domingo, 31 de dezembro de 2017

José Luís Peixoto em Coimbra




José Luís Peixoto é um autor que admiro desde Nenhum Olhar (bastaria este livro para ser um grande escritor), seguido de Morreste-me, pouco mais, e alguns artigos. É natural de Galveias e partilhamos o mesmo concelho. De Montargil vejo Galveias desde sempre e quando veio a luz eléctrica, também de noite, antes ainda de Montargil a ter, trazida pela barragem, inaugurada em 1958. Fica do lado montante da ribeira, como dizíamos dantes, na outra margem.
Tenho dele já bastantes livros «por abrir». Também é poeta. Outro livro que me deliciou, me entrou em fibras íntimas, gerando um movimento especial, co-movendo, foi A Criança em Ruínas. O poema sem título que se impôs entre todos é este, que peço a licença de transcrever:

na hora de pôr a mesa, éramos cinco:
o meu pai, a minha mãe, as minhas irmãs
e eu. depois, a minha irmã mais velha
casou-se. depois, a minha irmã mais nova
casou-se. depois, o meu pai morreu. hoje,
na hora de pôr a mesa, somos cinco,
menos a minha irmã mais velha que está
na casa dela, menos a minha irmã mais
nova que está na casa dela, menos o meu
pai, menos a minha mãe viúva. cada um
deles é um lugar vazio nesta mesa onde
como sozinho. mas irão estar sempre aqui.
na hora de pôr a mesa, seremos sempre cinco.
enquanto um de nós estiver vivo, seremos
sempre cinco.


Vem tudo isto para justificar o interesse com que fui lendo a evocação de Coimbra, passado, futuro antevisto, presente, futuro que não podemos saber. Há planos de tempo como no cinema.
«Nas costas, sinto os passos do meu pai, aproxima-se, avança sobre a terra. Agora, num instante que não fui capaz de prever com exactidão, pousa-me a mão sobre o ombro, o peso da mão.»
A minha irmã conta que há letreiros nos cafés a proibirem o estudo, entusiasma-se com essa ideia. — Assim começa «As certezas do Mondego» na revista da TAP UP Magazine. Percorremos Coimbra, presente e passado presente.
Convido a ler:
                                            As certezas do Mondego

A minha irmã conta que há letreiros nos cafés a proibirem o estudo, entusiasma-se com essa ideia. Adora a extravagância de uma cidade cheia de estudantes e, também, encanta-se a imaginar esses estudantes de mesas de café, a sua perigosa vida académica, estudiosos e rebeldes.
Subimos as escadas monumentais a pé. Lá no alto, demoramos um par de minutos a recuperar o fôlego. As faculdades têm as especialidades escritas nas fachadas com letras de metal. A minha irmã dá-nos essa informação, como se não soubéssemos ler. Ao passar por estudantes de traje, capa negra debaixo de um sol seco, todo-poderoso, calor como lixa, a minha irmã cala-se de repente e disfarça o fascínio. Se algum de nós comenta alguma coisa, demora a responder, não nos conhece.

terça-feira, 12 de dezembro de 2017

CASA HIPÓLITO, por Joaquim Moedas Duarte


Este livro não é uma pedra sobre o assunto. Ele mesmo é uma pedra do edifício que ao longo dos tempos vai desenhando o rosto de Torres Vedras.
Tenho falado com pessoas que trabalharam na Casa Hipólito, algumas delas a viver no Sarge. Lembro só o Sr. Valentim Varela e o Sr. José Lino. E o Sr. João Areias, com livro por publicar, em que a vida na fábrica está bem presente, ao lado de outras vivências, em véu ficcional.
A capa está feliz, com o logótipo da empresa, explorando o nome do fundador. Os raios podem significar o mundo onde chegaram os artefactos da Casa, iluminando, aquecendo... E estarão, também, pelas aldeias e lugares do concelho donde vinham centenas de trabalhadores.
Aproveitando o nome de origem grega, Hipólito, formado pelos constituintes «hipos» (cavalo) e «litos» (pedra), o artista incluiu no meio da composição um cavalo marinho.
Sol, vida, criação de riqueza.
http://patrimoniodetorresvedras.blogspot.pt/2017/12/casa-hipolito-convite.html

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Frederico Lourenço e «A Estranha Ordem das Coisas», de Manuel Damásio

«Damásio e o erro de Sócrates»
Esquecendo, agora, a opção de Frederico Lourenço pelo AO90 (não é a minha), o facto é que gostei muito de ler o artigo, abaixo reproduzido, a propósito do último livro de Manuel Damásio, «A Estranha Ordem das Coisas».
O ponto de partida é «A vida dos sentimentos», texto de Clara Ferreira Alves (introdução e ligações a extensas respostas de Manuel Damásio), na E – Revista do Expresso, 28 de Outubro, p. p.
Frederico Lourenço disserta com visível gosto sobre o pré-socrático e médico Filolau. A alma e o corpo, seu sepulcro, pitagorismo. Sócrates, Platão, Fédon, Novo Testamento, cristianismo, prazer.
Espero que gostem.
A seguir, pode-se ler a peça «A vida dos sentimentos». É o que penso fazer.
*

quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Bonecos de Estremoz, Património Cultural Imaterial da Humanidade


