sexta-feira, 24 de abril de 2015

Viana do Alentejo


2 de Abril de 2015, Quinta-Feira Santa
Viana do Alentejo
Na demanda do nosso destino, uma translação levou-nos a passar por Viana, desejo já antigo. Se a curva é o caminho mais directo entre dois pontos, a passagem por esta terra transtagana encurtou o caminho para Montargil.
Em Évora, pedindo-lhe desculpa, por apenas servir de escala, avançamos, com a cidade e as cores da sé projectadas à nossa esquerda como uma pintura a óleo ou um ecrã de cinema. Atinamos com o caminho, viramos à direita e lá vamos. A placa dita: 28 km. A certa altura, será Viana, aquela terra no horizonte, no sopé do monte? Não. É Aguiar. À saída de Aguiar, já se vê Viana, estirada à beira da serra.
Chegámos mais ou menos à hora do almoço. Almoçámos no café-restaurante Rotunda, no largo do chafariz, com os edifícios da Misericórdia, em frente. O nome do largo: Rossio das Hortas.
Almoço — sopa de feijão com abóbora muganga, meia dose de iscas com batatas cozidas, para os dois; meia dose de filetes de pescada, para os dois; sobremesa (manga) e café. No final, licor de poejo, oferta da casa, bom para limpar — diz o responsável que nos serviu, com simpatia natural. No café, têm pastel de feijão e folar (padinha).
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Do Rossio das Hortas, parte a Rua António José de Almeida. Antes de seguirmos por ela, pequena paragem para ver uma manifestação artística, que muito apreciamos, desde que o(s) seu(s) autor(es) revele(m) qualidade e sejam dialogantes. Pode juntar-se o belo e o útil. O contrato social, num espaço público — na arte pública —, supõe a pluralidade de visões, senão não é contrato. Como é que se sabe que o autor é amigo do diálogo... Talvez seja ou não... Talvez o tempo saiba...
Dito isto, gostei do mural, comemorativo dos 40 anos do 25 de Abril de 1974, recuperado, pelo menos, já duas vezes. Conversei um pouco com o dono do espaço, estava ali. Contou que inicialmente o painel tinha mais um lanço, agora ocupado pelo portão que mandou abrir do lado da Rua António José de Almeida. Do que lá estava, pesquisei e algo encontrei na internet. Pode-se ver, abaixo, como se fosse legenda da última imagem, linque para as mais antigas, onde se vê que havia um lanço relativo a Timor, no espaço onde está agora a árvore e o campo, linha verde a desenhar a planície. O último lanço ou tramo está coberto com cartazes de touradas e não se percebe o que lá estava.
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Avenida António José de Almeida, Praça da República, com busto do Dr. Isidoro de Sousa, Rua Cândido dos Reis, subimos um pouco e estamos no castelo, as suas cinco torres cilíndricas com coruchéus cónicos.
À tarde, visitámos o santuário de Nossa Senhora d'Aires.
No regresso, a caminho de Évora e Torres Vedras, no meio da vila, à nossa esquerda, de dentro do automóvel passamos pela moagem, hoje desactivada, em seu tempo dirigida pelos irmãos Fadista e de sua propriedade. Nesta zona houvera em tempos mais antigos a Horta de Santo António e os Moinhos de Santo António, nome que foi aplicado em azulejo no alto do edifício. O destaque, aqui dado à moagem (e lagar de azeite), prende-se também com a amizade que nos liga a membros da família, nos acasos da vida.
(Ver Anexo 1, no final desta mensagem)
Chegada
Viana aguarda-nos, deitada no sopé da serra


Licor de poejo

Mural comemorativo dos quarenta anos do 25 de Abril



Na recuperação deste painel, entrou uma gralha que lá não tinha pousado: o acento em «à» - «é rubra à nossa bandeira» -, imitando a maneira de falar, que aglutina o «a» de rubra ao «a» seguinte. Embora uma transgressão, vem aumentar a ingenuidade, a sinceridade emitida pelo quadro.




