Há tempo,
dois, três meses, vi um documentário na televisão sobre Celeste Rodrigues, de
que muito gostei. Vejo, agora, que deve ter sido Fado Celeste,
documentário sobre a vida e a obra de Celeste Rodrigues, realizado pelo seu
neto, Diogo Varela Silva, cuja última emissão passou na RTP 2, a 02 JUL 2014.
Apesar do juízo valorativo que fiz, só de uma coisa me lembro, por envolver o
meu avô paterno: a canção Olha a mala. O meu avô cantava-a, gostava
destas coisas.
Olha a mala,
olha a mala
Olha a
malinha de mão.
Não é tua, não
é minha,
É do nosso
hidrovião.
E
continuava...
A escrita
correcta é «hidroavião», melhor ainda, dizem os entendidos, «hidravião». O que
ouvia distintamente era «hidrovião» e aceite-se como forma popular.
Celeste
Rodrigues falou de dificuldades na publicação da letra, da canção, fiquei a
pensar em problemas políticos, à volta da mala, caída do hidrovião. O que se
terá passado? O meu avô teria tido algum vislumbre, sabido alguma peripécia?
Talvez não. A canção acabou a passar na rádio. Era daquelas que se fixam na
memória de quem as ouviu e viveu. Fez parte da vida das pessoas, fez parte da
vida do povo. A primeira quadra:
Caiu um hidroavião
Eu não sei de onde é que ele é
Não trazia ninguém dentro
Foi parar à Nazaré.
Não fazia a
mais pequena ideia de quem era a canção, quem a cantava... Fiquei gratificado
por poder conhecer um pouco melhor o mundo dos meus pais. Celeste Rodrigues
teria 29 anos. «[...]praia de outono, noite de inverno, serão
outros temas que interpretará, tal como olha a mala. uma canção de
Manuel Casimiro, que «caiu no goto e no gosto popular, fez mais de 12 anos
de sucesso, e ainda hoje é recordada». (Notícia tirada, daqui.) Em 1952, data da publicação de Olha
a Mala, tinha eu 6 anos. Olha a mala, afinal, estava a acontecer.
O Público,
Revista 2, de 7 de Set 2014, trouxe uma grande entrevista a Celeste
Rodrigues,
CELESTE RODRIGUES: o fado de um azul celestial
(texto de Anabela Mota Ribeiro, fotografia de Enric Vives-Rubio), que li
com prazer. Registei o nome das canções de sua criação de que Celeste gostava —
Lenda das Algas, Saudade, vai-te embora*, e Gaivota Perdida.
O tipo de «fado que mais diz quem é» é o fado menor. Podemos ouvi-la cantar, neste género, Os meus olhos, aqui, aqui e aqui. E nestoutro lugar, é o quarto vídeo.
O tipo de «fado que mais diz quem é» é o fado menor. Podemos ouvi-la cantar, neste género, Os meus olhos, aqui, aqui e aqui. E nestoutro lugar, é o quarto vídeo.
Na manhã do dia em que foi entrevistada no Museu do Fado por Anabela Mota
Ribeiro, cantava em casa o fado Andorinha, do repertório de sua
irmã Amália (gravações em 1958, 1969 e 1976). Milho Grosso não fica
esquecido. Era uma das canções da Beira que a mãe lhe ensinava, enquanto
descascava ervilhas. A mãe, a quem chamavam o rouxinol da Beira, vemo-la e
ouvimo-la a cantar Milho Grosso,
já na velhice, com Amália. Uma preciosidade.
Nalguns dos fados, cantados mais recentemente, a voz de Celeste ressente-se muito. Quando era mais nova tinha uma grande frescura.
* Na internet, encontra-se facilmente interpretações desta canção, por outros (as) intérpretes, mas não é fácil encontrar uma de confiança, de Celeste.
Nalguns dos fados, cantados mais recentemente, a voz de Celeste ressente-se muito. Quando era mais nova tinha uma grande frescura.
* Na internet, encontra-se facilmente interpretações desta canção, por outros (as) intérpretes, mas não é fácil encontrar uma de confiança, de Celeste.
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http://arquivo.hardmusica.pt/noticia_detalhe.php?cd_noticia=5502
(notícia sobre Fado Celeste no S. Jorge)
http://www.rtp.pt/programa/tv/p26325
Fado Celeste (informação sobre documentário de Diogo Varela Silva, passado na
RTP 2, última emissão a 02 de Julho de 2014)
https://www.youtube.com/watch?v=lAUtt8yHdWY (pequeno
vt de documentário de Diogo Varela Silva)
http://www.portaldofado.net/component/option,com_jmovies/Itemid,336/task,detail/id,2142/
(Letra de «Olha a Mala») (A publicação é de 1952)
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