domingo, 30 de junho de 2013

Mudança de bispo na diocese de Lisboa

       D. José Policarpo despede-se do patriarcado de Lisboa; ordenação de seis padres, na igreja dos Jerónimos. Ver aqui e aqui.
       D. Manuel Clemente recebeu pálio e jura obediência ao Papa. Ver aqui e aqui.
*
       [Voz de jornalista]  D. Manuel Clemente foi o primeiro de trinta e quatro arcebispos a receber o pálio. A insígnia foi colocada pelo Papa Francisco; a cerimónia realizou-se na Basílica de S. Pedro, no Vaticano.
       [P.e António Rego, explicando.] O pálio é uma insígnia litúrgica, que é aquele veuzinho, aquela tira de lã que tem seis cruzes. É lã, para significar que quem a usa é o bom pastor e tem as cruzes para significar que ele dá a vida pelas ovelhas. Já há muitos séculos, na igreja, que se usa. quem é que usa essas insígnias? São os chamados metropolitas.
       [Voz da jornalista e imagens de S. Pedro.] Em Portugal, são três: Braga, Évora e Lisboa.
      [P.e António Rego] No caso do arcebispo de Lisboa, é patriarca e, por isso mesmo, traz já, ainda antes de entrar solenemente na sé de Lisboa, ou na diocese, traz já essa insígnia. É mais um símbolo do poder e do serviço [imagens de S. Pedro] que compete a um bispo metropolita.
    [Voz da jornalista] Neste grupo de arcebispos, estava também o sucessor de Bergoglio à frente da arquidiocese de Buenos Aires.
       (Este texto reproduz o que foi dito no vídeo incluso na peça  de que acima damos o endereço -- Público on line.)

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Divulgação

Carta aberta a Henrique Raposo
«Avós, Pais e Netos»

José Manuel Catarino Soares
(Professor Coordenador Aposentado do ensino superior politécnico)

*
             A 

O LUGAR NO TEMPO (aorodardotempo.blogspot.com/) 

devo ter conhecimento do importante texto, que merece ser lido, clicando em
       E vem aí, pela segunda vez (a primeira foi com José Sócrates), a compra de dívida pública portuguesa pelo Fundo de Estabilização da Segurança Social. E muito mais. Leia.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Albano Martins - O haiku

Vem de Évora, pelo menos, o interesse, conhecimento e prática desta forma poética, com origem no Japão. Fica-me a suspeita de que havemos de ter cá, na tradição ocidental, formas muito concisas na expressão poética, mas é possível que o haiku tenha uma maior necessidade de chegar ou quase ao instante do sentir e do dizer, do pensar. Podemos-lhe chamar fulguração.
A tradição ocidental existe, no entanto, e faz parte do seu complexo rosto o diálogo com o mundo todo, incluindo o Oriente. Somos, até, orientais (1).
Se quisesse exagerar, diria: somos os orientais do ocidente e já estaríamos na tradição ocidental, de novo.
O caso é que, ao ir lendo — o livro lê-se depressa — Estão agora floridas as magnólias, dei comigo a pensar naquela paixão antiga, e cultivo, do haiku, da parte de Albano Martins.
(1) Ex oriente, lux. Do Oriente, a luz. A luz vem-nos do Oriente.
O primeiro terceto, chamemos-lhe assim, é o que tive mais dificuldade em perceber. É apenas isto:





Espaço
                  em branco: a porta
                  de acesso ao vazio.






       O que parece liberdade é miragem ou menos.
*
       Estão agora floridas as magnólias. A leitura sugeriu-me:
     Tempo, morte, fugacidade*, deuses, Deus (Dês), ausência de deuses e de Deus, Razão, lançados no infinito da razão, da razão das coisas; têm a sua razão íntima, a sua razão de ser. Um sopro clássico. Aproveita o dia**, cumpre-te em cada dia. Vida, sangue***. Tudo o que fazemos ou sofremos (connosco dentro) é transformado em sangue, o nosso. Transformamos tudo em alimento, que se tornará sangue. Aos outros daremos este sangue. 
       Tudo deuses, tudo Deus: manhã, dia, a terra, o céu, estrelas, lua, cosmogonia****.
      Paganismo; Deus, Dia, Luz confundem-se. O nome de Júpiter é composição de pai e dia ou luz (por diu+pater).
       Vemos com olhos humanos. Criamos Deus? Seja, se não podemos viver sem ele!...

