24 -12-2014
«Bien merece ser coronada»
Filipe III, 1619
Legenda na peanha octogonal da coroa:
SEBAS |
TIANO | LVSIT | REGI | PIOFE | LICIIN | VICTO | VITA |
Desenvolvo e traduzo:
Desenvolvo e traduzo:
Sebastiano Lvsit(aniae) regi pio felici
invicto vita
A Sebastião, rei
da Lusitânia, pio, feliz, invicto em vida.
A fonte foi construída,
reinando D. Sebastião, a instâncias do cardeal-infante D. Henrique, a quem também se deve a fundação
da igreja de S. Antão, com a ajuda do seu irmão, o rei D. João III. Pronta em
1563, um abalo telúrico deitou por terra a abóbada. «O arquitecto das Obras da
Comarca, Afonso Álvares, a solicitação do prelado fundador estudou o restauro
em 1570, data lamentável para a arqueologia monumental eborense, pois nesta
fase das obras D. Henrique ordenou o apeamento do arco triunfal romano da Praça
Grande, que lhe ficava sobranceiro, e a subsequente recolha dos seus materiais
ao Colégio do Espírito Santo.» (Túlio Espanca, no INVENTÁRIO ARTÍSTICO DE PORTUGAL / CONCELHO DE ÉVORA / I VOLUME, LISBOA, 1966, pág. 208, 1.ª col.)
Aproveitava-se para desafogar a igreja de Santo Antão, à custa do Arco do Triunfo. Dentro do espaço deste, havia o chafariz dos quatro leões de mármore, de construção recente (1537), que foi desmontado, sendo os materiais aproveitados no edifício da Universidade.
Conheci a fonte henriquina
nos tempos de estudante de Évora, ainda com o gradeamento de ferro introduzido em 1863, por ocasião das obras mandadas fazer pela Câmara «no terreiro, tabuleiro e adro da igreja de S.to Antão». Túlio Espanca refere este facto, no belíssimo estudo, O AQUEDUTO DA ÁGUA DA PRATA (n'A CIDADE DE ÉVORA, 7-8, JUNHO - SETEMBRO -1944, pp. 103-104), de onde retirámos as palavras entre aspas, e quando torna a descrever a FONTE DA PRAÇA DO GERALDO, no I. A. P. (vol.
citado, p. 249, 1.ª e 2.ª col.)
*
Entretanto, do primeiro destes trabalhos, permitimo-nos dar o seguinte texto, como apoio, e
por aqui nos ficamos para não alongar este apontamento de viagem.
*
FONTE
DA PRAÇA GRANDE
A actual fonte da Praça do Giraldo, é
fábrica da época de D. Sebastião, mas deve-se à magninidade do cardeal D.
Henrique. Para a sua construção foi demolido o notável arco triunfal romano,
atribuído por Rèsende a Quinto Sertório, e o chafariz dos quatro leões, que lhe
ficava sôtoposto. O seu arquitecto foi o mestre de obras régias e do aqueduto
Afonso Alvares, aproveitando-se os materiais bons do pórtico para o Colégio do
Espírito Santo e Universidade, como se conclue deste documento:
«Juiz, vereadores e Procurador da
cidade de Evora o Cardeal Infante vos enuio muito sandar Afonso Alvares,
cavaleiro fidalgo de minha casa, vay a esa cidade de mandado del-Rey meu senhor
a dar ordem ao assento da fonte que tem mandado fazer, no lugar da praça onde
comnosco e com o provedor do cano praticara, conforme a tenção de sua alteza, também
pera mandar desfazer o arco que atravessa a Rua ancha,e o chafariz e pórtico onde
corre agoa da prata atee o fundamento pera ficar terreiro diante da porta
principal da igreja de sancto Antão, e porque há de mandar leuar pera o
Collegio da companhia as columnas grandes e as mães que seruirem do ditto pórtico
vos agardecerei parecer-nos bem, por que el-Rei meu Senhor lhe tem dellas feito
mercê. De cintra a 21 dagosto Lourenço de Figueiredo a fez âno de 1570.
O Cardeal Iff.te»
(31)
Em 6 de Novembro de 1571, chegou a Évora
o bloco de mármore para a factura da taça, que ficou dum equilíbrio e majestade
excepcional, dispendendo com a obra o doador mais de 5.000 cruzados. Rematado
por uma bela corôa real de bronze, que mereceria de D. Filipe III de Espanha,
em 1619, como exclamação expontânea, sincera e admirativa a lendária frase «Bien merece ser cronada», o chafariz tem
na volta da peanha de coroamento esta inscripção.
SEBASTIANO –
LVSIT – REGI –
PIO – FELICI –
INVICTO – VITA –
Em 1863, quando a Câmara procedeu a
importantes obras de urbanização no terreiro, taboleiro e adro da igreja de S.to
Antão, pretendeu-se isolar das cavalgaduras a monumental fonte, destruindo-se
então as graciosas guardas de mármore, rectangulares, que tanto a // embelezavam,
encerrando-se, finalmente, a nobre taça numa grade com pináculos, sem nenhum
liâme estético. Numa época de tão grata evocação para o nosso património
histórico-artístico, salvo piedosamente pelo Estado, impõe-se a reintegração
primeva da magestosa fonte, hoje como ontem, alvo da admiração unânime de
nacionais e estranjeiros. [Págs. 103 e 104, de A Cidade de Évora, n.os 7-8, Ano II — Junho-Setembro — 1944]
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(31) L.º 6.º dos Originais da Câmara, fl. 258, e António F. Barata, in «Evora Antiga», pag. 14.
NOTA: Respeitada na reprodução o
ortografado, incluída a gralha evidente na linha 2, onde se deve ler
«magnanimidade», bem como a da última linha do 3.º parágrafo, onde deverá ler-se «coronada».
*
(Da internet)
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03-04-2017: reescrito o parágrafo «Conheci a fonte henriquina...».
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