25-12-2014
Íamos para ir ao Pompeu,
passe a redundância, ao fim da tarde. O Pompeu estava fechado. A gerência deve
ser outra de há quarenta anos. Há quarenta anos, o senhor também já não se
devia chamar Pompeu. Adiante. Certo é que houve um dia um Pompeu, que deu o nome
ao agradável restaurante-cafezinho, a poucos quilómetros de Évora, no caminho
de Redondo. Já vai ficando distante, mas não é preciso recuar até Roma, ao
adversário de César na guerra civil; para os que conheceram o Pompeu
(restaurante), com ou sem Pompeu (o senhor Pompeu), o Pompeu será sempre o
Pompeu.
Íamos para ir ao Pompeu,
estava fechado. Continuamos… «Vamos a N. Sr.ª de Machede!» E assim foi. Na
altura própria, vira-se à direita, o condutor leva-nos calmamente, fartura de
campo à volta, a uma destas freguesias aonde só vai quem quer ou precisa de lá
ir. Não é terra de passagem. Ali, está-se ali. N. Sr.ª de Machede tem um motivo
que atrai algumas pessoas, ao menos, uma vez; a especialização no fabrico de
capotes. Quem quiser capote feito por medida, desloque-se a esta aldeia do
concelho de Évora.
Se for íntimo de Évora,
certamente encontrará alguém conhecido em Machede (N. Sr.ª). Ao fundo da Rua
Eng.º Sebastião José Perdigão, entramos e ficamos algum tempo no café da
esquerda. Há outro, na faceira oposta da rua e, ainda, um terceiro na Rua 25 de
Abril. É só contornar pela esquerda o largo da Casa do Povo e avançar alguns
metros.
Ao passar, à direita, vamos
lendo: Travessa dos Banhas, Travessa do Lavadouro, Travessa Catarina Eufémia.
A artéria principal, possa
embora ter vários nomes, leva-nos até à igreja, daí ao Largo da Casa do Povo.
Depois de alguma pesquisa, vim a conhecer nomes atribuídos a ruas e largos,
que, no seu conjunto, sem esquecer D. Gertrudes d’Almeida Marghiochi, lembrada
em monumento, são uma amostra da sensibilidade social, política, humana da
gente de Machede (N. Sr.ª) nas últimas décadas:
Rua de
Évora, Rua da Tenda, Rua Soldado Joaquim Luís, Rua Engenheiro Sebastião José Perdigão,
Largo da Casa do Povo, Travessa dos Banhas e Travessa do Lavadouro, Largo
Doutor Bento de Jesus Caraça, Rua 5 de Outubro, Rua 1.º de Maio, Rua do
Depósito, Travessa da Cooperativa, Rua da República, Travessa do Rosário, Rua
Luís de Camões, Rua da Fábrica das Peles, Travessa das Figueiras, Travessa 31
de Janeiro, Travessa da Igreja, Travessa do Morgado, Rua Barbosa du Bocage,
Travessa 2 de Abril, Travessa do Sargaço, Travessa das Pedras, Beco do Saraiva,
Travessa das Ladeiras, Travessa do Olímpio, Rua Empresário Joaquim Pedras
Maximino, Rua Manuel Josefo, Travessa das Parreiras, Rua Norton de Matos, Rua
Zeca Afonso, Rua José Joaquim Isidro Tanganho, Travessa Francisco Furtado,
Travessa dos Amores, Travessa Catarina Eufémia, Travessa do Peixe.
Simplificando: a estrada
municipal n.º 526, a certa altura, transmuta-se em Rua de Évora, que entra pela
povoação até à igreja de Santa Maria de Machede, no Largo Doutor Bento de Jesus
Caraça. A via continua, com o nome do Eng. Sebastião José Perdigão, até ao
Largo da Casa do Povo. Daqui derivam, à esquerda, a Rua 25 de Abril; à direita,
a Rua Soldado Joaquim Luís.
*
A D. Gertrudes d'Almeida Margiochi e ao Engenheiro Sebastião José Perdigão
Machede presta homenagem, com monumento, no Largo de Bento de Jesus Caraça e no Largo da Casa do Povo, respectivamente
1. Gertrudes d'Almeida Margiochi
Comecemos por ler a inscrição no mármore da placa afixada no monumento que foi erigido à sua memória:
A D. GERTRUDES
D'ALMEIDA MARGHIOCHI
____
MACHEDE,
RECONHECIDA PELA OBTENÇÃO
DAS COURELAS,
DEDICA ESTE MONUMENTO.
Para conhecer um pouco desta senhora, ver, aqui, algo da
sua ligação familiar. Quanto ao processo de «obtenção das courelas», podemos
aprender nas páginas disponibilizadas desta edição do Ministério da Agricultura
/ Junta de Colonização Interna, 1938: PARCELAMENTO
DAS HERDADES DO MONTINHO E GRAMACHA, particularmente as páginas 7 e 8,
sobre «um caso de divisão e subsequente arrendamento das glebas», que é
justamente o caso de Machede.