Assinatura aposta no último painel, a contar da esquerda

Do Rossio das Hortas para o Castelo

Chafariz do Rossio das Hortas

Vista parcial do Rossio das Hortas
Ao fundo, à direita, a esplanada do Rotunda


Beneficiou de reparações no tempo de D. Manuel, sendo, então, afixado o escudo de armas das quinas, ainda gótico. « Destinado, essencialmente, ao serviço público, abastecia, outrossim, os gados da colónia dos ovelheiros, já conhecida na Idade Média [...]» (Túlio Espanca, Inventário Artístico de PortugalDISTRITO DE ÉVORA, I, VOLUME, IX, Academia Nacional de Belas Artes, Lisboa, 1978, p. 463, col. 1)
COMISSÃO DOS PASTOS 
1904
«Este agrupamento cívico, mantendo a tradição dos ovelheiros, ordenou a sua reconstrução em data coincidente com a abertura do antigo chafariz e lavadouro público da vila.» (T. E., no mesmo lugar, p. 463, col. 2.) Túlio refere-se ao Chafariz da Praça da Palha (José Falcão), edificado no ano de 1904. 




Família cigana

A rua ao fundo, que começa junto ao mural, é a do Dr. António José de Almeida

Jardim Público

Ao fundo, o Convento de Jesus, que foi das freiras de S. Jerónimo
Foi vendido em hasta pública pelo anterior proprietário (Ministério das Finanças), a um senhor dos Emirados Árabes Unidos. Já foi arranjado o telhado, que estava em perigo de cair.  


Fonte das Freiras
Do jornal do Agrupamento de Escolas de Viana do Alentejo, com a devida vénia
Construída nos terrenos da Carreira, frente à igreja de Jesus e a pedido das freiras jerónimas para terem um anel de água para abastecimento regular do convento, foi parcialmente demolida em 1820. (Do folheto do Turismo)


Portal manuelino da igreja da Misericórdia
Foto pedida de empréstimo, provisoriamente (Do folheto do Turismo)



 Depois das fotos, ver a transcrição deste texto, na exacta ortografia, até de um eventual erro



Retábulo, da época de D. Pedro II; «conserva, infelizmente perdida, por humidade, a tela pintada a óleo, representando a VISITAÇÃO DE SANTA ISABEL»+ (Túlio Espanca, no Inventário Artístico de Portugal, DISTRITO DE ÉVORA, I, VOLUME, IX, Academia Nacional de Belas Artes, Lisboa, 1978, p. 440, col. 2). A pintura foi entretanto restaurada, tendo estado exposta no Museu de Évora, de onde regressou, há cerca de dois anos. [+Lc 1: 39-40. Ver Anexo 2]



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A lenda da «renda sol» ou renda tenerife ou renda nhanduti, palavra que significa teia de aranha em guarani, tendo as mulheres guaranis desenvolvido uma técnica especial para a tecer. No meio, onde está uma espécie de flor, rosa ou girassol, imaginamos uma aranha tecendo a teia-mortalha do noivo morto.
Do outro lado da passagem coberta, uma loja de turismo, com apoio para os visitantes. 

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Igreja matriz de N.ª S.ª da Anunciação
Arquitectura manuelina do ciclo de Diogo de Arruda


É uma pena que estes elementos, aqui esculpidos, não sejam eternos. Ainda assim, estão bem conservados. Apesar do deslumbramento que este pórtico produz em nós, lemos em Túlio Espanca (no volume citado do Inventário, p. 417, col. 1) que a mesma marca decorativa de Diogo de Arruda foi «utilizada, evidentemente, com outra exuberância e plenitude na Sala do Capítulo do Convento de Tomar, c.ª de 1515»! Ver a descrição completa.


Pátio interior

Esta e as cinco fotografias seguintes foram tiradas do adarve, que se pode ver na quarta


Bela chaminé; no horizonte, a serra de Portel

No campo, já se avista Nossa Senhora d'Aires...

Nossa Senhora d'Aires...

De ao pé de Viana...