Amor se fores à feira
Traz-me uma prenda galante
Não tragas nada de ourives
Um pucarinho é bastante

(Da secção «Citações e Referências», pág. 10, de BARROS DE ESTREMOZ, Limiar, Actividades Gráficas, Lda., 1990, por Joaquim Vermelho, direcção gráfica de Armando Alves)

         Consultei o jornal referido na mensagem de Hernâni Matos, julgando lá encontrar um texto sobre a candidatura dos Bonecos de Estremoz a Património Cultural Imaterial da Humanidade. Tal não acontece.
A página pouco mais é que um índice do jornal, a sair nas bancas, «amanhã», 30-11-2017 (facebook do E).
Fica aqui o parabém pela aprovação da candidatura dos Bonecos de Estremoz a património Imaterial da Humanidade. É dirigido a quantos prepararam institucionalmente a candidatura, a Hernâni Matos, grande divulgador do «figurado de barro de Estremoz», a Joaquim Vermelho, a todos os barristas e gente que compra as peças, cântaros, púcaros, bilhas cravejadas de pedrinhas, ocarinas, figuras e grupos religiosos, procissões, bandas de música... E à gente que se deliciava a passar no Rossio Marquês de Pombal no famoso mercado semanal ao sábado, junto dos stands de olaria. Só para olhar... 
Agora, resta conseguir manter o carácter dos bonecos de Estremoz, no meio de algumas alterações que o galardão da UNESCO venha trazer. A qualidade é bem-vinda...
«Que o poder do comprador não abafe os grandes valores das nossas artes. Que se olhe para este mercadejar não apenas em termos de divisas que é urgente amontoar a todo o custo sem olhar a meios, a ponto de se produzirem objectos que não têm nada a ver com o nosso entendimento, desde a matéria-prima à formação, à decoração, consistindo apenas num grave caminho de subversão cultural.»
(Último parágrafo do livro de Joaquim Vermelho, acima referido. Joaquim Vermelho, já falecido, foi director do Museu Municipal de Estremoz, que em 2003 passou a designar-se Museu Municipal Prof. Joaquim Vermelho)
***
https://dotempodaoutrasenhora.blogspot.pt/2017/11/bonecos-de-estremoz-patrimonio-cultural.html (blogue de Hernâni Matos. Procure nas etiquetas, numerosas referências aos Barros de Estremoz)

domingo, 3 de dezembro de 2017

Barragens e furos ilegais. O gravíssimo problema da água em Portugal

Transcrevo o linque duma mensagem de http://www.otrosmundos.cc/.
Por concordar com o conteúdo, partilho. Carlos Cupeto é uma figura conhecida e respeitada no campo da hidrogeologia. Como é possível a paralisia prática das nossas autoridades?
Ver, aqui, as palavras (poucas) de Carlos Cupeto e a hiperligação para a reportagem da passada sexta-feira na RTP – Programa «Sexta às 9».

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

A brincar ou a sério

A partilha da semana (Galopim de Carvalho na «sopa de pedra» de 15 de Novembro, p. p.)
 A propósito do Dia Mundial da Filosofia, para pensarmos. São ideias, situações com que nos temos confrontado... Não esquecer a parte final, dada a importância da educação para cada si mesmo e na relação com as outras pessoas.
Ser mais.
Em 2002 a UNESCO instituiu o Dia Mundial da Filosofia, no propósito de promover a reflexão sobre os acontecimentos actuais, fomentar o pensamento crítico, criativo e independente, contribuindo assim para a promoção da tolerância e da paz. Desde então este dia é celebrado em todo o mundo na terceira quinta-feira do mês de Novembro, que este ano terá lugar amanhã, dia 16.
Tudo o que aqui se pretende promover está contemplado no teórico e ilusório propósito oficial da nossa escolaridade obrigatória, agora de 12 anos. Basta ler os textos de alguns dos responsáveis pelo nosso ensino para verificar que assim é. Mas a verdade é que

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Beethoven e Brahms no TEATRO THALIA

