domingo, 28 de setembro de 2014

Em A dos Cunhados comemorando as Jornadas Europeias do Património 2014 Dia Mundial do Património

27 de Setembro
A Associação do Património de Torres Vedras e a Pro-Memória - Associação Cultural e Etnológica de A dos Cunhados juntaram-se, hoje, na comemoração das Jornadas Europeias do Património 2014. Em A dos Cunhados, houve visita guiada à Igreja de Nossa Senhora da Luz, orientada por Moedas Duarte, presidente da Direcção da Associação do Património de Torres Vedras, seguindo-se a deslocação ao Núcleo Patrimonial da Azenha e Casa do Moleiro.
Neste núcleo patrimonial, tivemos a orientação da presidente da Associação Pró-Memória, Maria da Graça. 
O conjunto recebeu consideráveis adaptações, mas manteve-se o essencial da herança, acrescentado de maneira a constituir uma reconstituição do viver de um passado relativamente recente, mas que a gente mais nova já não conheceu.  Assistimos à activação das mós, num breve exercício real de moagem. Não foi posto trigo com a abundância necessária e as mós sobreaqueceram um pouco. Separou-se a farinha do farelo, com uma peneira. Neste piso de cima,  uma sala espaçosa e agradável serve para várias actividades, nomeadamente culturais e pedagógicas.
No piso inferior, visitamos os espaços de uma casa organizados e mobilados, para nos sentirmos numa habitação de outro tempo. É um perfeito museu. Cheio de vida. Já vamos tendo outros exemplos concretos em que museu e vida coexistem. Não falta um forno de pão, usado de vez em quando, quarto de dormir com colchão de palha ou folhelho de milho, ferramentas de carpinteiro...; tivemos a noção da importância da maquinaria, com eixos e carretos a rodar. Lá fora, três grandes rodas colocadas verticalmente são postas em movimento pela correnteza da água. Através de eixo horizontal, fazem mover uma segunda roda mais pequena, que possui numa das faces dentes, engrenando num carreto vertical, cujo eixo vai ligar à mó andadeira (a que está sobre a outra). Era indústria a sério, embora pouco rentável, talvez. Com o fim da II Guerra Mundial, as grandes moagens foram tirando o lugar a estes engenhos, na produção em larga escala, com moinhos eléctricos.
Do piso inferior se comunica directamente para a área do Parque Verde.
Bem hajam todos os que nos proporcionaram uma tarde bem passada.
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Pode ver-se, aquicom a devida vénia ao seu autor, uma explicação pormenorizada sobre o funcionamento do mecanismo de uma azenha.
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Um pouco antes das três, já por ali andava. Muito pouco conhecida, esta terra que espero visitar mais vezes, tendo-se, agora, iniciado uma relação a aprofundar. A alguma coisa, um edifício em especial, liguei por razão pessoal (alguma ligação familiar ou de amizade, a outras, por curiosidade). 
À hora marcada teve início a sessão na igreja. Moedas deu todas as explicações sobre as transformações de que o edifício foi sendo cenário, ao longo dos séculos, desde que foi pequena ermida, sem ser sede de paróquia, até praticamente aos nossos dias. Transformações, que são um espelho da adaptação necessária à vida das pessoas, sem fixidez, sem deixar de assegurar o que se considera essencial. Não se pode musealizar tudo, mas deve-se lutar pela consistência do viver colectivo e preservar a memória do que somos. É uma luta serena, uma dialéctica esclarecida. Referiu, entre outros aspectos, os azulejos do século XVII, policromos, de tipo tapete, nas paredes das naves laterais. Há esculturas em madeira pintada, pinturas. Na capela-mor, azulejos do século XVIII. 
Aqui, tomou um pouco a palavra, José Pedro Sobreiro, explicando a muito difícil técnica do azulejo, ele que tem alguma prática dela. Contou brevemente a evolução do trabalho neste tipo de azulejo historiado, com o seu auge no tempo de D. João V, fazendo reparar que o(s) artífice(s) -- ao longo do tempo foram evoluindo, tornando-se cada vez mais artistas, com maiores encomendas, dedicação exclusiva -- ainda não atingiram, aqui, o auge na perfeição, harmonia do desenho. Os quadros representados nas paredes da capela-mor reproduzem histórias bíblicas. José Pedro Sobreiro mostrou-me depois  um desenho de figura onde se nota a desproporção entre partes do corpo humano. Os desenhos eram copiados de estampas que circulavam na Europa. Apesar do que se acaba de apontar, a impressão de conjunto de todos os quadros e de cada um é de uma grande beleza. O «olho clínico» do também artista é que nota mais facilmente estas coisas. Faça-se a justiça de que a muito difícil técnica do azulejo já era bastante bem dominada pelos artesãos-artistas que executaram estes painéis. 
Não penso nem posso reproduzir toda a conferência do Joaquim Moedas Duarte. O interessado nestas coisas poderá procurar acesso ao caderninho sobre a Igreja Paroquial de Nossa Senhora da Luz de A dos Cunhados, que é exemplar, quer pela sobriedade e correcção do texto, quer pelas fotografias apresentadas*. 
Maria da Graça, presidente da Pró-Memória, levou-nos a uma sala que virá a constituir um museu de carácter religioso. Foi sempre acompanhando de perto tudo, com alguma observação que o seu conhecimento da vida desta e nesta igreja lhe permitia fazer. Daqui nos acompanhou ao núcleo museológico da azenha e casa do moleiro.

A presidente, com uma amiga, também membro da Direcção (tesoureira), deram-nos uma pequena lição prática de moagem, com informações sobre o tempo em que esta actividade se exercia


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Casa interessante, no caminho para a igreja (direita) e para o núcleo museológico (esquerda)

Registo de azulejos na mesma casa

Praça central






Joaquim Moedas Duarte, presidente da Associação do Património, Torres Vedras, no decorrer da sua prelecção

Azulejos do século XVII, tipo tapete, policromos

Núcleo Museológico
Ao lado direito, encostadas à parede do alpendre, estão duas mós

As duas mós no alpendre

Outro alpendre, do lado do Parque Verde
Carro de bois. A fotografia não consegue mostrar a robustez e grandeza deste carro, devido ao efeito de perspectiva, que diminui bastante o estrado.




Parque Verde

D.ª Graça contando parte do que sabe a uma assistência interessada, em ambiente descontraído


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De junto ao abrigo do autocarro, um estabelecimento que me cativou
Neste largo, fazendo meia volta à direita, vemos o edifício da Associação (a «sede») e em frente os campos. O largo é espaçoso.

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*  O texto, de autoria de Maria dos Anjos dos Santos Fernandes Luís, é baseado na obra A dos Cunhados -- Itinerários da Memória, ed. Pró-Memória, 2002, pp. 101-108 e 424-431.

2 comentários:

  1. Bons vídeos, belas fotografias e um texto bastante elucidativo, deixaram-me com pena de não ter tido oportunidade de efectuar esta interessante visita....!!!
    Parabéns por este excelente trabalho....
    Continuação de boa semana
    Albertina Granja

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