é certamente.
segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016
quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016
Largo de S. Domingos
24 de Fevereiro
Estive no Palácio da Independência e
passei pelo Largo de S. Domingos, não resistindo a mostrar imagens. Deste dia
só aqui vos mostro duas, sendo as restantes de dias e anos diferentes, como vai
assinalado em legenda. Mais fotos podem ver-se na mensagem A Ginginha, colhidas na jornada de
hoje.
A igreja de S.
Domingos, só por si, merece uma visita demorada, devido à sua importância como
monumento e por ser testemunha de importantes acontecimentos da nossa história.
Refira-se hoje apenas o muro da tolerância, que nos diz em muitas línguas:
Lisboa, Cidade da Tolerância
e os dois
memoriais, dos judeus, recordando a matança dos da sua crença no ano de 1 506,
reinando D. Manuel, e dos cristãos, na palavra de Dom José Policarpo,
reprovando a perseguição e defendendo a paz. «José, Patriarca de
Lisboa» recorda e apela ao não esquecimento as violências intoleráveis contra o
povo hebreu e a «triste sorte dos "cristãos-novos"», sofrendo «as
pressões para se converterem, os motins, as suspeitas, as delações».
Para melhor inteligência, confirmamos as inscrições dos dois
memoriais, em legenda.
28-10-2010
O Muro da Tolerância
28-10-2010
28-10-2010
04-06-2013
04-06-2013
04-06-2013
28-10-2010
28-10-2010
28-10-2010
... «Ó terra, não ocultes o meu sangue e não sufoques o meu clamor!» Job 16, 18)
Ao lado esquerdo do cutelo da tábua de pedra,
a) Graça Bachmann
28-10-2010
28-10-2010
28-10-2010
Este centro histórico de Lisboa, onde hoje
fraternalmente nos abraçamos,
foi no passado palco de violências intoleráveis contra
o povo hebreu.
Nem devemos esquecer, neste lugar, a triste sorte
dos «cristãos novos»:
As pressões para se converterem, os motins, as
suspeitas, as delações,
Os processos temíveis da Inquisição.
Como comunidade minoritária, a Igreja Católica
Reconhece profundamente manchada a sua memória por
esses gestos e palavras,
tantas vezes
praticados em seu nome,
indignos da
pessoa humana e do Evangelho que ela anuncia.
Oceanos de Paz,
26 de Setembro de 2000
José,
Patriarca de Lisboa
28-10-2010
28-10-2010
28-10-2010
Este centro histórico de Lisboa, onde hoje
fraternalmente nos abraçamos,
foi no passado palco de violências intoleráveis contra
o povo hebreu.
Nem devemos esquecer, neste lugar, a triste sorte
dos «cristãos novos»:
As pressões para se converterem, os motins, as
suspeitas, as delações,
Os processos temíveis da Inquisição.
Como comunidade minoritária, a Igreja Católica
Reconhece profundamente manchada a sua memória por
esses gestos e palavras,
tantas vezes
praticados em seu nome,
indignos da
pessoa humana e do Evangelho que ela anuncia.
Oceanos de Paz,
26 de Setembro de 2000
José,
Patriarca de Lisboa
24-02-2016
24-02-2016
Calçadas José da Rosa
Calçadas José da Rosa
A Ginjinha
24 de Fevereiro
De manhã, atendia um homem ainda novo. À
tarde, estavam dois senhores de meia idade, perfeitamente operacionais para o
seu mester. Lê-se que as ginjas vêm «da região de Óbidos» e, porventura, a
informação continua actual.
Pela primeira vez, entrei no espaço um
tanto sagrado, é o termo, e bebi uma ginja em cálice extraordinariamente cheio.
Deve ser requinte de bem servir, que vem dos tempos do fundador.
Extraordinariamente, também, não houve pinga que transbordasse. 1, 40 €. Duas
ginjas no fundo do cálice. Foi lanche para toda a manhã.
