quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Rua dos Celeiros de Santa Maria

Começamos por mostrar imagens da procissão do Senhor dos Passos, no dia 16 de Março do corrente ano. Depois, passamos para estes últimos dias, que andaram à roda das «intervenções artísticas em espaços devolutos», nos espaços Pérola e Ruína (25 Out. a 01 Nov '14), sendo que uma das imagens é de 14 de Abril. A Rua dos Celeiros de Santa Maria nem sempre teve este nome, naturalmente, porque era aqui a judiaria. Dessa história nos fala o texto transcrito, com a devida vénia, no final desta mensagem. Daí, quem quiser, pode partir para ampliar os seus conhecimentos, bebendo em fontes que apazigúem a sua sede de saber.
A rua tem bares e outros estabelecimentos abertos ao público (pelo menos a    OFICINA DUkABELO), bem como a sede dos Escoteiros, Grupo 129. De tudo se pode fazer uma ideia, imaginar. Este pequeno texto é apenas um testemunho de apreço por esta pequena artéria, pequena mas cheia de significado para quem o consiga sentir ou pressentir.




Vê-se, ao fundo, o edifício d'A Pérola de Torres e a entrada da Rua dos Celeiros de Santa Maria
 Foto de 14-04-2014













Rua da Cruz. À direita, a Rua dos Celeiros de Santa Maria

Trecho da Rua da Cruz, visto da Rua dos Celeiros de Santa Maria

Rua dos Celeiros de Santa Maria. Ao fundo, a Rua do Terreirinho

O espaço Ruína

O espaço Pérola, na parte que dá para a Rua dos Celeiros de Santa Maria

*
Na verdade, a primeira referência ao bairro judaico torriense data do reinado de D. Dinis, mais precisamente de 1322, quando, num documento, é mencionado o filho de um tal João Pais da Judiaria. Contudo, num processo ocorrido, em 1407, entre a comuna dos judeus torrienses, por um lado, e as igrejas da vila mais o cabido da sé de Lisboa, por outro, o procurador da primeira alegou que “El Rey dom Afonso que deus de perdom asynara a dita judaria aos Judeus da dita villa que pelos tempos fossem pera morarem em ella e que era Isenta” (subentende-se que das dízimas pessoais a que os eclesiásticos queriam submetê-la). Teria sido, pois, D. Afonso IV a obrigar os judeus da vila a ir morar na judiaria, embora só pouco a pouco os cristãos que ali residiam tivessem sido afastados dela. //
Tratava-se de uma só rua, como acontecia em muitas outras urbes do reino, aquela a que hoje se chama dos Celeiros de Santa Maria, e ficava, então como agora, localizada perto da igreja de S. Pedro, bem no coração comercial da vila. Nela existe um altar dos Passos que marca o lugar onde a tradição diz que havia uma Sinagoga. Na documentação do período medieval que compulsámos, contudo, não encontrámos qualquer referência a tal templo, nem a outros edifícios que sabemos terem existido comummente nos bairros judaicos da época, tais como a escola, a cadeia, o hospital, os banhos públicos, a estalagem, a carniçaria para venda de carne cosher… Como espaços próprios aos seguidores do culto mosaico, para além da judiaria, apenas nos deparámos com o local onde se efectuavam os despejos, o chamado monturo dos judeus, situado por trás do castelo, fora das muralhas.
(Ana Maria Rodrigues, do Centro de História/Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, «Os judeus e a judiaria de Torres Vedras até à expulsão de 1496», in Judiarias, Judeus e Judaísmo, coord. de Carlos Guardado da Silva, Edições Colibri, 2013, p. 151-152. Foram eliminadas as notas.)

Sem comentários:

Enviar um comentário