Cruzeiro gótico-manuelino. Esteve, até 1804, no santuário de Nossa Senhora d'Aires.

Nossa Senhora do Leite, alto-relevo

Torre de Menagem

Torre da Misericórdia

Vamos deixar o castelo, mas não sem, antes, termos uma esplêndida vista aérea dele, com a devida vénia à C. M. de Viana do Alentejo. Dá-nos uma inteligência do assunto, que não poderíamos ter de outra forma.

Deixando o castelo

Travessa das Torres, um dos lados do «pentágono»

À nossa frente, a Rua Cândido dos Reis

Rua Cândido dos Reis

Praça da República. Neste edifício estão instalados a biblioteca municipal e o posto de turismo. À biblioteca, no 1.º andar, acede-se pela Rua Cândido dos Reis. Ao lado esquerdo, está adossada a Fonte da Praça da República, em estilo Renascença, do último terço do século XVI, no seu corpo mais antigo. Na Praça, em frente da então Câmara Municipal, estátua de homenagem ao Dr. António Isidoro de Sousa, feita por subscrição pública do povo de Viana e inaugurada em 1939. Entre outras actividades e funções de relevo, foi graças ao movimento municipalista, por ele iniciado, que o concelho de Viana foi restaurado em 1898, o que ficou memorado em lápide  colocada na parede voltada para a praça, por baixo da pedra de armas do concelho. Foi irmão do importante jornalista, Fernando de Sousa.

Janela de olaria, expondo peças ali manufacturadas. Rua Cândido dos Reis, n.º 17.
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Rosácea em «Renda Sol» – Instalação
Um projeto OFICINA DO FELTRO, com coordenação de Diana Regal e execução de Elisa Pinto.
Rosácea em «Renda Sol» Instalação reflete sobre as práticas de produção e transformação de têxteis, em contexto doméstico, para a manufatura de peças de roupa e do lar. Sabendo que trabalhar com têxteis veicula normalmente implicações de género – nas relações com o trabalho feminino – quer no contexto global quer na economia doméstica, pretende-se que este trabalho se relacione com estas práticas numa proposta de criação, através da produção de uma peça de «renda sol» de grandes dimensões, como se do elemento da arquitetura gótica – a rosácea – se tratasse.
Co-relaciona a lenda que está na origem da Renda sol com a Roda da Vida, temas aludidos no elemento rosácea, nomeadamente a que está representada no túmulo de D. Pedro I.
Através da figura circular, as rosáceas representavam, na época medieval, o mundo, a vida e a morte, figurando nelas a condição do Homem nos domínios do privado e do social.
A origem lendária do Nhanduti está ligada a uma inconsolável indígena cujo amado desapareceu no dia do casamento. Ao achá-lo morto na selva fechada, ela abraçou-se ao corpo do amante, velando-o toda a noite. Ao amanhecer, a luz do sol mostrou que o guerreiro morto estava coberto por um belo manto de teias tecido pelas aranhas. A noiva buscou fios e agulhas e, copiando o trabalho das aranhas, teceu para o amado uma deslumbrante mortalha, criando assim a primeira peça conhecida de Nhanduti.
Este projecto foi apresentado na Cooperativa Teatro dos Castelos, Montemor-o-Velho e no Mosteiro da Flor da Rosa, Crato, em parceria com a Direcção Regional de Cultura do Alentejo, no âmbito do Festival Escrita na Paisagem e no Museu da Tapeçaria, em Portalegre.