2. Sebastião José Perdigão
Grande proprietário rural, teve lugar na administração
do Grémio da Lavoura, como se pode ver em estudo na Revista Análise Social*
Algumas reflexões sobre a liquidação dos
grémios da lavoura do Alentejo e Algarve e respectivas federações, p. 539 e 541; pertencia à élite
dirigente. A sua importância social foi-me primeiro revelada, através do que
li, há uns anos, sobre a Missão Internacional de Arte, que levou a Évora
durante quarenta dias artistas nacionais e estrangeiros. Deviam ir conhecendo a
realidade alentejana e foram organizadas visitas e convívios, para os ajudar
nesse objectivo. Os trabalhos, entretanto realizados e inspirados na
experiência alentejana, foram expostos no MUSEU REGIONAL DE ÉVORA. Houve
polémica, escândalo ou pessoas escandalizadas, «Escândalo no Museu?...»**, titulava
o «dom QUIXOTE» — SUPLEMENTO LITERÁRIO DO «JORNAL DE ÉVORA». O articulista
(artigo não assinado) informava das duas apreciações em confronto: arte mais ou
menos compreendida, mais ou menos convencional e uns mamarrachos inacessíveis
ao gosto de muita gente, arte dita moderna, abstracta. Apresentava, a seguir,
as três perguntas de um inquérito e as respostas que lhe foram dadas por: Eng.º
Júlio dos Reis Pereira, P.e Alves Gomes, Túlio Espanca, Dr. Vergílio
Ferreira e Dr Alberto Miranda. Vergílio Ferreira teve uma polémica famosa,
substancial, servida pelo seu génio literário, com Carlos da Maia (pseudónimo),
este nas páginas de A Defesa, e o autor de Aparição, no Jornal
de Évora.
Fique para outra ocasião a Missão
Internacional de Arte, promovida por Júlio Resende e organizada pelo Grupo
Pró-Évora. Teve grande eco nos vários jornais da cidade. Aqui, queremos apenas
referir a pessoa do Engenheiro Perdigão (e o filho) e Machede, o seu povo e
cantadores, na relação com o importante evento.
O Eng. Sebastião Perdigão pertenceu ao
grupo organizador da Missão Internacional de Arte (Dr. António Bartolomeu
Gromicho, Arq. Raul David, Eng. Sebastião Perdigão, Dr. Leitão da Silva e Dr.
Carvalho Moniz).
___________
*Análise Social, vol. XV (59), 1979-3.º, 525-609.
** A exposição foi inaugurada, no dia 4 de Outubro de 1958.
*Análise Social, vol. XV (59), 1979-3.º, 525-609.
** A exposição foi inaugurada, no dia 4 de Outubro de 1958.
*
FESTA TÍPICA
NUMA ADEGA REGIONAL EM ÉVORA
[…]
Dirigiu a visita o activo e dedicado
director do Grupo Pro-Evora, sr. arquitecto Raul David. O sr. eng. Sebastião
Perdigão e seu filho sr. dr. Armando Perdigão, sempre na vanguarda e prontos a
colaborarem e auxiliarem todas as boas iniciativas em prol da cidade de Évora e
seu termo, ali estavam, acompanhados de um grupo de quatro cantadores do Coral
de Machede, que deliciaram a assistência com a sua exibição impecável e
magnífica.
[…]
Parabéns, parabéns ao Grupo Pro-Evora e
louvores àqueles que, como os nossos amigos eng.º Perdigão e filhos, Francisco
Caeiro, capitão Infante, dr. Alberto Silva e outros que marcam com distinção
nas suas profissões, mas que ao mesmo tempo têm o sentido da verdadeira vida,
cultivando o amor pela Arte com o amor e e dedicação pela terra alentejana, que
procuram engrandecer colaborando em todas as boas iniciativas tendentes a
valorizá-la e a propagandeá-la.
(NE,
Domingo, 14-09-1958) [A descrição merece ser dada a conhecer na íntegra, incluída num tratamento mais abrangente do que foi a M. I. A.]
Missão
Internacional de Arte
___
Ontem, os componentes da Missão
Internacional de Arte que se encontra entre nós, foram a convite do Grupo
Pró-Évora, visitar Vila Viçosa, passando por Reguengos, Terena e Nossa Senhora
da Boa Nova.
No próximo domingo, 21, o lavrador sr.
dr. Armando Perdigão oferece na sua propriedade no Monte do Bussalfão, em
Machede, uma festa regional dedicada aos nossos visitantes.
Pata todas estas realizações o Notícias d’Évora tem sido convidado o
que registamos e agradecemos.
