Elogio da língua portuguesa
Hoje (terminou perto das cinco da tarde), Luís Caetano entrevistou Nélida Piñon. Fiquei a ouvir até ao fim.
Sobre o gosto, a sensibilidade radical dos jovens, por não haver alguma variedade, por exemplo, no campo da música:
«Está havendo uma restrição estética profunda.»
a sua relação com Deus, a sua ideia de, a vivência de Deus. Vale a pena ouvir o que diz -- e também ler, se houver alguma alma benemérita que transcreva a entrevista, disponível, amanhã, no sítio da Rádio e Televisão de Portugal, www.rtp.pt, Antena 2, programa A Força das Coisas --, sobre este e outros assuntos, como a sua relação de grande amizade com Clarice Lispector, dezassete anos mais velha, o partido que tira de tudo o que vê e ouve. É escritora vinte e quatro horas por dia, o que não quer dizer que esteja a usar as pessoas que vai encontrando... Quando escreve, é dos pedaços do vivido que se serve, manuscreve ou digita, talvez as coisas se apresentem naturalmente, no maior ou menor acaso do processo e mistério da criação. Todavia, do que nos conta e se conta, aparentemente, conta tudo, há sempre um resto de reserva, do que não é preciso, do que fica melhor não dizer. A palavra não pode tudo, nem deve tudo. Dela, há um livro de edição recente -- A República dos Sonhos --, mas a abordagem do momento insistiu no Livro das Horas, de memórias.
Na parte final da entrevista, ouvimos ler o que Nélida escreveu, vivido por ela, sonhado, dito em importantes ou banais ocasiões da sua vida, no Livro das Horas, e ficamos encantados, agradecidos. Tudo foi vivido, sonhado, dito em português e ficamos a saber que ficaria esvaziado de sabor, de valor, anulado?, se tivesse de acontecer noutra língua. Estamos dentro de uma língua ou somo-la. O elogio da língua portuguesa, que, sem lhe chamar assim, está nas páginas do Livro das Horas, fica próximo ou ao nível do conhecido texto de Fernando Pessoa «Minha Pátria é a língua portuguesa». Esta mulher faz lembrar Camões, que referiu, mas, como escreve em prosa, recordemos o Padre António Vieira. Neste caso, o Imperador da Língua Portuguesa, a quem é impossível superar. Isto penso eu, no pouco conhecimento que tenho do assunto. Firmo-me nisto, depois do último sermão que li sobre Nossa Senhora do Ó.
Estamos, no entanto, falando de Nélida. Já encomendei o Livro das Horas. São fraquezas, em tempo de crise.
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