Hoje, n'O Eixo do Mal.
Mais
interessante, ainda, a partir do minuto 1:16 em que o filho do
Poeta diz algumas palavras. Segue pequeno vídeo, com imagens de HH e o poema
«Levanto à vista/ o que foi a terra magnífica» dito por Fernando Alves. Do
livro Servidões, 2013.
As palavras do filho do Poeta:
— Eu, eu nunca falei do meu pai e isso não vai mudar. Nunca falei em público do meu pai, e não vai mudar... Vou fazer, aqui, um curtíssimo, curtíssimo intervalo.
Não sou, nem vou ser, nem quero ser, o guardião da memória de ninguém. No entanto, vou, faço, não é um pedido!, é um apelo. Não dêem o nome dele a nenhuma rua, a nenhuma praça, que não façam nenhuma estátua..., que não o incluam no protocolo literário, ou seja, que não façam ao meu pai o que ele nunca quis que lhe fizessem em vida..., não lhe façam, agora.
Levanto à vista
o que foi a
terra magnífica
e as estações
mais bêbedas
e estou tão leve
porque não tenho
nenhum segredo
e tão oculto
porque daqui a
nada
já posso dizer
tudo.
Daqui a uma
pouca ciência
saberei pensar
que algum pouco depois
estarei morto
e só de o pensar
já nem respiro
já quase
em nada toco
já só vejo no fundo
das mãos
daquilo que fica
escrito
que escrevi
coisa nenhuma do mundo
até ao
esquecimento e movendo-me com as unhas
movo-me nos
nomes inúmeros
para dizer que
mal nasci
logo me deram
por morto.
E não fui tido
nem havido
na razão do
episódio de um rosto
ter passado por
um espelho e ter desaparecido.
Portanto não me
venha ninguém falar de nada
sei bastante do
que sabem todos
vejo a água a
mover-se contra si mesma
tão marítima e
acho até que é bonito
cada qual morre
de quanto alcança e não alcança
e ninguém
compreende
a água quebra os dedos que escreveram até às pontas
e passa, a água fácil
sem retorno
porque nada tem retorno
e tudo é dificílimo
não só o máximo, mas também o mínimo.
(De Servidões, 2013)
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