domingo, 13 de outubro de 2013

O firmamento

           12-X-2013
Já há bastante tempo me tinha um dia deparado com as imagens do firmamento, ou da abóbada celeste, na Praça da Batata (Praça Machado Santos). Fiquei logo rendido, à espera de, quando calhasse, as olhar mais detidamente e recolher na espécie de cabaz-câmara escura, com que tanta vez saio à rua e que dá pelo nome de máquina fotográfica. Aconteceu, ontem, e hoje, que estou a «estudar» as fotografias.
Firmamento foi a primeira palavra que me veio à ideia, aprendida na Bíblia, primeiro livro do Genesis. Firmamento diz-nos da estabilidade e firmeza indestrutível da abóbada celeste, onde se incrustavam os astros, numa concepção do mundo que procurava explicar os fenómenos como aos homens se apresentavam. É o que ficou na expressão consagrada «salvar as aparências», conformar a realidade das coisas à maneira como nós as vemos, para que tudo batesse certo, o Sol girasse e a Terra estivesse imóvel no centro de tudo.

O azul do firmamento condiz com o azul das barras das casas e da moldura de uma das janelas. Porque será que o azul das barras alentejanas (e daqui) nos agrada tanto? Como os peixes na água, estamos mergulhados nele. E o amarelo? Malmequeres amarelos, girassóis, o próprio Sol, o mar das searas maduras. O branco das paredes e a luz branca dos rios solares… Trazemos o universo nas nossas casas, sem dar por isso. É tudo feito do material cósmico e nós dentro dele e fazendo parte dele.

A habitação, bem se pode dizer, é um bocado do céu.

Se gostarmos saudavelmente de nós mesmos, como não nos sentirmos identificados com o universo em que nos revemos?

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Primeira e segunda fotografias — visão de conjunto das obras de arte presentes.
Terceira fotografia — estrelas brancas e de cor amarela-com-suspeita-de-verde.
Quarta fotografia — rapariga-quase-criança e estrelas. Vai pegar numa pequena, branca, para oferecer.
Quinta fotografia — rapaz preparado para receber estrela; predominam as estrelas brancas, seis grandes e oito pequenas. Duas estrelas grandes, amarelas-com-suspeita-de-verde. A cor não é uniforme; pinceladas de azul mais escuro no fundo azul claro.
Sexta fotografia — estrelas brancas grandes (dez) e pequenas (treze) As grandes dominam. Na parte de cima, não há estrelas. É tudo nítido.
Sétima fotografia — o rapaz continua à espera da estrela. As estrelas amarelas, maiores, a esborratar-se, uma delas escorre para a cabeça do rapaz-menino. O corpo dele e um bocadinho da cabeça manchados de branco. O azul do firmamento mais claro que nas pinturas anteriores e um pouco esborratado. O rosto do rapaz, a silhueta mais bem marcada, a mão, mais bem desenhada; parece mais consciente. Poucas estrelas (cinco grandes, amarelas, quatro brancas e duas azuis, pequenas. São as amarelas que esborratam). A estrela não vai chegar.

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Enquanto escrevi isto, e, antes, desde que vi estas pinturas a primeira vez, tive sempre presente o firmamento, lindo, um céu azul estrelado, no altar-mor da igreja da Consolação. 

Sentido da leitura: da Rua José Eduardo César para a Praça Machado Santos 
















     Sobre o firmamento e a criação do mundo, tem muito interesse ler o texto disponível no endereço infra, de um capuchinho argentino, na Revista Bíblica, n.º 314.
http://www.capuchinhos.org/siteantigo/porciuncula/biblia_responde/mundo_criado_duas_vezes.htm

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