       (*)                                                        Tão frágil
                                                                    como a morada das formigas
                                                                    é a casa dos homens.


       (**)                                                       Sim, não, talvez.
                                                                     Enquanto decides
                                                                     o fruto apodrece.

     
       (***)                                                    Admirável
                                                                    é o sangue: nunca muda
                                                                    de cor.

                                                                     Corrijo agora: só uma vez
                                                                     o sangue muda de cor: quando se veste
                                                                     da tinta com que escreves.
     
       (****)                                                   Do casamento da noite
                                                                    com o dia é que nasceram
                                                                    as estrelas.                                                                  
                                               
       O último poema:
                                                                     


                                                                    Se ao princípio                                                                      
                                                                    era o verbo, ao fim será,
                                                                    ainda que o não queiras, o silêncio.





                                                                                *
       Em http://www.prof2000.pt, pode abrir a página inicial e ir clicando em «página seguinte». A parte que nos poderá interessar mais, agora, é «O Haiku Ocidental», com referências a autores portugueses (e Albano Martins). Em «Outras Vias», divirta-se, clicando para sortear haiku, um e outro e outro. É uma brincadeira.
                                                                                *
                                                                                 *
                                                                                 *
       Mais:
       http://haikuportugal.blogspot.pt
       http://expresso.sapo.pt/de-frente-para-o-mar=f626390

Sinopse
       Os poemas de Estão agora floridas as magnólias, em seu carácter sentencioso e, formalmente, ao jeito do haiku japonês, traduzem uma outra forma de conhecimento do mundo e da vida. Como para o haiku querem os estudiosos, os poemas deste livro são explosões, instantes de luz, fulgurações. Ou, na definição de Blyth, são "uma espécie de satori ou iluminação". Os poemas deste livro estão ainda próximos do haiku japonês pela relação que estabelecem com o mundo natural, designadamente com as plantas e as flores, na roda das estações. 
         (De www.wook.pt. Ver aqui)

*





























domingo, 23 de junho de 2013

Noite de S. João
A Lua, mais perto da Terra, Super Lua Cheia


Do quintal do Sarge, com Matacães ao fundo

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Um «conto moral» bem contado
              O problema é mudar de conto.
      Acrescentei a seguinte hiperligação, para melhor leitura: 23-6-2013.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

SERVIDÕES

Novo livro de Herberto Helder

         Damos aqui algumas primícias do novo livro de Herberto Helder, para ler e ouvir.  

PARA LER

        até cada objecto se encher de luz e ser apanhado
por todos os lados hábeis, e ser ímpar,
ser escolhido,
e lampejando do ar à volta,
na ordem do mundo aquela fracção real dos dedos juntos
como para escrever cada palavra:
pegar ao alto numa coisa em estado de milagre: seja:
um copo de água,
tudo pronto para que a luz estremeça:
o terror da beleza, isso, o terror da beleza delicadíssima
tão súbito e implacável na vida administrativa
(Da internet.)
                                              *
Servidões. E visões e vozes. Mas sem alma, nada há a salvar. E a 
música, a música, quando, como, em que termos...

 e a música, a música, quando, como, em que termos
                                                                   extremos
a ouvirei eu,
e ela me salvará da perda da terra, águas que a percorrem,
tão primeiras para o corpo mergulhado,
magníficas,
desmoronadas,
marítimas,
e que eu desapareça na luz delas -
só música ao mesmo tempo nos instrumentos todos,
curto poema completo,
com o autor cá fora salvo no derradeiro instante
numa poalha luminosa?
(Com a devida vénia ao blogue Servidões. E visões e vozes. Mas sem alma, nada há a salvar. E a música, a música, quando, como, em que termos...

 e a música, a música, quando, como, em que termos
                                                                   extremos
a ouvirei eu,
e ela me salvará da perda da terra, águas que a percorrem,
tão primeiras para o corpo mergulhado,
magníficas,
desmoronadas,
marítimas,
e que eu desapareça na luz delas -
só música ao mesmo tempo nos instrumentos todos,
curto poema completo,
com o autor cá fora salvo no derradeiro instante
numa poalha luminosa?
Servidões, de Herberto Helder, Assírio&Alvim, p. 55.
(Com a devida vénia ao blogue  omeuinstante.blogs.sapo.pt/399277.html)

*
PARA OUVIR 
Sete poemas de Servidões
http://www.tsf.pt/PaginaInicial/Vida/Interior.aspx?content_id=3241601
(Com a devida vénia à TSF.)