Sábado, 11 de Novembro, 21 h
Depois de termos descoberto o caminho para o teatro THALIA, tivemos o prazer de o demandar em dia de concerto da Orquestra Metropolitana de Lisboa, que regularmente o usa para as suas temporadas clássicas.
A INTEGRAL DAS SINFONIAS DE Brahms II deixou-nos ouvir, hoje, de Beethoven, a Abertura Coriolano, Opus 62 (1807), e o Concerto para Piano N.º 3, Opus 37 (1800). Depois do intervalo, a Sinfonia N.º 2 em Ré Maior, Opus 73 (1877), de Brahms.
No Programa do espectáculo, são analisadas as obras interpretadas do ponto de vista técnico musical  e na relação com a luta pela expressão artística, tanto da parte de Beethoven, como de Brahms. Tal como mostra uma aproximação de Beethoven ao predecessor Mozart, o mesmo fez Rui Campos Leitão para o par Beethoven / Brahms: «O arrebatamento épico e o enfrentamento do legado de Beethoven, enquanto processo catártico, terão aberto caminho ao sublime histórico brahmsiano na sua dimensão sinfónica.»
Duas páginas são consagradas à biografia artística do pianista Filipe Pinto-Ribeiro e do maestro, Pedro Neves, sendo indicados os nomes de todos os músicos dos respectivos naipes. Na contracapa, mais informes sobre a Metropolitana e informação sobre os próximos concertos. O caderno-programa  constitui um interessante objecto, com algumas ilustrações – fotografia, pinturas, capa de partitura, retratos. A guardar.
Quanto ao THALIA, esperamos, ainda, poder vê-lo vazio, disponível no intervalo de todas as ocupações.
(Mais, em Teatro Thalia, Viagem ao Invisível e a mensagem que segue esta.)
A entrada nobre, aberta em dia de concerto

Aguardamos os músicos e o maestro

A Orquestra Metropolitana de Lisboa, com o maestro Pedro Neves

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Largo do Divino Espírito Santo

07-11-2017, tarde
Um pequeno passeio leva-nos a Vila Facaia, lugar da freguesia do Ramalhal.
…Ermegeira, Abrunheira, passagem estreita debaixo da linha do caminho-de-ferro – convém apitar –, mais adiante, o Ramalhal. Como um caçador atrás da caça que quase não há, por onde seguir? Aqui chegámos…, o Largo (muito belo) à esquerda, um gesto de cumprimento a uma «voz do Ramalhal»* cá fora, junto ao café… e sigo, já decidido. É Vila Facaia, onde nunca pus o pé… «Agora já pôs!» – vai dizer daqui a pouco um jovem quando lá chegar. No momento em que falei já era mentira o que disse.
A zona é de várzea desde o Maxial, guardada por montes. Um campo de jogos (Polidesportivo de Vila Facaia), a associação de caçadores, estamos a chegar. Como num palanque ou primeira fila junto ao palco, o café está defronte, quase a fazer barragem, a esplanada a terminar na «muralha». Os passantes, somos o palco deles, eles, o nosso.
O café tem a parte da entrada, com balcão, e espaço aberto para a sala de jogos, bilhar e matraquilhos. No topo, à direita de quem entra, há uma tira com mesas e cadeiras, a que se acede por quatro ou cinco degraus, um metro acima do restante pavimento. Chamemos-lhe galeria de teatro. Os dois espaços é como se fossem um… A decoração tem interesse do ponto de vista artístico, por exemplo, várias esculturas negras de factura africana em baixo-relevo.

Entretanto, tinha-me apercebido do carácter do conjunto formado pelo coreto, pequenino jardim, capela do Divino Espírito Santo, minimercado…, o Largo… Saio para tirar fotografias… Aqui ficam.
* Alusão ao grupo coral Vozes do Ramalhal

Em frente, o café Minarelli, troco as voltas das letras e chamo-lhe Miranelli


O minimercado e a capela no Largo do Divino Espírito Santo

Cruzeiro de 1937
Reconstrução no cinquentenário, 1987






Regresso pela mesma estrada

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Um pequeno e acolhedor espaço. Natureza e memória



 Quem aborde a povoação, vindo do Ramalhal, vê primeiro a homenagem aos combatentes da Grande Guerra. À direita, na parede, a placa rende homenagem aos combatentes do Ultramar, na pessoa de Dinis Bento Guerra, falecido em Moçambique

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Saber mais: Rota do Morango

domingo, 5 de novembro de 2017

As mulheres na Bíblia

Hoje acontece mais uma partilha. Quando calha, mas não ao calha...
É um texto saído no Público, da pena de Frei Bento Domingues... Procurei e acrescento dois textos por ele referidos, acolhidos nas páginas dos Cadernos ISTA.
Quem quiser, pode consultar...
OPINIÃO
A ignorância não é um dever
Não foi a Bíblia que deu origem à subordinação das mulheres na civilização ocidental.
1. Lutero não passou por Portugal. Na revista Brotéria, de Outubro, tentei explicar porque lhe negaram o passaporte. Apesar disso, de vez em quando, surgem acontecimentos que levam os meios de comunicação a lembrar que existe uma coisa muito antiga chamada Bíblia, que ele próprio traduziu para alemão. Agora parece que foi invocada, juntamente com o código penal de 1886, pelos juízes Neto Moura e Maria Luísa Arantes, para atenuar um crime horroroso contra uma mulher adúltera.

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

ÓBIDOS FESTIVAL FOLIO 2017


Queria partilhar um passeio de sábado passado a Óbidos. Desta vez, foi só andar por ali, calmamente, gozando a companhia... Foi bom. Óbidos é sempre bela. Tem encanto.
Deixem-se encantar. O FOLIO é só até ao dia 29 de Outubro, domingo próximo.