26-12-2014
Hora do almoço. Falo com uma
senhora jovem, atendente atrás do balcão. Falando-lhe do Alagoinha, moço que
conheci em Estremoz, quando era novo, ainda sem profissão e com grande gosto e
jeito para o teatro, vim a saber que já há meia dúzia de anos não é o gerente
do Arcada. Nem dei pelo tempo passar. Nem sei mesmo se o café ainda se chama
Arcada. Quem manda, agora, é a Cervejeira Lusitana.
Averiguando, concluímos: é o
Arcada, com o restaurante Lusitana, dentro; de resto, sem que me tivesse
apercebido, é assim, desde a reabilitação do espaço, em 2002.
Pode ter-se acesso a dois importantes
artigos sobre o Arcada:
O primeiro, saído na Pública, n.º 298, de 10-02-2002,
«ascensão e queda do Café Arcada», podendo ler-se em hemerotecas. Damos os três
destaques do artigo.
14 de Fevereiro de 1942. De um dia para o outro, o
Arcada tornou-se o melhor café de Évora. Um dos melhores do país. Sumptuoso!
Entre este momento e o declínio — depois veio a morte e há-de vir a próxima
ressurreição como cervejaria — ficaram tempos de ouro. Era frequentado por
gente bem, por gente com dinheiro, por artistas, e até por «senhoras sérias»
que lá iam swingar. Biografia de um dos últimos grandes cafés.
--
O Arcada era o pouso favorito das classes com dinheiro. Ali
tinham quase tudo o que necessitavam: tabacaria para se abastecerem de
charutos, barbearia com manicures para cortejar e um restaurante com uma
especialidade: o bife.
--
De um dia para o outro, o Arcada tornou-se o melhor café de
Évora. «Os empregados foram escolhidos a dedo, nas melhores casas do sul do
país», garante José Belo, que entrou para empregado de mesa do Arcada em 1944.
Sem dificuldades de maior, apesar dos seus 81 anos, José Belo enumera as origens dos seus
colegas, quase todos já falecidos. ʽʽO Batalha veio de Portalegre, do Café
Alentejano, e o António Troncho, conhecido pelo ʽAlgarvioʼ, veio de Faro.
Além destes, tínhamos o armando Cidade, do Redondo, o Zé Rijo, de Beja, e o Zé
de Santarém. Quanto a mim, foram-me buscar a Estremoz, onde nasci, ao Café
Águias d'Ouro. Experiência não me faltava: comecei a trabalhar em cafés aos 10
anos. antes do Águias d'Ouro, tinha corrido três ou quatro, porque era muito ʽdiabólicoʼ ʼʼ
O segundo, disponibilizável
em ÉVORA MOSAICO, n.º 6, Jul-Ago 2010, da C. M. de Évora (ver as páginas 22 e
23).
Os artigos completam-se.
Algumas datas:
1975 - uma comissão de gestão toma
posse do Arcada
1983 - o café fecha durante oito
anos
1991 - a firma CVC tenta o
ressurgimento do café
1998 - com a empresa TJD, em 1998,
nada se alterou
*
Ver, aqui, o Painel da
Memória, de António Mira, e a explicação do autor. Depois de abrir, clique onde
diz «Évora ver mais.».
Há coisas pelas quais passamos e
não vemos. Depois, descobrimo-las. Foi o que me aconteceu com o painel de
António Mira, no espaço onde estava dantes a tabacaria. Lemos o que diz o autor
e sabe a pouco. O painel é agradável e convida a uma apreciação um pouco
demorada, num período em que o café esteja pouco frequentado. Pela minha parte,
já aceitei o convite; só espero a oportunidade.
*
É um espaço moderno, conhecido pelas suas queijadas e por ter
no seu interior a Cervejeira Lusitana. Tem um menu especial para
crianças.
Café Arcada / Cervejeira Lusitana
Praça do Giraldo, 7
Évora (Santo Antão), Évora
7000-508
266741777
(Do Expresso, 22 de Junho de 2011, com a devida vénia)
Em Portugal, é assim. Os cafés emblemáticos tendem a fechar. Quem diz cafés diz de outros ramos de actividade comercial. Não se tem em conta o histórico destes estabelecimentos, das referências guardadas na memória, do testemunho de gerações. Os pais (donos) morreram e a geração seguinte vende, como se aquele café fosse um pedaço de qualquer coisa insignificante para a história local. É um choque quando se volta lá anos mais tarde e já não há café mas uma qualquer loja chinesa ou outra. Ao menos, como refere, o amigo Patrício, o Arcada está de pé, visitável e agradável. Vamos por lá passar um dia destes. É que a v/notícia leva-nos à curiosidade. Parabéns. João Godim
ResponderEliminarBem-vindo.
EliminarLembro-me dele fechado, mas se calhar é por não gostar disso que essa lembrança como se apagou, à espera de melhores dias. Tenho o artigo de 2002, à minha disposição, pois um amigo tinha a revista e deixou-me fotocopiar. Só não o pus, aqui, para não infringir regras. Ainda se vai falar mais do Arcada, pois é uma coisa de vida, de que nos alimentamos e não estou a pensar nos bifes com molho de café que lá se comiam. O Arcada é alimento espiritual e, por isso, se ainda não o fez, leia os versos do poeta algarvio, sobre o que sentiu, quando o encontrou fechado e olhou lá para dentro, através dos vidros. Vem no texto transmitido na revista ÉVORA MOSAICO.
Um abraço
JL