SERVIDÕES, novo livro de Herberto Helder

Li há semanas que o novo livro de Herberto Helder ficaria (quase) logo esgotado, pois havia alfarrabistas a açambarcá-lo, para mais tarde o vender a preço muito superior ao de agora, que já é um bocadinho caro. Fico a pensar que esta obra não fica esgotada, é apreendida, tirada da circulação.
Na Livrododia dizem-me que está esgotado, mas creio que ainda se pode obter na internet.
A primeira vez que contactei com Herberto Helder foi num passeio a Monsaraz, em 1967 ou 68, em que um de nós leu o texto em prosa «O Coelacanto», de Os Passos em Volta. Foi o Manel quem leu, diga-se, já então grande admirador do poeta, à entrada da povoação, com a planície e o Guadiana em baixo e sol e calor.
«Um poeta está sentado na Holanda.» É como um padrão, uma bandeira, uma toada encantatória. Nem Ulisses resistiria a esta sereia. Fica o universo transmudado e nós, presos. Continua: «Pensa na tradição. Diz para si: eu sou alimentado pelos séculos, vivo afogado na história de outros homens. E a sua alma é atravessada pelo sopro primordial. Mas tem a alma perdida: é um inocente que maneja o fogo dos infernos.» ...   ... Devo parar.

Confesso que me é difícil esta poesia, mas fico sabendo perante quem estou.
*
A MÁQUINA DE EMARANHAR PAISAGENS,
em OU O POEMA CONTÍNUO.
E chamou Deus à luz Dia: e às trevas chamou noite; e fez-se a tarde, e fez-se a manhã, dia primeiro.
... e fez a separação entre as águas que estavam debaixo do firmamento e as águas que estavam por cima do firmamento. (Génesis).
… e eis que havia um grande terramoto: e o sol tornou-se negro como um saco de silício: e a lua tornou-se como sangue.
E as estrelas do céu caíram na terra, como quando a figueira lança os seus figos verdes, abalada de um grande vento:
E o céu retirou-se como um livro que se enrola: e todos os montes e ilhas se moveram dos seus lugares.
E vi os mortos, pequenos e grandes, ... e foram abertos os livros. (Apocalipse).
Irmãos Humanos que depois de nós vivereis, não nos guardeis ódio em vossos corações.(François Villon).
Ah, como custa falar desta selvagem floresta tão áspera e inextricável, cuja simples lembrança basta para despertar o terror.
Denso granizo, águas negras e neves caíam do espaço tenebroso.(Dante).
Maravilha fatal da nossa idade.(Camões).

Rasgou os limbos a antiga luz das fábulas, luz terrível que os homens e as mulheres beijavam cegamente e a que ficavam presos pela boca, arrastados, violentamente brancos -- mortos. E essa colina subia e girava, puxando pelos lábios os seres deslumbrados e aniquilados. E dentro desta luz e desta morte, os sons amadureciam. Em baixo, vermelhas, estalavam as cúpulas.(Autor).

       E as estrelas do céu caíram na terra, como quando a figueira lança os seus figos verdes, abalada de um grande vento. E eis que havia um grande terramoto, e o sol tornou-se negro como um saco de cilício e a lua tornou-se como sangue. E fez-se a separação entre as águas que estavam debaixo do firmamento e as águas que estavm por cima do firmamento. E o céu retirou-se como um livro que se enrola e todos os montes e ilhas se moveram dos seus lugares. Denso granizo, águas negras e neves caíam do espaço tenebroso. Rasgou os limbos a antiga luz das fábulas, luz terível que os homens e as mulheres beijavam cegamente e a que ficavam presos pela boca, arrastados, violentamente brancos -- mortos. E essa colina subia e girava, puxando pelos lábios os seres deslumbrados e aniquilados. E dentro desta luz e desta morte, os sons amadureciam. Em baixo, vermelhas, estalavam as cúpulas. E vi os mortos, pequenos e grandes, e foram abertos os livros. Ah, como custa falar desta selvagem floresta tão áspera e inextricável -- maravilha fatal da nossa idade --, cuja simples lembrança basta para despertar o terror. Irmãos Humanos que depois de nós vivereis não nos guardeis ódio em vossos corações.