Largo de S. Domingos
a) Constante
ESPINHEIRA
As garrafas levam no rótulo o nome do fundador
As garrafas levam no rótulo o nome do fundador
Calçadas José da Rosa 2000 -2001
Entre a Ginjinha e o Palácio da Independência
Viva a calçada portuguesa!
segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016
Entre o mau e o muito mau
Nesta peça tragicómica, entre o mau e o
muito mau, cabe-nos a parte do muito mau. Por mim, penso nem sequer aplicar as
pequenas (pequenas, pequenas...) alterações introduzidas pelo Marcelo em 73.
Para já não falar do acordo de 45, em que nascemos e, como é compreensível,
aprendemos a questionar os nossos pais, quando escreviam com acentos
circunflexos, onde nós já não os púnhamos. Às vezes, no tempo de estudante em
Lisboa, entrava na conversa ou lia-se a expressão «em letra de forma». Antes de
45, escrevia-se «em letra de fôrma», distinguindo a «forma» ou configuração de
uma coisa, da «fôrma» ou molde.
Enfim, só não recuo para além de 45, por
comodismo e por não ter os conhecimentos do sábio José Leite de Vasconcelos,
que, segundo creio, utilizava para seu uso uma ortografia pessoal.
Há dois ou três casos em que preferia
seguir o uso brasileiro, mas sem pensar em unificações. De qualquer modo, não
há sistemas perfeitos.
terça-feira, 9 de fevereiro de 2016
Uma «meditação sem fronteiras», de Miguel Urbano Rodrigues
Antes
dos meus afazeres para este dia, leio o que diz Miguel Urbano, em artigo que o
Z. P. me fez chegar. Aprecio a sinceridade do Urbano. Aprecio a minha. A
verdade existe ou depende de pré-disposição nossa, de gosto, duma mundividência
inscrita em nós e que passamos a vida a esclarecer? Com a nossa verdade, em
termos ideais, chegaremos no fim a um edifício em progresso de coerência e
beleza. Coerência múltipla, lógica e nem tanto, não de todo explicável, mas
apreendida pelo próprio. A comunicação universal e explicada é impossível. A sugestão
é que não é.
A
nossa verdade coexiste com outras, que se foram construindo em progresso de
coerência e beleza, coerência na harmonia interna que cada um vai conseguindo
ou se vai conseguindo nele. Fernando Pessoa é um génio. Há quem não goste? Há
quem o aborde, a partir da sua doença. Não sei qual é e não me interessa este
enfoque. Poesia doente?
Seja
como for, genial. A doença não comparece, quando o leio. Nos textos em prosa,
no Livro do Desassossego, que tenho,
ainda, de ler por completo, parece que Fernando Pessoa está a dizer o que nós
próprios pensamos ou podíamos pensar e querer dizer. Disse aquilo por mim.
Milagre da leitura. Estamos a viver, a ser. Sozinhos ou com o autor e o autor
connosco.
Não
sei o que vou encontrar no artigo, lado a lado com estas palavras que estou a
escrever, no monitor largo ligado ao computador. Uma metade para cada um, para
mim e para o Miguel Urbano. A minha vivência filosófica-religiosa-política pode
impedir o acesso ao génio de Pessoa, Ezra Pound, Hegel, Marx, Nietzsche, Freud,
Sartre, Heidegger, Couto Viana, José Gomes Ferreira, Régio? Herberto Helder…, Saramago.
Não.
Não deve. Poderia quase dizer o mesmo que diz Miguel Urbano do Livro do Desassossego, a propósito de
José Saramago, de cujo Memorial do
Convento, quando saiu, abandonei a leitura, findo o primeiro terço. Li,
entretanto, meia dúzia de obras do autor de Ensaio
sobre a cegueira, a quem reconheço o valor, e o Memorial aguarda a minha visita, com outra compreensão.
Detenho-me
nesta apreciação de M. U., em que o segundo adjectivo não conta, relativamente
ao primeiro, apesar do inextricável do labirinto pessoano:
Leio e releio páginas do Livro do Desassossego,
fascinado mas fatigado… … … …
*
Frases
«Pessoa
fascina-me e cansa-me. Leio por dever.» Prevalece a fascinação.