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ANEXO 1
5.6. TRAVESSA DA MOAGEM
Não se sabe ao certo quando se instalou, nos terrenos da velhíssima Horta de santo António, o chamado «lagar novo», designação que o diferenciava do «lagar velho» que existiu na rua do mesmo nome, perpendicular à antiga Rua das Pedras (actual Rua Dr. António José de Almeida). Certo é que parte da antiga «Carreira de Portel» passou então a designar-se, como ainda hoje se designa, Rua do Lagar Novo.
O edifício dos «Moinhos de Santo António», hoje desactivado, foi inaugurado em Abril de 1949, depois de um violento incêndio ter destruído, em Novembro de 1946, as instalações anteriores. A moagem de farinhas e o lagar de azeite anexo eram propriedade dos irmãos Francisco e Joaquim Fadista, filhos de Francisco Joaquim Vasques Fadista. Este último era natural de Santiago do Escoural, onde nasceu em 1858. Por volta de 1884 instalou-se em Viana do Alentejo, trazendo consigo o saber da produção de farinhas de trigo. Quando faleceu, em 1931, dois dos seus filhos deram continuidade à actividade. Um outro esteve também ligado ao ramo, com uma padaria na Rua Padre Luís António da Cruz, mais tarde trespassada a Jerónimo «Lamancha».
Nos anos oitenta do século passado os «Moinhos de Santo António» foram adquiridos pela fábrica de rações Fratejo para ali construir, nos terrenos anexos, as suas novas instalações. Inauguradas em 1990 tiveram vida efémera, tendo encerrado em 2002.
Bibliografia:
Diário de Notícias, edição de xx Novembro de 1946.

5.7. RUA DA HORTA DE SANTO ANTÓNIO
O nome desta artéria evoca o da Horta de Santo António, propriedade rural que durante séculos existiu na periferia Este da vila de Viana do Alentejo. Confrontava, a Oeste e a Sul, com a «Carreira de Portel», nome pelo qual era conhecida a actual Rua 5 de Outubro. A Norte o seu limite era a Horta da Cancela, topónimo curioso que se deve relacionar com a provável existência, no local, de uma espécie de «porta» da vila, local onde se pagavam os impostos municipais relativos ao movimentação de pessoas e bens: peagem, portagem, carretagem, etc. Na Horta de Santo António existiu certamente um edifício de algum porte, apalaçado, cuja memória nos é testemunhada pelos restos de uma janela quinhentista. O culto de Santo António foi muito popular em Viana, tendo mesmo existido uma importante confraria que funcionou numa pequena capela dentro do cas, instalada sobre a sacristia da Igreja Matriz.

(De «Projecto de Atribuição de Topónimos aos Novos Arruamentos da Vila de Viana do Alentejo», p. 46-47.
a) Francisco Baião,
Viana do Alentejo, 10 de Maio de 2012
Não buli no texto, mas há uma gralha evidente que merece ser corrigida: leia-se «impostos municipais relativos à movimentação de pessoas e bens».

ANEXO 2
Visita de Maria a Isabel - 39Por aqueles dias, Maria pôs-se a caminho e dirigiu-se à pressa para a montanha, a uma cidade da Judeia. 40Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel. 41Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino saltou-lhe de alegria no seio e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. 42Então, erguendo a voz, exclamou: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. 43E donde me é dado que venha ter comigo a mãe do meu Senhor? 44Pois, logo que chegou aos meus ouvidos a tua saudação, o menino saltou de alegria no meu seio. 45Feliz de ti que acreditaste, porque se vai cumprir tudo o que te foi dito da parte do Senhor.»
Cântico de Maria - 46Maria disse, então:
«A minha alma glorifica o Senhor
47e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador.
48Porque pôs os olhos na humildade da sua serva.
De hoje em diante, me chamarão bem-aventurada todas as gerações.
49O Todo-poderoso fez em mim maravilhas.
Santo é o seu nome.
50A sua misericórdia se estende de geração em geração
sobre aqueles que o temem.
51Manifestou o poder do seu braço
e dispersou os soberbos.
52Derrubou os poderosos de seus tronos
e exaltou os humildes.
53Aos famintos encheu de bens
e aos ricos despediu de mãos vazias.
54Acolheu a Israel, seu servo,
lembrado da sua misericórdia,
55como tinha prometido a nossos pais,
a Abraão e à sua descendência, para sempre.»
56Maria ficou com Isabel cerca de três meses. Depois regressou a sua casa.
      (De http://www.capuchinhos.org/biblia/index.php?title=Lc_1)

ANEXO 3

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