       ...   E chamou Deus à luz Dia: e às trevas chamou Noite; e fez-se a tarde, e fez-se a manhã, dia primeiro...

       Ah, como custa falar desta selvagem floresta tão áspera e inextricável, cuja simples lembrança basta para despertar o terror.
       E vi os mortos, como quando a figueira lança os seus figos verdes, entre as águas que estavam debaixo do firmamento, águas negras, e a lua como sangue, denso granizo e neves do espaço tenebroso. E as estrelas do céu e as águas que estavam por cima do firmamento caíram na terra, e eis que havia um grande terramoto, e rasgou os limbos a antiga luz das fábulas, e foram abertos os livros. E dentro desta luz e desta morte, os sons amadureciam. Os homens e as mulheres caíam cegamente pela boca, e o sol tornou-se negro como um livro que se enrola, e todos os pequenos e grandes montes e ilhas se moveram dos seus lugares. Abalada de um grande vento, a luz terrível subia e girava, puxando violentamente os mortos brancos que ficavam presos pelos deslumbrados e arrastados lábios ao céu que se tornou como um saco de cilício. E os seres aniquilados beijavam essa colina, e em baixo o céu retirou-se, e fez-se a separação, e estalavam as cúpulas vermelhas.
       Maravilha fatal da nossa idade.

       ...   E chamou Deus à luz Dia; e às trevas chamou Noite; e fez-se a tarde, e fez-se a manhã, dia primeiro...

       Irmãos Humanos que depois de nós vivereis, não nos guardeis ódio em vossos corações.
       Na maravilha desta luz inextricável, vi os homens e as mulheres que estalavam como estrelas, como figos deslumbrados. E o sol negro e a lua de sangue caíram no vento, nas águas, na terra, caíam da selvagem figueira por cima do firmamento que subia e girava como um livro terrível, uma colina que se enrola. E eis que se rasgou um grande terramoto de águas verdes no céu de silício violentamente baixo. E os seres moveram-se dos seus lugares pelo granizo tenebroso, puxando as cúpulas, os sons, os mortos abertos. E havia águas negras na luz abalada, na áspera floresta dos limbos, e as ilhas vermelhas e os montes arrastados amadureciam no terror da nossa idade. No espaço das fábulas os mortos, cegamente presos, estavam aniquilados pelos lábios e beijavam a grande luz, a grande morte. E fez-se a separação entre a boca e os livros. E quando as águas e as neves estavam dentro do céu, de cuja antiga lembrança custa falar, eu vi os mortos brancos despertar debaixo do céu fatal, e ficavam pequenos e grandes. E estavam todos mortos. Denso granizo, águas negras e neves caíam do espaço tenebroso.

       ...E chamou à luz Dia; e às trevas chamou Noite; e fez-se a tarde, e fez-se a manhã, dia primeiro...

       ...   presos pela boca violentamente brancos os mortos amadureciam
e
       dentro desta luz ficavam as mulheres puxando as fábulas vermelhas
e
       a terrível colina subia pelos sons deslumbrados
e
       os limbos estalavam
e
       a luz rasgou cegamente os seres aniquilados
e
       cúpulas beijavam os lábios arratados na luz
e
       a morte antiga girava em baixo com homens...

       ... E chamou Deus à luz Dia; e às trevas chamou Noite; e fez-se a tarde, e fez-se a manhã, dia primeiro...

       ... luz selvagem... e terramoto que se enrola de estrelas... e água abalada... inextricável... o sol num saco de vento... e a lua debaixo das ilhas que se moveram... e livros em silício dentro dos mortos verdes... e coração dos figos abertos... maravilha nos grandes lugares por cima... e montes como dentro das águas negras... espaço... separação... e mulheres vermelhas com cúpulas... a antiga colina do firmamento... e homens violentamente... sons cegamente... e seres arrastados do céu da boca para... luz selvagem...

