Morreu Nella Maïssa, de quem tinha ouvido
entrevista(s) dada(s) a Jorge Rodrigues, no Ritornello
da Antena 2. Hoje, a mesma estação dedicou tempo à pianista e ouvimos uma
conversa-entrevista dela com Alexandre Delgado. Muito interessante. Tocou obras
de compositores portugueses, Domingos Bontempo, em especial.
Nascida em Turim, veio para Portugal,
devido à situação que se vivia em Itália, com Mussolini no poder.
A vida dos judeus em Itália era tranquila e eles
estavam bem integrados com a população antes da subida de Mussolini ao poder em
1925. Aliás, os problemas de restrições à liberdade só começam mesmo em 1938,
altura em que os judeus começam a sentir a necessidade de sair do país devido à
aprovação de leis antissemitas em Itália (leis relativas ao casamento;
declaração sobre quem devia ser considerado de raça judaica; lei sobre a
disciplina do exercício das profissões por parte dos cidadãos de raça judaica;
limites impostos à propriedade imobiliária e à actividade industrial e
comercial aos cidadãos italianos de raça judaica; exclusão dos elementos
judaicos do campo dos espectáculos). «Deixamos de ser gente», afirma Nella
Maissa sobre esta situação, «Não podíamos ter propriedades, não podíamos mandar
os nossos filhos à escola, não podíamos ter empregadas domésticas católicas,
não tínhamos direitos. Qualquer pessoa podia matar-nos, porque nós judeus nem
sequer éramos considerados gente. Foi nesta situação horrorosa que decidimos
partir de Itália.»
(Ver, aqui, JUDEUS EM PORTUGAL DURANTE A II GUERRA MUNDIAL, - MEMÓRIAS DE UM PARAÍSO EM TEMPO DE GUERRA. Catálogo da exposição, Fundação Calouste Gulbenkian, donde se tira o texto transcrito.)
Portuguesa ou italiana, como se sente?,
perguntou Alexandre Delgado. Em três meses, aprendeu a falar português, mas a
partir daí a sua maneira de falar não evoluiu, deixando sempre transparecer o
passado, a origem e substância complexa do seu ser. Como se falar perfeitamente
outra língua extinguisse nela partes de si. Sente-se europeia. Acaba por
decidir-se portuguesa. Mas não precisa de se decidir. É Nella Maïssa.
Nota: Escrevo Maïssa, para não ter que
estar a dizer como se deve ler o nome. Não devia.
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