27 de Setembro
A Associação do Património de Torres Vedras e a
Pro-Memória - Associação Cultural e Etnológica de A dos Cunhados juntaram-se,
hoje, na comemoração das Jornadas Europeias do Património 2014. Em A dos
Cunhados, houve visita guiada à Igreja de Nossa Senhora da Luz, orientada por
Moedas Duarte, presidente da Direcção da Associação do Património de Torres
Vedras, seguindo-se a deslocação ao Núcleo Patrimonial da Azenha e Casa do
Moleiro.
Neste núcleo patrimonial, tivemos a orientação da presidente da Associação Pró-Memória, Maria da Graça.
O conjunto recebeu consideráveis adaptações, mas
manteve-se o essencial da herança, acrescentado de maneira a constituir uma
reconstituição do viver de um passado relativamente recente, mas que a gente
mais nova já não conheceu. Assistimos à
activação das mós, num breve exercício real de moagem. Não foi posto trigo com a abundância necessária e as mós sobreaqueceram um pouco. Separou-se a farinha do farelo, com uma peneira. Neste piso de cima, uma sala espaçosa e agradável serve para várias actividades, nomeadamente culturais e pedagógicas.
No piso inferior, visitamos os espaços de uma casa organizados e mobilados, para nos sentirmos numa habitação de outro tempo. É um perfeito museu. Cheio de vida. Já vamos tendo outros exemplos concretos em que museu e vida coexistem. Não falta um forno de pão, usado de vez em quando, quarto de dormir com colchão de palha ou folhelho de milho, ferramentas de carpinteiro...; tivemos a noção
da importância da maquinaria, com eixos e carretos a rodar. Lá fora, três grandes rodas colocadas verticalmente são postas em movimento pela correnteza da água. Através de eixo horizontal, fazem mover uma segunda roda mais pequena, que possui numa das faces dentes, engrenando num carreto vertical, cujo eixo vai ligar à mó andadeira (a que está sobre a outra). Era indústria a
sério, embora pouco rentável, talvez. Com o fim da II Guerra Mundial, as grandes moagens foram tirando o lugar a estes engenhos, na produção em larga escala, com moinhos eléctricos.
Do piso inferior se comunica directamente para a área do Parque Verde.
Bem hajam todos os que nos proporcionaram uma tarde bem passada.
Pode ver-se, aqui, com a devida vénia ao seu autor, uma explicação pormenorizada sobre o funcionamento do mecanismo de uma azenha.
*
Um pouco antes das três, já por ali andava. Muito pouco
conhecida, esta terra que espero visitar mais vezes, tendo-se, agora, iniciado
uma relação a aprofundar. A alguma coisa, um edifício em especial, liguei por
razão pessoal (alguma ligação familiar ou de amizade, a outras, por
curiosidade).
À hora marcada teve início a sessão na
igreja. Moedas deu todas as explicações sobre as transformações de que o
edifício foi sendo cenário, ao longo dos séculos, desde que foi pequena ermida,
sem ser sede de paróquia, até praticamente aos nossos dias. Transformações, que
são um espelho da adaptação necessária à vida das pessoas, sem fixidez, sem
deixar de assegurar o que se considera essencial. Não se pode musealizar tudo,
mas deve-se lutar pela consistência do viver colectivo e preservar a memória do
que somos. É uma luta serena, uma dialéctica esclarecida. Referiu, entre outros
aspectos, os azulejos do século XVII, policromos, de tipo tapete, nas paredes
das naves laterais. Há esculturas em madeira pintada, pinturas. Na capela-mor,
azulejos do século XVIII.
Aqui, tomou um pouco a palavra, José Pedro Sobreiro,
explicando a muito difícil técnica do azulejo, ele que tem alguma prática dela.
Contou brevemente a evolução do trabalho neste tipo de azulejo historiado,
com o seu auge no tempo de D. João V, fazendo reparar que o(s) artífice(s) -- ao longo do tempo foram evoluindo, tornando-se cada vez mais artistas, com maiores encomendas,
dedicação exclusiva -- ainda não atingiram, aqui, o auge na perfeição, harmonia
do desenho. Os quadros representados nas paredes da capela-mor reproduzem
histórias bíblicas. José Pedro Sobreiro mostrou-me depois um desenho de figura onde se
nota a desproporção entre partes do corpo humano. Os desenhos eram copiados de
estampas que circulavam na Europa. Apesar do que se acaba de apontar, a
impressão de conjunto de todos os quadros e de cada um é de uma grande
beleza. O «olho clínico» do também artista é que nota mais facilmente estas
coisas. Faça-se a justiça de que a muito difícil técnica do azulejo já era
bastante bem dominada pelos artesãos-artistas que executaram estes
painéis.
Não penso nem posso reproduzir toda a
conferência do Joaquim Moedas Duarte. O interessado nestas coisas poderá
procurar acesso ao caderninho sobre a Igreja Paroquial de Nossa Senhora da Luz
de A dos Cunhados, que é exemplar, quer pela sobriedade e correcção do texto,
quer pelas fotografias apresentadas*.
Maria da Graça, presidente da Pró-Memória, levou-nos a uma sala que
virá a constituir um museu de carácter religioso. Foi sempre acompanhando de
perto tudo, com alguma observação que o seu conhecimento da vida desta e nesta
igreja lhe permitia fazer. Daqui nos acompanhou ao núcleo museológico da azenha
e casa do moleiro.
A presidente, com uma amiga, também membro da Direcção (tesoureira), deram-nos uma pequena lição prática de moagem, com informações sobre o tempo em que esta actividade se exercia
*
Registo de azulejos na mesma casa
Praça central
Joaquim Moedas Duarte, presidente da Associação do Património, Torres Vedras, no decorrer da sua prelecção
Azulejos do século XVII, tipo tapete, policromos
Núcleo Museológico
Ao lado direito, encostadas à parede do alpendre, estão duas mós
As duas mós no alpendre
Outro alpendre, do lado do Parque Verde
Carro de bois. A fotografia não consegue mostrar a robustez e grandeza deste carro, devido ao efeito de perspectiva, que diminui bastante o estrado.
Parque Verde
D.ª Graça contando parte do que sabe a uma assistência interessada, em ambiente descontraído
*
De junto ao abrigo do autocarro, um estabelecimento que me cativou
Neste largo, fazendo meia volta à direita, vemos o edifício da Associação (a «sede») e em frente os campos. O largo é espaçoso.
*
* O texto, de autoria de Maria dos Anjos dos Santos
Fernandes Luís, é baseado na obra A
dos Cunhados -- Itinerários da Memória, ed. Pró-Memória, 2002, pp. 101-108
e 424-431.
Ver, também, http://patrimoniodetorresvedras.blogspot.pt/2014/09/a-associacao-do-patrimonio-de-torres.html. E
http://aorodardotempo.blogspot.pt/2014/09/olhares.html#links (linque acrescentado às 00:05 de 29-09-2014).
http://aorodardotempo.blogspot.pt/2014/09/olhares.html#links (linque acrescentado às 00:05 de 29-09-2014).
Bons vídeos, belas fotografias e um texto bastante elucidativo, deixaram-me com pena de não ter tido oportunidade de efectuar esta interessante visita....!!!
ResponderEliminarParabéns por este excelente trabalho....
Continuação de boa semana
Albertina Granja
Obrigado. Igualmente para si.
ResponderEliminarJL