«[…] colossal
desarrumação e desassossego do escritor».
«O génio de
Pessoa desemboca numa escrita caótica e difícil de acompanhar por leitores como
eu.»
Essa insistência e a importância em Pessoa do seu
mundo onírico e do estado de transição entre o sonho e o despertar lançaram-me
numa incómoda viagem por dentro.
O
mundo onírico e o estado de transição entre o sonho e o despertar: aqui parece
estar Pessoa para Miguel Urbano. O sonho e o estar acordado. Há aqui uma certa
desvalorização, acantonamento e menos preço pelo íntimo. Tudo o que se pensa,
diz, escreve e fala vem do íntimo. Pessoa também é vigília e mesmo acordado
sonha.
Sonhando,
ou no torpor que anuncia o despertar, acabo sempre em meditação caótica sobre o
que fiz e não fiz na travessia desassossegada de nove décadas… … … … …
«Vieira,
nos antípodas como escritor». «Antípodas» traz consigo a ideia de oposição e
Fernando Pessoa admirava o Padre António Vieira, por si justamente louvado,
como o Imperador da Língua Portuguesa, num texto que comove quem o ler.
Temia a morte. Ora nega, ora sugere o contrário. Mas
prestes a findar a sua breve passagem pela vida (47 anos), se alguém ousasse
dizer-lhe que, transcorridos poucos anos, ganharia a imortalidade como escritor
e seria colocado pela crítica mundial ao lado de Camões ou acima dele, chamaria
louco e irresponsável ao autor da previsão.
A
insegurança seria coisa dele; seguro de si, do seu valor estava. Fala de um
super-Camões e é de si que fala. É assim que o entendo.
REVIVENDO O NÃO
VIVIDO
— Miguel Urbano entra, agora, no
memorialismo, até «cretinismo parlamentar». Muito interessante. Tem toda a
razão em pôr aqui estas memórias, que não o desmerecem nem ofendem ninguém, sem
embargo de se poder entender o conselho dos amigos, no que respeita à referência
final à companheira, mas disso é ele o melhor julgador.
*
Morte,
Deus, amor, sexo, alma, destino; «intransponível o muro que me separa da ideia
e vivência do amor em Pessoa». Não somos Pessoa. De qualquer modo, em mim, não há
este muro intransponível. Li as cartas de Ofélia, com muito gosto. Défice de
sexo? Há mais mundo para além deste défice.
«Dos
sonhadores do milénio -socialistas, anarquistas, humanitários de toda a
espécie-tenho a náusea física, de estomago. Querem a superfície da vida por uma
fatalidade de lixo, que boia à tona de água e se julga belo, porque as conchas
dispersas boiam à tona de água também».
Pessoa,
cujo pensamento estava aberto a todos os azimutes, nunca se interessou pelas
ideologias. O parágrafo que transcrevo expressa bem a ambiguidade do seu
posicionamento perante grandes questões do seu tempo.
Paradoxalmente, a filosofia, nomeadamente a
metafisica, mereceu-lhe um interesse absorvente, identificável na sua obra.
Não quero crer na verdade da
classificação de «ambiguidade» atribuída a Pessoa, «perante grandes questões do
seu tempo», nem na justeza do emprego de «Paradoxalmente», na relação com o que
vai dito antes.
*
Cepticismo ou realismo, mas…
O homem novo
Afinal, há raríssimas excepções. É a nossa
luta e a nossa esperança. Para isso contribuirá a educação, a começar na família;
continuada e mantida pelo sistema de ensino, com os seus vários intervenientes,
e nas instituições religiosas e políticas. Nestas, por um jogo mais elevado,
que sirva de exemplo e habitue ao respeito pelas várias opções.
*
Volto ao que estava a fazer, ao meu a
fazer, ou como soe dizer-se: aos meus afazeres.
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