A gare da linha vermelha – Saldanha – é, entre todas, de alto nível. Começámos por esta, mas a ordem lógica de leitura, até uma ordem histórica, deve começar por Saldanha – linha amarela. É mais tranquila, de uma beleza mais sossegada, uma interpretação do mundo com a cor e poesia do mito. A zona intermédia, de passagem de uma «sala» à outra parece encaminhar-nos para as estações a caminho do Oriente e do Aeroporto, com as figurações em mármore rosa de Borba – rosto, mão direita, mão esquerda. Curiosamente, as figuras de convite apresentam-se na mesma posição, quer se venha de uma «sala», quer se venha da outra: de frente para o passante, o que não daria a nenhuma das gares prevalência sobre a outra. O mesmo se diga das figurações em mármore de Borba?
— O plano superior comanda o inferior — alvitra a minha interlocutora.
Para quem entra e sai das carruagens na gare da linha vermelha, houve o cuidado de oferecer recepção condigna. As pessoas são vistas como convidadas. Nada foi esquecido para humanizar o ambiente. Frases que nos lembram as dos sete sábios gregos da antiguidade, desenhos, quadros com figuras geométricas. Nalguns corredores e átrios, nas paredes laterais e no tecto, mosaicos a preto formam linhas sobre fundo branco, continuando com leveza a arte da gare.
À primeira vista, a frase «Entrei numa livraria...» pareceu-me de Pessoa. É o espírito de Pessoa. Num dos desenhos, vemos duas pessoas lendo; uma delas, a revista Orpheu 2. Pessoa e Almada. É a osmose dos génios, é o espírito comum do grupo de Orpheu, mas as frases, vai-se descobrindo, são todas de Almada.
Parece que ninguém repara, mas, mesmo os aparentemente mais desatentos sentiriam uma grande falta se uma bela manhã tudo ficasse nu e cru. Aos poucos, hoje um bocadinho, amanhã, outro tanto, as pessoas vão lendo; os velhos, os jovens. As frases interpelam, fazem pensar. Não agridem, conversam. Algumas, difíceis, como
Para quem entra e sai das carruagens na gare da linha vermelha, houve o cuidado de oferecer recepção condigna. As pessoas são vistas como convidadas. Nada foi esquecido para humanizar o ambiente. Frases que nos lembram as dos sete sábios gregos da antiguidade, desenhos, quadros com figuras geométricas. Nalguns corredores e átrios, nas paredes laterais e no tecto, mosaicos a preto formam linhas sobre fundo branco, continuando com leveza a arte da gare.
À primeira vista, a frase «Entrei numa livraria...» pareceu-me de Pessoa. É o espírito de Pessoa. Num dos desenhos, vemos duas pessoas lendo; uma delas, a revista Orpheu 2. Pessoa e Almada. É a osmose dos génios, é o espírito comum do grupo de Orpheu, mas as frases, vai-se descobrindo, são todas de Almada.
Parece que ninguém repara, mas, mesmo os aparentemente mais desatentos sentiriam uma grande falta se uma bela manhã tudo ficasse nu e cru. Aos poucos, hoje um bocadinho, amanhã, outro tanto, as pessoas vão lendo; os velhos, os jovens. As frases interpelam, fazem pensar. Não agridem, conversam. Algumas, difíceis, como
Ser autor é trazer-nos inédito o que
ainda pertence ao conhecimento geral.
Esta é profundamente socrática:
O difícil não é
chegar aos grandes, mas a si-próprio!
Almada e Pessoa. À medida que os anos
passam, o seu vulto vai-se agigantando.
Acabei por subir as escadas, no sentido
que vai para o Oriente e Aeroporto, à esquerda um painel de 47-49, e fui
saindo. Saindo, saindo, e já quase a deixar as instalações, olhei para trás,
levado pelo mesmo impulso da mulher de Lot. Nada esperava ver. E foi uma
admiração. Vereis, no fim.
As frases, desenhos e quadros
(Respeitou-se o texto, até em eventuais erros.)
(Lado
para S. Sebastião.)
Entrei numa livraria. Pus-me a contar os livros que
há para ler e os anos que terei de vida.
Não chegam, não duro nem para
metade da livraria.
[Não duro nem para…
O desenho é o nosso
entendimento
a fixar o instante.]
Deve
certamente haver outras maneiras de se salvar uma pessoa, senão estou perdido. O
homem-comum é o único que interessa, os outros são por ele.
[Deve certamente haver outras (…), senão
estou perdido. O
homem-comum (…), os outros são por ele.
A geometria é a O cânone não é (1) A perfeição contém (2) Ter a dúvida é
medição da natureza obra do homem e corrige saber
exactamente
com o entendimento é a
captação a exactidão. o que
estou a dizer.
humano. que o homem pode
da imanência.]
Ser autor é trazer-nos inédito o que ainda pertence
ao conhecimento geral. As pessoas
que eu mais admiro são aquelas que nunca se acabam
[Ser autor é trazer-nos
inédito o que ainda …
Os olhos da nossa
memória vêem melhor
do que os nossos.]
(1) À direita
de «O cânone não é…», geometrismo e
legenda: 3 Quadrante; engomadeira.
(2) À esquerda de «A perfeição contém…», Rosto de
perfil, grafismo e legenda: 2 A porta da harmonia
(Lado
para o Aeroporto.)
Quando
eu nasci, as frases que hão-de salvar a humanidade já estavam todas escritas, só faltava uma coisa - salvar a humanidade
Belo não é o gosto
pessoal, é todos os
“gostos pessoais”
Uma
época não é apenas uma questão de tempo mas essencialmente um sentido do novo
no eterno
Arte não é
Pintar é falar
(3)
uma opinião,
consigo mesmo
é um conhecimento. para que alguém
nos entenda. (4)
Há
sistemas para todas as coisas que nos ajudam a saber amar. Só não há sistemas
para saber amar Tudo
quanto ficar escrito não terá absolutamente nada de científico. Será
exactamente nem científico nem falso, ao mesmo tempo.
[Há sistemas para todas as coisas que nos ajudam (…) amar.
Só não há sistemas para saber amar Tudo quanto ficar
A
língua é a maior O idioma é a (4) Os olhos são para
fortuna
de um povo. instrução dum povo. ver e o que
A arte os olhos vêem só
a sua educação. o desenho o sabe.]
(3) À direita de «Pintar é falar…»,
esquematismo, com a legenda: 4 Relação
9/10. Mais à direita, desenho: à mesa, lendo.
(4)
À esquerda de «O idioma é a…», a legenda
1 O ponto da bahütte
Átrio. No piso, inferior, a linha vermelha.
No mesmo átrio. As figuras parece estarem em movimento de rotação, sendo a da direita algo dissonante. Estão paradas, mas o todo gira.
*
Do lado da gare sentido S. Sebastião
*
Do lado da gare sentido aeroporto
*
*
Por este sentido se vai ao Aeroporto
Saída para o Arco do Cego
Saída para o Arco do Cego, da outra plataforma
Mais escadas
Já se vê o clarão da saída, mas ainda há que subir
Virei-me para trás
Mais uma estação Saldanha
*
Consultável na internet:
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