segunda-feira, 27 de maio de 2013

Távola Redonda
As vinhetas da capa 



Tem a sua graça comparar as vinhetas das capas da Távola Redonda. Mas, antes de mais, alguma coisa sobre esta revista. Criada e dirigida por David Mourão-Ferreira, António Manuel Couto Viana e… — o melhor é apresentar a ficha técnica, na página 2 do fascículo 1 —,


no pós-guerra, pretendia «um lugar para a poesia». A seguir a 45, parecia só haver lugar para uma poesia mais empenhada, interventiva, menos intimista. A fidelidade ao encontro perante as coisas, a vida, o mistério inicial, depois desenvolvido com equilíbrio pelo poeta, é o que propõem no primeiro fascículo ou folha Alberto de Lacerda e David Mourão-Ferreira (o Davífen, das crónicas de Artur Portela Filho, no Jornal Novo). Temos uma conjugação de pessoas com qualidades diversas. No fascículo XX, em artigo não assinado (D. M.-Ferreira) sugere-se a união de todas as publicações de poesia numa só, o que não veio a conseguir-se.
«TÁVOLA REDONDA» OU DA (IM)POSSÍVEL HARMONIA
                          (Título do texto introdutório à edição fac-similada da T. R.,de João Bigotte Chorão)
Perguntar-se-á: as épocas não são outras, as preocupações diferentes? Sem dúvida, a poesia neste Janeiro de 1950 é com certeza diferente da poesia de 1930 ou 1940. Mas para explicitar essa mudança, para revelar é este um dos papéis da crítica) uma provável modificação nos processos e nos temas não é preciso negar a autonomia da arte, da poesia. Esse o grande erro, esse o nosso protesto. O seu lugar é único, insubstituível, in-comparável, embora em relação com a vida inteira. Cada poeta arrasta consigo, como um facto se encadeia noutros factos, todo um universo.     (Alberto de Lacerda, «Um lugar para a poesia», na p. 2, fascículo 1]
Lirismo, desenvolvimento de uma exclamação: atitude de quem se espanta, se admira ou repara — perante, ou em uma — qualquer circunstância, e tende logo a isolá-la, torná-la independente e memorável. É uma atitude feita de momentos que se tornam excepcionais; mas tal excepcionalidade, como é involuntária, não deve transformar-se, para o Poeta, nem em motivo de opróbrio nem de orgulho; muito simplesmente, urge não esquecê-la, na discussão do fenómeno lírico. Outro aspecto, necessário também de se tomar em linha de conta, é o da referida involuntariedade em que o momento se torna excepcional, exigindo um ulterior desenvolvimento. O que caracteriza o lirismo não é, portanto, a natureza do momento ou da circunstância, a natureza da emoção ou do motivo. O que o caracteriza é o aspecto involuntário, em que momentos, circunstâncias, emoções e motivos se apresentam ao Poeta, o aspecto de excepcionais que eles adquirem e, de maneira decisiva, o processo como eles ulteriormente se desenvolvem.     (David Mourão-Ferreira, «Lirismo – ou haverá outro caminho?», na p. 8, fascículo 1)

Em Janeiro de 1950, quando apareceu o primeiro fascículo de Távola Redonda, não existia em Portugal nenhuma publicação de Poesia. […] Pouco a pouco, começaram, depois, a surgir novas folhas de Poesia […]. De qualquer modo, para o público de poesia com que podemos contar, são elas excessivas – e o certo é que a existência de quase todas é tão precária que emudecem (extinguindo-se? Interrompendo-se?) ao fim de dois ou três números. Por isso, daqui lançamos o alvitre de um Encontro […]. E[…] talvez que desse Encontro viesse a surgir uma Revista de Poesia Portuguesa. – uma Revista única, onde cada grupo dos já existentes e dos que viessem a formar-se disporia de um número certo de páginas – para lá publicar o que muito bem entendesse     («Sugestão», pp. 8 e 6, não assinado, de D- M.-Ferreira)







































Sem comentários:

Enviar um comentário