(NE,
Sexta-Feira, 19-09-1958)
FESTAS
Em N. Sr.ª de Machede
___
Realizam-se, nos próximos dias 21 e 22,
as tradicionais festas de N.ª Sr.ª de Machede. Do programa fazem parte, além
das habituais solenidades religiosas com missa cantada e procissão, duas
touradas à vara larga, arraial com quermesses, bailes populares, concertos de
música pela Banda da Casa do Povo desta freguesia e um deslumbrante fogo de
artifício.
A receita destas festas destina-se a obras
de assistência da Freguesia e ao Hospital do Cancro a construir em Évora. Deste
modo, Machede vai marcar a sua presença ao lado dos corações bons da nossa
terra.
A Comissão Organizadora dos Festejos não
se tem poupado a esforços para que tudo resulte bem e conta já com algumas
ajudas importantes.
Os ilustres artistas da Missão
Internacional de Arte, hóspedes do Grupo Pró-Évora, visitam estas festas para
melhor apreciarem o colorido, a beleza e o asseio duma das mais lindas aldeias
do nosso Alentejo. Durante esta visita os simpáticos artistas estrangeiros e
nacionais vão conhecer melhor o Povo trabalhador, a herdade e o «Monte»
alentejanos porque a convite do lavrador sr. dr. Armando Perdigão, grande amigo
de Machede, deslocam-se ao Monte do Bussalfão, onde lhes será servido um almoço
regional e onde tomarão contacto com a vida e as dependências deste importante
Monte Alentejano.
Por tudo isto, é de esperar que as
Festas de Machede tomem este ano um vulto nunca igualado.
Ajudemos portanto a Comissão
Organizadora destas simpáticas Festas para que a embaixada de Arte que vai
visitar Machede aprecie as belezas da nossa Província e a generosidade dos
corações alentejanos.
«Todos os que podem em favor dos que
precisam» continua a ser a divisa que temos de viver neste nosso Cortejo de
Oferendas, de Alegria e de Arte para bem do nosso querido Alentejo que
querermos cada vez mais progressivo e mais rico.
***
Da nossa cidade partem várias
automotoras para os eborenses que desejarem assistir a estas festas, com a
certeza de que em Machede são sempre bem recebidos como já é tradicional.
(NE,
Sexta-Feira, 19-09-1958)
*
Igreja de Santa Maria de Machede
O orago é N.ª Sr.ª da Natividade
Na parede do barracão ao fundo lê-se «Travessa dos Banhas»
A
D. GERTRUDES
D'ALMEIDA
MARGHIOCHI
____
MACHEDE,
RECONHECIDA PELA OBTENÇÃO
DAS COURELAS,
DEDICA ESTE MONUMENTO.
JUNTA DE FREGUESIA DE N.ª Sra. DE MACHEDE
Parece servir, também, de posto de correio
Na casa da direita: «Travessa 31 de Janeiro»
AO ENG.
SEBASTIÃO JOSÉ PERDIGÃO
HOMENAGEM DO POVO DE N. SRA. DE MACHEDE
1969
Na imagem, assinalado o Monte de Bussalfão, propriedade do Eng. Perdigão
HISTÓRIA ADMINISTRATIVA/BIOGRÁFICA/FAMILIAR
Também foi denominada Santa Maria de Machede e, mais tarde, Nossa Senhora
da Natividade de Machede.
Sabe-se que a sua origem vem de épocas remotas, existindo já no tempo dos
Godos, pois diz-se que foi erigida em Paróquia no ano de 672, em que governava
o Rei Godo Wanda.
A sua área englobava as actuais Freguesias de S. Miguel de Machede e de S.
Bento do Mato, formando uma só Freguesia. Não se sabe ao certo o ano em que se
desmembrou de ambas, formando uma Paróquia independente (possivelmente no séc.
XVI).
A Freguesia era curado da apresentação do Arcebispo de Évora, no termo da
mesma Cidade, passando depois a Priorado.
Foi antiga Comenda da Ordem de São Pedro.
Integra-se nesta Freguesia a extinta de São Vicente de Valongo.
O orago é Nossa Senhora da Natividade.
[...] (Daqui.)
São tantas as bonitas aldeias que podemos encontrar por esse Alentejo...!!!
ResponderEliminarGostei de conhecer Nossa Senhora de Machede..., aqui, em fotografia...!!!
Mas hei-de lá ir.....!!!
AG
Depois de tudo, tinha, ainda, uma fotografia fora de ordem e logo a primeira.
ResponderEliminarComo estará agora a Herdade do Bussalfão? Mais ou menos industrializada, uma sociedade por quotas... Também não a conheci, antes. De qualquer modo, há muitas aldeias bonitas. Quanto a Bussalfão, desde que li este nome, fiquei encantado. É como Itapuã. Gostava de saber a etimologia, mas não tenho meio de saber ao certo.
Agora que vou mais vezes a Évora, gostava de ir conhecendo também as freguesias rurais.
JL
A herdade do bussalfão é agora um imenso olival
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