       ... E chamou Deus à luz Dia; e às trevas chamou Noite; e fez-se a tarde, e fez-se a manhã, dia primeiro...

                                                                                                                                 1963.
       
*
O coelacanto






                                                                                                                            (De Os Passos em Volta)
*

«como se atira o dardo com o corpo todo,
com a eternidade em não mais que nada,
e depois a abolição do tempo,
e então o que respira no corpo passa à vara,
e o que respira na vara passa depois à ponta,
tu não, tu já respiraste tudo pelo dardo fora,
mudo e cego e surdo,
e és um só ponto do alvo onde respiras todo,
e tudo respira nesse ponto,
em ti, veia da terra, oh
sangue sensível»   (De Servidões)

*

       Ver, abaixo, na última hiperligação, «São claras as crianças, como candeias sem vento,[...]»,  Elegia Múltipla VI, de A Colher na Boca, em OU O POEMA CONTÍNUO, pp. 69-71. Depois, voltar à primeira hiperligação.
http://www.escreveretriste.com/2013/06/servidoes-herberto-helder/
http://www.publico.pt/cultura/noticia/herberto-helder-publica-servidoes-1595214
http://www.dn.pt/inicio/artes/interior.aspx?content_id=3242636
http://thoughloversbelostloveshallnot.blogspot.com/2013/05/servidoes-de-herberto-helder.html#more

quarta-feira, 19 de junho de 2013

E pensava eu
que a América se estava a afastar da Europa, a partir daquela grande sutura ou ruptura, que vemos nos mapas do relevo submarino percorrer o fundo do Atlântico, de norte a sul, com a ilha do Corvo, na placa americana, a afastar-se das outras ilhas do arquipélago dos Açores. Julgava saber, também, que a Península Ibérica se vai separar da França, pelos Pirinéus, possivelmente em concordância com o afastamento americano.
       Saramago tem a visão da «jangada de pedra» ibérica, à deriva no oceano.
     Um cientista português, filho de um conterrâneo e amigo nosso e filho de Torres Vedras, vem agora dizer ou futurar, com a sua equipa: a jangada de pedra vai mesmo existir e a Europa ligar-se-à  à América. 

       A descoberta de uma zona de subducção nas suas primeiríssimas fases de formação, ao largo da costa de Portugal, acaba de ser anunciada por um grupo internacional de cientistas liderados por João Duarte, geólogo português a trabalhar na Universidade de Monash, na Austrália.
       A confirmar-se que o fenómeno, em que uma placa tectónica da Terra mergulha debaixo de outra, está mesmo a começar a acontecer, como concluem estes cientistas num artigo publicado online pela revista Geology, isso significa que, daqui a uns 200 milhões de anos, o oceano Atlântico poderá vir a desaparecer e as massas continentais da Europa e América a juntar-se num novo supercontinente. (Público on line, 19-6-2013)



Ver mais:
http://lisbonstructuralgeologist.blogspot.pt/2013/06/are-subduction-zones-invading-atlantic.html
Nesta hiperligação, tem acesso a outras quatro, uma delas, entrevista de João Duarte. Ver, ainda:
http://lisbonstructuralgeologist.blogspot.pt/
O primeiro contacto com este assunto surgiu, através do feliz pai de João Duarte, na sua página do facebook, há dias, onde tive oportunidade de ler a entrevista, de 2010.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

É importante conhecer
e o texto que se abre aos nossos olhos, clicando neste endereço, ajuda a conhecer; convido a entrar.

