Começamos
por mostrar imagens da procissão do Senhor dos Passos, no dia 16 de Março do
corrente ano. Depois, passamos para estes últimos dias, que andaram à roda das
«intervenções artísticas em espaços devolutos», nos espaços Pérola e Ruína (25 Out. a 01 Nov '14), sendo que uma das imagens é de 14 de Abril. A
Rua dos Celeiros de Santa Maria nem sempre teve este nome, naturalmente, porque
era aqui a judiaria. Dessa história nos fala o texto transcrito, com a devida
vénia, no final desta mensagem. Daí, quem quiser, pode partir para ampliar os
seus conhecimentos, bebendo em fontes que apazigúem a sua sede de saber.
A
rua tem bares e outros estabelecimentos abertos ao público (pelo menos a OFICINA DUkABELO), bem como a sede dos
Escoteiros, Grupo 129. De tudo se pode fazer uma ideia, imaginar. Este pequeno
texto é apenas um testemunho de apreço por esta pequena artéria, pequena mas
cheia de significado para quem o consiga sentir ou pressentir.
Vê-se, ao fundo, o edifício d'A Pérola de Torres e a entrada da Rua dos Celeiros de Santa Maria
Foto de 14-04-2014
Rua da Cruz. À direita, a Rua dos Celeiros de Santa Maria
Trecho da Rua da Cruz, visto da Rua dos Celeiros de Santa Maria
Rua dos Celeiros de Santa Maria. Ao fundo, a Rua do Terreirinho
O espaço Ruína
O espaço Pérola, na parte que dá para a Rua dos Celeiros de Santa Maria
*
Na
verdade, a primeira referência ao bairro judaico torriense data do reinado de
D. Dinis, mais precisamente de 1322, quando, num documento, é mencionado o
filho de um tal João Pais da Judiaria. Contudo, num processo ocorrido, em 1407,
entre a comuna dos judeus torrienses, por um lado, e as igrejas da vila mais o
cabido da sé de Lisboa, por outro, o procurador da primeira alegou que “El Rey
dom Afonso que deus de perdom asynara a dita judaria aos Judeus da dita villa
que pelos tempos fossem pera morarem em ella e que era Isenta” (subentende-se
que das dízimas pessoais a que os eclesiásticos queriam submetê-la). Teria
sido, pois, D. Afonso IV a obrigar os judeus da vila a ir morar na judiaria,
embora só pouco a pouco os cristãos que ali residiam tivessem sido afastados
dela. //
Tratava-se
de uma só rua, como acontecia em muitas outras urbes do reino, aquela a que
hoje se chama dos Celeiros de Santa Maria, e ficava, então como agora, localizada
perto da igreja de S. Pedro, bem no coração comercial da vila. Nela existe um
altar dos Passos que marca o lugar onde a tradição diz que havia uma Sinagoga.
Na documentação do período medieval que compulsámos, contudo, não encontrámos
qualquer referência a tal templo, nem a outros edifícios que sabemos terem
existido comummente nos bairros judaicos da época, tais como a escola, a
cadeia, o hospital, os banhos públicos, a estalagem, a carniçaria para venda de
carne cosher… Como espaços próprios
aos seguidores do culto mosaico, para além da judiaria, apenas nos deparámos
com o local onde se efectuavam os despejos, o chamado monturo dos judeus,
situado por trás do castelo, fora das muralhas.
(Ana Maria Rodrigues, do Centro de História/Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, «Os judeus e a judiaria de Torres Vedras até à expulsão de 1496», in Judiarias, Judeus e Judaísmo, coord. de Carlos Guardado da Silva, Edições Colibri, 2013, p. 151-152. Foram eliminadas as notas.)
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