domingo, 13 de outubro de 2013

Fado do Sobreiro


 (Depois da minha arenga, ouçamos o fado do sobreiro. Fica bem, neste domingo.)


      Ao fim de tantos anos, pensei que não havia dúvidas. Quando era pequeno, um chaparro e um sobreiro eram a mesma coisa. Mais tarde, aprendo que um chaparro é um sobreiro novo. Mas não é que um amigo meu, alentejano do miolo do Alentejo,  me diz que um chaparro é uma azinheira!? Isto veio a propósito de uma pergunta minha sobre o fado do sobreiro, que entrou na conversa não sei como.
     -- Como é que o montado chora, ao luar, com saudades do sobreiro, quando em seu lugar já está um  chaparro altaneiro? -- perguntei.
     A resposta pode dá-la o fadista.


Mas, se a morte um dia vem,
Nós deixamos sempre alguém, 
Com saudades, a chorar. 


     O chaparro, altaneiro que seja, ainda não é bem sobreiro. E mesmo se o fosse, podia haver saudade do velho sobreiro.

    
     A dúvida instalou-se. A partir de agora, receio que possa deixar de ter, às vezes, dúvidas e me comece a cercar em qualquer situação a Dúvida.


*


Lá no cimo do montado,
No ponto mais elevado,
Havia um enorme sobreiro.
De todos era a cobiça,
A dar bolota e cortiça,
No montado era o primeiro.
De todos era a cobiça,
A dar bolota e cortiça,
No montado era o primeiro.


Mas um dia, com a tempestade,

Fez ouvir lá na herdade

O ribombar do trovão

E no céu uma faixa risca

Uma enorme faísca

Fez o sobreiro em carvão.

E no céu uma faixa risca

Uma enorme faísca

Fez o sobreiro em carvão.

Passaram-se anos e agora
No mesmo sítio lá mora
Um chaparro altaneiro
E, em noites de luar(e),
Ouve-se o montado a chorar(e),
Com saudades do sobreiro.
E, em noites de luar(e),
Ouve-se o montado a chorar(e),
Com saudades do sobreiro.

E é(i) assim que nasce a vida
Constantemente vivida,
Quase sempre a trabalhar(e).
Mas, se um dia a morte vem,
Nós deixamos sempre alguém,
Com saudades, a chorar(e).
Mas, se um dia a morte vem,
Nós deixamos sempre alguém,
Com saudades, a chorar(e).
                     (Letra de Abílio Morais)

Uma curiosidade agradável, para um natural da terra; a árvore escolhida para a sequenciação do genoma do sobreiro é de Montargil. Ver o artigo
genoma do sobreiro


P. S. Na verdade, depois de uma observação que me foi feita, já depois de publicada esta mensagem, penso que chaparro e sobreiro, para muita gente, é a mesma coisa; isto, no ambiente de Montargil em que fui criado. A palavra «chaparro» tem um sabor mais popular, rústico, até rude. É a designação primeira, do dia-a-dia. Deve ser pré-romana e com raiz mais funda na psique das pessoas do que sobreiro, que nos vem dos romanos. Ora, vejamos o DICIONÁRIO ETIMOLÓGICO DA LÍNGUA PORTUGUESA, de J. P. Machado:
Chaparro, s. Etimologia ainda não esclarecida, mas este voc. deve relacionar-se com o basco txapar, «roble novo», dimin. de sapar; [...]

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