João Villaret
       João Henrique Pereira Villaret nasceu em Lisboa, em 10 de Maio de 1913 e veio a falecer em 21 de Janeiro de 1961 na mesma cidade. Filho do médico, Dr. Frederico Villaret, e de Josefina Gouveia da Silva Pereira. As suas tendências artísticas, que desde cedo revelou, não eram levadas muito a sério na família e passaram mais ou menos despercebidas no colégio inglês que frequentou, na Rua do Marquês de Abrantes. No Liceu de Passos Manuel, bom estudante, continuou com o bichinho da arte, à espera da idade de frequentar o Conservatório, 15 anos. Mas, também ali, não teve destaque especial. Até que...
       «Na verdade, uma noite, pela mão de Amélia Rey Colaço e Robles Monteiro, abriram-se-lhe as portas do Teatro e começava a vertiginosa ascensão de Villaret.  Em 1930 tinha o seu curso concluído e a 16 de Outubro de 1931 estreava-se interpretando um papel na peça Leonor Teles, de Marcelino Mesquita.» (Do In Memoriam, A Biografia de João Villaret)
       Trabalhou no teatro, cinema e foi grande declamador. Fez várias digressões a África e ao Brasil, onde esteve sete vezes, tendo merecido um artigo muito elogioso de Carlos Lacerda, chamando-lhe este o «domador da voz». Nos últimos anos, aos domingos, tinha um programa na RTP, de que se pode fazer uma ideia pela descrição de dois deles, emitidos em 17 de Julho  e em 14 de Agosto de 2011, no canal Memória, da RTP,  e que se pode ler aqui e  aqui. Nestes programas, tratava-se, segundo o próprio autor,  de literatura, poesia e também de histórias.

       A morte precoce
       «João Villaret era diabético e era rebelde a tratamentos e dietas severas. Quando em 1958 esteve em África, consultou um calista em Nova Lisboa e, ao extrair-lhe uma calosidade, teve o infortúnio de lhe fazer sangue no dedo do pé.» (Do In Memoriam, A Doença e a Morte de João Villaret) 
*
     Dou, para uma informação genérica complementar, um artigo da wikipedia e outro, do jornal ionline, comemorando os 100 anos do seu nascimento. Ainda, imagens do In Memoriam.


                Da secção «Poemas Populares»







    Epílogo

                                                                               Cólofon

                                                                           Uma errata
 
A Procissão, de António Lopes Ribeiro
          Ontem, a propósito da festa do Sarge, lembrei A Procissão, belíssimos versos ditos pelo saudoso João Villaret. Aqui ficam as palavras em versão mais segura, do livro
 
IN MEMORIAM
 DE
JOÃO
VILLARET
         Esta peça literária é de António Lopes Ribeiro, que se distinguiu como cineasta e autor do programa Museu do Cinema, apresentando e comentando perante as câmaras da RTP filmes clássicos do tempo do cinema mudo, acompanhado ao piano pelo maestro António Melo, que, só no fim das sessões articulava duas palavras, dizendo invariavelmente «Boa noite!» aos senhores telespectadores. Era irmão do grande actor Francisco Ribeiro, o Ribeirinho, muito conhecido do povo português, também pelas interpretações em filmes dos anos trinta.
 
 
 

Clicando no segundo dos endereços, abaixo, vemos Villaret dizendo A Procissão, na RTP, anos 50. 

domingo, 16 de junho de 2013

Sarge
É dia de festa na aldeia
     Dois dias fora tiraram-me um bocado da realidade, e talvez não tenham sido afixados os cartazes do costume. Convidado pelo som de uma banda de música, que se ouvia distintamente, saí de casa com receio de não chegar a tempo. Como todos os diabos têm sorte, como sói dizer-se, desta vez também tive. Ainda pude assistir a parte do concerto, a várias peças características do repertório destas bandas, de que gosto sempre um pouco mais. Os músicos são trinta e seis, se não contei mal, com garantias de renovação, pois até crianças vi, entre os executantes. Terminado o espectáculo, havia mesa posta para quem quisesse servir-se e confraternizar.
     Banda da Sociedade Filarmónica Incrível Aldeia Grandense, é o nome da banda que nos ofereceu o seu saber e alegria.
        Este encontro comunitário no adro da capela seguiu-se à procissão, que tive pena de perder.
*
        Vale a pena visitar o sítio da sociedade filarmónica.
*
 
       Lembro «Procissão -- festa na aldeia», poesia de uma grande simplicidade e beleza.


Procissão

Letra: António Lopes Ribeiro
Intérprete: João Villaret
Tocam os sinos da torre da igreja,
Há rosmaninho e alecrim pelo chão.
Na nossa aldeia que Deus a proteja!
Vai passando a procissão.


Mesmo na frente, marchando a compasso,
De fardas novas, vem o solidó.
Quando o regente lhe acena com o braço,
Logo o trombone faz popó, popó.


Olha os bombeiros, tão bem alinhados!
Que se houver fogo vai tudo num fole.
Trazem ao ombro brilhantes machados,
E os capacetes rebrilham ao sol.


Tocam os sinos na torre da igreja,
Há rosmaninho e alecrim pelo chão.
Na nossa aldeia que Deus a proteja!
Vai passando a procissão.


Olha os irmãos da nossa confraria!
Muito solenes nas opas vermelhas!
Ninguém supôs que nesta aldeia havia
Tantos bigodes e tais sobrancelhas!


Ai, que bonitos que vão os anjinhos!
Com que cuidado os vestiram em casa!
Um deles leva a coroa de espinhos.
E o mais pequeno perdeu uma asa!


Tocam os sinos na torre da igreja,
Há rosmaninho e alecrim pelo chão.
Na nossa aldeia que Deus a proteja!
Vai passando a procissão.


Pelas janelas, as mães e as filhas,
As colchas ricas, formando troféu.
E os lindos rostos, por trás das mantilhas,
Parecem anjos que vieram do Céu!


Com o calor, o Prior vai aflito.
E o povo ajoelha ao passar o andor.
Não há na aldeia nada mais bonito
Que estes passeios de Nosso Senhor!


Tocam os sinos na torre da igreja,
Há rosmaninho e alecrim pelo chão.
Na nossa aldeia que Deus a proteja!
Já passou a procissão.
Clique no endereço, abaixo, para ouvir o dizer cantado de João Villaret. João Villaret torna os versos muito melhores. Para quem o ouviu, a «Procissão» passa a ser dele e de António Lopes Ribeiro; a letra, a toada e, até, o discreto acompanhamento musical formam um todo indivisível.
 http://www.youtube.com/watch?v=YsDJBCLWvdo

 






 É preciso tornarmo-nos melhores, mais solidários

      Não gosto, preferia pôr estes artigos de opinião num endereço electónico, com o conteúdo acessível por um clic, mas nem sempre é possível. O que vai a seguir, de LVT, merece reflexão. De outro teor é a opinião de Vasco Pulido Valente, hoje, no Público, que vale como um retrato e pode parecer colidir com «Quantos funcionários públicos devem ser despedidos?», mas não. Temos é de procurar ir mudando o retrato. Precisamos de nos tornar melhores e mais solidários, cada pessoa e as comunidades, no seu todo. Ligarmo-nos mais à tradição de reforma das mentalidades (e atitudes). Exigir os melhores, para dirigir e não escolher os piores. 
       Como gostei de ouvir a recente entrevista de Jacques Delors!

 *

Quantos funcionários
públicos devem ser
despedidos?





Opinião
Luís Valadares Tavares

1 A vida nacional tem vindo a sofrer com a incerteza exógena associada à recessão europeia e com a instabilidade de decisões anunciadas pelo nosso Governo e orientadas para reduzir o desequilíbrio orçamental.
     Neste segundo caso assumem especial actualidade diversas medidas anunciadas para a função pública incidindo sobre rescisões amigáveis, requalificações e despedimentos, pelo que é oportuno reflectir sobre os desafios e as prioridades a assumir para a nossa função pública.

2 Gostaria de esclarecer que os nossos trabalhadores com remunerações suportadas total ou parcialmente por recursos públicos se distribuem por cinco subsistemas com características e enquadramentos legais muito diversos: a Administração Directa, os Serviços e Fundos Autónomos, as Administrações Regionais, a Administração Local e as Empresas Públicas. Todavia, a atenção do Governo parecer centrar-se apenas nos dois primeiros subsistemas que se poderão designar por Administração Central (talvez por desconhecimento ou menor influência relativamente aos restantes, em especial as empresas públicas) e que correspondem a cerca de 430 mil trabalhadores. O peso das remunerações públicas é próximo de 10% do PIB, inferior à média comunitária, e tem sido a função pública, a par dos pensionistas, que mais tem suportado o custo dos desequilíbrios nacionais: de 2005 a 2012, a percentagem do PIB atribuída à remuneração pública apenas se reduziu em menos de 1% na UE, enquanto em Portugal se reduziu em 29%! Ou seja, a percentagem do nosso PIB afecta ao trabalho dos funcionários públicos quase se reduziu em 1/3 no prazo de sete anos.

3 Globalmente, a nossa Administração Pública (AP) tem vindo a mostrar responder muito positivamente a grandes desafios de mudança desde que se prestigie o seu papel e se prossigam rotas estáveis, tal como aconteceu desde 2003, com o sistema de avaliação de desempenho (SIADAP) agora elogiado no relatório da OCDE (1), ou com a Administração Electrónica e a Contratação Electrónica, casos em que Portugal é pioneiro e continua nos primeiros lugares do ranking europeu. Os principais problemas diagnosticados continuam a situar-se na extensão, na repetição e na diversidade de procedimentos, os quais não têm vindo a ser simplificados, mas antes complexificados, e na ausência de instrumentos comuns para a sua gestão, continuando a aguardar-se por ferramentas sempre anunciadas por agências públicas com elevados orçamentos e para tal criadas mas ainda não disponibilizadas.

4 No que respeita às pessoas, é essencial “não contar cabeças”, mas antes ter em conta os subsistemas referidos, os escalões etários e os seus níveis de desempenho e competência. Ora, a Administração Central tem cerca de 78.000 trabalhadores com 55 ou mais anos, cerca de 36.000 com não mais do que o 2.º ciclo do Ensino Básico, e uma reduzidíssima percentagem de doutorados (como é evidente não se inclui aqui o Ensino Superior Publico).
     Compreende-se, assim, que uma política estável, inteligente e sustentável para melhorar a Administração Publica, condição essencial para a prossecução de qualquer política de consolidação orçamental ou desenvolvimento, implica assumir cinco prioridades:
     a) Melhorar o sistema de gestão e avaliação e aumentar os incentivos à excelência;
     b) Estabelecer as metas de competências necessárias e identificar as redundâncias do pessoal não especializado e as principais carências actuais;
     c) Oferecer programas de formação especializados, cabendo aos responsáveis pela AP a especificação dos objectivos e dos níveis dos programas de formação necessários;
     d) Organizar percursos de formação e mobilidade articulando B e C;
     e) Oferecer propostas de rescisão amigável por mútuo acordo a todos aqueles que não correspondam às carências reais e que não optem pela requalificação.

5 Infelizmente, a evolução nos últimos dois anos tem correspondido a um retrocesso relativamente às prioridades definidas, pelo que o Governo está agora em piores condições do que em 2011 para as assumir: desapareceram os incentivos à excelência no SIADAP (promoção mais rápida), desvalorizaram-se as competências especializadas, esvaneceu-se a escola de prestígio nacional e internacional que podia prosseguir a concepção e a prototipagem dos programas de formação (INA) e confunde-se mobilidade com ameaças de despedimento. Chegados, pois, a este momento, que fazer?
     Será a via do despedimento de 30.000 funcionários recomendável? A resposta está nas propostas do relatório da OCDE encomendado pelo Governo, apesar de não ter colhido expressões de louvor tão emocionado como o do já esquecido relatório do FMI:
     a) Melhorar o sistema de gestão de recursos humanos e o elogiado sistema SIADAP, incentivar a excelência e disponibilizar os prometidos instrumentos de gestão;
     b) Iniciar estratégias de formação e mobilidade;
     c) Oferecer um programa de rescisões amigáveis;
     d) Não estabelecer qualquer programa de despedimentos, pois, tal como se sugere no relatório, qualquer large scale downsizing, além de evitável, atendendo às previsíveis reduções por rescisão amigável, irá gerar perturbações e paralisações das administrações, muito graves para todos os cidadãos e para todos os governantes, prejudicando o défice em vez de o reduzir e bloqueando drasticamente qualquer início de processo de crescimento.
     Esta política, além de sensata e eficaz, colherá por certo o consenso de parceiros sociais e do principal partido da oposição, para além de melhorar a coesão na coligação que apoia o Governo, pelo que também melhorará o clima político nacional neste Verão que se anuncia frio e chuvoso.

(    Portugal makes greater use of performance assessment in Human Resources Management decisions in its central government than any other OCDE Member country. This has been achieved through the introduction of an integrated system of performance assessment in the public administration (SIADAP) which is a major asset in its modernization strategy” (página 62, Portugal: Reforming the State to promote Growth, OCDE, Maio de 2013).
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Professor catedrático emérito
do IST, ex-presidente do INA ,
Presidente da APMEP